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quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A Rural Willys, lançada há 55 anos, teve seus dias de "veículo jornalístico". Literalmente. E na Manchete...




por José Esmeraldo Gonçalves
O anúncio acima, em página dupla da Manchete, marcou o lançamento da Rural Willys. Algumas gerações de repórteres e fotógrafos que passaram pela Bloch acabaram ganhando na década e meia seguinte uma inevitável intimidade com a velha Rural. Houve uma época, entre os anos 60 e até o fim dos 70, em que a frota de transporte da empresa era formada quase que exclusivamente pelo famoso utilitário derivado do Jeep. As exceções eram uma ou duas Kombis que serviam às produções das revistas. Uma das Rural, aliás, tinha um engate para um trailer que também servia de apoio para os ensaios fotográficos de moda.
Era onde modelos, em um raro luxo, então, podiam trocar de roupa e se maquiar para as fotos. Pois bem, a velha Rural, que fez história nas cidades e estradas brasileiras, foi lançada em 1960, há 55 anos. Na época, o publicitário Mauro Salles, um apaixonado por automóveis, fez uma matéria testando o veículo (reprodução ao lado). Antes do modelo de 1960, que aparece no anúncio acima, a Willys montava aqui uma versão mais antiga de design ainda integralmente americano. Mas a Rural de 1960, que tinha um índice de nacionalização em torno de 90%, já exibia toques dos desenhistas da fábrica de São Bernardo dos Campos.  Um deles, o detalhe inspirado nas linhas de Brasília e que dividia, bem visível, a grade do radiador. No ano da inauguração, Brasília era o tema preferencial das revistas da Bloch. Amigo de JK e de Oscar Niemeyer, Adolpho Bloch deu atenção especial ao projeto da nova capital desde o seu início. O arquivo fotográfico da Manchete, supostamente desaparecido, reunia o mais completo acervo da construção de Brasília desde a pedra fundamental e as primeiras estacas cravadas no Planalto Central até a inauguração em noite de gala e a evolução da cidade nos quarenta anos seguintes. 
O logotipo da FF, como a grade
frontal da Rural, homenageava Brasília. 
Para Adolpho Bloch, que lançou a Fatos & Fotos em homenagem a Brasília (a revista tinha como endereço formal a nova capital e até exibia, no logotipo, uma inconfundível coluna do Alvorada), a grade frontal da Rural Willys em estilo Niemeyer deve ter sido o algo mais que o levou a adotar o jipão, que hoje seria chamado de Suburban Utility Vehicle (SUV), como padrão na sua frota de reportagem.
Em pautas mais rumorosas, como, por exemplo, a que ficou conhecida como o "caso Lou e Wanderley", crime que mobilizou o Brasil nos anos 70 e exigiu dos repórteres e fotógrafos inúmeras noites de plantão na delegacia da Barra da Tijuca, cercados de mosquitos, ou longas horas no portão do presídio de Água Santa, a Rural era um abrigo oportuno.
Trecho do livro do 
repórter Fernando Pinto
O jornalista Fernando Pinto, que trabalhou na Manchete e que recentemente lançou um livro de "Memórias de um Repórter", dedica algumas linhas à Rural, que ele chamava de "invencível", com a qual cruzou na tarde de 31 de março de 1964, o front das tropas do 1° e do 2° Exércitos, rumo a fronteira do Rio e de São Paulo, quando ainda havia a suposta possibilidade de um confronto militar em meio à derrocada do governo João Goulart. Mas a Rural cumpria, claro, pautas mais amenas. Além dos repórteres, as celebridades da época também esquentaram muito o banco desconfortável da "viatura", sem ar condicionado, acessório que era quase ficção, que levava aos estúdios das revistas personagens de capas da semana, como Pelé, Sonia Braga, Regina Duarte e muitos outros.
Ou como Gal Costa, vista na foto abaixo ao lado dos tripulantes da valente Rural, que desacelerou, saiu de linha em 1977 direto pro acostamento da história, mas deixou marcas de pneu no asfalto da Rua do Russel.
Gal Costa, o maquiador Guilherme Pereira e o produtor Claudio Segtowich: não foi uma selfie, termo que passava bem longe dos anos 70, mas o registro animado da equipe da Manchete, ao lado da Rural, com o logo estampado na porta. A foto é de 1976.