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quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Roberto Muggiati revela o traço irônico e bem-humorado de J.A.Barros (1931- 2023) nos bastidores da redação da Manchete e recorda o dia em que ele preparou uma "armadilha" para um crítico de cinema presunçoso


J.A.Barros transformou em figuras muita gente da velha Bloch. Mas, infelizmente, suas frágeis  esculturas eram arte efêmera. Nem o próprio artista guardou suas caricaturas em 3D. A técnica era simples. 
Ele fazia o desenho colorido sobre papel branco que, em seguida, recortava e colava sobre uma pequena placa de isopor. 

Aí aparava cuidadosamente o conjunto, obedecendo ao contorno marcado pelo desenho e adicionava uma espécie de minipedestal. 

Bela figura que se vai. O amigo Barros faleceu hoje, aos 92 anos.





Os exemplares reproduzidos acima são raríssimos e pertencem aos meus arquivos. Barros presenteava aos seus caricaturados e fui um deles. Os desenhos eram feitos nas horas que afinal importam: as vagas.   

Leia também "O teste Guilaroff de Cinefilia" sobre o dia em que o Barros surpreendeu um famoso crítico de cinema. 

Amantes do cinema se reconhecem pelo apego ao detalhe. No caso, aqueles créditos de produção que, nos anos 40 e 50 rolavam sempre no começo da “fita”. Dos atores principais ao diretor, passando por cenário, fotografia, música, orquestrações, figurinos e ... cabelos. De tanto ir ao cinema, ficávamos – os mais curiosos – com aqueles nomes gravados na memória. Foi assim que nosso diagramador João Américo Barros me surpreendeu uma tarde na redação ao perguntar a um crítico da Manchete, à queima roupa, se ele conhecia Sydney Guilaroff. O crítico não era um crítico qualquer, mas um daqueles Moniz Vianna’s boys que galopavam com os cavalarianos de John Wayne no Monument Valley e davam relutantes duas ou três estrelas aos filmes em cartaz no famoso quadro de cotações do Correio da Manhã. Sem nenhum pudor ou culpa o crítico respondeu: “Sidinêi quem?” Vibrei com o Barros, Sydney Guilaroff foi um nome que, desde que o vi na tela pela primeira vez, eu carregaria na cabeça para o resto da vida, mesmo sem conhecer ainda sua incrível história. E saquei na hora também que o Barros tinha criado o teste definitivo de cinefilia. Se o cara ignorava Sydney Guilaroff, não merecia ser considerado cinéfilo, mesmo assinando todas as críticas do mundo. 

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sexta-feira, 25 de agosto de 2023

J.A.Barros nos trilhos da memória

Hertz Aquino e J.A.Barros em Belo Horizonte, 1949
Foto: Arquivo Pessoal. 

Estação Ferroviaária de Belo Horizonte. Reprodução

por J.A. Barros
 

Niterói, 1949. Pela manhã, ainda de ressaca da noite anterior, eu descia a calçada que margeava o canal do riacho que passava pela avenida até encontrar o mar na Baia da Guanabara. De repente, na minha frente, surge o meu amigo Hertz Lemos de Aquino que, em vez do bom dia, me soltou de cara: 

- Quer dar uma volta em Belo Horizonte? 

Surpreso com a pergunta e achando que o Hertz tava de sacanagem, entrei na gozação. 

- Claro. Quando viajamos?, eu quis saber. 

Hertz foi rápido. 

- Depois de amanhã pegamos o trem na Central do Brasil e estaremos em Belo ao anoitecer. Topas?  

- Se não tá  de sacanagem, vou correndo para casa arrumar a mala e arranjar grana pra  gastar em Belô.

E foi assim que em setembro de 1949 eu e Hertz embarcamos em um trem que me lembrava os filmes do far west americano.

Qual o motivo daquela viagem? Sabia apenas que Hertz tinha um amigo, Newton, um rapaz muito inteligente, primeiro aluno nas escolas pelas quais passou, que era membro  de uma instituição mineira que tinha como propósito combater as formigas que vinham assolando os campos agrícolas e causando estragos formidáveis. Tal praga reduzia sensivemente o ganho financeiro dos  fazendeiros. 

O slogan da campanha era: “Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil”. 

No século 19, o autor das frase, o naturalista francês Yves Saint-Hilaire, percorrera o Brasil e já alertara para o problema. Com saúva ou sem saúva, eu estava em um trem, viajando para Minas Gerais. Não sei até hoje quanto quilômetros me separavam de Belo Horizonte, assim como não sabia quantos vagões o trem carregava. Sentado em um banco de madeira, nervoso e até assustado, me perguntava que impulso me levou àquele trem, às 7 horas da manhã. Hertz, ao meu lado, fumava tranquio um cigarro, indiferente, ao que me pareceu. Ele, pelo menos sabia a razão daquele viagem. Deixei pra lá, até porque nada iria mudar se viesse a saber de alguma coisa.  Presente dos deuses, imaginei, mas na verdade presente do Hertz Lemos de Aquino. Obrigado, Hertz. 

Era minha primeira viagem de trem. Se vocês nunca viajaram de trem - e não falo dos trens urbanos - não sabem o que é viajar. Anos mais tarde embarquei em um avião da ponte-aérea para São Paulo e, em outra ocasião, fui de ônibus para o mesmo destino. Confesso  que detestei. 

Gente, uma viagem de trem é uma experiência inesquecível. Nos vagões havia espaço à volta,  podia-se percorrer os corredores, ir de um vagão a outro; acomodar-se em uma das mesas do vagão-restaurante, pedir uma  cerveja bem gelada. Pela janela, passavam os campos de pastagens com manadas de garrotes engordando para o corte, vacas holandesas malhadas de preto e branco preguiçosamente ruminando a grama verde e suculenta que lhes daria o leite para os seus bezerrinhos e para nós bezerrões que crescemos e envelhecemos bebendo o sagrado leite. Cavalos lindos, como também pangarés, pastando sob a brisa que soprava e agitava suas crinas. Era um mundo que eu não conhecia. Maravihoso, espetacular,fantástico, extraordinário. 

Tudo poderia acontecer em uma viagem de trem naquela época. Lembro que, no ano seguinte, 1950, Getúlio Vargas seria eleito presidente do Brasil. Aquele trem, também identificado popularmrnte como “Maria Fumaça“, era o modelo que percorria as ferrovias do Brasil, de ponta a ponta. Durante o longo trajeto Rio-BH passei por sensações estranhas. O percurso despertava a imaginação. Em um momento, sonolento, senti que o trem era assaltado pelo bando de Jesse James e seu  irmão Frank James. O trem era mesmo uma cópia fiel das composições que atravessavam as planices do oeste americano onde Jesse James executava seus assaltos. 

A Maria-Fumaça mineira. Reprodução

O trem parava em estações de pequenas cidades do interior. Éramos recebidos nas gares por lindas moças que nos ofereciam flores ou bombons de chocolates. Era uma festa. Claro que trocávamos pequenos “torpedos“ com nossos nomes e telefones. Era uma brincadeira, quase uma fantasia pois, depois daquelas paradas e da confraternização com o povo do interior, sabíamos que nunca mais iríamos nos ver, mas aquelas lembranças ficariam para sempre. Não era um trem moderno. Como disse antes, era um modelo a vapor semelhante aos dos primórdios das ferrovias.  Uma locomotiva toda de ferro, uma chaminé enorme que soltava rolos de fumaça, assim seguia o trem "levando a vida a rodar, como dizia a canção. Devo lembrar que a fumaceira às vezes invadia os vagões e nos fazia tossir, mas a aventura da viagem, a espectativa  de conhecer Belo Horizonte, uma cidade planejada, construída e traçada nas mesas dos engenheiros de Minas, me enchia de curiosidade. Uma viagem emocionante. O trem criava essa interação com o ambiente que atravessávamos e nos dava um conhecimento do Brasil que ignorávamos. A paisagem verde dos campos, as montanhas que atravessávamos e que nos levava, à saída a descortirnar lindos vales e a atravessar pequenos e grandes rios que se alternavam com  "desertos" desmatados, desolados e quentes. Ao anoitecer, enxergamos ao longe a silhueta de Belô, a cidade encantada que nos iria oferecer momentos muito felizes.

Mal sabíamos que, uma década depois, um presidente deste país acabaria com os trens e, em seu lugar, traria as grandes montadoras de automóveis, caminhões, ônibus, as estradas de rodagem que cortaram o Brasil de norte a sul. Milhares de quilômetros da imensa rede ferroviária brasileira foram destruídos, locomotivas  sucateadas. Caminhões em vez de trens passaram a transportar toda produção agrícola e industrial do país. Os trens de passageiros sumiram. É díficil entender a cabeça dos governantes. Até hoje não compreendo a prática  econômica do Brasil. Um trem com 20 vagões pode transporter 40 containeres, dois containeres em cada vagão. Um caminhão só transporta um container e, quando muito, mais um no reboque. Gostaria que alguém me explicasse essa matemática . 

Ah!, em 1880 os EUA tinham mais de 300 mil quilômetros de trilhos e o Brasil 14 mil quilometros. No século XIX, os EUA ligaram o  litoral do Atläntico com o litoral do Pacífico.

No ano de 1949, com 17 anos, viajei de trem pela primeira vez na minha vida. JK acabou com os trens mas, na minha imaginação eles ainda circulam. Guardo até hoje a simplicidade e o fascínio daqueles mometos que vivi. 


CLIQUE AQUI PARA VER E OUVIR 'TRENZINHO CAIPIRA (VILLA-LOBOS) 


segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

As crises que testemunhei e o Brasil que vejo agora. Por J.A.Barros

Na invasão ao Palácio do Planalto, os terroristas bolsonaristas quebraram móveis, equipamentos, vidros, roubaram armas e objetos. No Senado, furtaram presentes que governos estrangeiros haviam enviado ao Congresso. Uma escultura está desaparecida. Destruíran obras de arte e peças históricas. Atacaram jornalisas e roubaram pertences e celulares de pelo menos uma repórter. Os danos gerais ainda estão em levantamento, assim como o que pode faltar nos acervos e na documentação. Até o momento, mais de mil terroristas foram detidos.    

 

"Tenho acompanhado a história da política brasileira desde a queda do dr. Getúlio Vargas em 1945. Acompanhei a eleição do general Dutra e, muito mais, a volta do dr. Getúlio Vargas ao cenário político, sua eleição para presidente do país e a sua morte em 1954. Acompanhei a eleição de JK. que prometía fazer o Brasil crescer em cinco anos o equivalente a 50 anos. Trabalhou muito construindo Brasília, acabando com as linhas férreas em todo o país para favorecer as montadores de carros e de caminhões, assim como acabou com o serviço de cabotagem, os famosos Itas. E veio o tumultuado governo de Janio Quadros, que findou com a sua renúncia,  depois de decreto para proibir rinhas de galo, concursos de misses etc. Acompanhei a tumultuada posse de João Goulart - Jango - como presidente assim como com a sua queda, entrando em seu lugar aditadura milirar de 1964. Assisti a volta da democracia, com a eleição de Tancredo Neves - embora pelo colégio eleitoral da ditadura - e a posse de José Sarney como presidente deste Brasil em razão da morte do titular. Assisti a posse de Fernando Color e o seu  impeachment e a posse do melhor presidente que o Brasil já teve: Itamar Franco. Vi Fernando Henrique ser eleito e reeleito. Vi Luiz Ignácio Lula da Silva ser eleito e reeleito e, em seguida, a primeira mulher a ser eleita Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e logo após sofrer o impeachment que a afastou do poder, com o vice-presidente Michel Temer asumindo o poder. E vieram as novas eleições e, como surgido do nada, como um fantasma do passado, um ex-capitão do Exército é eleito, chamado Jair Messias Bolsonaro. E, com ele, seus filhos zelosos pelo poder a ele dado pelo voto do povo. E veio ésse novo presidente e veio a pandemia, um vírus maldito que ceifou mlhares de vítimas em todo o mundo. Quando a covid chegou ao Brasil, "o bicho pegou", na minha opinião. Em vez de dar todo o apoio ao povo brasileiro no combate a esse letal virus, Bolsonaro deixou o o povo sozinho, sem remédios, sem hospitais suficientes. Quando chegaram as vacinas para derrotar e proteger o povo contra o vírus, ele custou a se render à ciencia e aceitar a eficácia dso immunizante como salvado da humanidade. E vieram as novas eleições e o povo elege o novo presidente: Luis Ignácio Lula da Silva. Incondormado por não ter sido reeleito, Bolsonaro foge do Brasil e se refugia nos Estados Unidos. 

E aí acontece o que jamais pensei que poderia acontecer: uma minoría de manifestantes golpistas se revolta contra os poderes constituídos e, em ações típicas de terrotistas, invadem, como vndalos bárbaros, depredam e arrazam os prédios que são símbolos e casa dos Três Poderes Constitucionais. 

Ao que parece, sou, na verdade, uma testemunha histórica do processo político deste Brasil. 

Acredito que, após a arruaça promovida por uma minoría terrorista e insana, esse processo passara por grandes mudanças em defesa da democracia, com a imposição de procedimentos políticos, jurídicos e de segurança que, naturalmente, afetarão a sociedade brasileira. Para o bem."

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

O dia em que O Cruzeiro sequestrou a seleção campeã de 1958 e eu conversei com Pelé - Por J.A. Barros

O gol de Pelé que deu a vitória ao Brasil, por 1x0, contra País de Gales. O jogador beijou a bola no fundo das redes. Foto Jáder Neves-Manchete

. Reprodução
Pelé posou para O Cruzeiro. Reprodução

O goleiro Gilmar beija a Jules Rimet em frente à sede de O Cruzeiro

1958: Brasil vence a Copa do Mundo, na Suécia, e revela um jogador de 17 anos que viria a ser, logo depois, considerado Rei de Futebol. Edson Arantes do Nascimento, ou melhor, Pelé, fazia sua estreia no mundo. 

Naquele ano, eu trabalhava no Departamento de Arte, da revista O Cruzeiro. Consagrada a vitória, a seleção chegaria ao aeroporto do Galeão e, em cima de um carro de bombeiros, desfilaría pela cidade até o Palácio do Catete, onde o presidente Juscelino Kubitschek iria homenagear os campeões. 

Pois bem, diante desse fato, a direção da revista O Cruzeiro também resolveu celebrar os jogadores no salão de recepção da sua sede projetada por Oscar Niemeyer, na Rua do Livramento, no Centro do Rio de Janeiro. No espaço, com obras em grandes formatos de Portinari, foram montadas mesas de finos salgados, champanhe, caviar, enfim, um bufê servido pela Confeitaria Colombo. Mas o problema era como conseguir sequestrar seleção, desviando o comboio do seu trajeto e conduzindo-o para o prédio da revista. Estava previsto que o cortejo passaria na Av. Rodrigues Alves, nas proximidades da  Livramento. Rodolfo Brandt, que fazia parte do grupo de jornalistas da Cruzeiro, era da Policía Especial e pilotava uma motocicleta.  Assim que a comitiva saiu do Galeão, Rodolfo se posicionou à frente do carro dos bombeiros e passou a liderar a comitiva. O jornalista-policial entrou na Rodrigues Alves, região onde arqueólogos descobriram o porto onde os escravizados desembarcavam, e atrás dele vieram os bombeiros e os craques em caminhão aberto. Daí em  diante foi fácil. Rodolfo pegou a Sacadura Cabral e, em seguida, a Rua do Livramento. Em poucos minutos, a seleção entrava no saguão de O Cruzeiro. Em principio,a comitiva não entendeu muito o que estava acontecendo, mas resolveu relaxar e aproveitar o momento. 

Nós, do Departamento de Arte, que estávamos trabalhando, corremos para o salão, conhecemos alguns jogadores e nos detivemos em um garoto que, um pouco tímido, passou a conversar com a gente. Pelé nos disse seria o melhor jogador de futebol do Brasil. Claro, não acreditamos muito. A seguir, a  seleção retomou seu roteiro, afinal, um Presidente da República do Brasil estava aguardando os campeões do mundo havia algumas horas. 

O "sequestro" não resultou apenas em comemorações: repórteres e fotógrafos da revista fizeram matérias exclusivas com os herois do primeiro título mndial da seleção brasileira. Além disso, fomos os primeiros a ver de perto a Taça Jules Rimet. Em certo momento, o goleiro Gilmar foi para a rua e posou beijando a taça com a sede de o Creuzeiro ao fundo.

Minha filha costuma dizer que Deus gostava muito de futebol, mas não sabia jogar, então deu a Pelé toda a inteligência e toda a arte de jogar bola. 

Pelé, na minha opinião, é o eterno milagre da vida


sábado, 10 de dezembro de 2022

O falso jornalista

Neymar superou lesão e lutou até o fim. Foto de Lucas Figueiredo/CBF/Divulgação

por J.A.Barros 

Trabalhei mais de 50 anos em redações de revistas e jornais, no Rio de Janeiro. Fui  diagramador e chefe de Arte de várias publicações e lidei com um número imenso de jornalistas. 

De todos os jornalistas que conheci e com quem trabalhei tornei-me um admirador da consciência profissional daqueles homens e das suas lutas nas reportagens, críticas e crônicas, sempre ao lado e na defesa da moralidade, da ética, da verdade. Nunca vi nem assisti um jornalista, através de sua matéria, procurar atingir a profissão de quem quer que fosse. O erro sim, se os havia, procuravam denunciar quando atitudes ou atos desonestos atingiam a idoneidade de terceiros. 

Entendo que o jornalista, no regime democrático, deve atuar como guardião da honestidade, da igualdade e na defesa de que todos são iguais diante da lei.  Na minha opinião, o jornalista é um herói da sociedade. Ele deve ser o "paladino", o defensor da lei, da ordem, dos valores, um vigilante em favor da sociedadee e que, através de suas apurações, entrevistas, pesquisas e reportagens assim construídas leva ao grande público leitor a verdade dos fatos. 

E o que é um mau jornalista?

Na televisão, o ex-jogador Casagrande, que se tornou, ou o tornaram, comentarista de futebol, passou a atacar gratuitamente o jogador de futebol Neymar que, sem direito de defesa, assiste seu nome e sua profissão serem enlameados por esse pretensioso jornalista, que nunca foi jornalista, mas se veste como tal 

Agora mesmo, nos jogos da Copa do Mundo, ele critiæcou fortemente os jogadores brasileiros Kaká, Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo Fenômeno por estarem na arquibancadas dos estádios, assistindo aos jogos da seleção, vestinto ternos pretos, gravata e paletó. É natural que um comentarista de futebol critique campeões mundias por achar que não estavam vestidos de bermudas ou shorts? Não é querer chamar para si a atenção do público que o assiste? 

Talvez Casagrande não saiba, mas a FIFA instituiu o programa Lendas do Futebol através do qual convida craques campeões, de vários países, que marcaram época nos gramados da Copa do Mundo. Casagrande não faz parte desse grupo. Ele foi convocado para a seleção uma única vez, por Telê, em 1986, viajou para o México, mas não entrou em campo: ficou no banco, era reserva de Careca e Muller. E o Brasil perdeu aquela Copa. 

O Brasil foi eliminado da Copa do Mundo pela Croácia. Empatou de 1X1 no jogo e perdeu de 4X2 nos pênaltis. O gol do Brasil feito na prorrogação foi de Neymar, aliás um belo gol, driblando o goleiro. Mas, mesmo diante desse único gol feito pelo Neymar, Casagrande foi  buscar razões para culpá-lo pela eliminação da Copa. Por decisão do treinador, que o colocou com o quinto jogador brasileiro a cobrar a penalidade, Neymar nem sequer teve a sua vez: a Croácia fechou a conta antes. 

Críticas são válidas, torná-las pessoais, não. Tite, o técnico da seleção, não conseguiu, na minha opinião, formar um time de futebol. Não vamos procurar culpados pela eliminação do Brasil. Se erros aconteceram, vamos procurar na origem na formação desta Seleção. E vamos encontrar muito erros e tentar não repeti-los na próxima seleção a ser formada.O treinador Tite já se colocava como demissionário da função, a seu pedido, ganhando ou não a Copa do Mundo. Outro ciclo vai começar.

Mais uma vez perdemos uma Copa do Mundo por erros e interpretações equivocadas do  comando da seleção brasileira.

domingo, 1 de maio de 2022

Folhetim de redação

por J.A. Barros 

Estamos acompanhando neste blog a extraordinária autobiografia de Roberto Muggiati, o mais duradouro editor da revista Manchete. Na verdade, é a  história de um paranaense que nasceu jornalista e que hoje, embora ainda atuante como tradutor e colaborador de alguns veículos, poderia estar gozando sua aposentadoria em Nice, na França. O conjunto de textos já publicados aqui mostra a trajetória de um verdadeiro profissional. Tão criterioso que, como tradutor de livros em inglês, montou uma ampla biblioteca de obras de consultas. Imagina, sei que na sua estante há até um livro, ilustrado, com nomes de tipos de selas de montaria. Como conhecedor da história do jazz, do rock e do fenômeno dos Beatles, Muggiati é autor de livros sobre esses assuntos.

Por trabalhar com Roberto Muggiasti durante alguns anos, descobri que a sua cultura não tem fim. Conhecedor da língua portuguesa, ele também domina os idiomas inglês, francês e italiano. 

O jornalista trablahou em Londres, na histórica Albion - como jornalista, claro - e em Paris. Nesta, já contou que visitou o "Père-Lachaise" onde viu de perto os túmulos de grandes figuras do passado como Oscar Wilde, Edith Piaff, além do mausoléu de Napoleão, (este no Panteão), e tantos outros famosos. A sua febre de saber, conhecer  e entender não cessou e até hoje, isso desde as vilas da São Clemente aos ares da Glicério. Sua velha Olliveti, há muito trocada por um computador, é testemunha do seu conhecimento da natureza humana. Roberto Muggiati, um homem, uma história de vida, de cultura, de conhecimento, de saber, talvez o único conhecedor na história do cinema norte-americano da existência de Sidney Guilaroff. Ele, grande cinéfilo saberá que me refiro a uma saborosa história já contada neste blog.  

domingo, 26 de dezembro de 2021

Um "príncipe " que ataca os súditos ou o Maquiavel do Cerrado...

por J.A. Barros 

Um Príncipe, no mundo de hoje, precisa conhecer a história da humanidade. A história não se repete, dizem muitos, mas se não se repete fatos passados que foram gravados no livro de memória da civilização dos homens, de uma forma ou de outra, vem a se repetir.

 Não é a primeira vez que o mundo é atacado por ondas de vírus que assombram a sociedade e geram pandemias letais. A vacina é a primeira solução que o homem cria para conter e derrotar o vírus mortal que espalha a morte.

 A varíola, desde os impérios que dominaram povos tanto no mundo ocidental como nas terras da Ásia, derrubou de camponeses a imperadores. No final do século XVII, a China, sob a Dinastia Qing e o então imperador Kangxi, - seu pai, o ocupante anterior do trono havia morrido atacado pela varíola – que começou a reinar ainda criança. Diante da epidemia, os chineses desenvolveram uma vacina que combateu a doença. Esse fato surpreendeu o Ocidente, que passou mais tarde a desenvolver esforços nesse sentido.

 A Rainha da Inglaterra, Elizabeth I, no século XVI, sofreu o ataque do vírus da varíola, e, contam alguns historiadores, ficou com marcas no rosto. Conta-se também que a Rainha Elizabeth I, na luta contra a epidemia, decretou um  “ lockdown “, e botou soldados armados nas portas dos castelos e residências para impredir que seus súditos saíssem de suas comunidades. Sob esse decreto real real até William Shakespeare ficou preso em casa, com um guarda à porta. Digas-se que o mundo ficou muito agradecido à Rainha Elizabeth I, porque Shakespeare, detido, escreveu  Rei Lear ­ - considerado sua obra prima – e outras peças.

 Depois dessas histórias como entender que um “príncipe” de um país, responsável pela vida de seu “súditos”, seja insistentemente contra o combate a uma pandemia que se espalha velozmente em todo o mundo matando impiedosamente centenas de milhares de homens, mulher em fuga da morte. Em campanha aberta, esse príncipe” desafia a pandemia e expõe os seus súditos desprotegidos ao vírus mortal.

 Não basta ser referenciado como “príncipe”, é preciso saber se comportar como um verdadeiro Príncipe e com suas asas de poder acolher e proteger o seu povo. O Príncipe salva vidas humanas, salva o seu povo das tragédias maiores e lhe dá todas as condições e sustentações para que tenha uma vida saudável e plena de felicidade. E como Príncipe, não se esquecer que por um momento de sua vida lhe foi dado o poder de governar um povo, mas ao mesmo tempo que lhe dá esse poder, lhe tira esse poder que tanto pode durar uma eternidade e não durar o tempo do acender de um fósforo. Não há mal que nunca acabe, senhor  “príncipe”.  

domingo, 6 de outubro de 2019

O dia em que Frank Sinatra conheceu Tarlis Batista. Por J.A. Barros

1980: Tarlis e Sinatra. Reprodução
por J.A. Barros

Eu não sabia que o Tarlis Batista dominava a língua inglesa tão bem, mas o fato é que desempenhou
seu apoio a essas duas estrela de primeira grandeza de Hollywood, Bo Derek  e seu marido. A habilidade de anfitrião de repórter da Manchete se repetiu por ocasião do show que Frank Sinatra fez no Estádio do Maracanã, na sua turnê ao Brasil em 1980. Na primeira noite em Frank Sinatra saiu do hotel para ir para o Maracanã, Tarlis sai acompanhado pelo nosso o Frank Sinatra com uma das mãos sobre os seus ombros. Ninguém sabe, pelo menos até hoje, como o Tarlis conseguiu se infiltrar no hotel e criar essa amizade com um dos mais famosos cantores do mundo. O inglês do Tarlis deveria ser muito afiado para encarar o inglês perfeito do Frank Sinatra, o que se identifica nas suas canções.

O que meu carro tem a ver com o Concorde. Por J. A. Barros

O Concorde (*) na garagem. Reprodução
por J.A.Barros

Você quando entrega seu carro para conserto numa oficina mecânica para que seja vistoriado, o mecânico-chefe, no primeiro dia, o coloca no pátio, na primeira fila. No dia seguinte, ao passar na oficina, você verá seu carro na última fila depois de 10 ou 12 carros na sua frente, todo empoeirado, escondido, e você começa a duvidar se escolheu a oficina certa, apesar do mecânico-chefe ser um de seus amigos de há muito anos. No quinto dia, prazo em que foi dado para a entrega do carro prontinho e sem o defeito que gerou a sua internação naquela "clínica", o amigo, o mecânico-chefe, cheio de desculpas, lhe diz que ia haver um atraso e o carro só ficaria pronto na semana seguinte. E, fui ver, o carro tinha voltado, agora, para o canto mais escuro da oficina. Mas o Marcinho era um grande mecânico de carros e por isso é que lhe confiava os consertos de meu carro, mas o que me deixava impressionado era como ele movimentava o carro para todos os lugares da oficina mesmo que para isso tivesse de mover quase todos os outros carros depositados na oficina, para colocar o meu carros em lugares mais improváveis que podia imaginar.
Foi vendo essa foto de um avião comercial, o famoso Concorde (*), estacionado num quintal, espremido entre muros matos e com um pedaço de sua asa colocado entre sua casas. Como esse Concorde chegou ali, será para mim um mistério e me fez lembrar o processo que meu carro passava quando tinha que ser levado para a oficina do Marquinhos. Algum mecânico de oficina deve ter estacionado o Concorde naquele espaço tão reduzido.

* Não foi possível comprovar a autenticidade da foto. Mesmo assim, é a ilustração perfeita para a crônica. Dos 20 Concordes construídos, 18 estão expostos em museus aeroespaciais e aeroportos, um está na fábrica da Airbus, em Toulouse, na França, outro, que pertenceu à British, está em Filton, Inglaterra. Não há registros do supersônico em poder de particulares. O Concorde voou pela última vez no dia 26 de novembro de 2033. Pousou em Filton, Inglaterra e desligou para sempre os motores encerrando uma era da aviação. 

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Memórias da redação - O melhor fracasso das nossas vidas

Hotel Novo Mundo, 2005, almoço comemorativo dos 20 anos de lançamento da Revista Fatos.
A partir da esquerda, José Rodolpho, Cony, Esmeraldo  Alberto, Orlandinho, Daisy Prétola, Barros, Maria Alice, Roberto Muggiati e Alvimar Rodrigues. Foto de Jussara Razzé

por José Esmeraldo Gonçalves 

Em março de 2005, um animado almoço no Hotel Novo Mundo celebrou um fracasso.

Aquele mês marcava os 20 anos do lançamento de um projeto no qual nos envolvemos sob o comando de Carlos Heitor Cony: a revista semanal Fatos, lançada em 17 de março de 1985, como  uma tentativa de adicionar ao portfólio da Bloch uma publicação de informação e análise.

Com Carlos Heitor Cony na Livraria da Travessa,
Leblon, 2008. Foto Alex Ferro
A crise econômica dos anos 1980, a falta de investimento e o desgaste do modelo editorial haviam exaurido a Fatos & Fotos, semanal ilustrada de variedades. Não apenas a revista, mas nós, o próprio Cony, que era o diretor, eu, editor, e o J.A.Barros, diretor de Arte.

Em fins de 1984, ao cair da tarde, após um fechamento quase protocolar tão precário era o conteúdo da revista, concluímos os três que não dava mais. Alguma coisa teria que ser feita.

Na época, Cony estava bem próximo de Tancredo Neves. O mineiro fazia a campanha para a eleição indireta via colégio eleitoral e costumava consultá-lo sobre slogans e outras peças de propaganda. Após a frustração nacional com a derrota da Emenda das Diretas Já no Congresso, a eleição de um presidente civil, mesmo pelas regras da ditadura, abria algumas perspectivas para o Brasil.

Com Barros, na casa do Cony, em uma das "reuniões de pauta"
para o livro "Aconteceu na Manchete". Foto Jussara Razzé
Cony acreditava que os novos tempos teriam um impacto no jornalismo após mais de 20 de chapa branca ou chapa verde-oliva e via o momento como ideal para uma revista de informação. Começamos a esboçar um projeto, definir editorias e colunas. A revista Panorama, da Itália, era uma inspiração inicial por somar o texto informativo a um bom aproveitamento de fotos. Barros desenhou modelos de páginas. A publicação pretendia enfatizar os textos, mas sem romper inteiramente com a tradição e o know how da casa em jornalismo ilustrado.

E assim foi dada a largada. Cony obteve junto a Adolpho Bloch a aprovação para o projeto, incluindo o aval para a contratação de jornalistas e colunistas. Fizemos um número zero e o apresentamos às agências de publicidade. A primeira edição iria para as bancas no dia 17 de março, com a cobertura da posse de Tancredo, uma grande matéria sobre sua trajetória política e pessoal, o novo ministério, os rumos da Nova República, além dos demais acontecimentos da semana em todas as áreas.

Cony contou na Folha como recebeu a informação exclusiva que atropelou o fechamento da primeira Fatos. 
Tudo planejado, menos a fatalidade que iria atropelar o fechamento da nova revista. Quando o Brasil e toda a mídia acompanhavam Tancredo na expectativa da posse, Cony soube por uma fonte exclusivíssima que o mineiro não subiria a rampa do Planalto. Vivemos a situação insólita de começar a refazer páginas da revista, enquanto a TV ainda mostrava os preparativos para a solenidade.

O resto é história. Tancredo foi internado, Sarney virou capa da primeira Fatos, vieram o Plano Cruzado, os "fiscais do Sarney", a euforia seguida da depressão, mais do mesmo, o caos, o clientelismo, a "transição" que preservava muito da força do regime anterior.

Ao longo de 1985, a Fatos seguiu em frente e publicou várias capas e matérias investigativas com relativa repercussão, mas só resistiu a um ano de meio de vida. Nomes e assuntos até então vetados pelo regime ganharam espaço na revista: D.Helder, Prestes, Capitão Sérgio Macaco, a reabertura do Caso Baumgarten, as "casas de tortura" da ditadura, arquivos dos órgãos de segurança destruídos por militares etc. Tais pautas consolidaram internamente a senha para uma campanha Delenda est Fatos. A Bloch, como a França sob as botas nazistas, tinha seus colabôs, que era o termo usado para quem apoiava a ocupação. Assim, a empresa abrigava algumas figuras subalternas perfeitamente identificadas como colabôs do regime militar. E o que era, no início, conversa de corredor, logo ganhou força de boicote que atingiu os setores publicitários, a tiragem, a distribuição e até o pagamentos de frilas e colunistas. Cony resistia, tentava contornar os problemas e se colocava como um escudo a preservar a equipe e o foco no trabalho.

Adolpho Bloch, diga-se, nunca retirou o seu apoio à revista e era através dele que Cony ia conseguido sobrevida para a Fatos. O problema estava nos escalões abaixo, até com um ativismo de alguns colegas jornalistas que trabalhavam em outras publicações da empresa. Adolpho chegou a receber telegramas de falsos leitores que denunciavam a Fatos como um "covil de comunistas" e perguntavam como isso era permitido na empresa. Tais telegramas eram postados por um desses jornalistas em uma agência dos Correios, em Copacabana. O tom era mais ou menos como o das "mensagens de ódio" das redes sociais de hoje.

Aos poucos, a revista foi se tornando inviável, não evoluiu editorialmente como era previsto e teria potencial para isso. Os pagamentos aos frilas e colunistas, obviamente essenciais, ficavam retidos por meses. Em fins de maio de 1986, Cony me convocou e ao Barros, detalhou a situação e perguntou se não achávamos que a Fatos havia chegado ao limite. Não havia como negar, o cerco se estreitava. As mínimas condições de trabalho estavam comprometidas. Foi decidido ali o fechamento definitivo da revista. Cony avisou Adolpho, a quem pediu dois meses para tentar recolocar em outras publicações da Bloch o maior número possível de funcionários. O que foi feito, a operação resgate liderada pelo próprio Cony deu certo. A maioria dos editores comprou a ideia e ajudou a absorver os expatriados da Fatos. De uma equipe que na fase final tinha pouco mais de 20 pessoas alguns optaram por pedir demissão, a maioria foi remanejada para Manchete, Ele Ela, Geográfica etc, três ou quatro foram demitidos. Eram outros tempos, outros "modelos de gestão", e houve quem conseguisse vagas no O Dia, no Jornal do Brasil e no Globo.

O fim da revista foi melancólico. No penúltimo número, com o então ministro Dilson Funaro na capa, aproveitamos as circunstâncias e cravamos na chamada, em destaque, o nosso recado cifrado para o público interno: Sabotagem. O último número, já descaracterizado e fora do nosso controle, trazia Antonio Ermírio na capa como personagem de uma insólita matéria paga. O empresário tinha pretensões eleitorais e ensaiava se lançar na política. A Fatos terminal teria sido usada como veículo para desovar uma permuta comercial pendente com o poderoso dono do grupo Votorantim.

Um desfecho nada honroso. 

Dois dos mais notórios colabôs abriram champanhe para comemorar o fim da Fatos. Dificilmente, até o fim das suas vidas, as duas lamentáveis figuras tiveram algo mais a festejar.


Cony e alguns dos demais autores da coletânea "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou": da esq. para a dir. Alberto Carvalho, Lenira Alcure, Jussara Razzé, Bia Lajta Cony, Daisy Prétola, Maria Alice Mariano, Roberto Muggiati, Esmeraldo, José Rodolpho e, à frente, J. A. Barros. Foto de J. Egberto

Reencontro em junho de 2010, quando Cony lançava o livro  "Eu, aos pedaços": Daisy, Cony, Barros, Lenira, Esmeraldo e Jussara. 

Quanto a nós, no Novo Mundo, brindamos à Fatos, o melhor e mais inesquecível fracasso das nossas vidas.

E foi durante aquele almoço de 20 anos da revista mais loser do jornalismo brasileiro (com toda a honra, obrigado), que surgiu e ganhou corpo, em meio a 'causos' que relembravam as redações da velha Bloch, a coletânea "Aconteceu na Manchete - As histórias que ninguém contou". O que começou como uma conversa à mesa tornou-se um livro de 500 páginas e mais de 200 imagens. Mais uma vez, com a participação decisiva de Cony.


A Folha de São Paulo prestou uma tocante homenagem a Carlos Heitor Cony. Deixou em branco o seu tradicional espaço na página 2.

Para os leitores, simboliza a ausência.

E retrata - para todos nós que por bons tempos convivemos com o amigo - o vazio que fica. 

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Você viu Maria?

por J.A.Barros

Olhei para os lados e não vi  Maria.
Voltei nos meus passos e não vi Maria.
Perguntei a quem passava perto:
     Amigo, viu Maria na estrada?
     Não, meu senhor. Não vi ninguém na estrada, muito menos Maria.
Baixei meus olhos e vi na terra vermelha a marca dos passos de Maria. Procurei segui-los e assim a ela me levar. Andei léguas. Passei por rios, cruzei montanhas. Campos sem fim atravessei. O sol se foi e veio a chuva caindo sobre a terra seca, renovando as plantas que emergiam do solo ansiando pela vida, buscando o ar, valentes, querendo alcançar o céu.
Mas, não encontrei Maria.
Passou a chuva e veio a neve cobrindo a terra com seu capote branco trazendo o frio e o recolhimento. Fogueiras foram acesas que brilhavam no fundo das florestas trazendo calor para os perdidos na imensidão do branco. Corpos tremiam e se achegavam uns aos outros buscando o calor nas suas almas porque corpos se perderam no vento gelado que soprava e a tudo congelava.
Continuei seguindo os passos de Maria marcados na terra sangrenta, castigada e violentada.
Um dia veio o sol. A terra escura se abriu abrindo o seu espaço para os raios quentes que penetraram em suas entranhas, chegaram nos corpos rígídos e com seu calor acordaram essas vidas para um novo ciclo, que chegava trazendo o riso e a alegria de um novo despertar.
Olhei para os lados e não vi Maria.
Voltei nos meus passos e não vi Maria.
Atrás do sol vieram as flores que encheram de beleza a terra sofrida e angustiada. Do botão se abriram pétalas em sorrisos para a vida que prometiam compartilhar. Vermelhas, as rosas encheram os campos e o seu perfume invadiu o ar deixando o viver mais alegre e mais consentido.
Nunca mais vi Maria.
Belos campos cobertos de flores se estendiam ao infinito prometendo a todos a cobiçada felicidade que os homens, com o sorriso nas faces, agradeciam aos senhores do céu e da terra o presente recebido.
Tudo em volta vibrava com o amor sentido, dado e ofertado, que a todos era dedicado, dádiva do céu, presente dos deuses aos seres que na terra rolavam de um lado para outro na busca eterna do amor um dia perdido.
No ar, corria veloz a brisa inconstante soprando dos quatro cantos para apagar do chão os rastros da mulher amada.
Olhei para um lado, olhei para o outro, voltei nos meus próprios passos e nunca mais vi Maria.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Deu no Comunique-se: Guilherme Barros é o novo assessor de Guido Mantega

Guilherme Barros.
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal/Comunique-se

Jornalista experiente, com uma respeitável trajetória que inclui Veja, Folha, Exame, Época e O Globo, IG e, recentemente, Istoé Dinheiro, Guilherme Barros, especialista em economia e negócios, é um dos mais conceituados profissionais da mídia brasileira. Na última quinta-feira, ele despediu-se dos leitores do seu blog para assumir a chefia de Comunicação do Ministério da Fazenda. A turma da velha Manchete, amiga e colega de J.A. Barros, ex-diretor de Arte da revista, acompanhou a carreira de Guilherme através de uma ótica privilegiada, impressa pelo carinho e justificada admiração que o pai, ele mesmo, o amigo Barros, sempre nos passou. Boa sorte ao Guilherme em mais essa etapa.
Em entrevista ao portal Comunique-se, o jornalista conta porque aceitou o convite desafiador do ministro.
LEIA A MATÉRIA COMPLETA, CLIQUE AQUI 





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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Precisamos ser otimistas



por deBarros
Não acho que a Seleção tenha jogado tão mal ao ponto de começarem a condená-la ao fogo dos infernos. Primeiro, que jogou contra um adversário. a Seleção inglesa, cujos jogadores já vêm jogando o campeonato inglês na sua temporada 2012/2013 desde o ano passado. Em segundo, esse jogo seria, para alguns, a primeira vez jogando juntos e com uma nova direção técnica, o que muda muito o estilo de jogar. Os gols da Seleção inglesa foram resultados de falhas da defesa. O primeiro em rebatida do goleiro Júlio César depois de uma defesa brilhante deixou o jogador mais perigoso do ingleses, Waine Rooney, cara a cara com gol vazio. O segundo gol deles nasceu de uma falha, diria trágica, do Arouca, que atrasou a bola, dentro da área brasileira, para um dos zagueiros, se não me engano o Dante, que, surpreendido, deixou escapar. indo parar nos pés do Rooney que passou para o Lampard e aconteceu o segundo gol deles. A Seleção inglesa mais entrosada e seus jogadores com mais ritmo de jogo pressionaram e como disse o Lampard poderiam ter feito mais gols. Mas, ficou no poderia ao mesmo tempo que a Seleção brasileira, mesmo não jogando bem, esteve próxima da vitória. Por que não? O goleiro da Seleção inglesa defendeu o pênalti cobrado pelo Ronaldinho. Não foi o primeiro pênalti que Ronaldinho perdeu. A Seleção teve chances de esticar o placar com o gol perdido do Fred, depois de ter empatado de 1x1, com a bola batendo no travessão. O gol perdido pelo Neymar, cara a cara com gol, num cruzamento magistral de Oscar. E outros dois ou três gols perdidos por nossos jogadores. Neymar, mais uma vez, na Seleção, não jogou tudo o que vem jogando no Santos, mas não quer dizer que amanhã, em outro jogo, ele não venha mostrar tudo o que sabe de futebol. A Seleção brasileira jogou contra um time que pratica o melhor futebol europeu, no momento. Sem nenhum treinamento, sem conjunto de táticas e jogadas ensaiadas, poderia até ter ganhado o jogo. Não vamos por isso ser derrotistas e achar que não temos jogadores e time para disputar a Copa das Confederações em junho ou julho deste ano. Temos jogadores e vamos ter time para essa Copa. Esse mesmo time bem treinado, com táticas ensaiadas, e com seus jogadores em plena forma física e técnica vai dar muito trabalho às Seleções que vierem cruzar o seu caminho. Vamos ser otimistas e voltar a acreditar no nosso futebol. O único problema que vejo e pergunto: – o que está fazendo no banco da Comissão Técnica o "José Sarney"? E vamos parar de escalar jogadores para a Seleção. Quem convoca e escala jogadores é o técnico. Temos nessa Comissão Técnica dois campeões do mundo: Parreira foi tetra campeão em 1994 e Felipão sagrou o Brasil penta campeão mundial. Convenhamos, Guardiolas à parte, que é uma CT de muito respeito. Espero que as corujas agourentas e os chargistas incompetentes e de muito mau gosto se limitem aos seus espaços. 

quarta-feira, 4 de julho de 2012

A posse que não houve: "Um mistério na Redação", segundo Cony

Reproduzido da Folha de São Paulo
por José Esmeraldo Gonçalves
Em artigo na página 2 da Folha, ontem, Cony revela um desses curiosos episódios de redação. No caso, curioso e surpreendente. Aconteceu na revista Fatos, em março de 1985. Ao lado de J.A. Barros e de Roberto Muggiati, fui testemunha do "mistério". Quando o Brasil esperava a posse de Tancredo Neves - nós, inclusive, em pleno trabalho de edição de cerca de 40 páginas sobre a vida e a trajetória política do presidente, um caderno especial que deveria acompanhar a cobertura da posse - Cony nos chama em um canto da sala no oitavo andar do prédio do Russell e joga a bomba: "Vamos mudar toda a edição, Tancredo não toma posse". O petardo jornalístico, que, depois, abalaria o país, ainda era notícia guardada em silêncio mineiro pela família do político. Naquele momento, TVs, rádios, jornais e revistas já antecipavam a festa da posse. Era tão impensável a notícia que, por um momento, achamos que fosse uma brincadeira do Cony. Não era. Era a História acontecendo.
Clique na imagem acima para ampliar e leia a reprodução da coluna do Cony

domingo, 22 de abril de 2012

O Rio de Janeiro que conheci

Botafogo. Reprodução Google Maps
deBarros
Abril de 2012
Num restaurante chamado Bismarque – com que no final – na rua São Clemente, Botafogo, num dia do mês de abril, fui almoçar a convite de um velho amigo.
De Niterói, num confortável ônibus “executivo” saí para atender a esse chamado. Para mim foi uma viagem no tempo e por que não no espaço também.
Imagina, passar pela Rodrigues Alves, vendo os hoje envelhecidos e abandonados armazéns do cais do porto, que muitos anos atrás, pelas manhãs, ficavam cheios de estivadores aguardando serem selecionados pelos representante dos seus Sindicatos para trabalharem nas cargas e descargas dos navios atracados no cais.
Me lembrei que da Ponte, quando de carro por ela passava, rumo à redação da Manchete, onde trabalhava, pude acompanhar o nascimento do novo porto de container, bem ao lado desse viaduto fantástico que liga Niterói ao Rio, que iria, mais tarde, acabar com o velho Porto do Rio de Janeiro e como consequência uma tragédia maior: extinguir a figura do estivador. O progresso cobra o seu preço.  Com esse novo porto, um homem só, no comando de um poderoso guindaste, em poucas horas, carrega e descarrega  centenas de containers em um navio.
Da Rodrigues Alves o ônibus entrou numa rua que no fim contornando a igreja do Santo Cristo subia  um outro viaduto que passava por cima da Presidente Vargas, e dele vi os novos  prédios que surgiram nesses últimos anos – mas o velho “treme-treme”, firme e poderoso cheio de histórias para contar, ainda estava lá – para logo mergulhar no túnel Santa Bárbara reaparecendo nas Laranjeiras, na Praça José de Alencar, entrando na Marquês de Abrantes para romper mais adiante na Praia de Botafogo.
A velha Praia de Botafogo com seus enormes canteiros de grama e os monumentos como a escultura de uma jovem mãe deitada no chão acalentando seu bebê além de outras estátuas compunham o ambiente emoldurado ao fundo pela enseada de Botafogo e o Pão de Açúcar.
Nunca entendi, desde o tempo do bonde, quando por ali passava, o porque da estátua de um índio Pele Vermelha com seu “tomawak” atacando um leão da Montanha. Por que índio norte-americano?
O “Manequinho”, o menino fazendo xixi ainda estava no mesmo lugar, desta vez sem a camisa do Botafogo. Velho reduto botafoguense, com sua sede e campo de futebol bem perto mas que achei um pouco triste a sacro santa arena alvinegra.
Infelizmente,  o “executivo” não fez o seu trajeto pela Praia do Flamengo, onde a “nação rubro negra” tinha a sua velha sede e não pude rememorar as comemorações dos tricampeonatos conquistados por esse meu glorioso clube.
Foram imagens do meu passado que acordaram na minha memória dentro do ônibus em que viajei de Niterói até ele me deixar em frente ao restaurante Bismarque, na rua São Clemente, em Botafogo.
Nas poucas vezes que fui a esse restaurante almoçar ao ler o seu nome da porta, sempre me vem à memória a célebre batalha naval da esquadra inglesa contra navios de guerra da Alemanha Nazista, que acabou com o afundamento do maior encouraçado do mundo e a frase com que Winston Churchil, Primeiro Ministro Britânico, fez marcar esse feito com a frase que se tornou famosa: “Sink the Bismark”, “Sink the Bismark”: “Afundem o Bismark”, “Afundem o Bismark”.
A Coroa Britânica afundou o “Bismarck”.
Não, não bebo mais apesar do tentador pedido do vinho “Piriquita” que sempre faz o meu amigo para acompanhar o seu almoço. Fiquei na Coca-Cola mesmo.
A volta foi mais enternecedora ao pegar o metrô na estação Botafogo a poucos metros do “Bismarque”. Apesar das modificações com a criação da linha 2, tudo continuava o mesmo. Saltando na estação Largo da Carioca, me vi diante do Edifício Central – onde às vezes almoçava no Bob’s saboreando um suculento “Hot Dog” – e atravessava seus corredores da Rio Branco para o Largo da Carioca, que conheci quando era chamado  de “Tabuleiro da Baiana”. Por que era assim chamado até hoje não sei.
Atravessei a Rio Branco e cheguei na velha rua São José. Ah!, rua São José da minha adolescência. Das minhas voltas noturnas das baladas a caminho das Barcas. Dos seus restaurantes e lojas comerciais que abertos durante o dia enchiam a rua de pessoas que iam e vinham falando, olhando, comprando e pra casa se dirigiam. Ah!, rua São José dos meus flertes e amores.
Hoje, na rua São José, onde é o Edifício De Paoli, existia um restaurante que ficava aberto durante toda a noite e varava madrugada. Era onde, voltando das “boites” em Copacabana e dos ccabarés da Lapa tomava a sopa de  “Canja de Galinha” ou a de “Caldo Verde”. Então a noite ficava completa e só restava pegar a velha barca e ir para casa
Antes passei pela rua da Assembléia, caminho que tomava muitas vezes, quando resolvia jantar no restaurante especializado em galetos na brasa. Gostava mais da rua São José. Achava mais animada, mais alegre. A rua da Assembléia  era para mim um pouco triste.
Precisava voltar para casa e no terminal Menezes Cortes, não tão antigo, que lembranças maiores trazia mas também não tão novo que não deixasse suas marcas, peguei o “executivo” e através da Graça Aranha, velho caminho onde em um dos seus prédios trabalhei em uma agência de publicidade, e bem moço ia aos bailes de formatura no Ginástico Português. Quantos bailes ao som de orquestras famosas dancei nesse Ginásio. Mas o bailes maiores e mais quentes eram no salão da Galeria dos Empregados do Comércio, com a Orquestra Tabajara de Severino Araújo, e o seu famoso “Crooner”,  Jamelão.
Da Graça Aranha o “executivo” pegou a Avenida Beira Mar e contornando o viaduto do aeroporto chegou na Perimetral. Dela pude ver a Estação das Barcas, na Praça XV, onde tantas e tantas vezes embarquei e desembarquei nas barcas e hoje ostenta, nessa histórica praça, a estátua equestre de um rei, que um dia, fugindo do seu reino, veio se refugiar na então colônia que se chamava Brasil.
Perimetral, viaduto que hoje querem implodir, em nome de uma estética urbana mas que é  o caminho mais rápido para se para chegar a Avenida Brasil e a Ponte. Por que essa febre de apagar o passado? Por que não manter esse caminho que a tantos tem servido e bem servido levando para casa homens e mulheres cansados depois de um dia de trabalho? Tradição não se apaga. Se mantém e conserva.
O “executivo” desceu da Perimetral na altura da Candelária e para minha alegria entramos na Presidente Vargas.  Avenida, ainda em obras, que um dia vi desfilar – pendurado em um dos seus postes –  os pracinhas brasileiros que voltavam da Itália, dos campos de batalha da Europa. O imponente e clássico prédio do antigo Ministério da Guerra fazendo sombra ao edifício da Central do Brasil. A Praça Onze dos Carnavais do meu tempo coroada pelo Busto de Zumbi dos Palmares. Os velhos casarões do Mangue”, das putas e polacas, importadas pela “Zig Migdal”, que hoje não existem mais, destruídos pelas imobiliárias e construtoras. Logo depois a casa do Relógio, o Viaduto dos Marinheiros e em seguida a Francisco Bicalho, a velha estação da Leopoldina tendo à sua frente o Canal do Mangue então à descoberto com seu cheiro pútrido poluindo o ar. Logo o ônibus “executivo” subia o viaduto do Gasômetro, cartão postal que marcava o limite da cidade com o início do subúrbio do Rio de Janeiro. Eram enormes balões de gás, que um dia, “nacionalistas extremados” quiseram explodir. Não explodiram, mas anos mais tarde esses enormes balões prateados foram demolidos. Mais uma imagem que marcava a entrada do Rio foi riscada do mapa e entrei na Ponte. 
Estava chegando em casa. A viagem através do tempo terminava. Obrigado meu amigo por me ter tirado da concha onde estava escondido e ao meu passado voltado.
Sei que aquele época não volta mais mas na minha memória permanecerá para sempre o Rio de Janeiro dos meus tempos.
Rua São José, Barcas. Centro do Rio. Reprodução Google Maps