Mostrando postagens com marcador Ricardo Azoury. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ricardo Azoury. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 5 de julho de 2022

Ricardo Azoury (*): o novato que não se acovardou. Por Marcelo Auler

Ricardo Azoury em foto de Ana Paula
Oliveira Migliari/TV Brasil

Em 1977, o jovem Ricardo Azoury (1956) iniciava-se como repórter fotográfico após freqüentar um cursinho da Revista Manchete. Eu, com três anos de profissão, continuava um estagiário naquela redação mesclada de profissionais competentes assim como de pessoas sisudas... Mas ali vivenciamos um belo aprendizado.

No Espírito Santo o então governador biônico Elcio Álvares, decidiu enfrentar o ecologista Augusto Ruschi (1915/1986) e pensou em lhe tomar a Estação Biológica de Santa Lúcia, pra ali instalar uma fábrica de palmito. Tratava-se de uma área de 279 hectares com que Ruschi mantinha íntima relação desde pelo menos 1930 para estudos e pesquisas de flora e fauna. Ali havia 600 mil orquídeas, 20 mil árvores e 320 espécies de animais, e os beija-flores, dos quais o biólogo era um especialista.

Na defesa do Parque nas mãos do professor da UFRJ seguiram para Santa Tereza (ES) algumas caravanas de estados diferentes. Eu e Azoury cobrimos a preparação de uma que sairia do Rio, freqüentando reuniões noturnas bastante chatas. A princípio fomos avisados que a ida ao Espírito Santo com as caravanas ficaria a cargo de outra equipe.

Na hora H, porém, decidiram que eu iria e me mandaram escolher outro fotógrafo. Temiam encarregar um novato da missão e ele não dar conta do recado. Preferi consultá-lo, lembrando que ele poderia estar colocando em risco o emprego, mas Azoury foi claro: “se é para testar, testem logo. Se for para demitir, demitam logo”. Eu então defendi sua ida comigo, o que prevaleceu.

Alberto Ruschi por Ricardo Azoury e...

...a estátua inspirada na foto publicada na Manchete, em 1977. O homenagem ao naturalista está instalada no Parque Pedra da Cebola, na Mata Atlântica, no Espírito Santo.

Ao sairmos, provoquei o então editor-chefe da revista, Roberto Muggiati, perguntando qual a foto que ele queria para a abertura da matéria (página dupla). Ele então desenhou um homem de perfil recebendo com um beija-flor lhe beijando os lábios. Azoury, por óbvio, ficou preocupado.

No nosso encontro com Ruschi eu expus o problema: “professor, o emprego deste rapaz está em jogo”. Ele, imediatamente, acalmou-nos. Isso é fácil.

Na verdade, foi bastante trabalhoso, pois precisávamos recolher os potes com água doce que ficavam em torno da casa principal, deixando apenas um em um viveiro. Alia aprendíamos as aves. Depois de fechá-las no viveiro, retirávamos o pote com água lá de dentro e recolocávamos todos os de fora.

Ruschi entrava naquela enorme gaiola, tendo na boca uma pequena cápsula, em cuja ponta estava um bico de plástico igual aos dos potes. Ali as aves iam adoçar a boca, buscando a água com açúcar.  

Não satisfeito com o equipamento de Azoury, Ruschi resmungou muito e foi na sua residência buscar um flash mais potente, para garantir a qualidade final do material. Repetimos toda a operação. Coube-me segurar o flash maior que não se adaptava à máquina. Ali, oficialmente, Azoury me promoveu a seu “flasheiro”.

A foto, como não podia deixar de ser, fez sucesso e Azoury permaneceu na Manchete muito mais tempo do que eu, demitido em julho de 1978.

Vá em paz, querido Azoury. Obrigado por termos convivido ainda que muito menos do que eu gostaria, pois nossas vidas profissionais nos separaram. Um beijo, garoto. (Marcelo Auler)

(*) Fotógrafo profissional durante 42 anos, Ricardo Azoury faleceu em Petrópolis, no Rio de Janeiro, após um acidente de carro na entrada de Itaipava, em abril último. O blog faz esse registro tardio, mas indispensável, ao colega que, entre muitos outros veículos, trabalhou na Manchete e na Fatos & Fotos. Pedimos licença a Marcelo Auler - um extraordinário jornalista investigativo que também foi repórter da Manchete - para reproduzir seu texto veiculado pelo site GGN, assim como permissão à fotógrafa Ana Paula Migliari (outra grande profissional ex-Manchete), autora do retrato acima. Após deixar a Manchete, Azoury construiu uma carreira marcante. Foi da Agência F4 e teve fotos publicadas nos principais jornais e revistas brasileiros e em “Newsweek”, “New York Times”, “L’Express”, e “Scientific America”, (José Esmeraldo Gonçalves)


sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Fotografia: a capa do Gugu... e outros cliques • Por Roberto Muggiati

Gugu na capa da Manchete e...


...um ano depois na Amiga. Fotos de Lena Muggiati


Augusto Ruschi e o beijo do beija-flor. Foto de Ricardo Azoury

Gabeira na árvore. Foto de Gil Pìnheiro
O editor de uma revista ilustrada compete sempre com seus fotógrafos, talvez por sofrer do complexo de não saber fotografar. Mas nunca faltaram aos editores da Manchete ideias para fotos, algumas até mirabolantes. Quando Ricardo Azoury foi retratar Augusto Ruschi na sua reserva ecológica do Espírito Santo, exigi que fizesse uma página dupla com o ambientalista beijando... um beija-flor. Sorte que o repórter era o Marcelo Auler, mais tirânico que o editor, e exigiu que Ruschi sustentasse entre os lábios um dedal com água açucarada até que surgisse um colibri disposto a entrar na brincadeira. A foto fez o maior sucesso, reproduzida até em pôsteres, outdoors e campanhas publicitárias.
Gil Pinheiro foi incumbido de fazer a primeira foto de Fernando Gabeira na sua transição ideológica do vermelho para o verde. Como de praxe, procurou-me na redação para saber que tipo de foto eu queria. “O cara não é líder dos verdes? Bota ele em cima de uma árvore!” Gil era um cumpridor de ordens exemplar. Com surdez avançada, não conseguia controlar o volume da voz e soltou o berro para cima do Gabeira: “Companheiro, sobe nessa árvore aí.” O retratado obedeceu prontamente e Gil voltou para a redação com uma foto maravilhosa do líder ambientalista de camisa e calça vermelhas contra o fundo verdejante de uma exuberante figueira.
O furor criativo do editor muitas vezes contagiava o fotógrafo. Foi o caso de Lena Muggiati, escalada em 1995 para fazer em São Paulo uma matéria com Gugu Liberato, que pleiteava um canal de TV.  Lena - na época sofrendo agudamente da doença do pânico - aventurou-se a atravessar o Viaduto do Chá até a Praça do Patriarca, o local da megalópole com mais transeuntes por metro quadrado. Sabia o que queria e encontrou no camelódromo da praça: um apontador de lápis no formato de um aparelho de TV. O simpático apresentador, líder absoluto do Ibope na época, mostrou-se muito acessível e se dispôs a posar com o brinquedinho. A foto deu capa. Um ano depois outro clique da série foi capa da Amiga, onde o Rei do Domingo estreava uma coluna. Carregava ainda um comentário irônico sobre a audácia do jovem de 36 anos que brigava por um canal próprio de TV, para competir com magnatas como Roberto Marinho e Silvio Santos. 

Descanse em paz, Gugu.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Amazônia


Por falar em Amazônia, post abaixo, visite o site do fotógrafo Ricardo Azoury, que integrou as equipes das revistas Manchete e Fatos & Fotos, e veja imagens de garimpos com esta acima e outros temas. Clique aqui