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sexta-feira, 22 de abril de 2016

A trágica queda da ciclovia, no costão da Niemeyer, no Rio, pode ser tudo, menos acidente...







Fotos Fernando Frazão/Agência Brasil

Em tempo em que urubu voa de costas, não se pode comemorar nada. O Rio recebeu há apenas três meses a Ciclovia Tim Maia, que passa pelo costão do Niemeyer.

Uma obra bem-vinda não apenas por abrir um caminho para as bicicletas rumo a São Conrado e, em seguida, Barra, como por proporcionar aos passantes uma vista deslumbrante. Ontem, a cidade foi abalada por uma tragédia, no local, com vítimas fatais. Desabou um seção da pista, com duas mortes confirmadas. Nesse momento, os bombeiros buscam outras três supostas vítimas. A prefeitura do Rio contratará um perícia independente para analisar o acidente.

Infelizmente, convive-se no Brasil com frequentes desastres ou exemplos de obras precárias que falham logo após inauguradas. O arco que sustentava a cobertura do Engenhão entrou em ameaça de colapso e passa por obras de reforço. Uma das possibilidades teria sido um erro de projeto, segundo a prefeitura. A empresa responsável se defende na Justiça. Enquanto isso, o estádio que sediará os Jogos 2016 ficou interditado por cerca de dois anos. Em 2014, um viaduto desabou em Belo Horizonte. Haveria menos ferro do que o necessário. A barragem da Samarco, em Mariana (MG), desaba e provoca o maior acidente ecológico da história do Brasil. A lista seria grande: desabamentos, calçadão que afunda, ponte que a água leva na primeira enchente, estrada inaugurada e logo fechada para reforma, conjunto habitacional interditado antes do habite-se, elevatória instalada e que não funciona por erro de projeto etc.

Um experiente engenheiro apontou duas causas para esses desastres, que, segundo ele, podem ser tudo menos acidentes. Uma delas: a formação profissional negligenciada em muitas universidades. Em segundo lugar - ele dá um peso maior a esse ponto - o chamado desmonte do Estado. Se há setores que, de fato, o Estado deve deixar por conta da iniciativa privada, há outros em que sua ausência é catastrófica. O governo - dizia ele - já não dispõe mais de corpo técnico capaz de avaliar todos os detalhes de um projeto que encomenda. No caso das estradas, com a implosão do antigo DNER, que tinha distritos com pessoal capaz de projetar, construir e fiscalizar efetivamente grandes e pequenas obras, faz-se a licitação, empresas privadas elaboram projetos e executam a obra. Se o projeto é correto, se os materiais são adequados ou suficientes, tudo isso fica a depender do contratado, que, obviamente, tem como parâmetro principal do seu negócio o lucro. Caberia ao corpo técnico do contratante, equipado em quantidade e qualidade de material humano, vigiar rigorosamente todas as fases da obra. Mas, cadê? Isso vale para todos os níveis de governo, o federal, o estadual e o municipal. O poder público - desmontado desde que foram impostos os interesses privados que pregam o Estado mínimo e faturam às custas da falência dos braços técnico e de fiscalização -, só depois dos desastres vai descobrir que pagou gato por lebre.

Não vale pôr a culpa nas ondas que batem no costão. Até Estácio de Sá sabia disso, tanto que foi desembarcar bem longe dali, em uma praia tranquila e favorável entre o Pão de Açúcar e o Morro Cara de Cão.

Quer uma prova da incompetência?

Veja, na reprodução abaixo, os três arcos de pedra construídos exatamente no ponto onde desabou a seção da ciclovia. Sabe o que é aquilo? É a Gruta da Imprensa, inaugurada em 1916. Faria parte da sustentação de uma linha férrea que ligaria Botafogo a Angra dos Reis. Os trilhos jamais foram montados, mas os arcos estão lá até hoje. Firmes. Apesar das ondas.

Reprodução Globo News
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As ondas não levaram a Gruta da Imprensa, construída há 100 anos. O local ganhou esse nome porque os jornalistas esportivos que cobriam a corrida automobilística "Circuito da Gávea se posicionavam na mureta do viaduto. Foto:Reprodução

Atualização: em reforço às consequências do desmonte do Estado, assinale-se que os jornais de hoje informam que a própria empresa que projetou e construiu a ciclovia era responsável pela "fiscalização". Isso equivale a pedir ao dono da boca-de-fumo para reprimir a venda de droga no reduto dele.