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domingo, 19 de maio de 2019

The Big Bang Theory: @kaleycuoco faz a 'cobertura' da despedida dos nerds.

Selfie de despedida. Reprodução Instagram

Emocionados, elenco e equipe técnica assistem ao último capítulo, logo após a gravação. Reprodução Instagram



No bom sentido, de quatro para mídia. Reprodução Instagram

O elenco se despede do sofá que foi set de muitas cenas. Reprodução Instagram


por Clara S. Britto 

O último episódio de The Big Bang Theory irá ao ar, no Brasil, no dia 2 de junho, às 22h, no Warner Channel. Será um capítulo especial, com uma hora de duração.

Nos Estados Unidos, a despedida da série recordista de permanência no ar - 12 anos - aconteceu na última quinta-feira.

A atriz Kaley Cuoco, a Penny, publicou no Instagram (www.instagram.com/kaleycuoco/) uma série de fotos dos bastidores das gravações do último capítulo. Abraços e lágrimas marcaram o clima de adeus do elenco principal - Jim Parsons, Johnny Galecki, Kaley Cuoco, Mayim Bialik, Melissa Rauch, Kunal Nayyar e Simon Helber, dos atores convidados, do criador da série, Chuck Lorre, e da equipe técnica.

A revista Entertainment Weekly lançou uma edição especial sobre a série e os bastidores da última semana do elenco.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

HÁ 50 ANOS: A GRANDE AVENTURA DO LANÇAMENTO DA VEJA • Por Roberto Muggiati

SORRIAM, O MUNDO É DE VOCÊS • A ideia deve ter sido do próprio capo, Victor Civita, que assinou pomposamente o texto da Carta do Editor ao lado da foto da redação publicada no número 1. Foi convocado o chefe de fotografia da Abril, o excelente Lew Parrella, para registrar a foto para o álbum de família da primeira equipe de Veja. Algumas pinceladas sobre o que aconteceria com alguns que figuram aí e outros que chegariam pouco depois. O gaúcho Caio Fernando de Abreu, tímido de morrer, completou vinte anos no dia da data de capa da primeira Veja. Trocou o jornalismo pela literatura, morreu cedo e se tornou talvez a figura cult mais destacada dentre todos nós. O gaúcho José Antônio Dias Lopes foi o último a sair (não sei se apagou a luz), 22 anos depois, quando era editor de religião e correspondente da Veja no Vaticano. Criou a revista Gula e se deu bem. Eu, com os exageros capilares da época, postei-me coerentemente na extrema esquerda da primeira fila. Tornei-me o editor de Manchete que mais tempo durou no cargo. O paulista Tão Gomes Pinto veio dirigir a Manchete em 1996 e foi, talvez, o editor que menos tempo ficou no cargo, sorte dele... Mino Carta continua um grande jornalista, impávido com suas adoráveis contradições. Elio Gaspari e Dorrit Harazim conheceram-se na redação e continuam suas carreiras vitoriosas: ele se tornou o maior historiador da ditadura militar no Brasil, ela ganhou recentemente o Prêmio Maria Moors Cabot. Harry Laus, que não teve reconhecimento literário enquanto viveu – chegou a ser dono de uma birosca de loteria esportiva da Caixa – tornou-se um autor cada vez mais prestigiado no exterior. Bernardo Kucinski escreveu sobre o assassinato da irmã pelos carrascos militares e, mais recentemente, aderiu em definitivo à ficção. Henrique Caban trocou a Veja pela Bloch, onde foi assistente de Samuel Wainer no semanário Domingo Ilustrado, que durou um ano, quando retomou a carreira no Globo. Enio Squeff destacou-se na literatura, na música e nas artes plásticas. Sylvio Lancelotti herdou um hotel na Itália, tornou-se chef e crítico gastronômico e ainda comentarista de jogos do campeonato italiano pela TV. Paulo Cotrim também se tornou chefe e crítico de culinária. Tárik de Souza, que foi meu repórter na editoria de música, virou o dono do pedaço e é um dos mais sólidos comentaristas sobre a MPB, com vários livros publicados. Marcos Sá Correa, jovenzinho, começou sua brilhante carreira na Veja, lembro o Mino comentando: “Ele tem uma cara boa...” Muitos já morreram, de outros nunca mais ouvi falar. Encerro com uma vinheta trágica. Nello Pedra Gandara, pesquisador da minha editoria, foi um inadaptado na Abril e depois na Bloch, queria outras coisas do mundo. Um dia encontrou o seu caminho: começou a criar cachorros, montou um canil bem sucedido, depois outros, ficou finalmente bem e feliz da vida. Mas tudo terminou bruscamente quando Nello morreu atropelado ao atravessar uma destas avenidas que são o orgulho da Pauliceia. Foto Lew Parrela


Clique na ilustração para ampliar. Reprodução/Esquina

POR ROBERTO MUGGIATI

Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos – a Era das Luzes, a Era das Trevas. Foi o ano da maior aventura do jornalismo brasileiro. Na segunda-feira, 9 de setembro de 1968 (com a data de capa do dia 11), saía o primeiro número da revista Veja.

Numa época de grandes lançamentos espaciais, a operação para levar às bancas a revista semanal de informação da Abril lembrava o planejamento e logística da NASA. Na Carta do Editor, em página dupla, ao lado da lendária foto da equipe diante das máquinas que imprimiam a revista, o próprio Presidente, Victor Civita, cobrava o pênalti: “Selecionamos entre 1.800 universitários de todos os estados e realizamos um inédito Curso Intensivo de Jornalismo. Com 50 destes moços e outros tantos jovens ‘veteranos’, formamos a maior equipe redacional já reunida por uma revista brasileira.”

Aos 30 anos, com 16 de jornalismo, eu fui um daqueles “jovens ‘veteranos’” da grande empreitada. Comecei a carreira em 1954, na Gazeta do Povo de Curitiba. Em 1960 fui estudar jornalismo em Paris, em 1962 entrei para o Serviço Brasileiro da BBC de Londres. Em 1965, comecei na Manchete, no Rio (ainda em Frei Caneca) como repórter especial; em março de 1968, a Bloch me ofereceu o cargo de editor de Pais e Filhos, uma franquia da Eltern alemã. Eu não tinha filhos e queria era fazer jornalismo de verdade, não uma revista mensal de fraldas e papinhas. Além do mais, só teria salário de editor lá pelo fim do ano, depois que a revista fosse lançada, e com uma condição: se a revista vendesse bem... Era muita incerteza para minha pobre cabecinha.

E havia mais em jogo. Já em 1967 falava-se muito numa revista Veja, que seria a semanal de informação da editora Abril. Numa ida a São Paulo, procurei o Alessandro Porro – figura icônica da empresa, diziam até que seria filho do próprio Victor Civita. Porro me garantiu: “Quando chegar a hora você será chamado.” As contratações para a Veja provocaram um verdadeiro terremoto no mercado de trabalho. A Manchete, como líder de vendas entre as semanais, foi um dos celeiros mais visados pelos caçadores-de-cabeças da nova publicação. Eram curiosos os telefonemas da sucursal carioca da Abril para a redação da Bloch: chamavam o Paulo Henrique (Amorim), que atendia a ligação, falava rapidamente e passava o telefone para o Lucas (Mendes), que por sua vez o passava para o Nilo (Martins) e assim sucessivamente. Adolpho Bloch ficava injuriado de ver aquela evasão do seu plantel debaixo do seu próprio nariz, mas tudo se fazia dentro das leis clássicas do capitalismo: jornalistas de esquerda (quase um pleonasmo) respondiam à lei da oferta e procura, atrás de melhores salários.

Peguei a ponte aérea e fui conversar em São Paulo com o futuro diretor de Veja, Mino Carta. Durante um cozido no Ca’ d’Oro, convidou-me para ser um dos editores da revista, dividida em quatro grandes fatias. Coube-me a fatia mais suculenta, a editoria de Artes e Espetáculos – imaginem, num ano em que a cultura brasileira e mundial ferviam.

O modelo da Veja era a semanal de informação americana Time, fundada em 1923, que oferecia uma visão do mundo segmentada por assuntos. O texto da Time pretendia ser informativo, claro e elegante, escrito numa linguagem uniforme, sem crédito ao autor, para dar a impressão de que a revista era redigida por uma única pessoa (quem sabe o próprio Deus?) Transplantar tal modelo para o Brasil seria o desafio da Veja – e seu grande desastre. O absurdo inicial foi copiar a grade funcional da Time e preencher os escaninhos com a nata do jornalismo brasileiro. A Veja começou com um total de 157 jornalistas, entre editores, redatores, repórteres, fotógrafos e correspondentes.  A Time só chegara àquela estrutura após 45 anos de hesitações e adaptações: Veja também teria de evoluir dentro da realidade do país e da época, aprendendo com seus erros Seria – e foi – um processo muito doloroso.

A Editoria de Artes e Espetáculos tinha seis editores assistentes, dos quais só um foi escolhido por mim, o de Cinema, Geraldo Mayrink, mineiro com experiência das redações cariocas, cinéfilo e jornalista cultural, que correspondia plenamente ao perfil de redator buscado pela “proposta” da Veja.

Os outros editores já estavam lá quando cheguei, escolhas pessoais do próprio Mino: Paulo Cotrim (música), Paulo Mendonça (teatro), Luiz Gutemberg (rádio e TV), Leo Gilson Ribeiro (literatura) e Harry Laus (artes plásticas), esse indicado por Leo Gilson. Os critérios? Cotrim fora o dono do João Sebastião Bar, berço da bossa nova em São Paulo. Mendonça era aparentado com a família Mesquita, do Estadão, onde trabalhara o pai de Mino, também jornalista. Leo Gilson, doutor em Literatura pela universidade de Heidelberg, era o melhor amigo da tia de Mino, Bruna Becherucci, que também colaborava em Veja fazendo resenhas literárias. Nenhum deles tinha qualquer vivência do texto jornalístico: eram críticos acadêmicos sem poder de comunicação com o grande público. Cotrim sequer escrevia; muitos anos depois, encontraria sua vocação como crítico de gastronomia. Cada editor tinha dois pesquisadores (o nome que a Abril dava aos repórteres) – daqueles 50 jovens universitários do país inteiro selecionados por Veja. E cada editoria tinha colaboradores para escreverem resenhas, dois em São Paulo e dois no Rio de Janeiro. Ou seja: eu, os seis editores, os doze pesquisadores, mais 24 colaboradores, a equipe da editoria de Artes e Espetáculos totalizava 43 profissionais, mais um carona, o famigerado José Ramos Tinhorão: já na fase dos números zero, ele fora rejeitado por outras editorias e desovado na nossa. A última coisa que a Veja ia querer era o Tinhorão escrevendo sobre música e demolindo a bossa e a tropicália com seus dogmas do materialismo dialético. Foi posto a escrever a seção de Cartas do Leitor.

Além de planejar minha fatia cultural da revista, que nunca ultrapassava as dez páginas – vivíamos um momento altamente politizado, embora a cultura também participasse dele – eu tinha que reescrever praticamente todos os textos (o que gerava atritos terríveis) e me comunicar com aqueles 24 colaboradores que, sem espaço, invariavelmente ficavam sem escrever. Aquilo era um imenso desperdício de tempo, deles e meu. No ano e meio que passei em Veja, só tive oportunidade de publicar uma resenha do grande José Rubem Fonseca, sobre o filme As aventuras de Tom Jones.

Numa época sem fax e, nem falar, e-mail, o principal meio de comunicação era o obsoleto telex, o que tornava um verdadeiro suplício o fechamento das reportagens de capa. Segunda-feira de manhã, mal refeitos do esforço de fechar mais uma edição, Mino Carta reunia os editores em sua sala. Comentávamos o número que acabava de ir às bancas e discutíamos a pauta do seguinte. Traçadas as prioridades, o chefe de reportagem Sérgio Pompeu iniciava a faina desesperada de disparar os pedidos para as sucursais.

O redator destacado para escrever o texto da matéria de capa passava três dias torturantes sem fazer nada. Os textos só começavam a chegar ao apagar das luzes, lá pelo fim da tarde de quinta-feira, quando jorravam sobre a mesa do pobre coitado vários metros de folhas de telex, além de folhetos, jornais e revistas enviados por despacho urgente. Não havia tempo material para digerir tudo aquilo e escrever um texto decente, o que aumentava o desgaste físico e mental do redator. O trabalho de fechamento se prolongava da sexta até o amanhecer de sábado na paisagem sinistra da Marginal do Tietê, segundo Mino “lamaçal fétido em movimento preguiçoso, rio morto prova de muitas coisas más. Se o lago de Tiberíades fosse igual ao Tietê, a caminhada de Cristo sobre a água não seria milagre.”

Uma palavra sobre o espaço físico onde se fazia a Veja. No começo de 1968, a Abril juntara suas redações num prédio construído sobre a própria gráfica, na Avenida Otaviano Alves de Lima, 800, na Marginal do Tietê, tendo mais aos fundos a Freguesia do Ó. A redação da Veja ocupava o oitavo e último andar. Mino Carta e os editores tinham salas fechadas na frente, com direito à abominável paisagem do rio poluído. Os editores assistentes, redatores e repórteres ocupavam compartimentos quase fechados, as execráveis “baias” – mais um fator a truncar a comunicação em todos os sentidos. Não era uma redação “aberta”, com fileiras de mesas como nos jornais e na maioria das revistas, o que promovia interação constante entre os redatores. Ao longo do corredor, do lado de fora das salas dos editores, havia baterias de datilógrafas que “preparavam” os textos para a gráfica, redigitando-os em colunas de 37 batidas, a medida da coluna tipográfica. O editor, depois de reler, corrigir ou até reescrever o texto do subeditor, tinha ainda de rever (e rubricar) as laudas finais batidas à máquina por mocinhas que não tinham a menor ideia do que estavam datilografando.

O número zero da Veja

A primeira capa

O lançamento de Veja foi feito com uma megacampanha publicitária que culminou com a transmissão em rede nacional pela TV, às 20 horas de domingo, de um filme de Jean Manzon sobre a revista, tão bombástico que as pessoas correram às bancas na manhã seguinte esperando comprar a maravilha das maravilhas. Os 700 mil exemplares lançados em todo o Brasil esgotaram em poucas horas. A decepção foi imensa. Acostumados ao arrojo visual da Manchete e ao jornalismo vivo da Realidade, a vitoriosa mensal da Abril abortada em função dos investimentos na Veja – os leitores rejeitaram de saída a revista de formato pequeno, quase toda em preto-e-branco e com excesso de texto. Até o nome da revista era inadequado, convidava a “ver” mais do que a “ler”, por isso ela circularia muito tempo com o logotipo ambíguo de Veja e Leia.


Algumas capas, com chamadas em paulistês, como Ah, Jaqueline! (quando a viúva de Kennedy fez um contrato nupcial com Onassis), foram alvos de chacota.

O segundo número de Veja baixou a tiragem para 500 mil exemplares; o terceiro, para 250 mil; o quarto para 100 mil e o quinto para 50 mil.


Quatro meses depois, a vendagem chegava ao fundo do poço: apenas 30 mil exemplares no país inteiro. Foi a tiragem da capa de 15 de janeiro de 1969, uma produção tosca e óbvia que mostrava um executivo de terno carregando uma barra de gelo debaixo braço, com a chamada QUE VERÃO! (Na minha memória idiossincrática eu jurava que a chamada era UFA, QUE CALOR!)

Guardo duas ou três boas lembranças da minha temporada na Veja.




• Uma matéria de duas páginas no número 10 (13/11/68) intitulada Existe algo de concreto nos Baianos, mostrando as relações entre os tropicalistas e os poetas neoconcretos, incluindo um quadro comparativo com as letras da Tropicália e a poesia dos concretistas.


• A reportagem de capa do número 38 (28/5/1969), quando Glauber Rocha ganhou em Cannes o prêmio de Melhor Diretor com o filme O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, ou Antônio das Mortes. Não só era raro uma matéria cultural emplacar capa na Veja, como Mino Carta creditou a mim o texto em sua Carta ao Leitor. Quando preparava o texto com antecedência – aguardando a decisão de Cannes – recebo a visita insólita em minha sala da Marginal do Tiete de ninguém menos do que o próprio Glauber. Numa longa conversa telúrica acompanhada de muitos gestos, ele me deu muitas informações de cocheira que enriqueceriam o texto. Como esta: “Quando filmavam Deus e o Diabo na Terra do Sol, no interior da Bahia, Glauber e Maurício subiam um morro íngreme discutindo sobre Deus. De repente um pé de vento derrubou a câmara, que rolou alguns metros morro abaixo. Mas o equipamento ficou intato. Maurício do Valle, que é muito religioso, falou: ‘Deus existe.’ Glauber respondeu: ‘É possível...’”

• E a cobertura da morte da mulher de Roman Polanski, na sua casa de Los Angeles. Sharon Tate, com o filho na barriga (a quinze dias de nascer), três amigos e um estudante amigo do caseiro, foram barbaramente assassinados por um bando de fanáticos que seguiam as ordens do guru do mal Charles Manson. Por exigência do Mino, Geraldo Mayrink, escreveu a matéria em forma de roteiro cinematográfico. O texto, um roteiro perfeito publicado no número 50 (20/8/1969), estava pronto para ser filmado.

Veja surgiu num ano crucial do século 20, um tempo de confrontos violentos e mudanças radicais que moldariam as décadas seguintes. No caso do Brasil, mudanças para pior. Em dezembro, o AI-5 instalou a repressão total no país, obrigando a resistência à ditadura militar a cair na clandestinidade.
À minha modesta maneira, como escritor, eu vinha fazendo propaganda de esquerda.



O lançamento do livro Mao e a China em São Paulo, dezembro de 1968. Foto: Arquivo Pessoal R.M.

Uma semana antes do AI-5, lancei em São Paulo o livro Mao e a China, uma declaração de amor ao comunismo chinês. O livro, uma incitação à luta armada, passou a aparecer menos nas vitrinas das livrarias do que nas exposições de material subversivo apreendido pelo exército. Quando o guerrilheiro Carlos Lamarca morreu fuzilado em 1971, no sertão da Bahia, os jornais do país inteiro publicaram trechos de suas cartas para a companheira Iara Iavelberg. “12 de julho: Lendo Mao e a China, de Roberto Muggiati, me impressiono cada vez mais em tudo e vejo a necessidade urgente da Revolução Cultural dos quadros de vanguarda.” Mao e a China foi o último livro que Lamarca leu. Estranhamente, em momento algum a ditadura veio bater à minha porta. Com um forte sentimento de rejeição, eu me autointitulei O Homem Invisível dos Anos de Chumbo.

Só tempos depois matei a charada. Em 1969 voltei para a Manchete e para o Rio. Tivesse ficado em São Paulo, a coisa seria bem diferente. Num documentário sobre Vladimir Herzog, vi colegas meus da Veja e da Realidade – ideologicamente autênticos sacristães comparados a mim – que foram presos e torturados nos porões do DOI-CODI em São Paulo. Eu tinha tudo a ver com Vlado: nascemos no mesmo ano e, quando deixei o Serviço Brasileiro da BBC em Londres, em 1965, ele foi ocupar a minha vaga. A volta para o “balneário da República” – quem diria? – salvou a minha vida.

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Bastidores da Copa da Rússia - O material esportivo de hoje pode ser "tecnológico", mas as seleções não dispensam os velhos sapateiros para cuidar do que importa: as chuteiras dos craques

Foto Getty Images/Fifa

A Copa do Mundo é cada vez mais tecnológica, o relógio do árbitro apita quando sensores eletrônicos indicam que a bola ultrapassou a linha do gol, o VAR, que estréia na Copa da Rússia pode calar um grito de gol ou referendar ou não pênalti, as camisas são feitas de tecidos inteligentes e as chuteiras incorporam recursos de alto rendimento a cada modelo lançado.

A foto acima mostra o vestiário da seleção da Dinamarca. As ferramentas dispostas sobre a mesa são o elemento romântico que resiste às inovações. O material fica em espaço nobre, arrumado como se fosse o instrumental de um cirurgião.

Apesar de toda a tecnologia, os roupeiros das equipes não dispensam o pé-de-ferro (a bigorna do sapateiro), martelos e alicates para ajustar as travas aos campos secos, molhados, de grama alta ou baixa. Muitos jogadores usam, atualmente chuteiras personalizadas, mas isso não dispensa o ofício do artesão. Talvez apenas elimine uma função que era quase obrigatória no tempo das pesadas chuteiras de couro: amaciar o calçado. Para isso, alguns roupeiros "domavam" as chuteiras e gastavam um pouco de sola e antes de entregá-las aos pés dos craques.

Vale lembrar que a Dinamarca se classificou para as oitavas. Até aqui, o sapateiro da equipe mandou bem no pé-de-ferro. (José Esmeraldo Gonçalves)

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

1982 • Antes do começo do fim

por Roberto Muggiati

Os editores reunidos: de pé, a partir da esquerda: Janir de Hollanda, Roberto Muggiati, Lincoln Martins (Geográfica Universal), Edson Pinto (Amiga), Roberto Barreira (Desfile), Daisy Prétola, Gervásio Baptista (Fotografia). Sentados: Marília Campos (Carinho), Justino Martins (Manchete), Vera Gertel (Desfile), José Resende Peres (Agricultura de Hoje) e Teresa Jorge (Pais & Filhos).

A foto – posada no estúdio do Russell para a edição de 30 anos da Manchete – irradia uma alegria contagiante. Era 1982 e ainda corria nas veias de Adolpho Bloch tinta de impressão, como ele costumava dizer.

A Bloch se candidatara a um canal de televisão em 1975. Naquele mesmo ano, 23 de outubro, uma dupla derrota para Adolpho. O Presidente Ernesto Geisel concedia a outro judeu, o Abravanel de Niterói, Sylvio Santos, o canal 11 de televisão. E do Petit Trianon chegava a notícia de que um escritor quase desconhecido, o goiano Bernardo Élis, era eleito para a Academia Brasileira de Letras, derrotando Juscelino Kubitschek. Foi o único Presidente da República rejeitado pela Academia (Getúlio foi eleito em 1941, Sarney em 1980 e Fernando Henrique em 2013). A derrota se deveu pura e exclusivamente à pressão da ditadura militar, que não o queria ver Juscelino eleito sequer síndico de condomínio...

Adolpho e JK decidiram não chorar sobre o leite derramado. Abriram o salão de festas, estouraram algumas garrafas de champanhe e o ex-presidente pé-de-valsa dançou o Peixe Vivo até altas horas. Anos depois, assumiu o último Presidente militar, João Baptista de Figueiredo, com uma postura mais simpática. Ao receber D. Sarah Kubitschek em Brasília em meados de 1979 para a construção do Memorial JK, começaram as tratativas para conceder uma TV à Bloch. Em 1980, Figueiredo distribuiu entre Adolpho Bloch e Sylvio Santos nove concessões das extintas Redes Tupi e Excelsior. Cinco delas couberam à Bloch: Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza. Era a Rede Manchete de Televisão que surgia e iria ao ar na noite de domingo, 5 de junho de 1983, com o fabuloso logotipo do M voador.

Era a crônica de uma morte anunciada. A TV viera para sepultar a editora. O segundo de publicidade na telinha valia mais do que milhares de metros quadrados de páginas duplas impressas. Uma morte ao mesmo tempo real e simbólica marcou esta transição. Em 10 de agosto de 1983, dois meses depois da estreia da TV, Justino Martins chegou à redação uma terça-feira, lá pelas dez da manhã, era o dia mais calmo, depois do fechamento na segunda e antes da saída da revista nas bancas na quarta. Com sua clássica sacola da Air France a tiracolo, falou comigo, que era o seu “segundo”: “Toma conta das coisas, tchê, que vou fazer um exame no Hospital dos Servidores.” O Servidores era uma referência, o Presidente Figueiredo internou-se lá quando teve sua crise cardíaca, e o diretor, Raymundo Carneiro, era um grande amigo do Adolpho. As notícias não foram nada boas. Justino tinha um câncer de pâncreas fulminante. Duas semanas depois, foi transferido para a Clínica Sorocaba, em Botafogo, onde morreu na noite de domingo, 28.


A Rede Manchete fez uma televisão de alto nível, com programas de qualidade e novelas esmeradas e de repente topou com um filão de ouro ao lançar a novela Pantanal, sucesso absoluto de março a dezembro de 1990, com um ibope devastador. Ironicamente, a novela, Amor pantaneiro, ficou engavetada na Central Globo de Produções, e acabou cancelada na estação de chuvas de Mato Grosso. Quando a Rede Manchete contratou Benedito Ruy Barbosa, ele veio com Pantanal debaixo do braço. Os elevados índices de ibope assustaram a todo-poderosa Globo. Por que a novela das oito da Globo começa depois das 21 horas? Porque a Globo não ousava iniciar a sua novela das oito enquanto Pantanal estivesse no ar. Ia então esticando interminavelmente o Jornal Nacional.


Infelizmente, a Bloch – prisioneira da cultura da empresa familiar – não soube tirar proveito do êxito de Pantanal. Ao contrário, mergulhou em águas turvas e foi se complicando cada vez mais. Investiu em fracassos estrondosos como Brida, novela baseada no livro de Paulo Coelho, e Tocaia Grande, de Jorge Amado (não era uma Gabriela, nem um Dona Flor nem uma Tieta.) Tocaia foi ao ar em 16 de outubro de 1995.

Poucos dias depois, descendo do restaurante do 12º andar para o elevador do 11º, Adolpho me pediu que o amparasse naquela escada terrível sem corrimão com piso de tapete felpudo. Enquanto eu segurava seu braço com todo cuidado do mundo, ele se lamuriou: “Muggiati, estou fudido. Você não queira ter a minha vida de jeito nenhum...”

Um mês depois, no Dia da Bandeira, 19 de novembro, na madrugada de domingo, ele morria num hospital de São Paulo.

Outra ironia: foi por ter sido avalista de uma dívida irrisória da TV, coisa de uns dez mil dólares, que
acabou se transformando numa bola de neve, que a Bloch Editores se encaminhou para a concordata e a falência final.



Antes do fim da editora, a TV foi passada adiante. Um arremate sórdido que diz tudo da novela: em 2010, o M voador que era o símbolo augusto da Rede Manchete, foi encontrado em alto estado de corrosão num brechó de beira de estrada na BR-465, antiga Rio-São Paulo.

Ainda não apareceu ninguém para arrematar a peça.



quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Fotomemória da redação: na "sala de crise" da Fatos & Fotos

Redação da Fatos & Fotos em 1982. Ney Bianchi, Daisy Prétola, José Esmeraldo e Aldo Wandersman,
quatro entre centenas de jornalistas que cumpriram um tempo de serviço na Fatos & Fotos
ao longo dos 25 anos de existência da revista.  Foto: Acervo bqvMANCHETE

A Fatos & Fotos foi lançada em fins de 1960. A edição regular, semanal, durou 25 anos. Na segunda metade dos anos 1980 e ainda na década de 1990 ia para as bancas em edições esporádicas, especiais. 

A revista tinha uma curiosa característica: entrava em crise quando estava bem feita e vendendo nas bancas e criava problema quando encalhava ou publicava alguma matéria que desagradava os padrões da Bloch.

A crise por vender bem se explicava: a semanal F&F, por manter uma tabela de anúncios mais baixa e preço de capa idem, não podia concorrer ou ameaçar o carro-chefe da editora, a Manchete. Estabelecia-se um teto não verbalizado de "sucesso". A crise por publicar reportagens "fora do padrão" da empresa também tinha uma explicação: havia mais liberdade de pautas, a revista estava um pouco mais distante do radar da direção, que acompanhava muito de perto a principal semanal da casa, a Manchete.

Era essa liberdade casual que, às vezes, surpreendia a Bloch. Valia a pena aquele tipo de "crise. Quase sempre, o que dava merda eram as matérias de bom conteúdo jornalístico, fora da caixa e menos "comportadas".

Talvez por isso, muitos ex-F&F admitem que, apesar de tudo, restaram bons momentos a recordar naquela redação. Para os muitos editores que por lá passaram, era vital a habilidade de gerenciar crises e principalmente sair delas sem baixas, o que, obviamente, nem sempre era possível. A rotatividade era alta naquelas mesas. Mas, com o tempo, a equipe aprendia a enfrentar o caos sem sentar no meio fio e chorar lágrimas de crocodilo, como dizia Nelson Rodrigues.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Calendário Pirelli 2018: Alice no País das Maravilhas em versão black


Whoopi Goldberg posa de duquesa para o Calendário Pirelli 2018. Foto reproduzida do site 2018 Pirelli Calendar

Lupita Nyong, vencedora do Oscar, é fotografada para o Calendário Pirelli.
Foto reproduzida do site 2018 Pirelli Calendar

por Clara S. Britto
Você percebe que o ano está chegando ao fim quando começam a circular informações sobre o Calendário Pirelli. A peça é um evento fotográfico. E a nova versão, a de 2018, está apontando na curva. Foi fotografada por Tim Walker, e editada por Edward Enniful, da Vogue britânica. Reúne modelos, atores, atrizes músicos e humoristas. Todos negros. O tema Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Entre as estrelas participantes estão: Naomi Campbell, RuPaul, Lupita Nyong e Whoopi Goldberg.  
VEJA O VÍDEO DOS BASTIDORES DAS SESSÕES DE FOTOS, CLIQUE AQUI

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Rio 2016; Estádio Olímpico Nilton Santos (Engenhão) em dia de Portugal 2 X 0 Argentina

Na Estação de Engenho de Dentro: chegada tranquila.

A fila para entrar: tempo para o Raio-X e a revista de bolsas e mochilas.
No primeiro jogo de futebol masculino, no Engenhão, os torcedores
atenderam para pedido de chegar cedo. Voluntários, muitos, informavam
sobre acesso dentro e fora do estádio.
O estádio está apenas normal. Faltou um trabalho
mais estético: pintar grades protetoras, cadeiras, fachada de bares. Fica uma certa má impressão das áreas internas, A abertura festiva é no Maracanã, mas o Engenhão é, na prática, o verdadeiro estádio olímpico, que vai receber provas nobres como as do atletismo.  Não custava deixá-lo como novo já que nem gastaram para construí-lo (o estádio foi herdado dos Jogos Pan Americanos de 2007. Falha dos organizadores. 
Gramado ok. O jogo Portugal X Argentina (na foto, os times ainda no aquecimento) foi monótono no primeiro tempo.
Melhorou no segundo. Valeu pela vitória de Portugal, que tinha a seu favor a grande maioria da torcida.
A torcida argentina compareceu com faixas e bandeiras
Um pequeno grupo de "hermanos" provocou brasileiros e...
... houve reação e uma rápida briga na arquibancada. Argentinos
foram detidos. E deixaram o estádio com mais uma decepção.
Com o time que trouxeram, dificilmente chegam às finais
FOTOS BQVMANCHETE

As estrelas não vieram. Messi e Cristiano Ronaldo bem que poderiam dar um brilho ao futebol olímpico. Faltou também, no time de Portugal, o meia Renato Sanchez, o jovem de 18 anos que se destacou na recente Eurocopa vencida pelos patrícíos. 

O futebol é, aliás, um evento quase secundário nos Jogos. A FIFA permite que as seleções participem do evento do COI, mas tem o cuidado de não estimular muito a coisa para não criar um sério concorrente à sua exclusiva Copa do Mundo. Daí, não obriga os clubes a cederem seus craques e impõe o limite de idade. Não faz muito tempo, concedeu a convocação de até três jogadores com mais de 23 anos.

No jogo de ontem Portugal pareceu bem mais entrosado do que a Argentina. Depois de um primeiro tempo equilibrado, na verdade, chato, os gols saíram no segundo tempo. 

Aos 21 minutos, Paciência fez o primeiro. Mas o gol que fez a festa do brasileiros aconteceu aos 39, quando Pite meteu a bola por baixo das pernas do goleiro argentino Rulli. Um frangaço. 

A Argentina tentou reagir - colocou em campo Lo Celso, do Paris Saint-Germain e o atacante Simeone, filho do ex-jogador e técnico do Atlético de Madri, Diego Simeone. Não deu. 

Na preliminar, Honduras, próximo adversário de Portugal, ganhou da Argélia - que vai jogar com a Argentina -, por 3X2. 

sábado, 8 de março de 2014

Mari Silvestre na Playboy: mais uma "coleguinha" do Huck emplaca uma capa



Mari Silvestre nos bastidores da sessão de fotos para a Playboy. Foto Divulgação
por Omelete
Mari Silvestre, 20 anos, 1m78, é capa da Playboy de março. Mari foi notícia recentemente em Portugal ao posar para um ensaio usando a camisa do Porto, que o jornal "A Bola" chama de "camisola". De Luciado Huck pode-se dizer que, desde os tempos da Tiazinha e da Feiticeira, é um inspirador de capas da Playboy. A bela Mari trabalha no programa do narigudo: é uma das "coleguinhas" que dançam no palco do "Caldeirão". Com licença de Stanislaw Ponte Preta e da Fatos & Fotos, ela é a"Certinha" do blog neste sábado.
Atualização - Um leitor alerta que o texto afirma que a camisa que a Mari Silvestre usa é do Porto. Não é, como se vê na reprodução da página portuguesa. Fica retificação. É do Benfica.