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domingo, 5 de fevereiro de 2023

A Arte da Biografia - Por Roberto Muggiati

 


“As exigências aumentaram drasticamente e as últimas biografias de Goethe, Schopenhauer, Wittgenstein, Thomas Mann, Virginia Woolf, Nabokov, Joyce e Beckett levam a pensar se a biografia não deveria ser enfim alçada a uma forma autônoma de arte literária.”

Quem levanta a questão é Reiner Stach na introdução à sua biografia Kafka: os anos decisivos (Todavia, 2022). Comecei a ler o livro de 650 páginas e na minha cabeça, já há muito tempo, nunca houve a menor dúvida de que a biografia é “uma forma autônoma de arte literária”. 


Devo passar alguns meses agarrado a esse volume, mas outro lançamento recente me atiçou o interesse: Pessoa: uma biografia (Companhia das Letras), do americano Richard Zenith, 66 anos. Aos 20 anos, estudante em Chicago, ele leu pela primeira vez, em espanhol, alguns versos do português e encontrou sua vocação. Ao longo de quase meio século, Zenith (fiel ao carisma do sobrenome), dedicou-se a pesquisar sobre a vida do misterioso e múltiplo Pessoa, com todos seus heterônimos. Numa visita a Durban, na África do Sul – onde Pessoa morou dos oito aos treze anos de idade – Zenith descobriu o heterônimo Karl P. Effield num jornal da cidade onde Pessoa publicou seu primeiro poema em inglês. Com 1116 páginas, essa nova biografia faz jus ao esforço e tempo investidos no trabalho.


Ainda não li por inteiro a biografia de James Joyce por Richard Ellman, de 880 páginas, mas percorri várias vezes os trechos dedicados a suas três estadias em Trieste, entre 1905 e 1919, buscando alguma citação a Muggia, a cidade que originou meu sobrenome. Sua peculiaridade é que não se situa na “bota” italiana, mas na extremidade norte da península Ístria e seu acesso é feito por barco a partir de Trieste. Em contrapartida, encontrei uma menção que Sigmund Freud faz, em carta a um amigo, de um domingo que passou em Muggia. 

Aluno destacado da Faculdade de Medicina de Viena, ganhou uma bolsa em 1876 (aos 20 anos) para fazer uma pesquisa sobre o sexo das enguias na Estação Experimental de Biologia Marinha de Trieste. Freud aproveitou a folga de um domingo para visitar Muggia e, entre outras coisas, comentou que as mulheres da cidade eram “ruivas em sua maioria, o que não coincidia com características da raça italiana nem da raça judia.”


Ainda Freud: outro dia comprei num sebo de rua aqui no Baixo-Glicério sua renomada biografia por Peter Gay (Uma vida para a história), edição em capa dura e bom estado, 720 páginas por vinte reais. Por dez reais levei de outro buquinista de calçada O Livro de Jô, com suas 480 páginas imaculadas. Interessam-me sua rica vida e personalidade, nos encontramos várias vezes em meus tempos de Manchete e fomos contemporâneos, nasci três meses antes dele.

No mesmo vendedor de rua, encontrei o inventivo Eu, Júlio Verne, de J.J. Benitez. Verne (1828-1905) foi um dos maiores contadores de histórias e viveu num momento histórico de invenções e transformações admiráveis. Revi há pouco tempo o maravilhoso filme A volta ao mundo em 80 dias, vibrando com as aventuras de Phileas Fogg (David Niven) e seu valete Passepartout (Cantinflas).

Minha irmã emprestou-me a autobiografia de Woody Allen, seu nome estampado na fonte favorita, Windsor, que usa sempre nos créditos de seus filmes. O cineasta abre o livro “Como Holden [o anti-herói do Apanhador no campo de centeio] não gostaria de entrar nessa bobajada de David Copperfield”, criticando a abertura clássica de romances do século 19, como o de Dickens. O escritor Woody soa bastante convencional, melhor seria contar sua vida na forma de um filme.

Traduzi algumas grandes biografias nos vinte anos que se seguiram à falência da Manchete em 2000. John Lennon, Chet Baker, Charles Mingus. A autobiografia do grande contrabaixista, Saindo da sarjeta, foi um desastre editorial. A pessoa que recebia meus arquivos traduzidos na Zahar e os encaminhava à diagramação e impressão sumiu com um dos capítulos inteiros (o de número 22) e o livro saiu incompleto. A emenda, pior que o soneto, foi disponibilizar o texto pela internet. Não importa, dois anos antes, em 2003, fiz a parceria perfeita com a Zahar ao traduzir uma nova versão da autobiografia de Billie Holiday, Lady Sings the Blues. Publicado em 1956, o livro omitia os três anos finais – e trágicos – da grande cantora. Escrevi um capítulo adicional, descrevendo o trágico fim de Lady Day.  Os 24 capítulos anteriores levavam o título de canções do repertório de Billie, o meu se chamou “Please Don’t Talk About Me When I’m Gone”. Acusada de porte de drogas, Billie, em condições de saúde críticas, foi hospitalizada em Nova York com dois policiais em guarda permanente à sua porta. A causa da infecção que acabaria causando sua morte foram quinze notas de 50 dólares enroladas com fita adesiva e escondidas na sua vagina. Eram os 750 dólares que William Dufty – o jornalista que escreveu sua autobiografia – tinha conseguido para ela por uma matéria publicada na revista Confidential. Eram amicíssimos, Billie madrinha do filho de Dufty. Curiosamente, conheci William Dufty quando veio em 1975 lançar seu livro Sugar Blues, uma condenação dos males do açúcar. Visitou a redação da Manchete com sua nova mulher, nada menos do que a atriz Gloria Swanson. Tive o privilégio de apertar a mão da divina Norma Desmond do Crepúsculo dos Deuses. Infelizmente, não houve contato pele a pele, a musa vestia luvas brancas.

Outra tradução que exigiu uma atualização pontual foi Polanski – Uma Vida, publicado pelo jornalista inglês Christopher Sandford em 2009. Quando comecei a traduzir o livro para a Nova Fronteira em 2010, Polanski, os 76 anos, vivia um drama terrível. Sugeri uma atualização num posfácio, a editora topou, e o resultado foram oito páginas adicionais sob o título O fantasma da liberdade, tomado emprestado do filme de Buñuel e aludindo também ao novo filme de Roman, O escritor fantasma.  Relatei no meu texto como, para rodar esse filme lançado em 2010, Polanski teve de fazer uma autêntica maquiagem de cenário, filmando as cenas de Londres num estúdio de Berlim, e aquelas de Martha’s Vineyard, no Maine, na ilha alemã de Sylt, no Mar do Norte.

Mesmo assim, o longo braço da justiça americana, que o caçava desde 1977, quase o alcançou. Citando do meu posfácio: “Em 26 de setembro de 2009, a convite do Festival de Cinema de Zurique, Polanski viajou à Suíça para receber um prêmio por sua carreira cinematográfica e acabou detido pelas autoridades sob a alegação de que estava em vigor um mandado internacional de prisão contra ele por causa da condenação, em janeiro de 1978, no caso da jovem Samantha Gailey. A detenção foi feita a pedido de autoridades dos Estados Unidos, que queriam a extradição de Polanski. Ele passou 67 dias num centro de detenção. Depois, o tribunal suíço aceitou o pedido dos advogados de Polanski, que ofereceram seu apartamento de Paris, na Avenue Montaigne, no valor de sete milhões de reais, como fiança. [Não está no posfácio, mas, Panis oblige: no mesmo prédio funcionava a Sucursal da Manchete em Paris no final dos anos 1960; e tem mais: Marlene Dietrich ocupava a cobertura, onde costumava tomar banho de sol nua.] Feito o acordo, Polanski ficou em prisão domiciliar no seu chalé em Gstaad, conhecida estação de esqui. Lá ele pôde supervisionar a pós-produção de O escritor fantasma. Só dez meses depois, em julho de 2010, Polanski teve o pedido de extradição rejeitado pelas autoridades suíças, que o liberaram da custodia e o declararam um ‘homem livre’”.

Aproveitei o posfácio para consignar em ata meus três insólitos encontros com Polanski:

“• Em março de 1969, no Festival de Cinema do Rio de Janeiro, que eu cobria para a revista Veja, Polanski – ao empurrar Jane Birkin de roupa e tudo na piscina do Copacabana Palace – quase me jogou n’água com a atriz. Nesse festival Polanski apresentou O bebê de Rosemary, um filme apavorante na época e, sustento, ainda hoje. Cinco meses depois sua mulher Sharon Tate (grávida de seu filho) e quatro amigos foram trucidados num banho de sangue em sua casa em Los Angeles.[Polanski deveria estar lá, mas ficou retido em Nova York para assinar um contrato na segunda-feira.]

• Em 1973, Polanski visitou a redação da Manchete, no Rio, com Jack Nicholson, que seria seu ator principal no premiado Chinatown (1974). Mal sabia o cineasta que, quatro anos depois, na casa de Nicholson em Los Angeles, teria um encontro sexual com uma menor de idade que faz dele, até hoje, um criminoso procurado pela justiça em território norte-americano e em países que tenham tratado de extradição com os Estados Unidos.

•  Em 1988 Polanski veio ao Brasil para promover Busca frenética e visitou de novo a Manchete, com a atriz do filme, Emmanuelle Seigner, 33 anos mais moça que ele, já sua mulher de fato; eles se casariam oficialmente em 1989 e estão juntos até hoje, com dois filhos. Adolpho Bloch convidou Polanski para um chá com um grupo seleto de dez pessoas. O cineasta passou meia hora discutindo com a mulher diante do prédio da Manchete, antes de entrar. Arrebanhado pelo Marechal, acabou subindo para o restaurante do 12º andar e, sentado à mesa de jacarandá maciço, diante de um serviço de chá britanicamente impecável. Polanski disse que preferia uma boa vodca polonesa. Adolpho atendeu imediatamente a seu desejo e o dois se puseram a falar em russo – para decepção dos outros convidados.  Na ocasião entreguei a Polanski uma cópia de sua foto com Jack Nicholson na visita que fizera 15 anos antes à Manchete.”

A última tradução que fiz foi da autobiografia de Michael Jackson, Moonwalk. Estranho que o livro, publicado em 1988, no rastro do megassucesso de Thriller, nunca tenha sido lançado no Brasil. Os direitos foram comprados pela editora Estética Torta, de Contagem, MG, e a tradução feita a partir da reedição de 2009, pouco depois da morte de Jackson. Foram respeitados todos os detalhes da diagramação original, recheada de fotos, e com a filigrana das pernas dançantes de Michael com a clássica meia branca em cada pé de página. Tal rigor editorial não admitia nenhum acréscimo, por isso não pude contar num posfácio meus três encontros com Michel Jackson.

• Em 1974, na primeira visita ao Brasil, Michael e irmãos se apresentaram na TV Tupi

JACKSON FIVE em Especial da Rede Tupi de Televisão em 1974 - YouTube

O Jackson Five pertencia mais ao universo da revista Amiga do que da Manchete, estranhamos quando Moyses Weltmann adentrou a redação com aqueles ETs de imensas cabeleiras afro. Michael, 15 anos, dotado de um tremendo narigão, já fazia sucesso com a canção da trilha do filme Ben. 

• Em julho de 1984, reintegrado à direção da Manchete depois de um breve interregno da dupla Hélio Carneiro-Janir de Holanda, ganhei um presente de grego do Jaquito, um daqueles que o Justino batizava voos-piscina: vai, bate na borda oposta e volta. Saí do Galeão na sexta à noite num avião com jornalistas e radialistas convidados e executivos da Sony para assistir no sábado à noite à apresentação da turnê Victory em Jacksonville, no extremo Norte da Flórida – terceira cidade na excursão de quatro meses pelos Estados Unidos e Canadá. O esquema de segurança, por excesso de zelo, quase provocou um acidente fatal para os irmãos Jackson, incluindo Michael, que vivia o auge da fama após o lançamento do álbum Thriller. Depois de um chá de cadeira no aeroporto  e Miami, madruguei no Galeão para fechar a Manchete no Russell.

• Em 1996, a um quarteirão da minha casa na Rua Real Grandeza, presenciei a gravação do clipe da canção "They Don‘t Care About Us", na favela Santa Marta. O local foi transformado numa escola de música para crianças carentes. Uma estátua de bronze do astro pop foi erguida ali em 2010, um ano após sua morte. A obra, do artista plástico Estevan Biandani, retrata o cantor com o mesmo visual do clipe, velando pela comunidade do morro. 

Com todas essas biografias e autobiografias me cercando, preciso abrir mão da curiosidade pela vida dos outros e me concentrar nas minhas próprias memórias porque –  já diziam os sábios latinos – Tempus fugit.... 


sábado, 6 de agosto de 2022

Brasil de Fato - Sobre Jô Soares, o que faltou contar...


O site Brasil de Fato relembra uma previsão de Jô Soares que, infelizmente, se confirmou. No auge do golpe contra Dilma Rouseff, o apresentador conduzia um quadro com jornalistas de política - que ele chamava de "as minhas meninas" - que discutia acontecimentos nacionais. 

Jô dizia que o processo que levou ao impeachment de Dilma "tinha cheiro de golpe". As "meninas" subiram nas tamancas. "É por isso que eu digo, com todo respeito à minha amiga Lúcia (Hipólito), tem cheiro de golpe. Você querer usar isso para depor"...  

Jô não conseguiu completar a frase. A jornalista Ana Maria Tahan interrompeu bruscamente o apresentador. "Você é ingênuo!", imaginem, foi o que ela disse.

- "Quem é ingênuo"?, Jô se surprenedeu com a intervenção, mas continuou:

- "Se acontecer [o impeachment], não vai ser possível dar um jeitinho. E é por isso que o Brasil não acaba. Com tudo isso, vai se ajeitando, quebrando um galho aqui e outro. Agora, o que estou falando, não é que não é necessário, mas pode chegar a uma consequência que seria muito mais prejudicial ao Brasil do que a Lei da Responsabilidade Fiscal", afirmou.

E essa foi a previsão. 

Jô foi foi um dos poucos jornalistas a entrevistar Dilma às vésperas do processo que levou ao golpe parlamentar. A entrevista aconteceu na madrugada de sábado, dia 13 de junho de 2015, e Jô foi massacrado por apoiadores do golpe na internet. Entre os detratores, estava o guru bolsonarista Olavo de Carvalho e o apresentador Danilo Gentili, relata Brasil de Fato.

Você pode ler a matéria completa do Brasil de Fato AQUI

Jô Soares (1938-2022): tango na redação da Manchete e aniversário da Fatos & Fotos


Jô (Dr. Sardinha) apresenta a Delfim Netto uma cesta de frutas e legumes,
com destaque para o abacaxi. Dizia-se, na ocasião, que Delfim, nomeado ministro da
Agricultura, não distinguia jaca de uva.
   

 

por José Esmeraldo Gonçalves

O celular deveria existir para registrar em vídeo um hábito nunca explicado de Jô Soares ao adentrar a redação da Manchete. O Gordo, sem dizer palavra, enlaçava Adolpho Bloch e saía dançando um tango com ele. A cena era rápida e a chegada do Jô - que tinha muitos amigos na Bloch e de vez em quando ia ao Russell - era inesperada. Se fosse um encontro marcado, algum fotógrafo da casa teria registrado a dança que era silenciosa para a pequena plateia de jornalistas, mas, talvez, sonora na cabeça dos dois: quem sabe, tocava um "Los Mareados", de Hugo Baralis durante a inusitada performance.  

Jô na capa comemorativa da Fatos & Fotos Nº 1000

Jô fez muitas capas para a Manchete. Não há registro de negativa ao pedido de um repórter desesperado para marcar um matéria com o humorista, apresentador e escritor. Na Fatos & Fotos isso aconteceu pelos menos duas vezes. Em 1980, a apenas quatro dias do fechamento, alguém descobriu que chegaria às bancas a edição número 1000 da revista. Nessas ocasiões, a Manchete, o carro-chefe da Bloch, fazia grande números especiais com grande investimento: Manchete 30 anos, 40, 45, Manchete Nº 2000 etc. Para a F&F, que vivia em crise, essas comemorações passavam geralmente em branco. Foi feito um caderno especial de 32 páginas com uma retrospectiva de matérias publicadas pela revista. E a capa? Quem toparia posar em jogo rápido antes do fechamento que se aproximava? Jô. 

O Gordo estava em cartaz com espetáculo em um teatro em São Paulo. A sucursal correu para montar a foto das mil semanas, que aí aparece, com bolo e tudo, feita por Mituo Shiguihara, com produção de Denise Orensztejn. 

Em outra ocasião, Jô posou como cartomante, sem produção, para a F&F. A bola de cristal era um globo de luminária que a reporter Heloísa Marra levou de casa. O turbante, ela comprou em Copacabana. O improviso era para uma matéria sobre previsões para 1981.

Em 1979, a ditadura nomeou o economista Delfim Netto para o ministério da Agricultura. O czar da Economia durante o governo de Garrastazu Médici virou piada. Dizia-se que se fosse a uma feira livre poderia confundir jaca com uva tal era seu conhecimento sobre o setor agrícola. Foi o que bastou para o "Planeta dos Homens" criar o "Doutor Sardinha" para ironizar Delfim. Claro que a Manchete se mobilizou para fazer uma capa com os dois Gordos nacionais. Jô topou na hora, Delfim pode até ter hesitado, mas não perdeu a chance de aparecer ao lado de uma figura tão popular. 

* Jô Soares morreu na madrugada de sexta-feira, 5/8, em São Paulos, aos 84 anos. 


terça-feira, 19 de abril de 2022

Fotomemória: em 1977, Manchete conectou Chico Anýsio aos orelhões da rua Jardim Botânico

Alô, passado! Chico Anysio de saltos, reparem, e Jô Soares ostentando ouro bem antes dos cantores de rap. Foto Manchete

Na esquina da Rua Jardim Botânico com Lopes Quinta, no Rio, onde ficavam todas as divisões da Rede Globo antes do Projac, em jacarepaguá, a Revista Manchete registrou essa imagem de dois dos melhores humoristas do país naquela época. Chico comandava com competência seu Chico City e Jô era uma das atrações do Planeta dos Homens . Se ainda estivesse por aqui , Chico Anísio estaria fazendo aniversário ! Ele nasceu em 12 de abril de 1931 . Partiu em 2012 com 80 anos. A foto e as informaçoes foram garimpadas pela página Herois da TV. 

sexta-feira, 19 de junho de 2015

A aposta no conflito: ativistas pintam frase "Morra Jô Soares" em frente à casa do apresentador e Esquadrão Classe A de senadores tenta salvar a Venezuela

Ameaça da Jô Soares. Reprodução Facebook
por Flávio Sépia
Uma escalada visível rumo à incerteza. As agressões que circulavam na internet chegam cada vez mais à vida real. Pessoas agredidas na rua apenas por usar camisa vermelha, autoridades agredidas verbalmente em restaurantes, passageiro agredido em avião por estar lendo uma "revista de esquerda", um militante de oposição que vai a uma convenção de um partido apenas para provocar. Provavelmente, ele esperava ser agredido, o que o levaria às primeiras páginas dos jornais e talvez a um episódio de maiores consequências. Um tipo de tática adequada a quem procura criar uma vítima, do tipo "atentado da Toneleros", um estopim de crise dramática.
Mesmo essa viagem de uma comitiva de senadores à Venezuela, de um ridículo quixotismo, pode ser vista como uma provocação ao tentar interferir em questões internas de outro país. Curiosamente, os mesmos senadores não pensaram em viajar para Guantánamo, campo de concentração condenado pela ONU ou para Honduras, onde golpistas derrubaram um governo legítimo e encarceraram políticos e funcionários públicos. Imagine como reagiriam o Brasil e, até mesmo os tais senadores protagonistas da força-tarefa, se uma comitiva da China, da União Europeia ou da Suécia, viesse ao nosso terreiro para, por exemplo, visitar os ativistas presos em consequência das manifestações de rua ou quisessem prestar solidariedade aos detidos ou feridos pela PM de Geraldo Alkmin nas ruas de São Paulo; ou, ainda, apurar os frequentes assassinatos atribuídos a políticos, grileiros e fazendeiros de jornalistas, ambientalistas e sindicalistas que atuam no interior do país. Ninguém teria saco para ouvir tantos seriam os discursos inflamados no Senado.
Já pipocam versões sobre o tal incidente dos senadores. Talvez a situação fique mais clara nos próximos dias. Brasileiros que testemunharam parte da cena, dizem que havia um engarrafamento (viram uma carreta tombada), o trânsito logo andou, e todos os outros passageiros chegaram ao centro da cidade. Oposicionistas venezuelanos dizem que o governo alegou transferências de um preso e limpeza de túneis. Há quem diga que o Esquadrão Classe A dos senadores teria se precipitado ao dar no pé de volta ao Brasil. Devem aparecer fotos mais claras das tais agressões. Por enquanto, cenas mostram manifestantes ao lado da van.  Acredito que alguém dentro daquela van deve ter mantido algum autocontrole para registrar o apedrejamento denunciado. Vamos aguardar. O fato é que a Venezuela vive uma forte crise, há militantes radicais de um lado e do outro. Um grupo teria lançado pedras e laranjas (são condenáveis as pedras e, na atual escassez da Venezuela, as laranjas são um desperdício) na van dos senadores - cuja viagem foi fartamente noticiada - para protestar contra o que achavam ser um intromissão. Na tensão que o país vive - não se deve esquecer que a oposição, ao lado de militares, já sequestrou e prendeu o então presidente Hugo Chávez, afinal resgatado e levado de volta ao palácio presidencial por forças militares que não concordaram com o golpe - há registro de tumultos e descontrole. No clima atual, seria muita inocência dos senadores se esperassem ser, nas ruas, recebidos com flores e tapinhas nas costas. Pode-se dizer que os senadores foram à Venezuela mas o verdadeiro alvo da missão continua em Brasília. Juntas e misturadas, tais ações buscam o mesmo objetivo através de um amplo leque de estratégias onde se incluem desde pedidos de recontagem de votos, passando por revisão dos gastos eleitorais, por erros na política fiscal, Petrobras, CPIs, mudanças de leis para impedir que a presidente nomeie ministros do STF, o passo atrás da reforma política e desengavetamento dos projetos mais inadequados e corporativistas. A intenção é acossar Dilma.
Mas não se trata só de violência política. Se os políticos sinalizam medidas radicais, parte da rua responde a cada causa com uma consequência. Se as tais bancadas decidem que homofobia não é crime, isso respalda assassinatos como o de um menino morto recentemente por ser tido como gay; se deputados fazem manifestações religiosas na própria Câmara e desprezam a Constituição laica, adeptos de fundamentalismos se sentem seguros em lançar pedras em menina que pratica religião afro.
No plano institucional, a busca por um ruptura institucional também chega às ruas em forma de violência, como no caso da pichação ameaçadora dirigida a Jô Soares, após a entrevista que o apresentador fez com Dilma Rousseff.
Digamos que o Brasil pode virar um octógono de MMA, sem possibilidade de empate.

ATUALIZAÇÃO EM 25/6/2015 - Jô Soares falou, no seu programa da última quarta-feira (24/6), falou sobre as ameaças que recebe nas redes sociais e a pichação na calçada de sua casa com a frase "Morra Jô Soares". "Ainda bem que não tem data”, ironizou.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Jô comemora dez anos de programa com novos humoristas

por Eli Halfoun
Mesmo quando fala mais que o entrevistado, “não querendo interromper, mas já interrompendo”, Jô Soares faz um bom e divertido programa de entrevistas. Programas de entrevistas não costumam ser divertidos porque são metidos a sérios, como se não fosse possível fazer um ping-pong (perguntas e respostas) com qualquer tido de entrevistado. Jô faz e faz bem. Por isso mesmo seu programa está completando dez anos na Globo e 22 de existência, contando o período que esteve no SBT, onde, aliás, começou sua trajetória de sucesso. Para comemorar os dez anos na Globo Jô reune nesta terça-feira, em grande entrevista, bons humoristas da nova geração. Estarão no programa Bruno Mazzeo, Leandro Hassun, Marcelo Adnet, Flávia Garrafa, Dadá Coelho e Dani Calabresa. Tomara que Jô deixe cada um contar pelo menos uma piadinha.