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segunda-feira, 17 de julho de 2017

Voo JJ3054: há dez anos, a tristeza pousou em Congonhas

Memorial 17 de Julho. Foto de Fábio Arante/Secom/Prefeitura de São Paulo


por José Esmeraldo Gonçalves 

Há dez anos, em 17 de julho de 2007, uma terça-feira, a maior tragédia da aviação brasileira chocava o país. O voo JJ 3054, do Airbus 320 da TAM, com 199 pessoas a bordo, fez um pouso desastrado no Aeroporto de Congonhas, ultrapassou o fim da pista e explodiu contra um prédio da empresa na Avenida Washington Luís. Não houve sobreviventes.

Dizem os especialistas que normalmente um acidente aéreo resulta de uma conjunção de fatores. No caso do desastre com o jato da TAM foram muitas as falhas e o descaso apurados. As investigações constataram que o Airbus voava sem um dos reversores, equipamento que faz uma inversão do fluxo do exaustor da turbina e ajuda na frenagem; vivia-se o "apagão aéreo" e havia um desgaste em toda a malha em função de atrasos e cancelamentos de voos, estressando funcionários em terra e no ar e com as companhias pressionando a todos para cumprimento de horários, segundo depoimentos de tripulações; matéria da BBC Brasil informa que o avião da TAM estava muito pesado por ter sido abastecido em Porto Alegre com mais combustível do que o necessário, isso porque o ICMS do querosene na capital gaúcha custava 8% menos do que em São Paulo; chuvas na véspera do acidente acumularam água na pista, cujo recapeamento não estava inteiramente concluído, faltava um elemento técnico, as ranhuras; e a tripulação recebeu um alerta sobre a pista escorregadia. A reportagem da BBC Brasil afirma que "o mais lógico, diante das condições, seria desviar para o aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, distante 31 quilômetros do plano original. Mas a inconveniência para os passageiros e tripulantes em época de apagão aéreo, e sobretudo a pressão da empresa em evitar outros aeródromos", fizeram com que os pilotos mantivessem o pouso em Congonhas.

O caso permanece em curso na Justiça. Ninguém foi punido até hoje.

Naquela terça-feira, eu voltava de São Paulo após uma reunião de trabalho. Com dois colegas, Sergio Zalis e Marcelo Tabach, cheguei a Congonhas por volta de 17h30 bem a tempo do voo da ponte-aérea para o Rio, se não me engano, o de 18h30. Menos de uma hora depois, fomos chamados a embarcar. Com os passageiros acomodados, a porta da cabine foi fechada, mas nada de o avião deixar a "sanfona" de embarque. Mais alguns minutos e, pelas janelas, percebemos uma agitação incomum entre o pessoal de terra.

O avião da TAM havia pousado em Congonhas às 18h48.

Menos de dez minutos depois, não mais do que isso, o piloto informou que havia um "obstáculo" no fim da pista e que o nosso voo seria cancelado até o dia seguinte. Estranhamos que um"obstáculo" interrompesse a pista por tanto tempo. Mas, enfim, eram dias de apagão aéreo e desembarcamos.

Logo ao deixar o portão de embarque, de volta ao terminal, soubemos por passageiros que aguardavam seus voos, também cancelados, que acontecera um acidente. Pelos relatos da rádio-corredor não parecia grave. Talvez um avião com problemas fosse o "obstáculo" na pista.

Não demorou muito essa impressão inicial desinformada foi deixada de lado: um forte odor de combustível queimado invadiu o aeroporto. Ao sair do terminal, já na rua, vimos uma coluna de fumaça à distância. O trânsito de carros e pedestres na Washington Luís já estava interrompido, sirenes ligadas, perplexidade. "Parece que tem mortos", informou um funcionário.

Tínhamos compromissos no Rio na manhã de quarta-feira e concordamos em não pernoitar em São Paulo. O trânsito nas avenidas próximas do aeroporto também parou, andamos em direção contrária à coluna de fumaça em busca de um táxi fora do entorno. Até então, os indícios não eram bons, mas não fazíamos ideia da extensão da tragédia. O motorista de táxi, tampouco. O rádio noticiava, ainda sem detalhes, praticamente só chamadas: "acaba de acontecer um acidente"...; bombeiros no local"...; "não há informações sobre vítimas", e não confirmava a procedência ou se o avião acidentado decolava e para onde.

Seguimos para o terminal rodoviário do Tietê. Lá, passamos rapidamente por TVs que abriam "plantões", ainda sem imagens do local do acidente. Não havia informações precisas sobre quantos passageiros o avião levava ou número de mortos, mas já se falava em tragédia. Corremos para comprar passagem e embarcar logo.

Enquanto estávamos no avião que não decolou havíamos desligado os celulares. Ao ativá-los, depois, pipocaram ligações. Amigos e parentes preocupados, especialmente aqueles que tinham o horário do nosso voo de volta e os colegas de quem nos despedimos após as reuniões e que sabiam que estaríamos embarcando naquele horário. No ônibus, rumo ao Rio, as informações iam sendo atualizadas no celular, 20 mortos, 50, 100, 150...

Evidentemente, não corremos qualquer risco. Mas ter estado tão próximos de um acontecimento tão triste, a poucos minutos de decolar da mesma pista onde o voo JJ3054 encontrou seu fim, foi um impacto a mais. Sempre que passo na Washington Luís e vejo a Praça Memorial 17 de Julho penso menos nesse relato pessoal desimportante que faço aqui e mais naquela noite triste, nas vítimas - que têm seus nomes esculpidos na mureta do espelho d'água -, e nas suas famílias.

E na impunidade que, ao que parece, só falta impôr aos passageiros a culpa pela tragédia de 17 de julho de 2007.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

México, em sexto, e Brasil, em nono, estão na relação de países com maior impunidade em crimes contra jornalistas, segundo o Comitê para proteção dos Jornalistas (CPJ). Grupos radicais islâmicos da Somália, Iraque, Síria, Filipinas e Sudão lideram a lista

Capa do informe sobre o índice Global de Impunidade

por Silvia Higuera/ME (para o blog Jornalismo nas Américas)

Pelo segundo ano consecutivo, México e Brasil são os únicos países da América Latina que fazem parte do Índice Global de Impunidade do Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ), cuja edição de 2016 foi publicada em 27 de outubro.

Esse índice, que classifica os países onde os jornalistas são assassinados e “os responsáveis pelos crimes ficam impunes”, é publicado pelo CPJ todo ano no Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas que se celebra no dia 2 de novembro.

Para o índice, o CPJ conta o número de assassinatos não solucionados de jornalistas, em um período de dez anos, como uma porcentagem em relação à população do país.

Dos 13 países que fazem parte do índice este ano, o México ocupa o sexto lugar e o Brasil, o nono. Ambos os países subiram duas posições no índice, isto é, a situação nesses locais piorou.

“A violência que o crime organizado e funcionários locais perpetraram contra os jornalistas permitiu que a impunidade aumentasse na América Latina, e Brasil e México subiram duas posições no índice deste ano”, disse Carlos Lauría, coordenador sênior do programa das Américas do CPJ, ao Centro Knight. “Mas algumas das mais elevadas taxas de impunidade do assassinato de jornalistas [no mundo] podem ser atribuídas aos assassinatos perpetrados por grupos radicais islâmicos”.

Assim como explica Lauría, ainda que neste ano o CPJ tenha concluído que os índices mais altos de impunidade são de assassinatos cometidos por grupos radicais islâmicos, também descobriu que “funcionários e grupos criminosos locais assassinam com frequência os jornalistas, como represália por seu trabalho de informação, sem ter que enfrentar a justiça”, como ocorre no México, Brasil, Filipinas e Rússia.

A impunidade nos assassinatos de jornalistas incentiva potenciais assassinos e obriga os meios de comunicação a trabalharem em um clima de medo, que por sua vez restringe as informações disponíveis para o público", disse Elisabeth Witchel, autora do relatório e consultora do CPJ para a Campanha Global contra a Impunidade, em comunicado da organização. "Os Estados precisam resolver urgentemente esta situação com mecanismos robustos para proteger, investigar e reprimir quando jornalistas são ameaçados ou atacados."

De acordo com o CPJ, 21 jornalistas foram assassinados com “total impunidade” no México na última década. As vítimas eram jornalistas locais que cobriam temas relacionados com o crime organizado e a corrupção em estados dominados por grupos de narcotraficantes. Os responsáveis por esses crimes, segundo o CPJ, são os próprios grupos de criminosos.

O caso emblemático do México, para o CPJ, é o do fotógrafo Rubén Espinosa assassinado em agosto de 2015 na Cidade do México. Espinosa havia chegado à cidade fugindo do Estado de Veracruz após ter recebido ameaças. O fotógrafo foi encontrado morto em seu apartamento com outras quatro mulheres. Todos tinham um disparo na cabeça e marcas de tortura.

Ainda que o CPJ destaque como um avanço a prisão de três pessoas envolvidas no crime, também lembra que vários jornalistas questionaram a forma que a investigação foi realizada.

Além disso, considera como um retrocesso no México o fato de que, apesar das autoridades terem adotado em 2013 uma lei que dá maior jurisdição a autoridades federais para investigar crimes cometidos contra a liberdade de expressão, "ninguém foi processado por este mecanismo e pelo menos oito jornalistas foram assassinados por seu trabalho desde então”.

O México, assim como outros sete países do índice, estiveram presentes na lista todos os anos desde 2008, quando foi lançada, “o que indica quão arraigada está a impunidade em alguns países”.

No caso do Brasil,15 jornalistas foram assassinados na última década "com total impunidade”. Os responsáveis são funcionários dos governos e grupos criminosos, segundo o CPJ. As vítimas cobriam política e corrupção em cidades no interior do país.

No entanto, o CPJ cita como avanço que o Brasil condenou suspeitos em seis casos de homicídios de jornalistas nos últimos três anos, “mais do que nenhum outro país onde o CPJ tenha documentado” esses assassinatos. Acrescenta, no entanto, que somente em um deles foi alcançada a justiça plena.

Editor João Miranda do Carmo assassinado em Goiás: ele
denunciava tráfico de drogas e envolvimento de políticos
em esquemas de corrupção.
Reprodução Facebook 
O assassinato do editor João Miranda do Carmo, nos arredores da sua casa, em julho de 2016 foi escolhido como caso emblemático pelo CPJ. Carmo era conhecido pelas suas críticas a funcionários locais e tinha sido ameaçado em pelo menos em duas ocasiões – em uma delas, seu carro foi queimado. As ameaças foram denunciadas na polícia.

O CPJ afirmou que em mais da metade dos homicídios analisados no Brasil as vítimas tinham denunciado anteriormente ameaças que receberam.

Como um ponto positivo em geral, o CPJ ressalta que os países que aparecem no índice, com a exceção de três, participaram do mecanismo de prestação de contas sobre a impunidade da Unesco “que solicita informação sobre o estado das investigações dos assassinatos a jornalistas para o relatório bienal sobre segurança dos jornalistas da agência da ONU”.

Para a análise deste ano foram levados em conta os homicídios de jornalistas ocorridos entre 1 de setembro de 2006 e 31 de agosto de 2016. O relatório também inclui uma tabela com estatísticas e as classificações de cada país que faz parte do índice.


VEJA A MATÉRIA E O RELATÓRIO NO SITE DO KNIGHT CENTER, CLIQUE AQUI

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Com ataque explícito de ódio, suposta "pedagoga" dá show de racismo na praia, manda gravar essa "merda", diz que tem dinheiro e que caso vai dar em nada... Veja o vídeo




Um vídeo chocante circula nas redes sociais. O caso aconteceu na praia, no Recreio, no Rio. Mostra a  suposta "pedagoga" (!),  Sonia Valéria Rebello Fernandez, segundo a 16ª DP,  em uma explosão de racismo contra a agente de viagens Sulamita Mermier.

A dita "pedagoga" (!), segundo a vítima, simplesmente começou a falar 'Heil Hitler', "Preto e mulato não são raça, são sub-raça", "Não entendo porque preto pega sol", "Esses cabelos duros". Depois de ouvir tantas ofensas, Sulamita gravou a cena. A "pedagoga (!) gritou que podia gravar mesmo - "tenho dinheiro e isso não vai dar em nada". "Grava essa merda. A gente vai para a delegacia e tu vai pagar mico. Porque eu não sei quem você é, eu sei quem eu sou. Você eu nunca vi".   

O crime seria de racismo, previsto na Constituição, e inafiançável. 

Mas legisladores de inspiração racista introduziram na lei um artigo-jeitinho que enquadra esse tipo de crime como "injúria racial", com penas leves, fianças merrecas e tapinhas nas costas dos racistas. 

Quase que invariavelmente, tais casos são registrados como simples "injúria racial", o que minimiza e deturpa a intenção e o princípio constitucionais. 

A cena deplorável aconteceu no último domingo. A polícia foi chamada. A "pedagoga" (!) Rabelo Fernandez foi levada para a delegacia, indiciada por "injúria racial", na moleza, teria pagado uma fiança, beleza, e vai responder a processo em liberdade, tranquilo e favorável. Provavelmente receberá, isso se for condenada, uma dessas penas de oferta de cestas básicas para uma instituição, prestação de um "serviço social" qualquer. Não se sabe nem se essas "penas-fantasia" são fiscalizadas. 

A agressão racista sofrida por Sulamita junta-se a milhares de outras ocorridas no Brasil. Muitos casos resultaram em flagrantes e foram parar em delegacias.

Agora tente lembrar de alguma condenação efetiva. 

Tentou? Desista.
VEJA O VÍDEO, CLIQUE AQUI

segunda-feira, 21 de março de 2016

Impunidade favorece racismo no futebol

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Racismo em jogo no Uruguai. Torcedor do Nacional, de Montevidéu (de camisa vermelha) imita um macaco diante do jogador do jovem jogador do Palmeiras. Gabriel Jesus.  Reprodução
por Flávio Sépia
O Palmeiras foi jogar no Uruguai e um dos seus jogadores, Gabriel Jesus, foi vítima de manifestação claramente racista. Fotos e vídeos mostram um torcedor do Nacional imitando um macaco na frente do atacante brasileiro. O Palmeiras denunciou a agressão.

O presidente do Tribunal de Disciplina da Conmenbol é o brasileiro Caio Cesar Vieira, que também é presidente do Superior tribunal de Justiça Desportiva. Mesmo sem ver as imagens, ele declarou à imprensa que o clube uruguaio não perderá os pontos. Segundo ele, a punição deverá sr uma multa ou um jogo de portões fechados para a torcida uruguaia.

Previsível. Nem a Conmenbol nem a CBF dão muita bola para as agressões racistas em estádios de futebol. No Brasil, o Grêmio chegou a ser afastado de uma Copa do Brasil, mas recorreu e a punição virou um simples multa.

A Confederação Sul-Americana de Futebol tem um histórico ainda mais tolerante e jamais puniu um clube cujo torcedor tem praticado ofensas racistas.

O Palmeiras divulgou uma nota:  “A Sociedade Esportiva Palmeiras vem a público para repudiar os atos racistas cometidos contra o atleta Gabriel Jesus na noite da última quinta, em Montevidéu. O clube reitera que condena quaisquer práticas que discriminem seres humanos por sua raça, cor, etnia, religião, gênero ou procedência nacional. Informamos que, por meio do delegado da partida, encaminhamos as imagens para a Confederação Sul-Americana de Futebol a fim de que se tome as providências cabíveis''. 

Caio Cesar informou aos jornalistas que por ser brasileiro e o caso envolver um conterrâneo, ele não participará do caso, assim como o vice-presidente do tribunal, um uruguaio. Se virar um processo a questão será julgada por um boliviano, um chileno e um colombiano.

Contra o racismo, a CBF, a Fifa, a Conmebol, a Uefa (entidades envolvidas em graves denúncias de corrupção e propinas) e demais confederações se limitam a fazer campanhas que já demonstraram ineficácia. Os casos de racismo em estádios são crescentes.

Enquanto não houver uma legislação que permita a punição imediada (como obrigação de câmeras de vigilância em todos os estádios que obriguem o delegado da partida e o juiz a paralisar o jogo até que o (s) racista(s) sejam retirados e que seja entregue às autoridades sem prejuízo de punições esportivas aos clubes que fazem vista grossa a tais elementos, nada vai mudar nessa vergonhosa mancha no futebol.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Taís Araújo depõe na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática sobre agressões racistas que sofreu na internet. Polícia parte agora para localizar os marginais

Taís Araújo dá um bom exemplo de cidadã ao levar adiante a denúncia sobre as ofensas racistas que sofreu na sua página na internet. A atriz foi à Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, no Rio, hoje, prestar depoimento. Em nota à imprensa, Taís ressalta que pede a abertura de processo por esperar que autores de injúria racial possam ser punidos. Agora, com a denúncia formalizada, vai começar a investigação. Alguns dos marginais racistas apagaram suas páginas, embora isso não impeça a polícia de localizá-los e identificá-los. Os crimes de racismo ou de injúria racial dependem de representação. Ou seja, se a vítima não fizer um B.O, os criminosos não serão punidos. Vale acompanhar o caso porque a impunidade é grande nesse tipo de crime. Mas Taís Araújo fez a sua parte, ao contrário de várias vítimas recentes de agressões semelhantes cuja indignação não ultrapassou a mídia e não se configurou em queixa-crime.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Mais um caso de racismo no esporte. E a impunidade continua...

A jogadora Fabiana, do Sesi-SP e da seleção brasileira, foi vítima de racismo em Belo Horizonte, ontem, durante o jogo contra o Minas pela Superliga feminina. Um homem a chamava de "macaca" e perguntava se ela "queria banana". O gesto do racista causou revolta. Mas é pouco. A impunidade tem feito o racismo avançar, no Brasil, em estádios e quadras. Os poucos "condenados" ao final de processos que à medida em que avançam parecem, estranhamente, amenizar as acusações, recebem penas até "divertidas" do tipo cestas básicas, ver jogos nas salas com ar condicionado das delegacias, dar um rolé em ongs que supostamente prestam serviços sociais etc. E comum ou quase regras os casos serem desqualificados por delegados e até juízes para simples "injúria", que implica em penas mais leves. Racismo é crime inafiançável mas preso mesmo ninguém vai, nem fica. Então não é surpresa que os insultos avancem. Surpreende, também, que os demais jogadores ou jogadoras, companheiros da vítima, não parem imediatamente de jogar até que providências sejam tomadas. O crime em andamento nas arquibancadas deveria ser motivo mais do que suficiente para interromper o espetáculo. Palavras solidárias são importantes mas não levam a nada. Atitudes são necessárias.
Fabiana, que é mineira, publico um desabafo nas redes sociais. Leia: 
"Ontem, durante o jogo contra o Minas, um senhor disparava uma metralhadora de insultos racistas em minha direção. Era 'macaca quer banana', 'macaca joga banana', entre outras ofensas. Esse tipo de ignorância me atingiu especialmente porque meus familiares estavam assistindo a partida. Ele foi prontamente retirado do ginásio pela direção do Minas Tênis Clube e encaminhado à delegacia. Agradeço a atitude do Minas, em não ser conivente com esse absurdo. Refleti muito sobre divulgar ou não, mas penso que falar sobre o racismo ajuda a colocar em discussão o mundo em que vivemos e queremos para nossos filhos. Eu não preciso ser respeitada por ser bicampeã olímpica ou por títulos que conquistei, isso é besteira! Eu exijo respeito por ser Fabiana Marcelino Claudino, cidadã, um ser humano. A realidade me mostra que não fui a primeira e nem serei a última a sofrer atos racistas, mas jamais poderia me omitir. Não cabe mais tolerarmos preconceitos em pleno século XXI. A esse senhor, lamento profundamente que ache que as chicotadas que nossos antepassados levaram há séculos, não serviriam hoje para que nunca mais um negro se subjugue à mão pesada de qualquer outra cor de pele. Basta de ódio! Chega de intolerância!". 
O elemento racista foi levado para a delegacia. No caso, Fabiana, infelizmente, não fez boletim de ocorrência, segundo informou a assessoria do Minas. Sem denúncia, o caso não dá em nada. O racista, cujo nome não foi divulgado, vai poder continuar ofendendo atletas à vontade, assim como torcedores envolvidos em outros casos que receberam penas de "brincadeirinha". Só falta agora um desses nazistas serem condenados a doar à comunidade cestas de... banana. E a impunidade viraria deboche de vez.


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Assassinatos de jornalistas. Quando o Brasil vai combater esses crimes e condenar os responsáveis?

por Gonça
Em sua recente visita a Cuba, a presidente Dilma Rousseff se referiu aos direitos humanos como uma questão universal a ser defendida por - e em - todos os países. Um grave problema mundial que não deve ser ideologizado. Provocou reações que beiraram a histeria. Citou países que têrm problemas nessa área e incluiu o Brasil, claro, com gravíssimo passivo. Assassinatos de líderes ambientalistas, de sem-terras, de camponeses que ousam resistir a fazendeiros, milícias dominando comunidades, tortura em prisões, sindicalistas ameaçados etc. E uma preocupante onda de assassinatos de jornalistas que militam fora dos grandes centros. Mortos em consequência de posições políticas que defendem em jornais, rádios e blogs ou por denunciar tráfico de drogas em suas regiões. A grande mídia, assim como a polícia e a justiça, pouco se ocupa desse tema. No último domingo, foi fuzilado mais um jornalista, dessa vez, no Mato Grosso do Sul. Organizações internacionais, como Oea, Repórteres sem Fronteira e a Sociedade Interamericana cobram uma forte ofensiva contra essa onda que levou o Brasil a despencar 41 lugares (está na 99º posição) no ranking de liberdade de imprensa. Na grande mídia, a visão dessa liberdade parece diferente ou relativizada. Jornais e revistas acionam todas as armas quando se trata de reagir a uma suposta "regulamentação" da mídia, dão primeiras páginas sucessivas para a já famosa blogueira cubana, mas praticamente ignoram a matança de profissionais no Brasil. Ou praticamente ignoravam. Ontem e hoje "repercutem" jornais e insituições do exterior que denunciam o que acontece no Brasil. Parecem ter sido provocados não pelas tragédias em si mas pelo repercussão lá fora.
Pequenas notas, nada de primeira página. Mas já é alguima coisa.