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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

A rede social como ela é. E se Nelson Rodrigues navegasse na internet...

Reprodução Twitter


por Ed Sá 

Nelson Rodrigues morreu em 1980. Na época, o mundo ainda estava longe de trocar relacionamentos por conexões digitais. De 1950 a 1961, ele escreveu na Última Hora a coluna "A vida como ela é", crônicas sobre dramas cotidianos, de preferência adultérios, crimes passionais, cobiça da mulher do próximo, crises de ciúmes em velórios e virgens seduzidas e abandonadas.

Nelson lia as notícias na página policial e a partir daí fazia um retrofit literário de pecados e paixões.

A coluna fez sucesso e, nos anos 1970, ganhou um revival durante pouco mais de um ano na revista Fatos & Fotos.

O post acima foi publicado ontem no twitter. Observem que é um conto contemporâneo real em poucos caracteres.

A dinâmica da rede social produz milhares semelhantes a esse, por hora, talvez. Fico imaginado como Nelson Rodrigues lidaria com os pequenos dramas em proporções diluvianas que hoje trafegam no Facebook, WhatsApp, Instagram, Twitter e outro outdoors da condição humana.

domingo, 21 de setembro de 2014

Mais um acervo preservado. Fotos do jornal Última Hora carioca estão disponíveis para pesquisa no Arquivo Público de São Paulo.

por BQVManchete
Memória garantida. Foi finalizada mais uma etapa do processo de digitalização do Fundo Última Hora – sob guarda do Arquivo Público do Estado de São Paulo. Aproximadamente 800 mil fotografias que pertenceram ao Departamento de Arquivo Fotográfico do jornal Última Hora foram organizadas, digitalizadas e tratadas, além de disponibilizadas para pesquisas. Trata-se de material acumulado pelo jornal Última Hora do Rio de Janeiro entre os anos de 951 e 1971, em negativo flexível e em papel de gelatina e prata. O trabalho de recuperação das fotos teve início em 2006 no Centro de Acervo Iconográfico e Cartográfico (CAIC). Concluída a atual fase, a restauração prossegue até a disponibilização integral do Fundo Última Hora.
CONHEÇA O PROJETO DO ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. CLIQUE AQUI
Para a história do jornalismo brasileiro, o projeto do CAIC é um marco. E uma indicação de que talvez muitas coleções ainda em risco possam ser salvas. Para isso, bastaria que outras instituições como o Ministério da Cultura, Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, Biblioteca Nacional, Associação Brasileira de Imprensa se interessassem pelas coleções que ou permanecem sumidas ou fora do alcance de pesquisadores, escritores e estudantes. Para citar alguns exemplos cariocas: com exceção do arquivo do O Cruzeiro e do O Jornal, ambos dos Diários Associados e hoje sob guarda do jornal Estado de Minas, das fotos que pertenceram ao Correio da Manhã, agora em poder do Arquivo Nacional, do material do Jornal do Brasil digitalizado e preservado pela empresa sucessora, sabe-se pouco dos rumos dos acervos de veículos extintos como a revista Senhor, do Diário de Notícias, Pasquim, da Editora Vecchi, Diário Carioca, Revista da Semana. Desconhece-se também a situação do arquivo da Tribuna da Imprensa. Uma caso grave, já emblemático, é o sumiço do arquivo que pertenceu à falida Bloch Editores, que editava Manchete, Fatos & Fotos. Amiga, Desfile, Mulher de Hoje, Pais & Filhos, Geográfica, EleEla, Jóia, Domingo Ilustrado, Tendência, e dezenas de outros títulos.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Deu na Veja: como ficou o antigo prédio da Manchete

Edifício Manchete depois da reforma. Foto: Reprodução revista Veja
por Gonça
Parte da história do jornalismo brasileiro foi retrofitada. A Veja dessa semana publica uma matéria sobre prédios do Rio reformados segundo a técnica de retrofit, que moderniza edifícios. O Edifício Manchete desenhado por Oscar Niemeyer e construido por Adolpho Bloch nos anos 60, sede das redações das revistas da Bloch, de setores administrativos da empresa e, posteriomente, da Rede Manchete, ganhou novos vidros, geradores próprios, sistema de coleta de água de chuva, novos elevadores e ar condiciondo central. Foi construido nos fundos um edifício-garagem de doze andares e um bicicletário. Pisos de jacarandá e revestimentos de mármore foram restaurados, assim como os jardins internos projetados por Burle Marx e o teatro. A reforma custou 100 milhões de reais. O prédio já recebeu seus novos inquilinos: as multinacionais British Petroleum e Statoil. O Edifício Manchete havia sido leiloado há alguns anos com o objetivo de arrecadar recursos para pagamento de parte das indenizações aos ex-funcionários da Bloch. Alcançou um lance de pouco mais de 60 milhões de reais. Surpreendentemente, em pouco tempo, o comprador revendeu o edifício por cerca de 200 milhões de reais, o que levou indignação aos  trabalhadores da extinta Bloch diante da modesta avaliação inicial do imóvel. Está aí a imagem, por certo significativa para centenas de leitores deste blog que passaram parte de suas vidas profissionais na Rua do Russell.
"Monumentos" aos veículos desaparecidos
De certa forma, o prédio da Manchete se renova, o que, curiosamente, não é muito comum entre empresas de comunicação falidas. No Rio, por exemplo, há vários "monumentos" a veículos desaparecidos. O prédio do Jornal do Brasil, na Av. Brasil, foi depredado, virou um esqueleto e passa por reforma para se transformar em um hospital; a sede do Correio da Manhã é um casarão fechado desde os anos 70 na rua Gomes Carneiro (Carlos Heitor Cony conta que o visitou não faz muito tempo e se deparou com sua antiga mesa e ordens de serviço e avisos ainda colados nas paredes da redação); a antiga TV Tupi, na Urca, estava em ruínas e foi reformada para receber um escola de design. Mas apenas metade do prédio foi recuperada, o velho auditório e salão do Cassino estão lá com seus fantasmas empoeirados. A sede do Última Hora padece alí perto da Rodoviária Novo Rio; a Tribuna da Imprensa está selada e vazia na Rua do Lavradio. O antigo prédio do  O Cruzeiro, na Rua do Livramento, ainda abriga a Rádio Tupi e o Jornal do Commércio mas as poderosas máquinas de rotogravura já não fazem tremer os pavimentos. Como o da Manchete, o edifício do O Cruzeiro foi projetado por Niemeyer. O Diário de Notícias ficava na Rua Riachuelo, foi lacrado por uns tempos e hoje é sede da Folha Dirigida; a Ebal, lembram?, que editava títulos inesquecíveis da era de ouro dos quadrinhos (Falcão da Noite, The Flash, Superman, Flash Gordon, O Fantasma), ocupava um grande complexo em São Cristóvão, perto do estádio do Vasco. O prédio está lá, hoje divide-se entre um escola e uma gráfica. A Rádio Nacional já não é a potência que era nos anos 40 e 50, continua funcionando no Edifício A Noite, na Praça Mauá, mas o jornal que deu nome a um dos primeiros arranha-céus do Brasil há muito virou história. A Editora Vecchi ficava na Rua do Riachuelo, não sei o que ocupa seu ponto hoje. Já a TV Excelsior se instalou no antigo Cine Astória, ali pelo número 500 e tantos da Visconde de Pirajá. Quando fechou, o local voltou a ser ocupado por um cinema, o Super Bruni 70 que, demolido, deu lugar a um espigão. A TV Continental funcionava na Rua das Laranjeiras. Não sei o que virou. A TV Rio, que se instalou no Posto Seis, no antigo prédio do Cassino Atlântico, que foi demolido e, no lugar, construido o prédio do hotel Sofitel, hoje Accor.
Certamente, espalhados pela cidade, há outros exemplos que escapam a este retrofit da memória jornalística.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Memória da redação: aconteceu no...


por José Esmeraldo Gonçalves
A reprodução acima foi encaminhada pelo amigo J.A. Barros que, por sua vez, a recebeu do parceiro Eli Halfoun. Um recuerdo jornalístico que merece ser compartilhado com os leitores deste blog. Trata-se de uma coluna publicada no jornal Última Hora carioca no dia 4 de janeiro de 1968. Um time da pesada - Sérgio Porto, Sérgio Cabral, Nelson Motta, Moysés Fuks e Eli Halfoun - apontou as 10 melhores músicas de 1967. Cada votante elegeu as suas preferidas. Na soma geral, o ranking ficou assim:
1- "Quem te viu, quem te vê - Chico Buarque
2 - "Carolina" - Chico Buarque
3 - "Travessia" - Milton Nascimento e Fernando Brant
4 - "Ponteio" - Edu Lobo e José Carlos Capinam
5 - "Máscara Negra" - Zé Keti e Pereira Matos
6 - "Roda Viva" - Chico Buarque
7 - "Domingo no Parque" - Gilberto Gil
8 - "Margarida" - Guttenberg Guarabyra
9 - "Alegria, alegria" - Caetano Veloso
10 - "Eu e a Brisa" - Johnny Alf
Algumas observações: a lista mostra que 1967 foi um ano de ouro da MPB. Sem exceção, a dezena de canções destacada pelos críticos entrou para a história, eternizou-se; a UH era um "butantã" de "cobras" da imprensa; Sérgio Porto, na foto, está diante de um microfone, os demais pilotam máquinas de escrever, um equipamento que as novas gerações desconhecem mas, como diz a piada, tinha lá suas vantagens: dispensava impressora já que você teclava e imprimia ao mesmo tempo; tive o grande prazer de trabalhar com dois jornalistas desse escrete: Eli Halfoun e Moysés Fuks, nas duas últimas fotos de cima para baixo; os anúncios na página também retratam uma época: o Rollas alugava smokings, a Diacuí vendia perucas a partir de NCr$40,00 (era a época do cruzeiro novo), Formiplac e Vulcapiso eram moda em móveis e decoração, e a Brastemp e a Bendix ofereciam "troca de ciclagem" de geladeira, máquina de lavar, liquidificador, uma trabalheira que os cariocas tiveram por imposição de uma tal de "Comissão Estadual de Energia".

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A grande cartada do mestre Samuel Wainer

por Eli Halfoun
Quem trabalhou com Samuel Wainer (tive a felicidade de tê-lo como mestre) sabe que, muito mais do que um jornal revolucionário (gráfica e editorialmente), a Ultima Hora era uma verdadeira escola de jornalismo. Estive presente em um episódio que nos ainda dias de glória do jornal, revela bem que Samuel Wainer não era um patrão qualquer. Era um colega-repórter e provou isso várias vezes em sua atitudes. Boa parte do pessoal da redação ficava no jornal até o fechamento mesmo que não tivesse nada para fazer. Em uma dessas noites fui indicado para um plantãozinho e tinha que ficar atento caso houvesse necessidade de preparar um segundo clichê. Na verdade a turma ficava ali com intenção bem diferente do que a de trabalhar: descíamos para ao porão, onde se localizava o arquivo, e o transformávamos em um “cassino” onde o jogo de cartas corria solto.
Nessa noite o telefone toca e o Samuel manda me chamar e diz:
- Eli, sei que vocês estão jogando. Suspende o carteado um pouquinho, pede pro pessoal subir, colocar papel na máquina e fingir que está trabalhando.
- Por que Samuel? – tive a ousadia de perguntar e ele explicou:
- É que o Raimundo (era o diretor financeiro) está indo pra aí dar um flagrante em vocês e demitir todo mundo por justa causa.
Transmiti o recado e em dez minutos estávamos todos na redação fingindo trabalhar. Quando o Raimundo chegou ficou completamente sem graça, disfarçou e desapareceu.
Nos meus ainda inocentes 20 anos de idade fiquei curioso e no dia seguinte fui até a sala do Samuel e perguntei:
- Por que você não permitiu o flagrante? Ele ensinou:
- Sei os repórteres que tenho e se todos estão na redação fora do horário e acontecer alguma coisa espetacular o jornal terá uma grande equipe em ação.
Não foi só mais uma demonstração de bom caráter do companheiro repórter que o Samuel representava. Foi a lição de que o interesse maior pelo bom jornalismo está presente no jornalista todo o tempo. Samuel Wainer era acima de tudo um jornalista. E foi isso que ensinou para muitos profissionais. Felizmente tive a sorte e o privilégio de ter sido um de seus alunos.