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sábado, 16 de maio de 2020

Dia histórico para o jornalismo: O Globo publica a palavra "foder" na capa

Reprodução O Globo

por Ed Sá 
Anote essa data: 15 de maio de 2020. O Globo publica na primeira página a palavra "foder'. Claro que vem da boca suja do sociopata, e isso deu importância política à frase. 
Em todo caso, é histórico.
Vão longe os tempos em que o Pasquim era pontilhado de asteriscos para simbolizar o vocabulário cabeludo. Ainda bem que a linguagem jornalística se aproxima da vida real, embora o povão fale "fuder", bem mais orgástico. 
Mas há uma graduação aí. Leila Diniz falando "foder" era poesia pura. Ela tanto amava foder que cabe a redundância. 
Já para o autor das aspas que O Globo reproduz, tudo é ódio. Até o sentido em que usa o verbo em transitivo direto "foder". No caso, como sinônimo de "prejudicar", "lesar'", "causar dano", "deteriorar", "danar", dificultar", "tolher".

domingo, 10 de dezembro de 2017

Luiz Carlos Maciel: o demolidor de dogmas...


Reprodução Instagram
por José Esmeraldo Gonçalves

Há dois anos, circulou nas redes sociais um post realista e nada surpreendente. O jornalista, escritor e dramaturgo Luiz Carlos Maciel, que morreu ontem aos 79 anos, avisava ao distinto público estava precisando trabalhar. No seu apelo, a constatação de que o envelhecimento, no Brasil, é quase criminalizado para quem não tem os privilégios nem os podres poderes da elite que se superaposenta..

"Um tanto constrangido, é verdade, mas sem outro jeito, aproveito esse meio de comunicação, típico da era contemporânea e de suas maravilhas, para levar ao conhecimento público o fato desagradável de que estou sem trabalho e, por conseguinte, sem dinheiro. É triste, mas é verdade. Estou desempregado há quase um ano. Preciso urgentemente de um trabalho que me dê uma grana capaz de aliviar este verdadeiro sufoco. Sei ler e escrever, sei dar aulas, já fiz direções de teatro e de cinema, já escrevi para o teatro, o cinema e a televisão. Publiquei vários livros, inclusive sobre técnicas de roteiro, faço supervisão nessas áreas de minha experiência, dou consultoria, tenho – permitam-me que o confesse – muitas competências. Na mídia impressa, já escrevi artigos, crônicas, reportagens… O que vier, eu traço. Até represento, só não danço nem canto. Será que não há um jeito honesto de ganhar a vida com o suor de meu rosto? Luiz Carlos Maciel.

Enquanto lia e pensava sobre aquele duro S.O.S, via em um canto datado da estante velhos jornais, livros e revistas nos quais Maciel estava presente direta ou indiretamente.

O título mais comum na mídia, hoje, ao noticiar sua morte, refere-se ao "guru da contracultura". Nos anos 1960 e 1970, principalmente, Maciel foi o autor e mensageiro que levou a esquerda a quebrar dogmas. Em livros, ensaios e perfis, mostrou que no idealismo e no comportamento de muitos jovens também havia uma herança caduca de preconceitos a dispensar. Maciel ofereceu alternativas para um tempo em que o túnel estava quase fechado e sem luz.

Por tudo isso, aquele franco apelo de Luiz Carlos Maciel não combinava com o seu legado e a importância do seu ativismo cultural. Ali na estante estava amarelada e rota uma pequena memorabilia da sua atividade jornalística, do Flor do Mal ao Pasquim e a edição brasileira do Rolling Stone, que dirigiu,  além de autores que ajudou a introduzir nas universidades, nos botecos de Ipanema e em seus assemelhados Brasil afora.  No Pasquim, sua coluna Underground era um farol, como se dizia então, um GPS da contracultura como é dito hoje. Mas Maciel também atuou na mainstream da mídia, como Última Hora, Correio da Manhã, Jornal do Brasil, colaborou com revistas da Bloch e trabalhou na Fatos & Fotos.

Soube da morte do Maciel ontem à noite por uma mensagem de Roberto Muggiati, que peço licença para transcrever:


"Viu aí?  Foi-se o nosso Maciel. Omitiram que ele trabalhou na Bloch nos anos 70 - não lembro bem onde, mas não foi na Manchete. Como depoimento pessoal posso dizer que em Curitiba, em 1959, com 22 anos, eu invejava Maciel, um ano mais jovem, que havia acabado de publicar um livro que corri para comprar, Samuel Beckett e a solidão humana, nos Cadernos do Rio Grande, editados pela Secretaria de Cultura gaúcha. Éramos, então, uma mistura de comunistas e existencialistas exaltados e apaixonados pela vida - em 1960, Maciel foi estudar teatro nos Estados Unidos, com uma bolsa da Fundação Rockefeller; e eu fui estudar jornalismo em Paris, com uma bolsa do governo francês. A ditadura militar atropelou nossos sonhos em 1964, mas na sua fase light (que iria até o final de 1968), ainda nos permitiu uma atuação ideológica: Maciel teve um papel preponderante nas montagem de O Rei da Vela (1967), de Oswald de Andrade, pelo Teatro Oficina de São Paulo. E eu lançaria um livro ostensivamente engajado, Mao e a China, cinco dias antes da decretação do AI-5, na sexta-feira 13 de dezembro de 1968.
Abolidos todos os direitos civis no país, a resistência política seria exercida de forma violenta nos Anos de Chumbo pela guerrilha urbana, com os consequentes assassinatos e torturas nos porões da ditadura. Aqueles desprovidos de temperamento suicida, optaram por um modo mais sutil de combate. Encontramos então na contracultura que embalava o mundo no final dos anos 60 uma maneira de fazer política pelas beiradas e brechas do Sistema. Meu segundo livro, em 1973, Rock: o grito e o mito, teve como subtítulo A música pop como forma de comunicação e contracultura. Luiz Carlos Maciel foi ainda mais fundo, assinando a coluna Underground no Pasquim e dirigindo a versão brasileira da revista Rolling Stone.
Nos anos 70 circulou também pelas redações da Bloch, onde formou um trio imbatível com Narceu de Almeida e Luiz Carlos Cabral. Um dia, os três – mais a atriz Maria Claudia, sua mulher, que o acompanharia até o fim - debandaram para as areias de Búzios e Cabo Frio: segundo Jaquito, foram “jogar pingue-pongue contra o vento...”. Era o Grande Desbunde, a outra face da moeda dos Anos de Chumbo. Maciel resistiu sempre, tornando-se o “Papa da Contracultura” no Brasil".

Por uma dessas armadilhas da vida, Luiz Carlos Maciel parte quando mais fará falta. Basta olhar em volta: o túnel fecha de novo e volta a se apagar em tempo de retrocessos, preconceitos e obscurantismo.


segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

No Brasil, o humor não é mais "Charlie".

Na Pif Paf, de Millor: a Liberdade acorrentada e com o Mein Kampf, de Hitler, na mão. 
por Omelete
O massacre na redação do jornal satírico Charlie Hebdo levantou a questão do humor livre. Muitos cartunistas e humoristas brasileiros - como, de resto, a maioria das pessoas -, se solidarizaram com os franceses vítimas do terrorismo movido pelo sectarismo religioso. No Brasil, o jornalismo de sátira, a crônica, assim como o cartunismo, já foram mais desafiadores. Nomes como Millor Fernandes, Fortuna, Claudius, Jaguar, Henfil, Ivan Lessa, Ziraldo, Sérgio Augusto, Stanislaw Ponte Preta, entre muitos, fustigaram os poderosos de plantão. E não apenas os governos da ditadura, mas empresários, grandes grupos de comunicação, banqueiros etc. Alguns jornalistas e cartunistas foram, por isso, presos, perseguidos ou perderam espaço nos grandes veículos.
Angelo Agostini detonando a corrupção no Império
Muito antes, em 1876, Angelo Agostini, na Revista Illustrada, tirava um sarro do Império. Ao longo da história, jornalistas independentes sem espaço empreenderam seus próprios veículos. A maioria, como a revista Pif Paf, durou pouco. Outros, como o Pasquim, resistiram enquanto puderam. Um dos pontos levantados nas muitas conversas ou comentários na rede sobre o caso Charlie Hebdo foi fenômeno do  "politicamente correto". Humoristas das novas gerações se queixam de que é impossível fazer humor em função da reação, quase censura, dos grupos atingidos. Não é bem por aí. Ou melhor, não é apenas por aí. Não por acaso, os cartunistas e humoristas que hoje têm espaço na TV ou na mídia impressa fazem o que se pode chamar de "humor a favor".
O Pasquim atirando contra alvos poderosos
Atuam com extrema cautela, sem ousar desafiar a linha editorial e política dos grandes veículos que os abrigam. Daí, exercem confortavelmente o "politicamente incorreto" apenas em cima de minorias que vão oferecer menos riscos aos seus contracheques (aqui, uma observação: humoristas dos grandes veículos, hoje, são contratados ou são "pessoa jurídica". Há expressão que combine menos com o humor livre do que "pessoa jurídica"? Talvez muitos dos citados acima, que recebiam por "vale" ou por cartum, se sentissem, de saída, menos comprometidos). O fato é que a nova geração não faz piadas com poderosas igrejas donas de veículos, famílias e agregados proprietários de grandes grupos de comunicação, grandes marcas, políticos, partidos, ou administrações apoiados pela "casa", artistas dos respectivos casts dos seus patrões etc. Não faz piada nem com corrupção se o corrupto focalizado frequentar a área vip do patrão. E isso vale para cartuns, talk shows, jornalísticos de humor, realities, crônicas etc. É longa a lista de restrições que essa galera entuba sem reclamar. E olha que perdem, assim, fonte inesgotável de piadas. Para terem suas críticas levadas a sério, quando apontam um certo "cerceamento" do humor no Brasil e culpam o "politicamente correto", deveriam adotar, antes, a "sátira giratória", sem poupar minorias, maiorias, nem fracos, nem poderosos. Do contrário, é moleza faturar em cima de quem não pode reagir. Deixa de ser humor e passa a ser apenas bullying profissional.
Daí que as boas novidades no humor estão vindo das redes sociais. Caso do Porta dos Fundos e de muitos outros ainda na "clandestinidade". A turma que é uma exceção no dito acima tem caricaturado no You Tube instituições ou criticado comportamentos sem olhar o peso da influência dos alvos. O Porta do Fundos agora está no canal por assinatura Fox (por enquanto, reprisando quadros antigos). Dizem que assinou com a Fox porque lhes prometeram liberdade. Que assim seja e que tenha sua essência preservada, já que o Porta dos Fundos é a melhor novidade em matéria de humor surgida no Brasil há décadas.
Resumindo: o "Sou Charlie" foi uma unanimidade entre muitos humoristas brasileiros ouvidos pela mídia. Mas, infelizmente, não há "Charlie" entre eles. Ou foi domado ou faz humor convenientemente seletivo, do tipo que faz o patrão rir e dizer "tirou daqui", levando o indicador ao lábio inferior como, aliás, fazia um personagem antigo, o "Múcio", de Jô Soares. A esperança é que a sátira autêntica, ambulante, aquela que não poupa alvos, renasça, cresça e tenha vida longa na grande mídia alternativa de hoje: a internet.
Porque o humor de 'carteira assinada' perdeu a graça.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Cadê meu Pasquim?


A primeira edição do Pasquim chegou às bancas em 26 de junho de 1969, começou com 20 mil exemplares e, nos bons tempos, alcançou 200 mil. Hoje, no Bar Lagoa, a editora Desiderata lança "Ninguém é Perfeito", de Jaguar; "Edição Comemorativa 40 anos" e "O Pasquim". Capas, entrevistas e relatos da famosa turma estão na trinca de livros. É memória, importantíssima, do jornalismo e do humor brasileiros.