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sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Fotografia: a capa do Gugu... e outros cliques • Por Roberto Muggiati

Gugu na capa da Manchete e...


...um ano depois na Amiga. Fotos de Lena Muggiati


Augusto Ruschi e o beijo do beija-flor. Foto de Ricardo Azoury

Gabeira na árvore. Foto de Gil Pìnheiro
O editor de uma revista ilustrada compete sempre com seus fotógrafos, talvez por sofrer do complexo de não saber fotografar. Mas nunca faltaram aos editores da Manchete ideias para fotos, algumas até mirabolantes. Quando Ricardo Azoury foi retratar Augusto Ruschi na sua reserva ecológica do Espírito Santo, exigi que fizesse uma página dupla com o ambientalista beijando... um beija-flor. Sorte que o repórter era o Marcelo Auler, mais tirânico que o editor, e exigiu que Ruschi sustentasse entre os lábios um dedal com água açucarada até que surgisse um colibri disposto a entrar na brincadeira. A foto fez o maior sucesso, reproduzida até em pôsteres, outdoors e campanhas publicitárias.
Gil Pinheiro foi incumbido de fazer a primeira foto de Fernando Gabeira na sua transição ideológica do vermelho para o verde. Como de praxe, procurou-me na redação para saber que tipo de foto eu queria. “O cara não é líder dos verdes? Bota ele em cima de uma árvore!” Gil era um cumpridor de ordens exemplar. Com surdez avançada, não conseguia controlar o volume da voz e soltou o berro para cima do Gabeira: “Companheiro, sobe nessa árvore aí.” O retratado obedeceu prontamente e Gil voltou para a redação com uma foto maravilhosa do líder ambientalista de camisa e calça vermelhas contra o fundo verdejante de uma exuberante figueira.
O furor criativo do editor muitas vezes contagiava o fotógrafo. Foi o caso de Lena Muggiati, escalada em 1995 para fazer em São Paulo uma matéria com Gugu Liberato, que pleiteava um canal de TV.  Lena - na época sofrendo agudamente da doença do pânico - aventurou-se a atravessar o Viaduto do Chá até a Praça do Patriarca, o local da megalópole com mais transeuntes por metro quadrado. Sabia o que queria e encontrou no camelódromo da praça: um apontador de lápis no formato de um aparelho de TV. O simpático apresentador, líder absoluto do Ibope na época, mostrou-se muito acessível e se dispôs a posar com o brinquedinho. A foto deu capa. Um ano depois outro clique da série foi capa da Amiga, onde o Rei do Domingo estreava uma coluna. Carregava ainda um comentário irônico sobre a audácia do jovem de 36 anos que brigava por um canal próprio de TV, para competir com magnatas como Roberto Marinho e Silvio Santos. 

Descanse em paz, Gugu.

terça-feira, 5 de junho de 2018

Fernando Gabeira e a contradição no tempo. Por Guina Araújo Ramos

1986 - Gabeira, então do PV, em frente ao prédio da Manchete, depois de participar de debate promovido pela TV Manchete no Teatro Adolpho Bloch. Naquelas eleições para governador do Rio de Janeiro, o jornalista dividiu votos com o brizolista Darcy Ribeiro, o que deu a vitória a Moreira Franco. Gabeira nem deve ter percebido que o passado estava logo ali, como uma curiosidade subjetiva que a foto carregava. Em 1969, um dos bilhetes dos sequestradores do embaixador americano Charles Elbirck, do qual ele participou, foi deixado a pouco metros da cena acima, em uma escultura de Bruno Giorgi instalada no pequeno jardim diante da sede da Bloch Editores. Foto de Guina Araújo Ramos

1979 - Gabeira foi fotografado na praça 4 de julho, em frente à Embaixada dos Estados Unidos, no Centro do Rio. Ele voltava do exílio e não quis posar na calçada da representação americana. Como havia participado do sequestro do embaixador Charles Elbrick, o jornalista temia ser "sequestrado". Foto de Guina Araújo Ramos Ramos
 por Guina Araújo Ramos 

Têm me reaparecido amigos e conhecidos com que convivi nos subúrbios cariocas nos anos 1960 e 70, tempos da ditadura do Golpe de 1964, pessoas (a maioria deles brancos, todos da classe média) que, então, agiram como “revolucionárias”, correram risco de serem presas, algumas até o foram... Curioso é que, hoje, se transformaram em ou se apresentam como... bem, talvez o termo mais próprio seja mesmo “reacionários”.

Têm muita dificuldade de entender as necessidades da sociedade brasileira (simplesmente defendem seus relativos privilégios), continuam presos à ideologia da Guerra Fria (têm alta subserviência ideológica aos EUA) e destilam preconceitos de classe e de cor (colocam-se sempre, moralmente, acima do “povão”). Alguns chegam à absoluta contradição de pedirem “intervenção militar”, parece até que apagaram da memória seus próprios sofrimentos na ditadura...

Sentiam basicamente, na época, a necessidade de defender sua liberdade de expressão (muitas vezes, artística) e foram estimuladas por Maio de 1968 na França e as passeatas no Brasil, até sofrerem a repressão da ditadura, que lhes atingiu após o AI-5, final de 1968.

Não mudaram, de lá para cá, num ponto fundamental: apesar de criadas num país marcado pela memória do escravismo, parece que nunca tiveram a pretensão, talvez nem mesmo a ideia, de questionar as injustas estruturas econômicas ou de lutar por igualdade nas relações de classe.

Entre os Bonecos da História, talvez um exemplo muito simbólico, se não prático, seja Fernando Gabeira. Durante o ano de 1979, após a aprovação da anistia, acompanhei a chegada de vários exilados políticos da ditadura do Golpe de 1964, entre eles Fernando Gabeira.

Copio trecho do meu livro “A outra face das fotos”:

Em uma grande matéria para a Manchete, fotografei Fernando Gabeira em entrevista no apartamento de sua prima Leda Nagle, conhecida apresentadora de programas de TV, na Gávea, e circulamos com ele pela cidade, revendo todo o roteiro de sua atuação política clandestina. Tinha, naturalmente, um deslumbramento, pelo Rio e pelas pessoas, mas também era evidente nele uma nostalgia mal digerida.  E alguma preocupação... Tivemos um momento tenso na matéria. Propusemos fazer umas fotos diante do consulado americano, na avenida Pres. Wilson, e, com grande desprendimento, Gabeira aceitou posar sentado junto ao pequeno obelisco da Praça 4 de Julho, em frente ao consulado. No entanto, quando sugeri, recusou-se terminantemente a pisar na calçada à frente do prédio do governo dos EUA: muito justamente, ele, que participara do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, em 1969, sentia agora um repentino (e compreensível) medo de ser sequestrado...”

LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO BLOG BONECOS DA HISTÓRIA. CLIQUE AQUI

domingo, 29 de março de 2015

Recortes da memória: 'sabe de nada, inocente'. No dia 30 de março de 1964, a crise estava nas ruas e o bloco dos desligados também...

No dia 30 de março, às vésperas das tropas do general Mourão Filho botarem o bloco na estrada Juiz de Fora-Rio, João Goulart agradecia a "colaboração" das Forças Armadas. Era assunto no JB daquele dia.

Já o experiente Carlos Castello Branco escrevia no JB que o esquema militar anti-Goulart desabara. Mal sabia o colunista que um xará seu de triste memória estava a caminho para inaugurar a ditadura. Goulart deve ter sido enganado pelos seus assessores e o jornalista pelas suas fontes.

A imprensa francesa admitia não entender nada do que estava acontecendo mas desconfiava que alguma coisa ia acontecer. A noticia estava na edição do JB de 30 de março de 1964. 
No Globo de hoje, 29 de março de 2015, Fernando Gabeira também diz, na sua coluna, que "algo vai acontecer". 

E Gabeira acrescenta que os protagonistas não são conhecidos, mas já se sabe "quem será atropelado". Melhor torcer para que o colunista esteja errado. Como nos dois primeiros exemplos no alto da página, há 51 anos.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Se ainda tinha alguém iludido...

(reprodução do jornal O Globo, 27/04/10).

por Jussara Razzé
Esta é para aqueles, iludidos, que ainda achavam que dá para fazer política sem colocar a mão na merda, como já disse, há tempos, Ciro Gomes. Que, aliás, acaba de ser defenestrado pelo próprio partido em sua ambição à candidatura à presidência. Gabeira empolgou parte dos cariocas na última eleição à prefeitura, como o azarão que conseguiu, contra todas as expectativas, ter chances reais de ganhar. Considerado O cara, um dos últimos representantes dignos da classe política e do voto daqueles mais decepcionados com os políticos em geral, ele acaba de se render. A mim não surpreende. Gabeira não tem culpa, nem acho que deixou de ser honesto. Apenas o sistema político brasileiro não deixa alternativas. É fazer coligação ou morrer na praia. Às vezes uma coisa não exclui a outra...

P.S. Para quem não é do Rio de Janeiro: apoiar o César Maia, último prefeito do Rio, a qualquer cargo público, é o que poderia acontecer de pior a nós, pobres moradores.