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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Da Via Dutra ao Russell, verdades e mistérios em torno do trágico fim de JK

Rua do Russell, agosto de 1976. O cortejo deixa o prédio da Manchete e conduz JK ao aeroporto Santos Dumont, de onde o corpo seguiu para o Campo da Esperança, em Brasília. Anos depois os restos mortais do ex-presidente seriam transferidos para o Memorial em sua homenagem, na capital federal. Foto; Reprodução Fatos & Fotos.
A Comissão da Verdade da Câmara de Vereadores de São Paulo acaba de divulgar relatório com depoimentos e indícios do assassinato de Juscelino Kubitschek. A apuração aponta como farsa montada pela ditadura a versão de que a causa da morte de JK teria sido um acidente. Segundo o relatório, Geraldo Ribeiro, motorista de JK, teria levado um tiro e perdido o controle do carro que atravessou a pista da Dutra, no dia 22 de agosto de 1976, e colidiu com uma carreta que vinha em sentido contrário. A suspeita do assassinato de JK foi levantada, já na época, quando os militares impediram a autópsia dos corpos do ex-presidente e do seu motorista. Algumas circunstâncias do velório, no hall do prédio da Manchete, no Russell, - como a imposição de caixões lacrados ainda no IML além de uma confusão proposital na movimentação dos esquifes e do cortejo que levou o ex-presidente até o Santos Dumont - foram anormais. Temendo que houvesse alguma manifestação, a polícia "acelerou" o cortejo, chegando a empurrar alguns funcionários da Manchete que ajudavam a levar, nos ombros, o caixão de JK. Em 2003, os jornalistas e escritores Carlos Heitor Cony e Anna Lee levantaram a questão no livro "O Beijo da Morte", que mistura ficção e reportagem. 
por José Esmeraldo Gonçalves 
(texto do autor extraído do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" publicado pela Desiderata, em 2008)
Morre Juscelino Kubitschek no famoso acidente de carro da Rodovia Dutra. Domingo, fim de tarde, João Luiz Albuquerque, chefe de Reportagem da Manchete, convoca todos os repórteres. A notícia acabara de chegar. Estavam previstas edições especiais da Manchete e da Fatos&Fotos. Cheguei à Redação, ouvi as instruções e logo fui às ruas conversar com políticos, gente que trabalhou com JK e alguns dos seus melhores amigos, como Oscar Niemeyer. Creio que já passava da meia-noite quando voltei ao Russell. Era
madrugada de 23 de agosto de 1976. Havia uma agitação no hall do prédio. Tudo estava sendo preparado para o velório de JK e de seu motorista, Geraldo Ribeiro, que também morreu ao volante do Opala, mas logo ouvi que tinha uma pedra no meio do caminho. Niomar Muniz Sodré queria que o velório fosse no Museu de Arte Moderna, instituição que presidia. Briga de foice na madrugada pela honra de sediar as exéquias de JK. A Manchete tinha um repórter que, em campo, era um trator. Era Tarlis Batista, que tinha uma característica: era “entrão” e, pelo seu temperamento, desempenhava as missões mais difíceis. Se o acesso a determinado evento era proibido, melhor escalar Tarlis. Ele dava um jeito de furar esquemas e resistências. Era brigão também. Bom repórter. Claro que o saudoso Tarlis foi enviado ao IML, onde o corpo de Juscelino era preparado. Àquela altura, a disputa pelo velório já chegara às portas do Instituto Médico Legal. Pressões políticas, uma palavrinha de amigos influentes, valia de tudo. Murilo Melo Filho, então um dos mais importantes diretores da Bloch, contou recentemente ao repórter Timóteo Lopes do antigo site No Mínimo, que naquela madrugada teve até que subornar funcionários para apressar a liberação do corpo de JK. Adolpho Bloch, que no período em que JK era persona non grata dos poderosos, o recebeu e o abrigou no prédio do Russell, montando um gabinete onde o ex-presidente pudesse se dedicar a escrever e receber amigos, fazia questão de se despedir do velho amigo na casa que foi sua referência derradeira. Tinha razão. Se Murilo e Cony, que também foi ao IML, se encarregavam do trabalho, digamos, diplomático, usando luvas e persuasão para resolver o impasse, cabia a Tarlis meter o pé na porta. E foi o que ele fez, atropelando os procedimentos e convencendo uns e outros a queimar etapas no ritual legal. Na madrugada, com o Russell ainda com pouca gente, praticamente só os funcionários da Bloch, uma Kombi estaciona na porta principal do prédio. Sentado ao lado do motorista, Tarlis dava as ordens. “Encosta mais e vai mais à frente, meu irmão, assim fica melhor para desembarcar o caixão”, comandava. Esse era Tarlis. Na Kombi, vinha o corpo de JK. Não sei se havia um segundo veículo trazendo o caixão do Geraldo ou se os dois vinham juntos. Sob as ordens de Tarlis, os caixões de pinho envernizado, absolutamente iguais, foram desembarcados e dispostos lado a lado. JK à esquerda, seu motorista e fiel amigo à direita. O impacto atingira bastante a parte superior dos corpos. Os dois caixões estavam cobertos de cravos vermelhos que formavam desenhos idênticos. A Fatos&Fotos publicou uma foto de d. Sarah e de Márcia Kubitschek ao lado do caixão fechado. As fotos, na época, não mostram os rostos, nem de JK nem de Geraldo. A manta de flores que cobria os caixões também tinha um detalhe semelhante: uma cruz de cravos brancos. Aparentemente, não havia como distingui-los. A dúvida era pertinente. Quem garantia que o caixão da esquerda era mesmo o de JK e o da direita, do Geraldo? Só o afoito e competente Tarlis, que comandara a ruidosa expedição de resgate desde o IML. Daí nasceram a hipótese e a especulação jamais esclarecidas. O próprio Cony já levantou essa bola em uma das suas crônicas na Folha de S.Paulo sob o título Coisas que Acontecem, publicada em 4 de junho de 2005. Estou levantando outra. O posicionamento dos caixões semelhantes e sem clara identificação foi aleatório? Apenas convencionou-se, na pressa, ali no Russell ou à saída do IML, qual era o ataúde que abrigava JK? Do prédio da Manchete, o corpo de JK foi levado ao Aeroporto Santos Dumont, de onde, com escala no Galeão para troca de avião, foi transportado ao Campo da Esperança, em Brasília. Anos depois, os restos mortais tidos como os de JK foram exumados e levados para o Memorial, onde permanecem em uma urna de mármore negro. Curiosamente, nenhum membro da família Kubitschek, segundo apurou o jornalista Timóteo Lopes, esteve presente à exumação. Já o corpo de Geraldo foi enterrado no Cemitério São João Batista, no Rio, e, depois, exumado e levado para Belo Horizonte. Eis o mistério. Como diz Cony na sua crônica, “quem quiser que acredite”. Quem cobriu ou acompanhou o enterro de JK sabe que a pressa e o afobamento marcaram a cerimônia. À
ditadura não interessava que o enterro de um líder cuja influência já parecia ter sido contida pelas fórmulas autoritárias, incluindo-se aí o exílio, a cassação e as ameaças de morte, se transformasse em manifestação política contra o regime. De fato, policiais fardados e à paisana, infiltrados no meio da multidão no percurso entre o prédio da Manchete e o Aeroporto Santos Dumont, apressavam ostensivamente o cortejo. A ordem, assim parecia, era fazer o séquito bater algum tipo de recorde de velocidade e chegar logo ao aeroporto rumo a Brasília. Para os militares, o perigo era o Rio, o tambor que repercutiria bem mais que qualquer protesto político. Foi tamanha a pressa que não foi permitido aos funcionários da Manchete estender sobre o caixão a Bandeira Nacional. Acabei tendo uma participação casual nesse episódio. O cortejo saiu, ou disparou, e à altura do Hotel Glória um dos motoristas da Manchete me pediu que entregasse ao sobrinho de Adolpho, Pedro Jack Kapeller (conhecido como Jaquito), um envelope pardo. Era a bandeira. Por várias vezes, tentei me aproximar do caixão. Um cordão policial e a multidão compacta me impediram. Além disso, era impossível naquelas condições localizar Jaquito. Quando o cortejo já se aproximava do Aterro do Flamengo, decidi furar o cordão de policiais de qualquer jeito ou JK chegaria ao aeroporto desbandeirado. Foi o que fiz. Rasguei o envelope, desdobrei a auriverde e lancei-a sobre o caixão. O que era para ser um simples favor ganhou pompa e circunstância. O cortejo parou e a multidão cantou o Hino Nacional. A cena virou notícia dos jornais O Globo e O Estado de S.Paulo. Para quem tem uma biografia que cabe em poucas linhas, como este que vos fala, o episódio já é alguma coisa. É isso: se a História não me registra, nem deve, eu deixo registrado aqui esse episódio. A morte e o enterro de JK resultaram em uma edição especial da Fatos&Fotos que nos custou pouco mais de vinte e quatro horas de trabalho ininterrupto. Saímos cansados do Russell, com a satisfação de colocar uma revista nas ruas, e fomos parar no bar do Novo Mundo, point de incontáveis happy hours. 

domingo, 22 de abril de 2012

Às vésperas da instalação da Comissão da Verdade, Cony revê em reedição de "Memorial do Exílio" o suspeito acidente que matou JK

Carlos Heitor Cony anuncia em artigo na Folha de São Paulo o relançamento "Memorial do Exílio", seu livro de 1982, sobre Juscelino Kubitscheck. Com uma novidade: Cony inclui na reedição trechos de outra obra sua, em parceria com a escritora e jornalista Anna Lee, "O Beijo da morte", de 2003, quando, entre reportagem.investigativa e ficção, são analisadas as misteriosas circunstâncias das mortes em curto espaço de tempo de Carlos Lacerda, JK e Jango em plena ditadura. Um tema mais do que oportuno a ser posto na mesa da Comissão da Verdade, a ser instalada.  

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Ficção, realidade, onde acaba, onde começa















A repercussão da "teoria" de Chávez no Jornal do Brasil digital.















O livro de Carlos Heitor Cony e Anna Lee sobre as mortes de JK, Lacerda e Jango.

 por José Esmeraldo Gonçalves
Em 2003, os escritores Carlos Heitor Cony e Anna Lee lançaram o "O Beijo da Morte" (Objetiva). No livro - uma ousada fórmula de ficção, reportagem investigativa e depoimentos -, um personagem, "O Repórter", busca indícios e provas de uma conspiração política que teria resultado nas mortes de JK, Carlos Lacerda e João Goulart, entre setembro de 1976 e maio de 1977, durante a ditadura militar, tempos sombrios da Operação Condor que eliminou outros líderes da América Latina. "O Repórter" tenta desvendar o enigma: coincidências ou assassinatos programados nos salões e quartéis dos poderosos de então? O carro em que JK vinha de São Paulo, na Dutra, foi lançado fora da estrada, após se chocar na lateral de um ônibus e capotou. Jango era cardíaco, tinha a doença sob controle, acabava de voltar de uma viagem internacional. Estava bem um dia antes de morrer. Assim como Lacerda, que trabalhou normalmente até sofrer os sintomas do que parecia uma simples gripe. Só que o suposto resfriado revelou-se rapidamente fatal. Associar a série acima à terrível sequência que agora acomete líderes da América Latina era inevitável. Não sei o livro do Cony e da Anna Lee chegou à mesinha de cabeceira de Chávez, mas coube ao presidente venezuelano levantar a bola de um novo mistério. O vilão conspirador da vez seria o câncer. O próprio Chávez, Lula, o presidente do Paraguai Fernando Lugo, Dilma, quando pré-candidata e, agora, Cristina Kirchner, da Argentina. Todos coincidentemente não-alinhados compulsórios dos Estados Unidos. Um terrível "dominó". Chávez diz que não quer fazer acusações temerárias, mas acha "muito estranho" e fala em alguma "estratégia", algo como uma ofensiva biológica. Até governo americano o levou a sério e deu-se ao trabalho de retrucar a declaração classificando-a de "horrenda e censurável". Ficção, realidade, e daí? Um mistério ao apagar das luzes de 2011 anima esse fim de ano banal. Chávez pauta a mídia que já estava de branco e de taça de champanhe à mão para o Réveillon. Vale a provocação. Se há conspiração, coincidência ou mesmo mau-olhado, o jornalista Nirlando Beirão, em artigo publicado no site da Carta Capital, identificou, pelo menos no caso de Lula, uma certa "comemoração" em uma ala da mídia. Mais precisamente, entre o grupo de comentaristas que ele chama de "as tias" (acesse o artigo no link abaixo).
Ainda no campo das coincidências, uma declaração de Chávez combina com a última frase do livro de Cony e Anna Lee.
Disse o venezuelano: “Talvez se descubra dentro de 50 anos. Não sei, só deixo para reflexão”.
Diante de uma pergunta (Por que escreveu "O Beijo da morte"?), Anna Lee escreve a última linha do livro: 'Na esperança de a morte de JK, Jango e Lacerda deixar de ser monstro para se transformar em vestal. Ainda que seja no futuro".










Para ler o artigo de Nirlando Beirão, clique AQUI

domingo, 26 de dezembro de 2010

JK: mistério em uma madrugada de agosto

No livro "Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou" (Desiderata), Carlos Heitor Cony revela um estranho fato que marcou o velório de JK. A montagem acima inclui uma página da edição especial da Fatos & Fotos que mostra o hall lotado do edifício-sede da Manchete.
por José Esmeraldo Gonçalves
Há pouco dias, o jornalista Eli Halfoun comentou neste blog o lançamento do livro "Arquivo Aberto", do jornalista José Carlos Bittencourt sobre as mortes de Jango, JK, Ulysses Guimarães e Carlos Lacerda. Em 2003, Carlos Heitor Cony e Anna Lee publicaram "O Beijo da Morte", resultado de um criterioso trabalho de investigação sobre evidências e fatos ilógicos que cercam as mortes, em curto espaço de tempo, de Jango, JK e Carlos Lacerda. Entre ficção e reportagem, o protagonista de "O Beijo da Morte", o obcecado O Repórter, tenta desvendar o enigma das mortes de três figuras políticas que incomodavam a ditadura. Não li ainda o recém-lançado "Arquivo Aberto" mas vou ler, o tema é fascinante. O livro "Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou" - lançado em 2008, esgotado em livrarias mas possivelmente disponível em alguns sites de vendas pela internet - também especula em torno do assunto sob um ângulo curioso: uma suposta troca de caixões. JK, como se sabe, foi velado na Manchete, no prédio da editora na Rua do Russel, no Rio de Janeiro. Como todos os repórteres da Manchete e da Fatos & Fotos, virei a noite naquela cobertura. Estavam previstas edições especias de ambas as revistas. Já era madrugada quando, liberados pelo IML, chegaram ao Russell os caixões de JK e de Geraldo Ribeiro, seu motorista, também vítima do acidente na Dutra. Os caixões de pinho envernizado eram absolutamente idênticos, estavam fechados e assim permaneceram até o sepultamento. Um dos repórteres da Manchete, Tarlis Batista, vinha à frente e orientou a entrada do pequeno cortejo em direção aos cavaletes dispostos lado a lado. Ali mesmo foi feita a pergunta óbvia: quem era quem? Depois de uma breve hesitação, o cortejo se bifurcou, JK à esquerda, Geraldo à direita. Quem determinou a localização tinha certeza, embora não houvesse qualquer identificação, ou apenas convencionou? Ficou a dúvida que, nos anos seguintes, viraria mistério e já pautou reportagens em várias publicações. Em um dessas matérias, o jornalista Timóteo Lopes chegou a investigar a trajetória dos restos mortais de JK e Geraldo. Coincidentemente, ambos foram posteriormente exumados. JK foi enterrado no cemitério de Brasília e, anos mais tarde, transferido para o Memorial. Geraldo foi para o São João Batista, no Rio, e depois levado para um cemitério em Belo Horizonte. Em "Aconteceu na Manchete", Cony acrescenta mais um detalhe ao episódio. O dia já amanhecia, o velório em curso recebia amigos e parentes do ex-presidente e do seu motorista, uma fila já se formava em frente ao prédio, quando - Cony testemunhou o fato - um rabecão se aproximou lentamente da entrada da sede da Manchete. O que traria? Mais um corpo? Depois de um rápida olhada em direção ao hall, o motorista manobrou o rabecão e acelerou. Ficou o "mistério do rabecão sem rumo", segundo Cony.
Como polemiza e divaga o livro "Aconteceu na Manchete", JK poderia estar em Minas, de resto sua terra natal, e Geraldo repousaria no Memorial em Brasília. Uma questão a ser encaminhada ao laboratório de DNA mais próximo.