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sexta-feira, 21 de junho de 2019

Le Monde: Chico Buarque fala sobre a cultura de ódio no Brasil de hoje

Algo como "Uma cultura de ódio se espalhou pelo Brasil" é o título que Le Monde dá a uma entrevista com Chico Buarque publicada hoje.

O cantor fala sobre a situação do Brasil sob o regime Bolsonaro. Segundo o jornal francês, "com uma sinceridade muitas vezes tingida de tristeza".

Le Monde pergunta ao brasileiro porque solicitou à França um visto de longa duração e se esse é um "novo exílio".

Chico explica:

- "Minha situação atual é muito diferente da de 1969. Não estou no exílio hoje. Estou aqui escrevendo, trabalhando em Paris, como faço quando escrevo normalmente. Simplesmente aqui, em Paris, estou mais quieto. Eu tenho mais tempo, por exemplo, para me concentrar em escrever um livro que comecei no início deste ano.

Sobre o desprezo do governo pela cultura, ele comenta:

- "Hoje, artistas e atores culturais no Brasil não são bem-vindos nem bem vistos pelo governo, mas não há perseguição policial como em 1969. No entanto, existem ameaças, não necessariamente contra os artistas. mas contra a esquerda em geral, gays, minorias, mulheres. Uma cultura de ódio se espalhou para o Brasil de uma maneira impressionante. Este ódio é alimentado pelo novo poder, o presidente, sua comitiva, seus filhos, seus ministros ... Eles desacreditam os artistas, a quem eles consideram ser bom para nada. Cultura não tem valor em seus olhos. Dito isso, quero continuar morando no Brasil, não quero morar longe do meu país".


quinta-feira, 23 de maio de 2019

João Máximo: "Ninguém merecia mais este Camões do que Chico Buarque"


Em seu blog no G1, nosso caro João Máximo, com passagem pela Manchete e Fatos & Fotos, escreve sobre Chico Buarque e o Prêmio Camões de  Literatura, que o escritor e compositor acaba de receber.

Chico foi agraciado pelo conjunto da obra, segundo a unanimidade de um júri formado por Antonio Carlos Hohlfeldt e Antonio Cicero (Brasil); Clara Rowland e Manuel Frias Martins (Portugal); Nataniel Ngomane (Moçambique); e Ana Paula Tavares (Angola).

Seus livros - A bordo de Ruy Barbosa, Fazenda Modelo, Estorvo, Benjamim, Budapeste, Leite Derramado, O Irmão Alemão -, suas peças - Calabar, Gota d'Água, Ópera do Malandro - e as incontáveis poesias que várias gerações de brasileiros se acostumaram a cantar formam uma obra de grande importância para a língua portuguesa.

Trechos do artigo de João Máximo:

*"São de 1968 esta palavras de Vinicius de Moraes: 'Não resta dúvida de que Chico Buarque é também um escritor. Não um escritor como a maioria dos que existem por aí, meros ajuntadores de palavras escritas num léxico convencional ou modernoso'".

* "A entrega da medalha, diploma e 100 mil euros a Chico buarque está prevista para setembro, em  Lisboa. Integrantes da comissão que coroou seu nome garantem não ter havido qualquer injunção política naescolha. E não houve mesmo. Até porque o cidadão que sempre esteve do outro lado daquele governo parece contar cada vez mais com o apoio dos que já estiveram do lado do atual".

LEIA O TEXTO COMPLETO NO BLOG DO JOÃO MÁXIMO, NO G1. AQUI

sábado, 29 de dezembro de 2018

Minha noite com Miucha, há 62 anos, na Pauliceia desvairada • Por Roberto Muggiati

Miucha com o então marido João Gilberto e o irmão Chico Buarque


por Roberto Muggiati 

Foi naqueles meses malucos de 1962, entre os dois anos em Paris e os três anos em Londres, que eu batizei de Seis meses num DKW. Eu ia muito a São Paulo nesta época e me enturmei com um pessoal muito doido. Tinha o Nelson Coelho, que chefiava a sucursal do JB em São Paulo, mas preferia ser contista, poeta e mestre zen. O Benjamin Steiner, um judeu argentino, publicitário campeão de faturamento que depois largou tudo e virou antiquário; o Pachequinho – que irreverência nossa chama-lo assim, o grande maestro Diogo Pacheco –  e respectivas consortes e sem-sortes. Cada noite era uma aventura e naquela noite de meados de 1962 o pessoal inventou de ir jantar numa cantina do Brás que, naquela época nada gentrificada, era mesmo um bairro bem proletário – e a cantina um bom freje.


Alguém lembrou de tirar do bom caminho a amiga Heloisa Maria Buarque de Holanda, a Miúcha, dois meses mais moça que eu – tínhamos então 24 aninhos. Ela ainda não sonhava em ser cantora, nem em casar com o João Gilberto e parir a Bebel Gilberto. A operação de retirar Miúcha do vetusto casarão do lendário Sérgio Buarque de Holanda, plantado numa encosta atrás do estádio do Pacaembu – Chico Buarque, dezoito anos, não era Chico ainda e dormia como um anjo – aquela operação envolvia, mais do que tudo, rigoroso silêncio. Ninguém tinha celular e, não sei como, à hora aprazada, a menina escapuliu pela janela e pulou o muro. E lá fomos todos nós, felizes da vida, para o Brás.

Um corte rápido, de apenas cinquenta anos, meio século. Reencontro Miúcha no Rio em 2012 na estreia para a imprensa de A música segundo Tom Jobim, que ela roteirizou com o diretor do filme, Nelson Pereira dos Santos. Numa brecha, ataco: “Miúcha, lembra de mim, aquela noite no Brás?” Embora na ocasião mítica tivéssemos sentado lado a lado, nenhum dos dois lembrava nada de cada um ou de tudo mais. Mas ela recordou o nome do restaurante: “Era a Cantina do Marinheiro, não?” Cantina do Marinheiro só mesmo naquela Pauliceia pós-desvairada – mais desvairada ainda – dos anos 1960. Valeu, Miúcha, foi breve e fugaz o nosso tête-à-tête, mas foi eterno enquanto durou.  Saudades...

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Chico Buarque canta "Apesar de Você" em protesto no antigo Canecão. Na plateia, o coro "Fora Temer"

Foto de Bruno Bou/Cuca da UNE/Reprodução Facebook
O cantor Chico Buarque apareceu ontem, de surpresa, ao antigo Canecão, onde fez memoráveis shows ao longo da carreira, e cantou com a plateia o refrão "Apesar de você, amanhã há de ser outro dia". Desde que a URFJ retomou o Canecão na justiça, o local está seu uso. Nos últimos dias, foi ocupado pelo movimento OcupaMinC. Dessa vez, o refrão foi dirigido ao interino que assumiu o governo pós-golpe, Michel Temer.
VEJA O VÍDEO, CLIQUE AQUI

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terça-feira, 12 de abril de 2016

Arcos da Lapa e Fundição Progresso: Rio em defesa da legalidade democrática e contra o golpe da chapa Michel Temer-Eduardo Cunha, que ameaça direitos sociais

O povo ocupa os Arcos da Lapa. Foto CUT

A presença de muitos jovens. Foto Agência Brasil

A geração que já viveu a ditadura se manifesta contra a derrubada de um governo eleito e, mais do que isso, contra a tentativa de golpe social que ameaça direitos dos brasileiros. Foto Agência Brasil

A disposição para resistir. Foto Agência Brasil

Chico Buarque na Fundição Progresso: "Estaremos juntos em defesa da democracia. Não vai ter golpe". Foto Fernando Frazão/Agência Brasil

Lula: "Parte da elite brasileira não gosta e não acredita na democracia". Foto Fernando Frazão/Agência Brasil

Eric Nepomuceno, Chico, Leonardo Boff e Beth Carvalho. Agência Brasil

Lula e Chico Buarque. Foto Ricardo Stuckert/Instituto Lula
por José Esmeraldo Gonçalves 
Ontem, no momento em que uma Comissão de deputados montada e controlada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, aprovava o pedido de impeachment de Dilma Rousseff, um mero pretexto para um golpe que se arma desde o dia seguinte à posse da presidente para o seu segundo mandato, intelectuais, artistas, estudantes, aposentados e trabalhadores se reuniam nos Arcos da Lapa e na Fundição Progresso para um ato público em defesa da legalidade democrática.

As 5 mil pessoas que estavam na Fundição -  em reunião que começou mais cedo e era transmitida por telão para a praça - uniram-se, em seguida, por volta das 20h, ao público de 60 mil pessoas que lotava os Arcos. Aplaudido pela multidão, Lula falou durante quase 50 minutos contra o golpe, a ameaça de destituição de uma presidente eleita e a consequente implantação de um governo que assumidamente declara que vai investir contra políticas sociais e conquistas dos trabalhadores.

Chico Buarque, Leonardo Boff, Guilherme Boulos, Beth Carvalho, Gregório Duvivier, João Pedro Stédile, Eric Nepomuceno, Vagner Freitas, Tico Santa Cruz, Flávio Renegado, Antonio Pitanga, Tássia Camargo, Juca Ferreira, Rômulo Costa, Nelson Sargento, Marcelo Freixo, Carlos Minc, entre outros, apoiavam a manifestação.

Alguns oradores do ato, que não era iniciativa de um partido, mas de brasileiros preocupados com a tentativa de golpe, criticaram certas iniciativas do governo Dilma caracterizadas como tomadas em nome do mercado financeiro, assim como o distanciamento da presidente dos movimentos sociais e reivindicações populares.

Gregório Duvivier, do Porta dos Fundos, declarou que não se trata de apenas de um 'Fica, Dilma', mas de 'Fica e melhora, Dilma'. Governe para a esquerda, em nome do projeto para o qual foi eleita".

Durante quase cinco horas, os Arcos foram a tribuna livre para a manifestação popular contra a ilegítima chapa Michel Temer-Eduardo Cunha que quer subir a rampa do Planalto levada por interesses que farão do povo e dos seus direitos, muito mais do que de Dilma, a maior vítima.

POLÍCIA MILITAR TENTA RETIRAR FAIXAS CONTRA O GOLPE
Manifestantes estenderam faixas no alto do Arcos.

Pouco antes do ato começar, policiais militares começaram a retirar as faixas.

A multidão protestou contra a atitude da PM. Organizadores da manifestação entraram em contato com oficiais-comandantes, no local, e as faixas foram mantidas. Fotos: J.E. Gonçalves

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Ato Unitário em Defesa da Democracia: segunda-feira, dia 11 de abril, na Fundição Progresso, Lapa, Rio de Janeiro

Leonardo Boff, Chico Buarque de Hollanda, Wagner Moura, Fernando Morais e Eric Nepomuceno assinam manifesto que convida os cariocas para ato público contra o golpe.

*************


"COM ESTE MANIFESTO ESTAMOS CONVOCANDO A TODOS PARA UM ATO UNITÁRIO EM DEFESA DA DEMOCRACIA. SERÁ NA PRÓXIMA SEGUNDA-FEIRA, DIA 11 DE ABRIL, ÀS CINCO DA TARDE, NA FUNDIÇÃO PROGRESSO, NA LAPA, RIO DE JANEIRO."

"O que vivemos hoje no Brasil é uma clara ameaça ao que foi conquistado a duras penas: a democracia. Uma democracia ainda incompleta, é verdade, mas que soube, nos últimos anos, avançar de maneira decidida na luta contra as desigualdades e injustiças, na conquista de mais espaço de liberdade, na eterna tentativa de transformar este nosso país na casa de todos e não na dos poucos privilegiados de sempre.

Nós, trabalhadores das artes e da cultura em seus mais diversos segmentos de expressão, estamos unidos na defesa dessa democracia.

Da mesma forma que as artes e a cultura do nosso país se expressam em sua plena - e rica, e enriquecedora - diversidade, nós também integramos as mais diversas opções ideológicas, políticas, eleitorais.

Mas nos une, acima de tudo, a defesa do bem maior: a democracia. O respeito à vontade da maioria. O respeito à diversidade de opiniões.

Entendemos claramente que o recurso que permite a instauração do impedimento presidencial - isso que em português castiço é chamado de 'impeachment' - integra a Constituição Cidadã de 1988.

E é precisamente por isso, pelo respeito à Constituição, escudo maior da democracia, que seu uso indevido e irresponsável se constitui em um golpe branco, um golpe institucional, mas sempre um golpe. Quando não há base alguma para a sua aplicação, o que existe é um golpe de Estado.

Muitos de nós vivemos, aqui e em outros países, o fim da democracia.

Todos nós, de todas as gerações, vivemos a reconquista dessa democracia.

Defendemos e defenderemos, sempre, o direito à crítica, por mais contundente que seja, ao governo - a este e a qualquer outro.

Mas, acima de tudo, defendemos e defenderemos a democracia reconquistada. Uma democracia, vale reiterar, que precisa avançar, e muito. Que não seja apenas o direito de votar, mas de participar, abranger, enfim, uma democracia completa, sem fim. Em que cada um possa reivindicar o direito à terra, ao meio-ambiente, à vida. À dignidade.
Ela custou muita luta, sacrifício e vidas. Custou esperanças e desesperanças.

Que isso que tentam agora os ressentidos da derrota e os aventureiros do desastre não custe o futuro dos nossos filhos e netos.
Estamos reunidos para defender o presente. Para espantar o passado. Para merecer o futuro. Para construir esse futuro. Para merecer o tempo que nos foi dado para viver."

Leonardo Boff
Chico Buarque de Hollanda
Wagner Moura
Fernando Morais
Eric Nepomuceno

domingo, 31 de janeiro de 2016

"Alô, burguesia de Ipanema": é o Simpatia na Avenida...


FOTOS DE FERNANDO MAIA/RIOTUR






É o 32° Carnaval do Simpatia. Ontem, cerca de cem mil cariocas e turistas homenagearam Chico Buarque, recentemente hostilizado por playboys e coxinhas desocupados no Leblon. O bloco volta a desfilar no próximo domingo. Abaixo, a letra do samba, com referência a Chico Buarque e ao personagem "Esmeraldo Simpatia é Quase Amor", criado por Aldir Blanc e inspiração do bloco fundado em 1984.  Fotos de Fernando Maia/Riotur

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Há 65 anos, o macartismo dava as caras. Parece que foi ontem... E o que Chico Buarque tem a ver com isso?

McCarthy na capa da Time. 



por José Esmeraldo Gonçalves
Em 1950, o Congresso norte-americano aprovou a Lei MacCarran-Nixon. A norma exigia que instituições, sindicatos, empresas e quaisquer outras entidades simpatizantes do ideário comunista se registrassem em órgãos de controle. Podia ser vista como um dispositivo de alcance alegadamente burocrático, mas seus dramáticos efeitos marcariam para sempre um período crítico da liberdade individual na história norte-americana.
Nos anos que se seguiram ao fim da Segunda Guerra, uma forte campanha anticomunista havia sido posta em curso na mídia local, especialmente no rádio, veículo de grande penetração no interior do país. Nas serpentinas da política internacional já começava a circular, no pós-guerra, o gás que, pouco depois, serviria ao mundo uma Guerra Fria estupidamente gelada.
Em agosto de 1949, a União Soviética detonava sua primeira bomba atômica. Os efeitos daquela explosão em Semipalatinsk, no Casaquistão, abalariam, simbolicamente, as paredes de Washington. A Bomba A soviética acabava com a hegemonia atômica do cogumelo norte-americano. Pouco mais de dois meses depois, Mao Tse Tung proclamava a República Popular da China, após a vitória da revolução que ganhou forma na sua Longa Marcha. Em junho de 1950, a Guerra da Coréia abria sua temporada. O resultado imediato foi a exacerbação do sentimento anticomunista na terra de John Wayne. A nova síndrome alcançou rapidamente a potência de alguns megatons ideológicos. O americano médio passou a ver comunista embaixo da cama, no banheiro, no closet da patroa, no hamburger, na camisa vermelha do quarter-back e na coca-cola. O Senado abriu Comissões de Investigação, mais ou menos como as nossas CPIs, talvez menos vulgarizadas e imponderáveis. Uma dessas subcomissões (havia outras instâncias de investigação conduzidas por deputados na Câmara dos Representantes) foi entregue ao senador Joseph McCarthy, um advogado nascido em uma fazenda, da bancada ruralista, típico "red neck", cujos horizontes mal ultrapassavam o celeiro da propriedade.
Pouco meses antes da instalação das comissões, McCarthy já se destacara na mídia ao denunciar uma rede de espionagem comunista dentro do Departamento de Estado e apontar a atuação de simpatizantes em vários níveis do governo. Menos de um ano depois da aprovação da Lei MacCarran-Nixon, a intensa atuação de Mc Carthy levou à criação de um tribunal especial denominado "Comitê de Atividades Antiamericanas". Foi aí que a cruzada de McCarthy, apoiado pelo diretor do FBI J. Edgar Hoover e pela mídia conservadora, ganhou uma grife - o macartismo - e instaurou um clima de terror em vários setores do pais.
Personificando o anticomunismo, o senador passou a comandar o enquadramento de cientistas, escritores, funcionários públicos, atores e diretores de cinema, roteiristas, funcionários públicos, cientistas, professores e diplomatas. Mas o braço policial do Comitê podia alcançar qualquer outra categoria de cidadão, mesmo aquele sem vida pública. Para isso, bastava a denúncia de um vizinho, colega ou superior. Uma simples suspeita já seria capaz de tornar um inferno a vida de um acusado. Eram os "Culpados por Suspeita", título, aliás, de filme em que Roberto de Niro vive um diretor de cinema que se recusa a denunciar colegas, tem sua carreira interrompida e é abandonado pelos amigos.
McCarthy, endeusado como paladino, talvez tenha se empolgado demais na sua "cruzada patriótica". Ele radicalizou tanto a caça às bruxas que, sentindo-se poderoso e paparicado, passou a desprezar direitos individuais, denunciar militares que eram heróis de guerra e ameaçar enquadrar até advogados das vítimas. O fato de ser a "estrela" anticomunista também incomodou políticos conservadores que ambicionavam o mesmo papel, de alto rendimento eleitoral. Resultado: o "carrasco" foi afastado da subcomissão, cedendo lugar a Richard Nixon.
O criador foi contido mas a criatura, o chamado macartismo, prosseguiria na ativa por vários anos. Coube a Nixon tornar mais atuante a tropa de elite policial das operações que caçavam "espiões". Ironicamente, duas décadas depois, Nixon viria a ser desbancado da presidência por promover espionagem na sede do Partido Democrata.


Diretores e atores de Hollywood, como John Huston e William Wyler organizaram protestos contra a prisão de colegas. Grupos que incluíam nomes prestigiados do porte de Humphrey Bogart, Lauren Bacall, Henry Fonda, Gene Kelly, Judy Garland, Katharine Hepburn e Frank Sinatra foram a Washington pedir, em vão, o fim da caça às bruxas de Mc Carthy.
Antes de passar o bastão para Nixon, um dos alvos preferenciais de McCarthy foi Hollywood. Ele acreditava que os estúdios estavam infiltrados, eram uma máquina diabólica da propaganda comunista. Além disso, atingir o cinema dava o espaço midiático que o Comitê precisava. Perseguir Charles Chaplin, por exemplo, conferia aos caçadores de comunistas as primeiras páginas dos jornais. Um mero exemplo: os agressores do compositor e escritor Chico Buarque não ganhariam a repercussão que tiveram se mirassem um cidadão comum. Chico Buarque deu-lhes visibilidade. Pois é, McCarthy também queria ser celebridade, curtir uma área vip e achou que Hollywood era o seu caminho mais curto para a glória.
A lista dos "comunistas" não era muito diferente dos créditos dos filmes que rolavam nas telas dos cinemas do país. Entre os indiciados estavam nomes como o do roteirista Dalton Trumbo, do maestro Leonard Bernstein, dos atores José Ferrer, Burgess Meredith, Zero Mostel, Edward G. Robinson, dos escritores Dashiell Hammett e Irving Shaw, dos dramaturgos Arthur Miller e Lillian Hellman, do músico Artie Shaw. dos diretores Orson Welles, Luis Buñuel e Richard Attenborough.
Alguns da lista de suspeitos hollywoodianos, como o diretor Elia Kazan, preferiram fazer acordos de delação premiada e, com isso, escaparam de penas. Muitas da vítimas do macartismo cumpriram um ano ou dois de cadeia. Outros, como Charles Chaplin, partiram para o exílio. Houve, ainda, casos de pessoas que se suicidaram por terem as carreiras implodidas. Posteriormente, a Justiça revisou processos e os anulou por inconsistências, faltas de provas ou simples invenções.
McCarthy morreu em 1957, aos 48 anos, vítima de hepatite de origem alcoólica. Não se sabe se movido a birita ou não, ele costumava fazer longos discursos na tribuna do Comitê, às vezes falava durante horas. Nos dias em que estava mais exaltado ou calibrado gostava de humilhar os depoentes. No auge da caça às bruxas, atores e atrizes, compositores e diretores não apenas perderam contratos como foram interpelados nas ruas por antigos fãs insuflados por reportagens que apontavam artistas da "lista negra" como uma ameaça ambulante ao "way of life" da "América", que vivia uma era de prosperidade colorida, de conversíveis, eletrodomésticos, consumo, com a televisão se popularizando e mostrando a vida das celebridades. As trombetas do macartismo anunciavam que aquela realidade hollywoodiana da poderosa "América" poderia ruir. E os artistas da "lista negra" eram os tripulantes do cavalo-de-tróia que tentava invadir a fortaleza da família e da moral vigentes. Por isso, foram perseguidos e assediados. Mas não há registro de que alguém os tenha chamado de "merdas" nas calçadas da Dias Ferreira, no Leblon.
Quero dizer, na Rodeo Drive, em Beverly Hills.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Arrastão da direita cerca Chico Buarque...

No vídeo, Chico Buarque é cercado pelo grupo. "Você é um meurrrrda", diz um deles, caprichando no erre dos coxinhas.
por Flávio Sépia
Chegou a vez de Chico Buarque. Autoridades já foram agredidas em restaurantes e hospitais, passageiro de avião já foi esculachado pelo crime de estar lendo a revista Carta Capital, vizinho já deu parte em delegacia por ter sido ameaçado por um sujeito que batia panela, um rapaz com um filho no colo foi empurrado e jogado contra uma parede por estar usando camisa vermelha. Claro que Chico Buarque não escaparia da brigada direitista. O vídeo diz tudo. Rapazes de olhar rútilo, como diria Nelson Rodrigues, partem para cima do compositor, que caminhava em uma rua do Leblon, interpelando-o como se fossem a guarda islâmica à caça de um infiel.
Foi uma espécie de arrastão ideológico dos bem-nascidos.
Um deles se identifica, quando Chico lhe pergunta o nome: é Tulio Dek. Seria um rapper (sites de celebridades dizem que é ex-namorado de Cleo Pires e sobrinho do cantor Orlando Moraes. Dek seria, também, sócio do Barzim; os outros donos da boate, em Ipanema, seriam o global Bruno de Luca, o piloto Cacá Bueno, filho de Galvão Bueno, o músico Di Ferrero, da banda NXZero e o empresário Igor Sebba). No vídeo aparece uma figura que, segundo O Globo, seria filho do empresário e dublê de apresentador Álvaro Garnero que, por sua vez, é filho de Mário Garnero que, na ditadura, foi da Comissão Nacional de Energia,  presidiu o projeto Rondon a convite do governo militar e foi, também, dono do Brasilinvest, banco de investimentos liquidado extrajudicialmente pelo Banco Central em 1985.
Na roda que tentava intimidar Chico Burque havia um outro, mais agressivo, que falou que Chico era um meurrrrda, "você é um meurrrrda", disse, caprichando no erre dos coxinhas.
Melhor, ou pior, ver o vídeo, do site Glamurama, que diz muitos sobre esses tempos: clique AQUI

sábado, 6 de abril de 2013

Deu no Globo: o dia em que João Luíz Albuquerque jogou no Politheama ao lado de Chico Buarque e Bob Marley

Foto reproduzida de O Globo
por Gonça
O Globo de hoje publica matéria de Leonardo Lichote sobre o Politheama, o time de pelada de Chico Buarque, que há 35 anos joga no Centro Recreativo Vinicius de Moraes, o "estádio- alçapão" do escrete de amigos do compositor. Além do Chico, Carlinhos Vergueiro, Silvio Cesar, Vinicius França, Fagner, Jorge Vercílio, Ruy Faria e outros artistas vestem ou já vestiram a camisa do Politheama. Uma das fotos que ilustram a reportagem "Um Time que Transpira Música" mostra uma formação especial que entrou em campo em 1980. A legenda identifica apenas Bob Marley, agachado à direita, ao lado de Chico e Paulo Cesar Cajú. De pé, no meio, está o cantor  e compositor Toquinho. O simpático gordinho à direita, braços cruzados e pinta de zagueiro, boa parte da audiência deste blog conhece. É João Luíz Albuquerque, que foi correspondente em Nova York, repórter e redator das revistas Manchete e Fatos & Fotos. No livro "Ela é Carioca", o escritor Ruy Castro, outro ex-redator das duas revistas semanais da extinta Bloch, conta vários "causos" protagonizados por João Luiz. Uma dessas histórias, segundo Ruy, mobilizou o Antonio's, o lendário bar de Ipanema. Era 25 de janeiro, aniversário de Tom Jobim. Toca o telefone, um garçom atende e diz que era o secretário de Frank Sinatra. O cantor queria parabenizar o brasileiro. "Mas Tom não estava e o bar se alvoroçou: clientes grudaram-se ao telefone e puderam ouvir Sinatra, ao fundo, esbravejando com o secretário porque Jobim não vinha atender. Meia hora depois, João Luiz e o empresário Jackson Flores chegaram ao Antonio's. Só se falava no telefonema de Sinatra. A vontade de rir era enorme e eles tiveram de segurar-se - porque a ligação partira da casa de João Luiz, com Jackson fazendo o "secretário" e João Luiz fingindo-se de Sinatra. O suposto telefonema entrou para a lenda e já foi contado (a sério) em livros e reportagens. Tom e o Antonio's morreram sem saber a verdade", conta Ruy.

sábado, 15 de outubro de 2011

Chico Buarque não quer mais falar mal do governo

Chico Buarque na edição de aniversário da Rolling Stone Brasil, já nas bancas. Foto: Reprodução
por Eli Halfoun
O fato de ter uma irmã (Ana Buarque de Holanda) ministra não faz e nem fará com que Chico Buarque faça constantes visitas ao planalto. Chico quer ficar na dele e escapar ao máximo da fiscalização imposta pela imprensa. Ele não nega o complicado relacionamento que tem com isso, fiscalização e diz em entrevista para a edição de aniversário da Rolling Stone Brasil: “É chata essa fiscalização moralista da vida dos outros. Vou deixar de ir a praia, mas outras coisas não vou deixar de fazer: o meu vinho eu vou tomar, o meu cigarro eu vou fumar”. Sobre sua participação política Chico diz: “Não me interessa dar entrevista falando mal do governo. Eu gostava de falar mal do governo quando os jornais não faziam isso. Não vou a Brasília, não vou ao palácio. Não tenho atração alguma pelo poder”. Portanto deixem o cara em paz com seu vinho e seu cigarro, além da namorada e das peladas. Ambas. (Eli Halfoun)

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Chico na Alfa

Chico na Alfa, fotografado por Walter Carvalho. Reprodução.

por Gonça
Capa da Alfa de fevereiro, Chico Buarque recebeu em casa, no Alto Leblon, a jornalista Regina Zappa, que foi da Fatos e do Jornal do Brasil, e é autora de livros sobre o compositor e escritor. Chico, que prepara novo CD, fala sobre a falsa polêmica do Prêmio Jabuti. Como se sabe, o livro "Leite Derramado" ganhou o título de Melhor Livro do Ano de Ficção nas categorias júri popular e júri oficial. Como não venceu na categoria Melhor Romance, articulistas irados deflagaram uma campanha que questionava a premiação. Se não ganhou como Melhor Romance, como foi premiado como Melhor Livro do Ano?, perguntavam. "Eu ia ficar quieto" - diz Chico à Alfa - "mas foi tanta gente falando nas colunas de jornal que resolvi mandar uma carta". O autor lembrou que júris diferentes escolhem os prêmio de cada categoria. A mesma situação já ocorreu 17 vezes antes. Nunca ninguém contestou as regras do Jabuti. "Acho que as pessoas não se conformam que um compositor popular possa ganhar prêmio como escritor", conclui Chico à Alfa. Na entrevista, ele revela uma curiosidade: quando compõe, faz primeiro a música. A letra vem depois. Por isso, costuma caminhar ouvido a música. Ou seja, quando cruzar com Chico no calçadão não o interrompa. Parece que não mas ele está trabalhando.
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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Chico Buarque não esconde seu voto. Vai de Dilma

Dilma, Chico Buarque e Alcione no Teatro Casa Grande, Rio: artistas e intelectuais em reunião de apoio à candidata do PT, ontem. Foto: Ichiro Guerra/Divulgação.
por Eli Halfoun
O voto é secreto, mas nem tanto. Chico Buarque, ao contrário de muitos artistas que não querem se comprometer (como se fosse possível viver sem assumir compromissos) e acham que assim estão fazendo “média” com os fãs, declara aberta e corajosamente que digitará o número de Dilma Roussef na urna eletrônica. Na reunião que a candidata teve no Rio com artistas Chico disse em seu discurso: “Vim reiterar meu apoio a essa mulher de fibra, que já passou por tudo, e não tem medo de nada. Vai herdar um governo que não corteja os poderosos de sempre. O Brasil é um país que é ouvido em toda parte porque fala de igual para igual com todos. Não fala fino com Washington, nem fala grosso com a Bolívia e o Paraguai”.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Uma coleção histórica com 240 músicas de Chico Buarque

por Eli Halfoun
Se você é daqueles que não quer deixar as compras para a última hora e já começou a preparar a lista de presentes de Natal não deixe de incluir para uma pessoa especial (que pode ser você mesmo) um presente também muito especial: a Editora Abril acaba de lançar a Coleção Chico Buarque de 20 volumes com a vida e a obra do artista. A coleção tem mais de 240 músicas e mais de 800 páginas com fotos e história. É um verdadeiro documento histórico: todos os livros/CDs trazem as reproduções e as capas originais dos Lps e CDs de Chico. Tem também uma caixa exclusiva para guardar a coleção que custa pouco mais de R$ 200, 00, o que é pouco para muita arte. Quer saber mais? Clique AQUI

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Chico falou


Chico Buarque, o ermitão do Alto Leblon, lançou um livro (Leite Derramado) e não deu entrevistas. Pelo menos, eu não vi. Fez uma foto para o Globo, no Jardim Botânico, que ilustrou uma resenha, e falou na Flip, em Paraty. Curiosamente, privilegiou um blog. Recebeu em casa a jornalista portuguesa Isabel Coutinho, para quem fez até cafezinho. Detalhe: a entrevista foi para o Ciberescritas, da Isabel (abaixo, link para o blog da jornalista).
Entrevista exclusiva para Isabel Coutinho