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domingo, 25 de outubro de 2009

40 anos: gol mil do Pelé























Na noite de 19 de novembro de 1969, cerca de 100 mil pessoas testemunharam no Maracanã um dos mais esperados acontecimentos esportivos da época: o gol mil de Pelé. A festa do craque foi contra o Vasco, que brigou em vão para botar água no chope da comemoração. O primeiro tempo acabou em 1x1. No segundo tempo, aos 34 minutos, o zagueiro Fernando fez falta em Pelé. Pênalti cobrado no canto esquerdo de Andrada. O bom goleiro argentino foi na bola e quase defendeu o chute. Daí a sua famosa cena, revoltado, esmurrando o gramado. A preocupação de Andrada, contou o próprio anos depois, era passar à história do futebol não como um jogador de méritos e conquistas no Brasil e na Argentina mas simplesmente como "o goleiro que tomou o gol mil do Pelé". Há muitas "teorias da conspiração" sobre a história do gol mil. Em outubro, cerca de um mês e meio antes do fim do campeonato - não era o Brasileirão ainda mas o Robertão, Torneio Roberto Gomes Pedrosa, ampliado pela então CBD - Pelé tinha 989 gols. Faltavam onze gols e o Santos forçou a barra e programou jogos amistosos além de cumprir a tabela oficial. Havia a suspeita de que a direção do clube queria que o gol mil acontecesse no Maracanã. Pelé foi enfileirando e fuzilando goleiros. Faltavam dois gols quando, em um desses jogos amistosos contra o Botafogo de João Pessoa, foi marcado um pênatli contra o time nordestino. A torcida vibrou e pediu em coro que Pelé batesse a penalidade. O que foi feito, saiu o gol 999. Havia um boato de que qualquer outra bola que Pelé chutasse na direção do gol naquele jogo entraria. Lula, o treinador do Santos, sabendo disso, tomou precauções. Como algo que parecia combinado, o goleiro do Santos, Jair Estevão, começa e se contorcer e cai em campo. O reserva quem era? Pelé. E o técnico logo determina que ele assuma a posição. A torcina paraibana fica na saudade. O resto é história. A bola da vez fica com o Vasco. Com direito a paradinha, Pelé marca, beija a bola, pede pelas crianças, dá a volta olímpica. O jogo é interrompido por cerca de 20 minutos e o Vasco, prejudicado pela festa, não tem mais tempo de reagir. Pelo menos, algo da comemoração fica em casa: Pelé, sabe-se, é vascaíno assumido e apaixonado.
Melhor ficar com um trecho da crônica que Nelson Rodrigues escreveu no Globo, no dia seguinte: "Quando a bola foi colocada na marca do pênalti criou-se um suspense colossal no estádio. O meu colega e amigo Villas-Bôas Corrêa, que não tinha nada de passional, estava comovido da cabeça aos sapatos.A louríssima, por mim citada, sentia-se cada vez mais noiva de Pelé. O marido, ao lado, parecia concordar com o noivado e dar-lhe sua aprovação entusiástica. Eu não sei como dizer. Estávamos todos crispados de uma emoção, um certo tipo de emoção, como não conhecíamos. Ao que íamos assistir já era História e já era Lenda. Imaginem alguém que fosse testemunha de Waterloo, ou da morte de César, sei lá. (...) No ex-Maracanã fez-se um silêncio ensurdecedor que toda a ciade ouviu. No instante do chute, a coxa de Pelé tornou-se plástica, elástica, vital como a anca do cavalo. (...) Pelé voou, arremessou-se dentro do gol. Agarrou e beijou a bola. E chorava, o divino crioulo. Cem mil pessoas de pé, aplaudiam como na ópera. Depois, assistimos a volta olímpica. Pelé com a camisa do Vasco. Naquele momento, éramos todos brasileiros, como nunca, apaixonadamente brasileiros".
De resto, foi mesmo uma noite histórica. Gonça, que estava lá, não viu, mas segundo Nelson até a grã-fina de narinas de cadáver vibrava nas cadeiras especiais. Era a noite, ainda segundo o genial cronista, em que os vivos deviam sair de suas casas e os mortos de suas tumbas.
(Na sequência acima, imagens reproduzidas da revista Manchete)