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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Acervo da antiga MTV está abandonado. Jornais e revistas já não guardam todas as fotos que fazem. Memória digital tem futuro?

por José Esmeraldo Gonçalves
Um debate pontua conversas de pesquisadores: o meio digital ajudará a guardar ou tornará mais frágil a preservação da memória visual para as futuras gerações? Há controvérsias. Ao mesmo tempo em que a tecnologia digital amplia extraordinariamente a divulgação em todas as plataformas, persiste uma certa fragilidade na guarda dos arquivos a longo prazo. Os meios de comunicação são dotados de maior estrutura para guardar grandes arquivos, embora procedimentos administrativos em algumas organizações jornalísticas impliquem, em nome da economia, na destruição diária de milhares de imagens (falarei sobre isso logo abaixo). Já a manutenção de arquivos pessoais digitalizados é mais complexa. Nem todo mundo tem condições de guardar centenas ou milhares de imagens. Há coleções inteiras de fotografias nos principais museus do mundo que vieram de álbuns de famílias, de herdeiros ou de amadores que tinham a fotografia como hobby. A tendência é que isso se torne mais dífícil.
Atualmente, cidadãos comuns fazem fotos ou filmes em celulares, como flagrantes em grandes cidades, guerras, desastres naturais ou simplesmente mostram cenas de vida que poderão se tornar valiosos documentos futuramente. Mas chegarão lá?
A cada dia são produzidas bilhões de imagens em todo o mundo. Enormes servidores guardam tais arquivos, a capacidade da "nuvem" parece inesgotável, mas não a confiabilidade, tanto que os técnicos em bancos de dados sempre recomendam a redundância de arquivos. Ou seja, alertam para a guarda de informações, filmes, documentos, textos ou fotos em mais de um dispositivo. Sem falar nas mídias que vão sendo superadas por novas tecnologias, como foi o caso do velho disquete, tornando mais complicada para muita gente a recuperação de imagens antigas.
Memória digital custa dinheiro. Daí, há jornais e revistas brasileiros que arquivam cerca de 15% a 20% por cento do material fotográfico que produzem. O resto é apagado. Em certa época, a redação de uma revista que guardava em CD, como back up, tanto as fotos escolhidas quanto as não publicadas, recebeu ordens expressas para quebrar os discos rumo ao lixo, sob a alegação de falta de espaço para guardá-los.
Segundo algumas normas internas vigentes, de cada matéria são lançados nos bancos de imagem as fotos publicadas e mais algumas algumas poucas consideradas representativas. Exemplificando: se fosse feita hoje, a famosa foto de Che Guevara por Korda poderia ser destruída pelo jornal cubano que a rejeitou inicialmente. Quando o material foi revelado e copiado em um contato, o editor não utilizou a imagem de Che naquele ângulo e naquela expressão que a tornaria célebre. Selecionou outra e mandou para o arquivo os demais negativos do filme de Korda. Só posteriormente, a foto de Che ilustrou outra matéria, ganhou visibilidade e virou cult. Hoje, teria sido vítima da tecla "delete". Pelo mesmo raciocínio centenas de fotos de Roberta Capa teriam se perdido. A maioria das suas imagens da Segunda Guerra, da Guerra da Indochina, além de cenas cotidianas da Europa, não foram publicadas como registros de atualidades mas ficaram guardada entre as "sobras". Hoje, seriam digitalmente guilhotinadas.
O Portal Imprensa publicou ontem uma matéria sobre o acervo da extinta MTV, que estaria apodrecendo, sem manutenção, no antigo prédio do canal, em São Paulo. Fitas antigas e imagens digitalizadas vão, aos poucos, se perdendo. Segundo a colunista Keila Jimenez, do portal R7, vez ou outra alguém consegue acesso ao material e resgata trabalhos, como foi o caso da dupla de humoristas Hermes e Renato, que salvou programas antigos e os lançou na internet. A Editora Abril, que foi dona da MTV, vendeu o canal e tentou negociar o acervo com a Viacom, nova proprietária. Questões contratuais, valores e direitos autorais vencidos, em alguns casos, teriam inviabilizado a negociação. Enquanto isso...