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sábado, 21 de novembro de 2015

Os tempos em que eu bebia o melhor vinho branco do mundo

Reprodução
Por ROBERTO MUGGIATI

Três prazeres entrelaçados: vinho, voo e música. Nos quatro verões consecutivos em que eu cobri para a revista Manchete o Festival de Jazz de Montreux – de 1985 a 1988 – a festa começava já na Sala VIP da Swissair no aeroporto do Galeão, Rio, código GIG (Galeão Ilha do Governador), tudo a ver com música – “gig” de “trabalho”, e Antônio Carlos Jobim, o nome do Aeroporto. Uma ironia póstuma, porque, numa de suas melhores frases de efeito, Tom dissera nos anos 60 que a saída para a música brasileira era o Aeroporto do Galeão.
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Pois bem, Jobim ainda vivo – e em 1985 a Noite Brasileira de Montreux reuniu ele e João Gilberto, numa queda-de-braço sangrenta e memorável – viajámos eu e minha mulher, Lena: texto e fotos. Aflito, eu chegava horas antes do voo. Mas valia a pena. A espera, na Sala VIP da Swissair, era inesquecível. Ali degustei o meu primeiro “melhor vinho branco desconhecido do mundo.”
Pouca gente sabe que os vinhedos de Lavaux, nas encostas fronteiras ao lago Léman – olhando para os Alpes do outro lado do espelho d’água – foram tombados como patrimônio mundial pela Unesco. Lavaux, que foi matéria de capa do último suplemento “Paladar” do Estadão, fica bem próxima a Montreux. Ali, durante o festival de jazz, eu privilegiava os vinhos locais, saborosos e inencontráveis em qualquer outro lugar deste vasto mundo.
Minha amiga curitibana, pianista de jazz, Marília Giller, morou uns tempos em Montreux e afeiçoou-se a um certo Pinot Noir de Bex. (Acessei agora na internet, faz 14º em Bex, com pancadas leves de chuva.) Quando fui visitar Marília pela primeira vez em Curitiba, virei mundos e fundos para presenteá-la com esse tinto suíço – recorri até ao setor de importação de La Maison de Suisse, de Riô, nada feito. Tive de me contentar com um Pinot Noir argentino.
Leio agora em O Estado de S. Paulo: “Para a Unesco, a região de Lavaux tem vinhos de caráter único, além de cultura e cenários peculiares. A colheita na região de língua francesa da Suíça é ainda manual. E, mesmo hoje, os produtores fazem pausas durante o dia para, merecidamente, beber seu próprio vinho. Nenhuma máquina é autorizada a entrar nos vinhedos. A produção também repete praticamente as mesmas técnicas usadas por monges beneditinos desde o século  11. Não existe irrigação artificial e o uso de produtos químicos é limitado ao mínimo.”
Não por acaso, homens inteligentes e sensíveis como Charles Chaplin e Vladimir Nabokov escolheram viver seus últimos anos na região.  Brindemos então ao blanc das uvas Chasselas, tchin, tchin – Saúde!