domingo, 16 de março de 2014

Cony: tremendo gozador

Alberto Carvalho e Carlos Heitor Cony na redação da Manchete. Foto: Acervo Alberto Carvalho
por Alberto Carvalho
Carlos Heitor Cony está completando 88 anos. Pelo andar da carruagem, vai chegar aos 98, 108 e até aos 118 anos. Vai ficar famoso no mundo todo por ser o homem mais velho do planeta - quiçá, da galáxia (como diria o ex-Presidente JK). Estará lúcido e ainda escrevendo suas memórias.  Vai escrever o "Pilatos - Parte II", "Quase Memória, o Livro" e a "Revolução dos Caranguejos (O Ato e o Fato)". Isto tudo coçando a orelha no local onde foi atingido pela chapinha de cerveja  atirada pelo Noel Rosa: - "Lá vem o filho do padre!" Ouvia sempre essa frase quando passava, de batina, na frente do bar, em Vila Isabel, onde o compositor e seus parceiros de cachaça se reuniam diariamente. Cony vai continuar escrevendo as previsões, psicografadas, do astrólogo Allan Richard Way, assinando o nome do repórter Robert MacPherson.
Cony é tudo que o Roberto Muggiati escreveu e eu acrescento mais: É um tremendo gozador e autor de "peças" dirigidas aos colegas de trabalho. Entre elas, a história da Mega Sena: " Numa segunda-feira, bem cedo, antes de vir para o trabalho, Cony passou numa loteria esportiva e fez um jogo da mega sena. O prêmio estava acumulado em 25 milhões de Reais e havia saído para um ganhador. Cony repetiu o número sorteado e seguiu para a redação. Chegou e pediu ao contínuo para trazer os jornais, pois queria conferir o resultado da loteria. Simulando uma enorme alegria, declarou que havia ganho o grande prêmio. Todos correram para conferir se era verdade. Examinaram o comprovante e constataram que os números batiam com os dos sorteados. Só esqueceram de observar a data da aposta. A notícias se espalhou pela empresa. O telefone não parava de tocar para felicitar o mais novo milionário da praça.  Cony recebia as congratulações e ficava na dele. Fazia até projetos para quando recebesse o prêmio.
Assim que  o Sr. Adolpho Bloch chegou na empresa recebeu a notícia pelo Jileno, chefe da portaria, que o Cony havia ganho na loteria.  Imediatamente ligou para o Cony pedindo a sua presença em seu gabinete. Cony desceu para o segundo andar e a conversa que teve com o chefão  ele não revelou, mas ficou claro que não foi muito agradável.  Será que o Adolpho esperava um empréstimo daquele fortuna?
Cony além de ser bem-humorado é um homem justo. Ajudava as pessoas, dentro de suas possibilidades, e não pedia nada em troca. Não havia ninguém na empresa que não gostasse do Cony. Trabalhando com ele durante mais de 30 anos, nunca vi o Cony mal-humorado, sempre alegre e sempre com alguma ideia para sacanear alguém, no bom sentido, é claro. E eu sempre compactuava com ele. Quando o Cony passava por mim dizia: "castra sunti in falcibus etrurias, não vides?" Não sei se a grafia do latim está correta e também não sei o que significa, mas respondia sempre "Ave, Cony". E também nunca perguntei pra ele o significado daquela frase.
Quanto ao Cony chegar aos 118 anos, claro que é uma brincadeira, mas em se tratando do Carlos Heitor Cony, tudo é possível.  (Alberto Carvalho)

Nenhum comentário: