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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Arnaud: a cidade certa até na hora do adeus

por Eli Halfoun
Meu amigo Esmeraldo, sempre atento, foi rápido no gatilho e homenageou Arnaud Rodrigues com um belo texto. Confesso que esperei passar o impacto que tive ao dar de cara com a notícia do adeus de Arnaud Rodrigues. Arnaud era uma pessoa humilde e simples. Jamais falava de si para reconhecer o valor de seu trabalho. Talvez não tivesse consciência de sua grandeza artística. Arnaud era um artista versátil e brilhante em tudo que se propunha fazer. Sua intenção maior era sempre a de criar textos e espetáculos com os quais pudesse ajudar os colegas. Lembro que uma noite em minha casa ele me falou, como sempre com humildade, de muitos planos artísticos, todos com a finalidade maior de agrupar artistas e amigos. Um dia cansou do Rio e mudou-se para Palmas, Tocantins. Até para viver (e morrer) teve o talento de escolher a cidade com o nome certo: Palmas que era como o público reconhecia seu talento. E é o que ele recebeu e mereceu. Continuará recebendo as palmas sempre.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Arnaud Rodrigues fez rir um Brasil triste


por José Esmeraldo Gonçalves
Deu nos jornais: Arnaud Rodrigues morreu ontem, aos 67 anos, em um acidente de barco em Tocantins. Conheci o Arnaud no fim dos anos 70. Depois de se desentender com Chico Anysio, com quem tinha feito o programa Chico City e criado o antológico Baiano e os Novos Caetanos, o comediante buscava outros caminhos. Na época dirigindo a Fatos & Fotos, Zevi Ghivelder o convidou para ser um dos cronistas da revista. Arnaud aceitou e a F&F, onde eu era editor, ganhou um implacável observador do cotidiano. Escrevia como se fosse um caricaturista, no sentido de captar aquele pequeno detalhe que faz o todo. Entrevistado hoje sobre a morte do parceiro, Chico Anysio, com quem Arnaud se reconciliou e voltou a trabalhar anos depois, reconhece: "Era o melhor redator de comédia do Brasil". Toda semana, geralmente às terças-feiras à tarde, Arnaud ia ao Russell entregar seu texto. Passava algumas horas na redação, contava histórias, divertia a turma. Elogiava o Crato (CE), onde nasci, falava da beleza da Chapada do Araripe, mas dizia que Serra Talhada (PE), onde ele e Lampião nasceram, era terra muito mais bonita tanto que antigamente, dizia, era chamada de Vila Bela.
Depois da temporada como cronista da F&F, o pernambucano reencontrou o sucesso na TV. Atuou nas novelas "Roque Santeiro" (1985), "Partido Alto" (1984), "Pão Pão, Beijo Beijo" (1983) e em alguns filmes ("A filha dos Trapalhões" (1984), "Os Trapalhões e o Mágico de Oroz" (1984). Recentemente, esteve no humorístico "A praça é nossa". Eu o reencontrei algumas vezes geralmente nos corredores da TV Globo. Ele fazia questão de agradecer sempre a acolhida que teve na revista. Naquele breve período de, digamos, vacas magras, Arnaud precisava ganhar dinheiro, claro, passou a fazer shows em qualquer cidade que o convocasse e lançou um LP solo no qual levava muita fé. Era o "Arnaud Rodrigues, o Descobrimento". Na capa, em lay-out de Mello Menezes, ilustrador que fez muitos trabalhos para a EleEla, lá estava ele de Pero Vaz de Caminha com um volante da loteria esportiva nas mãos. Enquanto escrevo, vejo este velho LP na estante aqui ao lado entre uma pilha de vinis sobreviventes. Quando lançou o disco, em 1980, ele foi à redação da F&F e me deu um exemplar com uma dedicatória: "Esmeraldo, por tudo que você tem feito por mim. Muito obrigado. E tente curtir este som". Bobagem, não fizemos nada pelo Arnaud. Vá em paz, amigo. Obrigado a você, que levou humor à revista e, mais do que isso, fez rir um Brasil triste naqueles pesados anos da ditadura.