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domingo, 14 de novembro de 2021

The Intercept Brasil concorre a prêmio internacional com a série de reportagens Vaza Jato



por José Esmeraldo Gonçalves 

Na quinta-feira, 18 de novembro, a organização Repórteres Sem Fronteira anunciará os vencedores do Prêmio RSF 2021 para a Liberdade de Imprensa.  Jornalistas e veículos de 11 países foram indicados em três categorias: coragem, impacto e independência do jornalismo. Com a ascensão da ultradireita e do neofascimsmo em muitos países, inclusive no Brasil, meios de comunicação independentes são censurados, profissionais são ameaçados e perseguidos. O Brasil tem apenas um indicado entre os finalistas: The Intercept Brasil concorre ao prêmio na categoria Impacto: a série de reportagens que ficou conhecida como Vaza Jato e revelou mensagens trocadas entre promotores sobre a Lava Jato provou a parcialidade do juiz Sergio Moro e seu envolvimento abusivo na elaboração de acusações  que resultaram anuladas pelo STF. Jornalistas do TIB receberam ameaças de morte por revelarem as ilegalidades da Lava Jato.

PARA CONHECER OS DEMAIS CONCORRENTES CLIQUE AQUI

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Mídia: Jornal Nacional X Bolsonaro, o caso que virou 'case'

A guarita que virou notícia. Reprodução Twitter
por José Esmeraldo Gonçalves

Sob qualquer ângulo, o embate entre a Rede Globo e Jair Bolsonaro tem seu lugar garantido como objeto de estudo em salas de aulas das faculdades de Comunicação e Direito.

Virou "case". Há lambanças para todos os gostos e apetites.

Do ponto de vista jornalístico, o Jornal Nacional acertou e errou sobre o que aconteceu no Condomínio Vivendas da Barra no dia 14 de março de 2018, não por acaso o dia em que a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram assassinados no Estácio, bairro da zona Central do Rio de Janeiro. É fato que não mentiu: existe a declaração do porteiro, segundo a qual um elemento suspeito de participar do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes pediu acesso à casa do então deputado, obteve autorização de "Seu Jair", mas se dirigiu para a residência de outro suspeito de participar do atentado à vereadora. A Globo também informou, na mesma matéria, que havia uma contradição: naquele dia dia e hora Bolsonaro estava em Brasília e não poderia autorizar a entrada de quem quer que fosse. Pelo menos não via interfone, acrescente-se.

O Jornal Nacional tem o argumento válido de que apenas noticiou um fato e se baseou em informações colhidas em um inquérito policial. Mas qualquer jornalista sabe que editar um jornal ou uma revista é fazer escolhas. Determinados fatos são noticiados, outros não. Os motivos podem ser muitos, entre os quais questões políticas, ideológicas, comerciais, religiosas, pessoais e até jornalísticas.

Aquele fato envolvendo o Condomínio Vivendas, era, para os editores do JN, uma notícia importante. Pelo que se sabe, a Globo teve acesso a um documento vazado. Se todo fato deve ser exaustivamente apurado antes de ser noticiado, uma pauta vazada, mais do que qualquer outra, deve ser investigada. Até por cautela. Vazou porque? Quem teve interesse em vazar? A quem serve o vazamento? Quais as circunstâncias? Aparentemente, o JN não verificou o fundo desse poço.

Para grande parte da audiência, o vídeo de um Bolsonaro emocionalmente descontrolado e, em seguida, a divulgação dos arquivos de áudio do controle de entradas de pessoas no condomínio onde mora o ex-deputado funcionaram como um eficiente "desmentido". A gravação mostraria que o porteiro teria obtido autorização para a entrada do visitante diretamente ao morador da casa 65, a de um dos suspeitos de matar Marielle, e não com a casa 58, a do Bolsonaro.

Talvez tenham sido negligentes por força de um hábito recente. Ao longo de anos de divulgação de denúncias contra o ex-presidente Lula, a palavra de delatores, os vazamentos selecionados da Lava Jato e até pré-combinados com a força-tarefa - como mostram os conteúdos do grupo do Telegram dos revelados pelo Intercept - chegavam em proporções industriais às mesas do Grupo Globo e eram rapidamente embrulhados e oferecidos aos fregueses. A máquina institucional dos governos do PT, que isso seja reconhecido, não foi posta a serviço dos então presidentes Lula e Dilma, ou de qualquer ministro da época, para intimidar ou conter jornalismo ou a própria investigação da Lava Jato ou do Mensalão. Para obter desmentidos, os alvos dessas etapas tiveram que recorrer à justiça, um direito que a lei dá a todos os cidadãos. Bolsonaro, ao contrário, agiu rapidamente. Mobilizou instituições de Estado como se fossem suas. Acionou publicamente o ministro da Justiça, que tem a PF sob seu guarda-chuva, o Advogado Geral da União, a Procuradoria Geral da República e o MPRJ. Em poucas horas, o caso, pelo menos no que se refere a Bolsonaro, foi aberto e arquivado pela PGR e perícias teriam sido realizadas. Ao mesmo tempo, um dos filhos de Bolsonaro revelava os áudios da portaria do condomínio.

Com a velocidade de um Fórmula 1 em retas, respostas foram obtidas e o grande "culpado", o porteiro, foi logo apontado e praticamente "sentenciado".  Se o Caso Marielle se aproxima de dois anos sem todas as respostas, o Caso Condomínio foi velozmente autopsiado. E se o MPRJ, a Polícia Civil, o STF já tivessem essas respostas prontas no inquérito, então quem vazou o documento para o JN entregou apenas parte do material e deixou o filé ao ponto  - os áudios - para a mesa de outros  interessados.

Apesar dos indícios de ligações perigosas entre o clã no poder e os poderes de alguns milicianos, inclusive de óbvia vizinhança e de relacionamentos públicos, o JN, pela precipitação, acabou dando a Bolsonaro a chance de exibir para suas tropas de choque uma espécie de "atestado de boa conduta". Nesse caso específico, ressalte-se.

Faltou jornalismo investigativo, sobrou o vício do jornalismo declaratório, aquele que se contenta com documentos e aspas oficiais ou oficiosas e simplesmente os passa adiante.

Ainda há tempo de corrigir a mancada. Há muito a apurar. Mas há que tirar os repórteres, os bons repórteres, do ar condicionado.

Resta observar que nunca tantas e tão convictas autoridades apontaram o dedo-duro tão rapidamente para um porteiro. E o funcionário do Vivendas da Barra jamais imaginou que sua guarita seria atingida por um poderoso míssil político.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

VazaJato - Do Intercept Brasil para a mídia conservadora: seu vazamento é melhor do que o meu?

O escândalo VazaJato desperta um debate paralelo: é legítimo o uso jornalístico de informações de autoridades públicas envolvidas em irregularidades e obtidas por hackers?

Nem deveria existir essa dúvida. É.

No curso da Lava Jato, os vazamentos se tornaram até uma rotina. Havia até uma espécie de revezamento entre veículos que publicaram massivas reportagens baseadas em material obtido "secretamente".

Jornalismo comparado: as duas primeiras páginas do Globo, acima reproduzidas, circulam nas redes sociais. A da esquerda, mostra o que o jornal considerou um vazamento "bom"; a da direita, é o vazamento "do mal", rotulado como um caso de polícia. Reprodução Twitter

Os jornais publicaram até conteúdo de interceptação telefônica ilegal, claramente criminosa, autorizada e divulgada pelo então juiz Sergio Moro. O Globo, na época, deu com prazer a reprodução dos diálogos em destaque na primeira página. Agora, no caso VazaJato, levou dois dias para considerar realmente jornalístico o novo escândalo e quando o fez foi para abrir palanque de defesa para os responsáveis pela conspiração judicial. Não que surpreenda, vindo do Globo. Historicamente, o jornalão carioca alinhado com a direita apoiou inúmeras conspirações que romperam a constitucionalidade do país. República do Galeão, golpe de 1964, apoio irrestrito à ditadura, ofensiva massiva contra Brizola (chegando ao ponto, como exemplo, de combater até os Cieps com a virulência de quem i nvestia contra "bocas-de-fumo"), rejeição às Diretas Já, engajamento na campanha de Fernando Collor, o que resultou em famosa denúncia de manipulação ao noticiar debate de candidatos, golpe jurídico-parlamentar contra Dilma Rousseff  etc.

Nesse episódio da VazaJato, o Globo prefere cobrar apuração da ação de um suposto hacker e até considerou "normal", em editorial, o tipo de diálogo conspiratório entre o juiz e um procurador.

No interesse da sociedade, a mídia não só pode como tem até obrigação de publicar vazamentos que envolvam casos e figuras públicas envolvidas em parcerias inusitadas e que desafiam as leis.

O caso Watergate tomou forma porque os repórteres do Washington Post obtiveram informações confidenciais de uma fonte inicialmente anônima e que mais tarde revelou-se um agente do FBI com acesso a relatórios oficiais.

Os famosos Pentagon Papers, também publicados pelo Washington Post durante o governo Nixon, foram vazados por um analista militar. Eram sete mil páginas secretas que provavam as mentiras oficiais sobre a guerra do Vietnã e o que as autoridades escondiam da opinião pública.

O massacre de My Lai, brutal operação do exército americano contra civis em uma aldeia vietnamita, não foi desmascarado por notas oficiais, nem presses releases, nem coletivas com back drop, mas pela denúncia de um soldado e, em seguida, pelo trabalho de jornalistas que obtiveram material confidencial de um fotógrafo também militar.

No Brasil, o Caso Parasar - oficiais que planejaram uma série de atentados no Rio de Janeiro, com o objetivos de atribuir as mortes decorrentes aos "comunistas" e assim desmoralizar a oposição à ditadura - foi desmascarado porque o capitão Sérgio Ribeiro, o Sérgio Macaco, se recusou heroicamente a participar do plano terrorista bancado por militares da linha-dura e fez uma denúncia aos seus superiores. O plano previa explosões em áreas e equipamentos públicos, incluindo o Gasômetro, e o assassinato de 40 políticos, entre os quais Carlos Lacerda, JK e Jânio Quadros.  Os terroristas ficaram impunes, mas a atitude de Sérgio Macaco abortou o plano. Ao fim de um inquérito manipulado, o capitão foi punido com o afastamento. Anos depois da restauração da democracia, apesar de pressões de setores remanescentes do autoritarismo, ele foi reabilitado e promovido.

Há centenas de casos que demonstram a relação entre jornalismo investigativo e vazamentos de maracutaias públicas.

As conversas entre Sergio Moro e Dallagnol não tinham nada de privadas.

Vazamentos de questões de interesse público são, portanto, no Brasil e no mundo inteiro,  instrumentos legítimos da apuração jornalística.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Jornalismo investigativo - Repórteres disfarçadas se infiltram em festa beneficente onde o assédio sexual é "liberado".


Reprodução Financial Times
Até aqui, a mídia dedicou espaço e páginas às denúncias de assédio sexual. A partir delas, de Hollywood ao Rio de Janeiro, de Paris a Londres, depoimentos foram colhidos, psicólogos foram ouvidos e os RHs da empresas passaram a se preocupar com o assunto e até a criar códigos de conduta para prevenir comportamentos inadequados entre seus funcionários.

Para o Financial Times, pelo menos, essa fase passou. O jornal britânico incluiu o assédio sexual entre as pautas do seu núcleo de jornalismo investigativo.

Embora especializado em economia, uma das suas matérias mais destacadas, hoje, denuncia grandes empresários londrinos, alguns ligados à prefeitura da cidade, de promoverem um leilão beneficente black tie  - uma tradição de 33 anos -, onde o assédio sexual teria corrido solto. Isso apesar do programa impresso distribuído aos participantes pedir que não assediassem sexualmente o distinto público ou a equipe do evento. Fazia sentido. Apenas homens foram admitidos no leilão, mas a exceção era o problema: belas recepcionistas contratadas, várias delas jovens universitárias que tentavam anabolizar a renda mensal. Os lotes em leilão incluíam, entre outros, uma noite em um clube de strip tease e bônus de cirurgia plástica, com o apelo nada sutil de "Adicione tempero à sua esposa". As recepcionistas eram informadas de que os homens poderiam ser "irritantes", mas que trabalhariam em um lugar "inteligente e sexy". Elas deveria usar sapatos pretos, roupas íntimas pretas, cabelos e maquiagem impecáveis. A produção do evento forneceria os vestidos. Entre o grupo que topou o serviço  - ser alta, magra e bonita eram pré-condições  - havia advogadas em busca de contatos, executivas de marketing, dançarinas e modelos.

Agora, a polêmica jornalística: o Financial Times infiltrou duas repórteres disfarçadas entre as hostess para tentar registrar o bundalelê de assédio explícitos. Ao lado da repercussão da matéria, o método investigativo também virou motivo de discussão entre comunicólogos. Insistência em pegar nas mãos das recepcionistas, convites para uma visitinha ao quarto do hotel eram comuns na noitada chique, No clima de consumo de vodca, uísque, o passo seguinte era puxar as jovens para o colo. Uma das meninas contratadas queixou-se de abuso quando precisava ir às mesas e lhe passavam a mão na bunda e nas pernas, outra contou às repórteres que um alto executivo havia lhe mostrado o pênis. Uma das garotas defendeu os empresários e alegou que eles apenas "flertavam" sem maires consequências. Além disso, o staff feminino era incentivado a interagir com os convidados. Pelo menos uma delas, definiu a noite como "divertida", com a vantagem de poder beber no emprego. De uma hostess, as jornalistas ouviram um desabafo: "Não acredito que estou aqui de novo" - e confessou que era a quinta vez que ela participava da festa exclusivamente por precisar de dinheiro.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Mercado de luxo do Rio perde dinheiro sujo e entra em crise... E conheça aqui a agência independente de jornalismo investigativo que revelou há seis meses alguns petiscos do menu da corrupção

Reprodução Sportlight
Há quase seis meses, o site de jornalismo investigativo Sportlight, divulgou uma grande reportagem sobre o vertiginoso sucesso de um empresário ligado a Sérgio Cabral e membro destacado do elenco da "Turma do Guardanapo" e da "República de Mangaratiba".

Marco Antonio de Luca, o empresário guardanapeiro,  é um dos proprietários de uma "joia" cravada em plena orla do Leblon: o super quiosque de luxo Riba, uma espécie de point dos coxinhas.

O Riba, que tem mais três filiais, é apenas parte do "império" Luca, do qual fazem parte as empresas de alimentos Masa e Milano, principais fornecedoras de refeições e merendas para a prefeitura e o estado do Rio de Janeiro.

O empresário finalmente caiu na Lava Jato e foi preso na última quinta-feira pela Polícia Federal.

A reportagem do Sportlight era sustentada por documentos, mas, curiosamente, a grande mídia chegou atrasada ao caso que envolve o Riba ou não achou que merecesse espaço. Ponto para o Sportlight que, em janeiro, mostrou o cardápio suspeito do quiosque chique que, ironicamente, tem entre sua clientela muitos dos manifestantes champanhotas que foram para as ruas com a camisa da CBF pedindo o "fim" da corrupção. A investigação prossegue e muita sujeira ainda pode aparecer debaixo dos croquetes.


O Globo publicou ontem matéria sob o título "Efeito Lava-Jato esvazia mercado de luxo do Rio".  A reportagem focaliza restaurantes, especialmente. Mas, além da crise e dos problemas de segurança que afetam o Rio, grande parte do segmento comercial que atende ao chamado topo da pirâmide social entrou em parafuso por um motivo mais relevante: virou chave de cadeia. Acontece que ex-ilustre parcela da população que sustentava o milionário mercado de luxo está mais suja do que valão de esgoto da Baixada. Muitos restaurantes, joalherias, imobiliárias, agências de automóveis, locadoras de helicópteros e jatinhos, representantes comerciais de lanchas e grifes de moda sofisticada acusam, literalmente, o golpe. Conhecidos políticos e empresários, seus clientes, estão presos, investigados ou com contas bloqueadas. A prisão ou o afastamento de muitos corruptos e corruptores abala toda uma cadeia de beneficiários, desde aqueles que auferiam lucros com o superfaturamento de obras e serviços à estrutura comercial que se beneficiava dos esquemas, direta ou indiretamente, na ponta do consumo.
E esse pessoal trambiqueiro carregava no bolso um atrativo a mais para o mercado de luxo: os fulanos corruptos e suas famílias pagavam em dinheiro. Sujo, mas dinheiro.

Em tempo: o jornalismo independente fica devendo essa à Sportlight.
(Para conhecer outras pautas da agência, acesse AQUI)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Redes sociais ajudam a divulgar matéria da Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo sobre "Turma do Guardanapo"






POR LÚCIO DE CASTRO · PUBLICADO 31/01/2017 (REPRODUZIDO DO SITE SPORTLIGHT)

A expansão atípica de um bar cujos registros apontam para a abertura de quatro filiais nos pontos mais caros do Rio de Janeiro em apenas cinco meses no segundo semestre de 2016 em meio a grave crise econômica, tem um ponto a se destacar: a proximidade dos sócios com Sérgio Cabral Filho e Eduardo Paes. O estabelecimento de vertiginoso e incomparável crescimento tem um sócio que é membro da “Turma do Guardanapo” e da “República de Mangaratiba”, confrarias formadas pelos mais íntimos parceiros de Sérgio Cabral Filho. Por trás das tulipas de chope, estão nomes e relações muito próximas ao maior escândalo de corrupção da história do Rio de Janeiro, e parceiros em volumosas relações comerciais com o estado, assim como com a prefeitura do Rio de Janeiro durante a gestão de Eduardo Paes. Ao mesmo tempo em que a Operação Lava Jato se acirra e atinge aos dois ex-governantes.

São sócios do fenômeno comercial “Riba”: Marco Antônio de Luca, que aparece nas fotos da “Turma do Guardanapo” em Paris e José Mantuano de Luca Filho, cujas empresas, a Masan Alimentos e Serviços e a Comercial Milano respectivamente, fornecedoras do governo estadual e da prefeitura, estiveram envolvidas em escândalos recentes. As relações de poder do estabelecimento vão além da esfera de Cabral e chegam a Eduardo Paes, já que a também sócia Cristianne de Luca teve vínculos societários com Guilherme Paes, irmão do ex-prefeito. Somando-se o ganho das duas empresas dos sócios do Riba na prefeitura entre 2008 e 2016, anos de Eduardo Paes no comando, chega-se a quantia de R$ 728.867.747,32 (setecentos e vinte oito milhões, oitocentos e sessenta e sete mil, setecentos e quarenta sete reais e trinta e dois centavos), como pode ser constatado no “Rio Transparente”.

LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO SITE DA SPORTLIGHT (DE JORNALISMO INVESTIGATIVO). 
DESDE ONTEM, AS REDES SOCIAIS DIVULGAM DENÚNCIA QUE NÃO CHEGOU ÀS PÁGINAS DA VELHA MÍDIA 
CLIQUE AQUI

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

O que você não vê na mídia dominante: plantações de eucalipto ameaçam comunidades


por Patrik Camporez Mação e Luísa Torre
Fotos e vídeos: Marcelo Prest
(para a Pública - Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo)

No Sapê do Norte, uma região tomada por plantações de eucalipto no extremo norte do Espírito Santo, 32 comunidades quilombolas vivem sob forte clima de tensão. Nos últimos sete anos, dezenas de descendentes de escravizados africanos foram parar na cadeia sob a acusação de formação de quadrilha ou furto de madeira.
O episódio mais emblemático ocorreu em novembro de 2009: foram presas pela Polícia Militar 39 pessoas na comunidade São Domingos, uma das maiores da região, onde vivem 150 famílias, entre elas mulheres e idosos, e até um morador cego.
A maior parte das prisões ocorre em uma área administrada pela empresa Fibria, líder mundial na produção de celulose branqueada de eucalipto, entre os municípios de Conceição da Barra e São Mateus – mas que é reivindicada pelas comunidades como seu território ancestral. Ao todo, mais de 100 mil hectares de eucalipto deixam as residências “ilhadas” em meio ao que os quilombolas chamam de “deserto verde”, por causa da seca causada pela monocultura.
O começo
A monocultura do eucalipto começou a avançar sobre o território do Sapê ainda na década de 1960, com o apoio do regime militar. A implantação do monocultivo inicialmente foi considerada uma política de Estado, servindo para a produção de madeira e carvão e, posteriormente, à celulose e ao papel.
LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO PORTAL DA AGÊNCIA PÚBLICA, CLIQUE AQUI

sábado, 10 de dezembro de 2016

Grupo RBS cria núcleo de jornalismo investigativo. Se será investigativo e não fará rima com seletivo, você tem o direito de duvidar...



por Flávio Sépia
O Grupo RBS foi ao cinema, gostou do que viu em Spotlight, e anunciou em grande estilo o lançamento de um Grupo de Investigação nas suas redações. Tem até logotipo (aí ao lado).

O modelo de um núcleo de repórteres para apurar matérias investigativas é um prática consagrada em jornais americanos, como o Boston Globe. O filme, como se sabe, aborda a apuração de um escândalo de pedofilia pelo grupo especial de jornalistas do BG que enfrentou a poderosa igreja católica local.

Embora a expressão "jornalismo investigativo" não existisse na época, o exemplo mais que perfeito do método é o trabalho dos repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward, do Washington Post, no célebre Caso Watergate, nos anos 1970.

O vice-presidente da RBS, Marcelo Rech, diz que "o jornalismo investigativo fundamental para a sociedade, especialmente em uma era em que as desinformações circulam em larga escala pelas redes sociais".

Não só nas redes sociais. Ele esqueceu de dizer que o jornalismo praticado pela grande mídia brasileira também leva, numerosas vezes, o carimbo da desinformação.

Em muitos casos, até uma desinformação consciente e pautada por interesses financeiros, políticos e partidários.

Qualquer jornalista experiente sabe que não é fácil, nesse ambiente fartamente conhecido e exemplificado, acreditar que um grupo de jornalistas terá independência e autonomia para apurar os fatos.

Por exemplo: uma investigação de sonegação continuada de impostos por parte de grandes corporações alinhadas seria uma pauta aprovada?

Diz o RBS que denúncias e sugestões de pautas podem ser enviadas para o email gdi@gruporbs.com.br

Ôba! Do "Helicoca" às contas secretas brasileiras dos Panama Papers, das pendências do CADE ao numerário verde-amarelo do HSBC na Suíça, do cartel dos trens em São Paulo à captação dos subterrâneos da Lei Rouanet, das fraudes no SUS aos "penduras" bilionários no BNDES. Apenas exemplos aleatórios...

O que não falta é pauta, isso fora as mutretas não catalogadas que devem estar em andamento por aí.

Inspirado pelo filme Spotlight, a RBS promete ligar holofotes sobre as sombras do jornalismo.

Que os refletores não sejam seletivos.

O comunicado de criação do Grupo de Investigação não informa se a cúpula da RBS viu mesmo Spotlight.

No filme, os repórteres enfrentam não apenas a poderosa igreja católica, mas sofrem enormes pressões da própria direção do Boston Globe.

Só foram em frente porque contaram com a integridade de um editor. E isso já não é tão comum na dura vida real da grande mídia idem...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Boston Globe não é aqui...

Divulgação


por Leandro F. Linhares 
O filme "Spotlight, Segredos Revelados", de Tom McCarthy,  é sucesso de público e crítica e tem despertado, especialmente, a atenção de profissionais do jornalismo. Li na mídia alternativa na web bons comentários sobre a saga do Boston Globe. Já a mídia conservadora publicou algumas análises em benefício próprio e tentou se espelhar no que achou que viu na tela. Mas esse suposto reflexo parece bem fora de foco. Senão, vejamos.
A equipe do Boston Globe ganhou o Pulitzer pela série de reportagens sobre os casos sistêmicos de pedofilia envolvendo padres católicos. Bom explicar que eles foram premiados, em 2003, na categoria "Serviço Público" e não "Reportagem Investigativa". Por um motivo simples: o Boston Globe não descobriu os fatos, e esse ineditismo é condição do Pulitzer para premiar reportagens investigativas. Os acontecimentos abordados no filme eram de conhecimento público desde 2001, quando algumas vítimas abriram processos contra padres. O Pulitzer considerou, com justiça, que o Boston Globe contribuiu para melhorar a vida das pessoas e protegê-las ao alertar sobre o caso e deixar a comunidade católica, em especial, mais atenta ao problema.
Não foi pouco o serviço prestado pelo jornal ao despertar consciências e acordar autoridades civis e eclesiásticas. E este é o toque 'romântico' do jornalismo: ajudar a promover mudanças justas e importantes para a sociedade. E é este tipo de motivação, certamente, o impulso que ainda leva muitos profissionais a escolher esse árduo ofício.
É curioso observar que o filme, assim como a reportagem real do Boston Globe, não demoniza personagens ou faz cargas iradas contra fulanos. Como se raciocinasse que as pessoas passam e os problemas ficam, o foco dos repórteres não é a cruzada messiânica. É a denúncia dos fatores que levaram à ocorrência da pedofilia quase como uma "norma do sistema". Independentemente das pessoas envolvidas e de responsabilidades individuais, o que resulta de bom para a sociedade é que reportagens desse quilate ajudam a construir mecanismos de proteção que dificultam ou impedem a repetição dos casos. Para alcançar tal objetivo, foi fundamental à equipe poder contar a história de forma independente, apoiada por diretores que protegeram a autonomia dos repórteres.
Haveria no contexto de produção da série de matérias do Boston Globe muitas lições úteis às grandes corporações da mídia brasileira. Mas temos uma estrutura familiar, política e ideológica muito particular nas grandes empresas de comunicação. Podemos supor que um simples telefonema de um cardeal amigo paralisaria uma dessas séries de reportagens por aqui - isso se ela sequer começasse - e há fartos exemplos ao longo da história facilmente identificáveis por centenas de coleguinhas que atuam ou atuaram em redações. O cinema tem outros exemplos de filmes baseados em reportagens investigativas que seriam inimagináveis na grande mídia brasileira. Quem não lembra de "O Informante", de Michael Mann, de 1999? Relatava um fato real ocorrido cinco anos antes: um ex-executivo da indústria do fumo denuncia crimes da indústria que adiciona aos cigarros componentes químicos que potencializam o fator viciante da nicotina. Imagina as corporações jornalísticas brasileiras investindo contra um poderoso anunciante?
É ruim, hein? Não há nada parecido no currículo nacional.
Houve até quem comparasse "Spotlight" com a atual cobertura jornalística da "Lava Jato'. Há semelhanças em um aspecto: as matérias sobre a Lava Jato também não seriam consideradas investigativas pelo Pulitzer já que em geral reproduzem fatos vazados de depoimentos de delatores premiados. Ou seja, como Spotlight, têm base em processos judiciais e não em levantamento jornalístico. Watergate, um caso clássico de jornalismo investigativo, é exemplar. O próprio Washington Post noticiou a invasão do escritório do Partido Democrata como um "assalto". Coube a Bob Woodward e Carl Bernstein estabelecer, meses depois, através de uma fonte própria, a ligação entre a Casa Branca, de Nixon, e a operação de espionagem contra os democratas. Não foi a polícia, nem a justiça, não foi o promotor, nem o juiz, nem o "japonês, não foi vazamento seletivo nem ocasional. Foi o jornalismo investigativo.
Entre as muitas diferenças que turvam o espelho e a comparação entre Spotlight e Lava Jato estão o interesse político mas do que ético, a difícil e quase impossível sobrevivência de repórteres independentes na grande mídia, o engajamento partidário, a disputa pelo poder e os poderosos interesses financeiros. É bom ou quer mais?
Melhor ver a equipe do Boston Globe em ação. Sonhar não custa nada.