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quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Mídia: Em tempo de corpo de jurados do jornalismo notícia precisa de manual de instrução

 

O repórter Álvaro Gribel, do Globo, fez a exclusiva com Haddad

Retrospectivas do ano foram inventadas em redações de jornais e revistas para facilitar folgas das equipes nas festas de Natal e Ano Novo. A TV assimilou depois a fórmula confortável. 
          
          Mesmo em dia de jornalismo retrofitado, o repórter Álvaro Gribel, do jornal Globo, correu atrás da notícia e obteve um entrevista exclusiva com Fernando Haddad. Seu radar de apurador  detectou mágoas do ministro com o PT. Todo mundo sabe que mágoa é coisa que vem à tona em fim de ano. As  ceias tradicionais costumam ser gatilho para "desabafos". E foi o que Haddad fez, desabafou no Globo . Boa matéria.

Mas quem ganhou um presentaço, no caso, foram os programas de comentaristas como Estúdio I e outros em todos os canais. Geralmente esses coletivos de talk shows reúnem um tipo de júri dos fatos publicados. Eles ainda não dão notas às notícias nem, por enquanto, têm auditório, mas lembram as bancadas de Sílvio Santos ou Raul Gil. Estão lá para fazer a resenha dos acontecimentos e mostrar ao povão os mais variados e às vezes delirantes contextos que, na visão deles, os textos ocultam. Na prática, são cuidadores: eles se dão à nobre missão de amparar o telespectador desorientado. 

A pauta do Globo com Haddad foi replicada em vários desses programas. Houve quem pegasse carona na matéria do repórter sem sequer citar o esforço do próprio para obter algo mais do que conversa jogada fora em roda de violão de analistas. 

É isso: a notícia hoje é um adereço factual. O repórter é a "ala da força" que vem atrás da grande alegoria: a "interpretação" da notícia. Não mais importa o que um entrevistado diz, mas o que ele "quis dizer". Às vezes, por exemplo, o analista abre sua fala com um didático e telepático "o que Lula quis dizer".

Não se sabe como eles apuram honestamente um "quis dizer".

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Mídia: o novo júri da TV

Júris em programas de TV eram coisa dos anos 1960. Depois caíram em desgaste mas não em desuso. Atualmente, Luciano Huck, Marcos Mion, SBT etc ainda usam a velha fórmula. Silvio Santos foi um notório condutor de jurados, Flávio Cavalcante e Chacrinha também consagraram bancadas de julgadores. 

Não se esperava que o jornalismo fosse buscar no passado um corpo de jurados para liofilizar e deturpar as notícias. A diferença é que em emissoras como a GloboNews, CNN Brasil e Jovem Pan a nova bancada de jurados não se apresenta em programas fixos de auditório. Os juízes perpassam a grade dia e noite julgando as notícias, que geralmente interpretam aos seus modos, nem sempre comprometidos com os fatos. Especulam, parecem se orgulhar da capacidade de prever os fatos. Gostam de pregar o caos também. Não importa se acertam o futuro ou não. Quando as interpretacões não se confirmarem eles já estarão fazendo outras adivinhações para um público esquecido. 

Os novos jurados acham que o povo é imbecil. Eles não, são seres multipropósito que "contextualizam", adoram usar essa palavra, desde o caso Ana Hickmann à guerra no Oriente Médio, a mulher que quebrou janela de ônibus para salvar seu bebê. O que vier eles tracam. São capazes de falar durante horas sobre qualquer coisa que viralize nas redes sociais. São meio messiânicos. Estão convictos que prestam serviço de auto-ajuda jornalística a quem não está entendendo porra nenhuma de nada. Não há jornalismo investigativo nesses canais. Eles sabem disso, aparentemente. Uma prova é que diante da repercussão de um furo da concorrência pegam carona no trabalho de campo de um repórter a bordo de um artifício. A âncora, qualquer uma delas, diz, malandramente, algo assim "a Folha publicou e eu confirmei o seguinte...". 

Imaginem um repórter do New York Times dizendo uma babaquice dessas a propósito do furo da dupla Bob Woodward e Carl Bernstein, do Washington Post, que cobriu o famoso Caso Watergate. "O Washington Post revelou e o New York Times  confirmou que Nixon... Seria um vexame, concordam?

Outra intervenção dos novos jurados é a corrida para mostrar à direção que eles também apuram. O que mais se ouve é "fiz uma apuração agora com a Polícia Federal e soube que... Nisso, admita-se, eles são bons. Geralmente a apuração que fazem é um exemplo do jornalismo mais barato, o jornalismo declaratório. Uma espécie de prostituição da notícia sempre apurada nas assessorias de imprensa que não  praticam jornalismo mas apenas divulgam o que lhes interessa. E o júri acredita. Alguns abusam tanto do jornalismo declaratório que até parecem porta-vozes das instituições onde fazem "apuração".

Para usar outra expressão que eles usam com frequência: não é possível confirmar com fontes independentes o que dizem as bancadas de jurados dos canais de notícias. 

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Mídia - Entrevista exclusiva (*) com a maior fonte anônima dos jornalistas que cobrem Brasília: o Entorno


por O V. Pochê

O blog conseguiu entrevistar a atual e maior fonte dos jornalistas brasileiros que atuam no DF: o Entorno. Trata-se de um colaborador com muita mobilidade. O Entorno atua próximo a Lula, frequenta o circuito mais íntimo de Bolsonaro, isso mesmo, e está por dentro do que Haddad fará na economia. O Entorno está ao lado de Alexandre Moraes, o maior gerador de conteúdo do momento. O Entorno está colado em Roberto Campos Neto e sabe da Selic antes do Bolsonaro a quem o Bob conta tudo. O Entorno consegue falar com "pessoas próximas" ao comandante golpista da Marinha. O Entorno é tão importante que a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) já o convidou para uma palestra. O Entorno não trabalha sozinho em Brasília, ele tem a concorrência do Pessoas Próximas, do Fonte Confiável, do Interlocutor, Observador Atento, . Uma âncora da Globo News às vezes até dispensa nomear a fonte. Ela costuma dizer que tem "um bastidor" e manda lá uma "exclusiva" sem pai nem mãe, que o " bastidor" dela é autosuficiente,  elástico, tem vida própria e aceita tudo. O jornalismo brasileiro banaliza a fonte anônima porque não entende a utilidade que ela tem para o jornalismo investigativo e, por isso abusa e usa. O exemplo clássico é o Deep Throat do Caso Watergate: não era uma fonte declaratória, dava informações que balizavam a investigação e sinalizavam pistas. Cabia a Bob Woodward e Carl Bernstein correrem atrás dos envolvidos e suas ramificações. 

Reprodução O Globo

Reprodução CNN
Reprodução O Globo

A expectativa do Entorno na nota acima não se concretizou. Acontece.


Aqui o Entorno, em nome dos seus similares, mostra como funciona o fantástico mundo do jornalista especulativo e de caça cliques.

 - Senhor Entorno, como se sente ao fornecer temas de debates aos comentaristas dos canais por assinatura, que passam horas "contextualizando" suas informações? 

- Eu me divirto. Devo dizer que não fantasio a toa. Conheço a política e tudo o que crio obedece a uma lógica e, por isso, repercute. Muita coisa faz sentido para quem conhece Brasília. Eu invento, não aumento.

- O senhor obedece a algum político ou interesses?

- Não. Já passei por vários cargos de assessoria técnica nos três poderes. Conheço todo mundo, sempre ajudei os jornalistas. Antigamente me procuravam para fornecer pistas de reportagens mais extensas. Hoje, as novas gerações buscam qualquer coisa para sustentar opiniões e análises. Acho que o jornalismo mudou nesse sentido. Opinião é opinião não precisa assim de tanta confirmação. Um repórter me pergunta quem é o favorito para determinado cargo. Eu solto um nome elegível. E eles botam lá, 'no entorno de fulano um nome forte é sicrano'.

- O senhor também lança 'balão de ensaio' ?

- Sim, mas antes que você me pergunte, não ganho nada com isso. Não preciso de dinheiro. É engraçado. Pego o nome de um político vaidoso mas sem chance de ser indicado para um cargo importante e passo para um repórter ou comentarista. Acredite, basta isso para o nome circular e o citado estufar o peito nos corredores. Eu mesmo dou-lhe os parabéns por estar 'cotado". O cara acredita, outros políticos acreditam, e ele passa a se considerar cogitado para nomeação. Depois, quando não é nomeado todo mundo esquece, até o comentarista ou repórter que levou o nome para a TV. O cara fica feliz porque no interior, na base dele,  passa a ser visto como de prestígio em Brasília. O eleitor, coitado, pensa que em algum momento ele pode emplacar em um cargo.

- Você como fonte não perde credibilidade junto ao jornalista?

- De jeito algum. O jornalista marca ponto por obter um informação exclusiva do Entorno e o canal preenche muitos minutos da programação debatendo essa possibilidade. Viu o caso do Aras? Nunca teve chance mas foi levado a sério para continuar na PGR. Nesse caso, dois políticos do PT lançaram o ' balão de ensaio', não fui eu. Mas houve um nome de um certo candidato a ministro da Defesa que circulou na mídia e jamais teve chance.

- Eu conheço um advogado muito badalado ultimamente. Confesso que ajudei a impulsionar, como se diz, a sua figura. Uma repórter adorou quando citei seu nome em off, claro, e fez média junto à chefia.

- Você não acha que essa entrevista vai queimar o Entorno.

- Acho que não. Tem muitos outros por aí, até contratados por políticos. Têm o Fontes Próximas, tem o Pessoa Ligada A...", têm o "Membro das Forças Armadas" , esse eu acho esquisito mas ultimamente tem subido muito como fonte.

- Você já foi desmentido?

- Por incrível que pareça, não. Veja, eu invento algo crível. Como tantos movimentos na política pode ou não acontecer. Não sou jornalista mas não sou burro e posso dizer o seguinte: a demanda por notícias é hoje muito grande. A velocidade de consumo de conteúdo e brutal. O tempo era mais lento nos anos 1990 e ainda mais lento nos anos 1980.  Havia um colunista de política muito famoso e considerado que não inventava notas mas veiculava o que os políticos lhe pediam. Ouvi muitas vezes, ' passa pro fulano que ele vai na minha casa hoje e vai gostar. Fala que fui eu que mandei'. Vigorava uma troca de favores. Ele divulgava a nota de interesse do politico e o político ficava devedor e um dia lhe daria uma notícia legítima.

- Você colaborou com jornalistas durante a Lava Jato ? Pergunto porque muito jornalistas participaram dos esquemas ilegais da Lava Jato.

- Não. Acho que a Lava Jato nem precisou disso, tinha ligação direta com vários jornalistas. Ninguém me perguntava nada sobre a Lava Jato. Dois ou três jornalistas que sempre falavam comigo nunca me perguntaram nada. Achei estranho porque na época eu trabalhava em um "entorno" que poderia interessar a eles. Não precisaram, recebiam tudo direto. Até livros foram publicados, não é?

- Sr.Entorno, muito obrigado. Posso usar suas informações? 

-Claro. Faço isso tudo dia. Nas últimas semanas induzi "candidatos" ao STJ, STF, AGU, PGR e até Ministério da Justiça. 

(*) Entrevista ficcional com fundo e frente de verdade. Qualquer semelhança é mera realidade 

domingo, 16 de julho de 2023

Mídia: A armadilha jornalística

por José Esmeraldo Gonçalves

Matéria publicada no portal GGN, assinada por Luís Nassif, revela mais um episódio de extrema gravidade ocorrido nas sombras das ligações expúrias da Lava Jato com certos jornalistas. 

A subserviência de profissionais da mídia aos chinelos dos procuradores e do juiz que conduzia ilegalmente tanto o julgamento quanto as investigaçõese constitui uma das páginas mais vergonhosas do jornalismo brasileiro. 

Quando o Intercept publicou as mensagens trocadas nos porões de Curitiba ficou demonstrada a parceria entre repórteres e editores lavajateiros na divulgação política dos passos nebulosos da investigação. Jornais, revistas, emissoras de TV e rádio, além de sites e mídias sociais recebiam conteúdos com dia e hora marcada para publicação. Jornalistas davam assessoria aos procuradores e sugeriam modos de alcançarem seus objetivos em paralelo com a manipulação das investigações. Dezenas de reportagens "investigativas" - algumas premiadas, o que atualmente soa como piada - eram pautadas pela força-tarefa segundo os interesses do arrastão  jurídico.

Processos viciados foram anulados posteriormente, a  Lava Jato virou lama, mas no que diz respeito ao jornalismo e também à cultura, muita coisa ainda deverá vir à tona. Setores culturais embarcaram no bonde da vergonha. Documentários, filmes e livros de encomenda fizeram a linha auxiliar do golpe contra Dilma Rousseff, da prisão de Lula e do consequente impedimento fraudulento, afinal reconhecido, com o qual Sergio Moro e cúmplices, hoje desmascarados, impediram o atual presidente de concorrer nas eleições de 2018.

Desde a semana passada, as redes sociais repercutem a matéria de Luís Nassif que denuncia a participação do jornalista Andrea Sadi, da Globo News, em um episódio ligado à prisão de Lula. 

Leia a seguir um trecho da matéria do GGN e clique no link abaixo para acesso ao texto compeleto.    

Uma parceria Lava Jato-Globonews que poderia ter terminado em tragédia

Uma das grandes tacadas da Lava Jato, visando ampliar o período de prisão de Lula, ocorreu usando a repórter Andrea Sadi, da Globonews.

por Luis Nassif

jornalggn@gmail.com

Publicado em 14 de julho de 2023, 14:22

Meu artigo sobre as 4 jornalistas do impeachment despertou lembranças em outros colegas. E recebi o seguinte depoimento de colega. Uma das grandes tacadas da Lava Jato, visando ampliar o período de prisão de Lula, ocorreu usando a repórter Andrea Sadi, da Globonews.

"Lula já estava com a prisão decretada, acampado no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Na frente, uma multidão solidária a Lula.

A caminho de São Bernardo, um carro com uma jornalista e o advogado Marco Aurélio de Carvalho, quando a jornalista Andrea Sadi deu a notícia de que Lula resistiria à prisão. 

Não era verdade. Lula já tinha acertado com seus advogados que se entregaria. Mas a notícia tinha dois desdobramentos terríveis. O primeiro, a possibilidade de se ordenar a invasão da sede do Sindicato pela Polícia Federal. A segunda, do juiz Sérgio Moro ordenar uma condução humilhante de Lula.

Imediatamente, entraram em contato com Sadi, para que desmentisse a notícia, mas ela se recusou.

Liguei para Marco Aurélio para saber o desfecho da história. Quem evitou o desastre foi a jornalista Natuza Nery. Marco ligou para ela que, imediatamente, desmentiu a notícia, desmanchando a trama".

Leia a matéria completa AQUI


quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Mídia - O nome é Doha, mas pode chamar de Buenos Aires "min alsahra"

 

Foto Fifa

Reprodução Twitter 

por José Esmeraldo Gonçalves 

Ao pessoal do SporTV: para entender, basta consultar estatísticas confiáveis. Não acreditem no mentiroso Paulo Guedes: Argentina tem Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) melhor do que o do Brasil (quase goleia, está em 40* lugar, nós em 88*) renda per capita mais alta, educação, saúde e distribuição de renda em níveis mais avançados.  Lembrando que a Argentina tem pobreza que os brasileiros mal conhecem pois não vão aos tristes subúrbios de Buenos Aires, por exemplo, em um bairro semelhante ao que viu nascer e crescer Maradona, filho de mãe de ascendência indígena e de pai neto de croata. Ou não saem da Recoleta para dar uma passadia em La Matanza.  Como o Brasil, a Argentina está em crise, mas resiste e tem menos pobreza em função de alguns fundamentos econômicos mais civilizados, especialmente no quesito renda mais justa para os vários segmentos sociais.
As arquibancadas do Catar e as ruas de Doha, no momento uma Buenos Aires "do deserto", mostram algo  dessas diferenças. Compare: o torcedor brasileiro que estava na Copa, em sua maioria, era visivelmente do topo da classe media. Muitos curtiam  mais a viagem,  o shopping e o souk do que o futebol. Uma pesquisa séria mostraria que um grande número deles não frequenta estádios no Brasil. Claro que entre os torcedores da Argentina há ricos que fretaram aviões e que não fazem ideia das letras das tradicionais canções de arquibancada dos seus compatriotas, mas, como a própria TV mostrou, entre eles - e a previsão é que sejam 60 mil na grande final com a França - estão muitos torcedores da Bombonera, Monumental, em Buenos Aires ou do Gigante del Arroyto, em Rosário. 
O que explica isso é a distribuição de renda um pouquinho mais justa. E olha que a Argentina não é nenhuma Suíça. Os hermanos apenas mostram que têm um troco a mais um ou ainda podem se endividar por uma causa importante: ver Messi jogar sua última Copa e dar espetáculo em campo. Nem se endividar os brasileiros podem. Já bateram no teto. Tem gente até fazendo Pix pré-datado. Pois é, existe. Não com esse nome, atende por um apelido mais moderninho: é o Pix agendado.

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Mídia - "Caaaaalada! - Eliane Cantanhêde quer que Janja se manifeste apenas no quarto do casal

Janja no palanque. Foto de Ricardo Stuckert


por José Esmeraldo Gonçalves 

Ontem a Rede Globo exibiu no Fantástico uma entrevista com Rosângela da Silva, a Janja, casada com o presidente Lula e com participação destacada na campanha presidencial. 

Provavelmente, a entrevista foi gravada antes dos comentários machistas e preconceituosos que Eliane Cantanhêde lançou contra a socióloga. O protagonismo de Janja incomoda a jornalista. Autêntica, simples, sem a afetação que, aliás, a Cantanhêde transmite nas suas intervenções na TV, a entrevista de Janja foi uma resposta elegante ao ataque em estilo Século 19 que recebeu na Globo News. 

No fim quem restou exposta e obsoleta - e tem recebido milhares de críticas nas redes sociais - foi a jornalista. 

Afinal, o que a Cantanhêde quer para as mulheres brasileiras? Que vivam em "prisão domiciliar" enquanto os maridos não chegam do trabalho? Que usem uma tornozeleira afetiva?  

O humorista Chico Anysio interpretava um personagem, o Nazareno, casado com a coitada da Sofia. Cada vez que ela interferia em uma conversa, o marido disparava o bordão "caaaaalada!". 

"Ela não é presidente do PT, não é líder política”, disse a Cantanhêde. Para a jornalista, a socióloga "ocupa excesso de espaço". No mesmo comentário, ela definiu os únicos metros cúbicos nos quais Janja pode se manifestar: o quarto do casal. 

A Cantanhêde imita a famosa frase que Ciro Gomes disse sobre a função de Patricia Pilar, com quem estava casado: dormir com ele. 

Ciro se deculpou. A Cantanhede ainda não. 

Durante a campanha Janja recebeu muitas ofensas e foi vítima de fake news nas redes sociais. Ela verá, ao longo do mandato de Lula, que será um alvo de parte da mídia. Não falha. Dilma foi capa de revista por ser "nervosa", foi criticada até pelo "jeito de andar". A jovem Tereza Goulart, que fugia ao figurino conservador de "primeira-dama" (título deplorável, a propósito) era caluniada pelas "senhoras de Santana". 

Já Iolanda Costa e Silva, Scyla Médici, Lucy Geisel e Dulce Figueiredo só recebiam elogios. 

Em todo caso, democracia é melhor. Na sala, no quarto, no trabalho, nas ruas, na estrada, no morro, no asfalto...            

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Mídia - "Tentar atirar", "tentativa de magnicídio", "aponta a arma"... Jornais evitam a expressão "tentar matar" e não chamam de terrorista o acusado do atentado contra Cristina Kirchner

 

A Folha é criticada nas redes sociais por minimizar em título na edição de 2-9-2022 o atentado e tentativa de homicídio contra Christina Kirchner. A arma do terrorista ficou a centímetros do rosto da vice-presidente, mas a Folha preferiu um "tentar atirar" em vez de "tentar matar". A pistola estava carregada com cinco balas. E o terrorista apertou o gatilho duas vezes. A arma falhou, a intenção, não.

O Globo usa a palavra atentado

O Estadão optou pelo "aponta a arma", mas usou o termo "atentado', no subtítulo. 

Clarín, que se opõe a Cristina, escolheu chamar de "atentado" 

La Nacion foi de "intenção de magnicídio'.



A polícia argentina investiga as ligações do brasileiro Fernando Andrés Sabag Montiel, que tentou assassinar a vice-presidente da Argentina Cristina Kirchner, com grupos neonazistas. Algumas dessas relações ele exibe no corpo. Há tatuagens so "Sol Negro", alegoria nazista que também enfeita membros do Batalhão Azov, da Ucrânia, e é adotada por grupos neonazistas da América do Sul. Há informações de que ele tem a tatuagem de uma suástica, mas os investigadores não confirmam ainda essa informação. Por postagens nas redes socias, o terrorista, no mínimo, se identifica com a ultra direita. 

ATUALIZAÇÃO em 3-9-2022: Nos títulos de hoje, Globo e Folha chamam o atentado de "ataque". Estadão dá destaque à palavra atentado. A palavra terrorismo ainda não foi usada.

domingo, 1 de maio de 2022

Deu no G1 - Assessora bota "mordaça" no presidente do INSS e não deixa que ele responda pergunta da jornalista Monica Carvalho, da Rede Globo

Reprodução G1 (link abaixo)

O novo presidente do INSS -  Guilherme Serrano - dava entrevista à jornalista Monica Carvalho, via vídeo, e tudo ia bem até a repórter perguntar sobre análise de pedidos de benefícios em atraso em função da queda do número de servidores na instituição. Foi quando irrompeu na tela imagem da assessora de imprensa interrompendo de maneira intempestiva a fala do titular do INSS. Até então não havia indícios de que o entrevistado estava sob monitoramento. Serrano já pode enviar à ONU um pedido por  liberdade de expressão.

 Veja a matéria no G1. Clique em 

https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2022/05/01/assessora-interrompe-entrevista-e-nao-deixa-novo-presidente-do-inss-responder-a-pergunta-sobre-reducao-do-quadro-de-servidores-video.ghtml

quinta-feira, 28 de abril de 2022

Jornalismo de "motociata". Mídia não associa Bolsonaro e Paulo Guedes ao desastre econômico.

Reprodução Twitter

Comentaristas de economia, economistas selecionados pelos canais e o governo que a mídia neoliberal ajudou a eleger dão a impressão de que se reúnem semanalmente antes de uma dessas motociatas para ensaiar o discurso e sincronizar as idéias. Segundo eles, pela ordem, crise política, escassez de chuvas, pandemia e, agora, Ucrânia X Rússia, são responsáveis por tudo o que acontece  no bolso roto dos brasileiros. Colunistas conseguem escrever artigos inteiros sobre o desastre sem citar uma só vez os nomes de Bolsonaro e Paulo Guedes. Omitem sistematicamente que a maioria dos países, inclusive vizinhos, estão se saindo melhor diante dos efeitos internacionais. Isso não e jornalismo, é linha auxiliar do marketng eleitoral da chamada terceira via onde todos os nomes cogitados são ex-bolsonaristas ou deram sua contribuição para para levá-lo ao Planalto. Não por a acaso eles também não ligam Bolsonaro ao caos econômico e poupam o Guedes. Um deles, despeja estatísticas, diz que tem está tudo errado mas não liga o c* com as calças e não dá os nomes de quemevacuou no país.


quinta-feira, 7 de abril de 2022

A mídia só pensa naquilo

por Flávio Sépia. 

O volume de tempo e espaço que a política profissional ocupa em jornais, revistas, sites, redes sociais, rádio e TV no Brasil e espantoso. Nos países desenvolvidos, eleições mobilizam os meios de comunicação, claro, mas não são tão absolutas nem tão massivas. O debate eleitoral já é intenso na mídia há quase um ano. A partir de agora vai virar coisa de doido. Isso não quer dizer que necessariamente melhora a escolha do eleitor. São discussões seletivas às quais candidatos fora do espectro político que manda no país têm pouco ou nenhum acesso. O fenômeno ocorre há muito tempo e a qualidade do voto só piora. Lembra de 2018, quando muitos  pilantras ganharam votos em todo o país e o povo iludido só descobriu depois?

A mídia neoliberal está engajada na busca da chamada terceira via (que os jornalistas em adesão ao marketing partidário estão chamando agora pela alcunha pomposa e falsa de Centro Democrático). Sonham com um candidato que rompa a dita polarização entre Lula e Bolsonaro, os atuais líderes das pesquisas. Um candidato assim evitaria que as oligarquias da grande mídia tenham que embarcar no jet ski de Bolsonaro como aconteceu em 2018. A melhor chance de um nome alternativo a Lula e Bolsonaro pode estar na estratégia de juntar no mesmo saco União Brasil, MDB, PSDB e Cidadania para sair com um candidato único. Dizem que isso será anunciado no dia 18 de maio. 

Como o Brasil é um país onde o que parece mudança pode ser apenas mais do mesmo, o candidato que pode sair do sacolão do "Centro Democrático" não tem nada de centro e tem pouco de democrático. João Dória, Simone Tebet, Eduardo Leite e Sérgio Moro, os mais cotados, foram eleitores de Bolsonaro ou bolsonaristas praticantes. 

Pesquisa recente da Quaest aliás indica que os bolsonaristas arrependidos não são tão arrependidos assume estão voltando para o curral do gado. 

Não é difícil imaginar que tipo de democracia pode sair desse centro elitista que só vê pobre em tempo de eleição ou em quadro de Portinari ou foto de Sebastião Salgado. Isso se em matéria de arte conheceram algo mais do que Romero Britto.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Responda rápido: orçamento secreto é a cueca invisível?


por José Esmeraldo Gonçalves

O tempo é de absurdos e a mídia, talvez por enfado, acaba "normalizando" o inimaginável e confundindo o lodo com a água limpa.
 "Orçamento Secreto" é um negócio que vem com carimbo de má intenção. Até uma organização criminosa como o PCC anota em cadernetas com espiral, que ainda existem, a movimentação financeira da casa. Às vezes a polícia apreende esses anais do crime, espécie de ata de sessão da bandidagem. 
Pois o Congresso "legaliza" o uso escondido do dinheiro do povo, claramente em troca de votos no plenário, sem que o povo tenha direito de saber quem botou a mão na grana ou possa auditar a transação. Os engravatados das legislações não mostram a caderneta.

O título do Globo, hoje, é desses que "normalizam" a jogada. Não é só O Globo.  Nós  nos acostumamos com o surreal.  A boiada tanto passa, o trator também, que não surpreendem mais.

O jornal praticamente diz que "Orçamento secreto", pode, terá teto, ufa, mas só falta transparência. Ah, bom. Agora explica, como um orçamento secreto pode ter transparência?  Nunca pode. Não é feito para ser visto.

Resta constatar que o Brasil evolui: dinheiro na cueca, sujeito correndo com mochila cheia de milhões, malas rechonchudas de propinas, apartamento atulhado de pixulés, tudo isso fica no passado folclórico. 

"Orçamento secreto" é o cuecão no modo invisível. Com uma grande vantagem: não é detectável em aeroportos.

sábado, 27 de novembro de 2021

Joseph Pulitzer bem que falou...

por José Esmeraldo Gonçalves

O jornalismo deve muito a Joseph Pulitzer. O imigrante húngaro que chegou aos Estados Unidos com apenas 17 anos, combateu os confederados na Guerra Civil, trabalhou como carregador de bagagens e garçom antes de conseguir um emprego de repórter em um jornal dirigido à comunidade alemã. 

Foi o começo de uma carreira que o levou a editor e proprietário de um rede de jornais. As primeiras matérias investigativas da imprensa estadunidense foram pautadas pelos seus veículos. Pulitzer e seus repórteres denunciaram a exploração ilegal de trabalhadores, atuação de cartéis em vários ramos de negocios, combateram a corrupção e defenderam como poucos a liberdade de imprensa. 

O editor criou uma fundação exclusivamente para oferecer bolsas de estudos para jovens jornalistas. Seu nome é mais conhecido hoje por dar nome a um importante prêmio de imprensa, mas Joseph Pulitzer deixou muitas lições.  E nos legou uma frase que mais parece uma visão premonitória. 

"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica 

e corrupta formará um público tão vil como ela mesma". 

Ele morreu em 1911, há exatos 110 anos, sem conhecer TV, rádios e sites bolsonaristas. 

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Pandora Papers: o paraíso fiscal saúda a imprensa, pede passagem e sai de fininho

Cadê o escândalo que estava aqui? Sumiu. 

Os documentos obtidos pelo ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, na sigla em inglês), sediado em Washington D.C., nos Estados Unidos, alimentaram os chamados Pandora Papers. Mais de 600 jornalistas de 149 veículos de 117 países mergulharam nas águas turvas dos paraísos fiscais. No Brasil, você leu sobre isso no Poder360, que faz parte da investigação e revelou as contas offshores de empresários e autoridades, entre as quais o ministro da Economia Paulo Guedes. Os principais jornais do mundo integraram o consórcio que levantou as lebres fiscais. Nenhum do Brasil. The Washington Post, BBC, Radio France,  Die Zeit e a TV NHK, entre outros veículo questionaram suas autoridades e elites financeiras sobre a prática que, apesar do sol do Caribe, tem zonas de sombra.

Você deve terreparado que a grande mídia brasileira inicialmente ignorou o assunto. Deu um pouco mais de relevância dois ou três dias depois da revelação do Poder 360, mas aí com a conveniência, para eles, de destacar a defesa de Paulo Guedes. Mesmo assim, o assunto durou pouco nos véiculos dos grandes grupos. Lá fora, resultou até em demissões importantes de envolvidos. O ministro da Indústria da Espanha pediu o boné. O presidente de um banco austríaco saiu de fininho. o primeir-minostro da Islândia entregou o cargo.  No Brasil, se não acabou em pizza, foi saboreado com peixe crioulo, patacones e mojitos típicos do Caribe.

A falta de atenção da mídia conservadora aos Pandora Papers envolve uma curiosa coincidência: milhões de dólares de empresários do setor de comunicação estão hospedados nos paraísos fiscais onde curtem a dolce vita da desvalorização do real. Cada vez que a moeda brasileira desce a ladeira a fortuna de Paulo Guedes e dos donos da mídia citados pela investigação jornalística escalam o borderô offshore. 

Observem que aqui ou em qualquer país um ministro da Economia e a imprensa têm o poder intencional ou não de fazer oscilar o dólar. Um fala, a outra repercute. Revelações ou comentários em um dia e eventuais desmentidos 24 horas depois - e isso acontece com certa frequência - dão um sacode no dólar pra cima, pra baixo, pros lados, não importa. Digamos que um sortudo adivinhe essa gangorra e faça seu jogo no mercado com base, digamos de novo, na intuição. Vai se dar bem e comemorar nas redes sociais: "papai tá on", dirá. 

O nome disso é felicidade.  

Leia no Poder 360 a matéria sobre os barões de mídia no off shore. AQUI

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Andando em má companhia: jornalismo de mercado perde mais um "idolo"

por Flávio Sépia

Você certamente já viu o painel "Impostômetro" bancado pela elite empresarial paulista e muito badalado pelos oligarcas da mídia. Só seria verdadeiro se ao lado aparecessem os números do "Sonegômetro".

Nesse tipo de crime, o Brasil está entre os primeiros no mundo. E também é o que dá mais moleza. Tem empresário que sonegou, fez acordo, e hoje paga o imposto surrupiado em módicas prestações que vão se arrastar por até 50 anos ou mais. Já o assalariado não tem acesso ao maravilhoso mundo da sonegação: seu imposto é descontado na fonte.

Os jornalistas neoliberais, que exaltam o "mercado", têm uma especie de carência por certos empresários de "sucesso". De tempos em tempos elegem um "herói" corporativo e babam na gravata do sujeito.

Há dezenas de exemplos.

Para ficar em um dos mais recentes, Eike Batista foi um notório ídolo desse pessoal. O homem era capa de revista, era paparicado por colunistas, era o C.E.O pop dos jornais e revistas.

Marcelo Odebrecht foi outro. Era o "príncipe" baiano. Deu no que deu.

O empresário Ricardo Nunes virou notícia ontem. Foi preso acusado de sonegação e lavagem de dinheiro. Basta ir ao Google para ver como o sujeito foi idolatrado. Um "gênio" dos negócios. Lendo algumas dessas matérias antigas você sai com a impressão de que com uns 20 caras como o criador da Ricardo Eletro o Brasil poria a China e os Estados Unidos de joelhos.

Pois é.

Mas não se preocupe, a mídia não sentirá muita falta do seu "idolo" caído. Em breve, outros tycoons à brasileira surgirão e farão sucesso nas editorias de economia até que seus livros contábeis virem prontuários policiais.

Que tal, pra variar, eleger como heróis os empresários honestos?

Ele existem.

sábado, 13 de junho de 2020

Jornalismo: a mídia deve sempre ouvir os "dois lados" mesmo quando um desses lados é o fascismo?



por Flávio Sépia
Em artigo do jornalista Eric Alterman, The Nation analisa a cobertura que a grande mídia americana faz do governo Trump. Basicamente, questiona o mantra de "ouvir os dois lados". E quando ouvir.

Um tema, a propósito, em debate lá e cá. Recentemente, a CNN Brasil que costuma promover debates entre democratas e radicais da direita, deu espaço ao indivíduo foragido que foi acusado de participar de ato terrorista contra a sede da produtora do humorístico Porta dos Fundos.

O pretexto? Ouvir os dois lados.

O jornalismo deveria ouvir os dois lados na Alemanha nazista dos anos 1930? No fascismo de Mussolini? Na cobertura das atrocidades do Estado Islâmico? Deve optar pela "isenção" ou pela omissão? É a pergunta que se faz.

Trump trabalha deliberadamente com a mentira. Ao mesmo tempo, usa as redes sociais e os seus apoiadores,  os algorítimos de impulsionamento e uma tropa de robôs para lançar sobre o jornalismo profissional a pecha de produzir fake news contra seu governo. Alterman indica que a mídia "não tem experiência com uma situação como essa e não consegue descobrir como lidar com isso".

O artigo lembra que ao ser atacada por Nixon, nos anos 1970, idos do escândalo Watergate, a mídia virou o jogo. Hoje, diante de Trump, uma ameaça muitas vezes maior à democracia, não sabe como fazê-lo.

Alterman dá uma pista ao concluir que, na crise atual, o maior problema é que a mídia não consegue se decidir sobre uma questão fundamental ao cobrir  o governo Trump: "De que lado está?"

Agora, se você trocar algumas poucas palavras e contextos, a mídia brasileira se encaixa no dilema descrito acima. E por um motivo claríssimo, basta ler editoriais e colunistas. Desde o começo dessa tragédia brasileira, ainda na campanha eleitoral, a mídia conservadora tenta um equação impossível: desconfiar de Bolsonaro e até lhe fazer oposição pontual, mas apoiar incondicionalmente a política econômica de Paulo Guedes. Apesar de externar ideias semelhantes às do chefe - inclusive aquelas antidemocráticas (já defendeu o AI-5, lembram?) e de admitir em reunião pública que já esta trabalhando pela sua reeleição, Guedes segue à margem das críticas nos jornalões apesar de não ter mostrado resultados na economia, mesmo antes da pandemia.

De que lado a mídia brasileira está?

Para ler a matéria do Nation, clique AQUI

quinta-feira, 19 de março de 2020

Mídia: redações em tempo da Covid-19

por Júlio Lubianco (do blog Journalism in The Americas) 
* Com colaboração de Teresa Mioli

Na medida em que o novo coronavírus se espalha pela América Latina, redações da região adotam medidas para prevenir o contágio e proteger suas equipes. Entre elas, colocar jornalistas que chegaram recentemente do exterior em quarentena, evitar apurações presenciais e, quando possível, adotar o home office.

Na América Latina, o primeiro caso do novo coronavírus foi registrado no Brasil, em 26 de fevereiro. A primeira morte ocorreu na Argentina, em 7 de março. Este mapa da Americas Society/Council of the Americas mostra a atual contabilidade de casos na região e mostra que a doença já está presente em praticamente todos os países.

O presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol), Christopher Barnes, recomendou aos veículos de mídia da região a implementar e observar os parâmetros de referência do protocolo de saúde. Em nota, ele escreveu:

“Lamentavelmente, diferentemente de nossos colegas do setor privado, estamos na linha de frente deste campo de batalha e não podemos encerrar completamente as operações. Não devemos subestimar as preocupações de nossa equipe com relação à exposição; empatia, comunicação e transparência no que diz respeito a isso ajudará bastante a mantê-los motivados a realizar seu trabalho crítico”.

No Brasil, os maiores jornais do país, como Folha, Estadão e O Globo, vêm adotando medidas preventivas, enquanto buscam manter o padrão da cobertura da crise. O maior país da região também tem a maior quantidade de casos do novo coronavírus.

Nesta terça 17 de março, o primeiro caso do novo coronavírus foi confirmado na Editora Globo, que edita os jornais O Globo e Extra, além da Revista Época e outras publicações. As medidas de prevenção começaram na semana anterior. Desde a sexta-feira, dia 13, os funcionários foram orientados a trabalhar de casa quando possível. O diretor de redação do Globo, Alan Gripp, estima que 40% da redação esteja nesta situação, o que ele acredita que deve aumentar nos próximos dias.

“Por ora, disponibilizamos máscaras para aqueles que se sentirem mais seguros, embora especialistas apontem que o uso só é recomendado para pessoas com sintomas. Também estamos adquirindo outros equipamentos sugeridos em protocolos internacionais montados para a cobertura da pandemia. Mas, como regra geral, evitaremos expor nossos funcionários a risco,” disse Gripp ao Centro Knight.

Na Argentina, todos os veículos do grupo Cimeco iniciaram nesta semana a testar um modelo de trabalho remoto em suas redações. A empresa edita os jornais La Voz del Interior (Córdoba), Los Andes (Mendoza), a revista Rumbos e o portal Vía País. O diretor editorial do grupo, Carlos Jornet, informou ao Centro Knight que as redações devem se tornar remotas quase que na totalidade nos próximos dias.

“Por enquanto, estamos realizando testes-piloto nos quais aproximadamente um terço da equipe das edições impressas trabalha todos os dias em casa. No caso de sites, em alguns deles a tarefa toda é remota. E em outros, apenas editores-chefes vão à redação,” disse Jornet.

Ele admite que um dos desafios é manter os níveis de qualidade e quantidade de reportagens e artigos enquanto essas medidas são implementadas.

“Na medida em que se restringe a circulação é restrita e o número de casos em nossas áreas de cobertura cresce, aumenta também a preocupação daqueles que precisam trabalhar em áreas críticas, como hospitais, laboratórios onde são realizados testes e aeroportos. Isso inclui jornalistas e fotógrafos. E para isso, desenvolvemos protocolos de ação que estamos começando a implementar,” disse.

Também na Argentina, o Diário Huarpe, de San Juan, iniciou nesta semana a adotar medidas de prevenção ao novo coronavírus. O próprio chefe de redação, Abel Escudero Zadrayec, está de quarentena obrigatória depois de voltar de viagem aos Estados Unidos.

“Existem várias ferramentas para fazer uma tarefa decente, mantendo a 'distância social': desde ligações telefônicas até redes sociais, serviços de mensagens e coleta de informações por outros meios (rádio, TV, sites etc.). Se houver algum caso especial, aplicamos os mecanismos de proteção recomendados pelos especialistas,” disse Zadrayec ao Centro Knight. "Até agora, não detectamos um impacto negativo. A redação do Diário Huarpe redobra seus esforços em tempos críticos para continuar a servir o público com jornalismo ético e de qualidade. Esse é o nosso mandato inalienável."

Na Colômbia, um dos maiores jornais do país, El Espectador, colocou quase todos os funcionários para trabalhar de casa, segundo o gerente digital Edwin Bohórquez Aya: “A maioria de nós está de home office por razões de saúde pública. Vale mesmo para design e correção de estilo, pois os jornalistas já estão acostumados.”

Além dos veículos tradicionais, muitas dos novos meios digitais que nasceram nos últimos anos na América Latina também estão adotando medidas preventivas. É o caso no Brasil, de Agência Pública, JOTA e Congresso em Foco. Os três estão com 100% das suas redações fechadas. No caso do Congresso em Foco, especializado na cobertura do Legislativo federal, os jornalistas estão proibidos de entrar no Congresso:

“Desde quinta-feira [12 de março], saímos do Congresso e, não voltamos mais, nem vamos voltar até passar o risco. A gente tem um acesso bom aos políticos, às fontes que a gente precisa, que são os parlamentares e seus assessores. (...) O Congresso representa um risco muito grande. Os parlamentares viajam muito, abraçam, beijam, pegam [crianças] no colo. É uma atividade de contato com o público,” disse ao Centro Knight Sylvio Costa, fundador e editor-chefe do site.

No JOTA, que cobre todos os ramos do governo, a medida foi facilitada pelo fato de a empresa, que tem cinco anos, já ter uma cultura forte de trabalho remoto, incluindo as suas principais lideranças. Apenas recentemente as redações de São Paulo e de Brasília se mudaram para um espaço próprio – até então, vinham trabalhando em co-workings.

“Nosso time de repórteres em Brasília fica nas instituições que cobre. Esse é o caso mais difícil de solucionar. Nossa orientação, enviada na semana passada, é para que todos trabalhem de casa e que as exceções sejam analisadas individualmente,” disse ao Centro Knight Felipe Seligman, sócio-fundador do JOTA e também Chief Revenue Officer. Ele disse também que como algumas das instituições cobertas pela equipe também suspenderam suas atividades, então a cobertura priorizará informações de bastidores e outros assuntos relacionados ao novo coronavírus.

Na Agência Pública, a principal medida foi suspender o trabalho na redação desde segunda-feira, dia 16 de março. “O mais importante, além da saúde da nossa equipe, é cumprirmos o nosso papel social para evitar que o pico do COVID seja tão prejudicial como foi em outros países afetados. Estamos focando nossa cobertura investigativa no tema, em especial em termos de dados, mas tudo está sendo coordenado remotamente. Pretendemos manter o ritmo e a qualidade das publicações desta maneira,” disse Natalia Viana, fundadora da Pública, ao Centro Knight.

Em La Voz de Guanacaste, da Costa Rica, a equipe de nove pessoas também foi orientada a trabalhar de casa. A ideia, assim como em outros meios, é testar como funcionará a produção remota e identificar e ajustar falhas que encontrem pelo caminho. No entanto, a diretora executiva Emiliana García antecipa um aumento de gastos não previstos caso a crise se prolongue: “Os jornalistas, ao trabalharem de casa, estão usando seus próprios telefones celulares e conexão à Internet, o que representa uma nova despesa que o La Voz vai cobrir e que não está dentro do nosso orçamento.,” disse ela ao Centro Knight.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Mídia: jornalistas brasileiros têm hora marcada para sofrer assédio moral. Todo dia, na "coletiva" do escracho.

Foi cena recorrente em 2019. É uma espécie de calvário.

Jornalistas que são escalados para cobrir aquela paradinha abjeta em forma de "coletiva" que Bolsonaro oferece à nação todo dia, no portão do Alvorada, já saem das redações sabendo que vão para um cercadinho ser xingados, que as mães serão ofendidas, que ouvirão gritos, palavões e grosserias.

E, por tabela, também serão moralmente agredidos e ameaçados pela claque que é incentivada a aplaudir cada xingamento como se estivesse no auditório do Ratinho, do Datena ou do Sílvio Santos.

A culpa é do Bolsonaro? Claro, essa é a política oficial de comunicação. Mas o capitão inativo não é o único responsável pela cena deplorável de todas as manhãs. Os principais veículos têm coparticipação no espetáculo de assédio moral diário. Editores de fino trato continuam enviando os jornalistas para o curral da vergonha, com se mandassem gado para o abate.

Se fossem solidários, coleguinhas mais empoderados, como colunistas políticos e de mercado, articulistas fixos e convidados, editorialistas, âncoras de telejornais etc deveriam se voluntariar para substituir os pobres repórteres na "coletiva" do escracho, pelo menos durante um ou dois dias na semana.

Já tem plantonista apelando para o espírito cristão.

Afinal, tem mãe de jornalista que não aguenta mais ser esculhambada pelo presidente. 

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Mídia: Jornal Nacional X Bolsonaro, o caso que virou 'case'

A guarita que virou notícia. Reprodução Twitter
por José Esmeraldo Gonçalves

Sob qualquer ângulo, o embate entre a Rede Globo e Jair Bolsonaro tem seu lugar garantido como objeto de estudo em salas de aulas das faculdades de Comunicação e Direito.

Virou "case". Há lambanças para todos os gostos e apetites.

Do ponto de vista jornalístico, o Jornal Nacional acertou e errou sobre o que aconteceu no Condomínio Vivendas da Barra no dia 14 de março de 2018, não por acaso o dia em que a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram assassinados no Estácio, bairro da zona Central do Rio de Janeiro. É fato que não mentiu: existe a declaração do porteiro, segundo a qual um elemento suspeito de participar do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes pediu acesso à casa do então deputado, obteve autorização de "Seu Jair", mas se dirigiu para a residência de outro suspeito de participar do atentado à vereadora. A Globo também informou, na mesma matéria, que havia uma contradição: naquele dia dia e hora Bolsonaro estava em Brasília e não poderia autorizar a entrada de quem quer que fosse. Pelo menos não via interfone, acrescente-se.

O Jornal Nacional tem o argumento válido de que apenas noticiou um fato e se baseou em informações colhidas em um inquérito policial. Mas qualquer jornalista sabe que editar um jornal ou uma revista é fazer escolhas. Determinados fatos são noticiados, outros não. Os motivos podem ser muitos, entre os quais questões políticas, ideológicas, comerciais, religiosas, pessoais e até jornalísticas.

Aquele fato envolvendo o Condomínio Vivendas, era, para os editores do JN, uma notícia importante. Pelo que se sabe, a Globo teve acesso a um documento vazado. Se todo fato deve ser exaustivamente apurado antes de ser noticiado, uma pauta vazada, mais do que qualquer outra, deve ser investigada. Até por cautela. Vazou porque? Quem teve interesse em vazar? A quem serve o vazamento? Quais as circunstâncias? Aparentemente, o JN não verificou o fundo desse poço.

Para grande parte da audiência, o vídeo de um Bolsonaro emocionalmente descontrolado e, em seguida, a divulgação dos arquivos de áudio do controle de entradas de pessoas no condomínio onde mora o ex-deputado funcionaram como um eficiente "desmentido". A gravação mostraria que o porteiro teria obtido autorização para a entrada do visitante diretamente ao morador da casa 65, a de um dos suspeitos de matar Marielle, e não com a casa 58, a do Bolsonaro.

Talvez tenham sido negligentes por força de um hábito recente. Ao longo de anos de divulgação de denúncias contra o ex-presidente Lula, a palavra de delatores, os vazamentos selecionados da Lava Jato e até pré-combinados com a força-tarefa - como mostram os conteúdos do grupo do Telegram dos revelados pelo Intercept - chegavam em proporções industriais às mesas do Grupo Globo e eram rapidamente embrulhados e oferecidos aos fregueses. A máquina institucional dos governos do PT, que isso seja reconhecido, não foi posta a serviço dos então presidentes Lula e Dilma, ou de qualquer ministro da época, para intimidar ou conter jornalismo ou a própria investigação da Lava Jato ou do Mensalão. Para obter desmentidos, os alvos dessas etapas tiveram que recorrer à justiça, um direito que a lei dá a todos os cidadãos. Bolsonaro, ao contrário, agiu rapidamente. Mobilizou instituições de Estado como se fossem suas. Acionou publicamente o ministro da Justiça, que tem a PF sob seu guarda-chuva, o Advogado Geral da União, a Procuradoria Geral da República e o MPRJ. Em poucas horas, o caso, pelo menos no que se refere a Bolsonaro, foi aberto e arquivado pela PGR e perícias teriam sido realizadas. Ao mesmo tempo, um dos filhos de Bolsonaro revelava os áudios da portaria do condomínio.

Com a velocidade de um Fórmula 1 em retas, respostas foram obtidas e o grande "culpado", o porteiro, foi logo apontado e praticamente "sentenciado".  Se o Caso Marielle se aproxima de dois anos sem todas as respostas, o Caso Condomínio foi velozmente autopsiado. E se o MPRJ, a Polícia Civil, o STF já tivessem essas respostas prontas no inquérito, então quem vazou o documento para o JN entregou apenas parte do material e deixou o filé ao ponto  - os áudios - para a mesa de outros  interessados.

Apesar dos indícios de ligações perigosas entre o clã no poder e os poderes de alguns milicianos, inclusive de óbvia vizinhança e de relacionamentos públicos, o JN, pela precipitação, acabou dando a Bolsonaro a chance de exibir para suas tropas de choque uma espécie de "atestado de boa conduta". Nesse caso específico, ressalte-se.

Faltou jornalismo investigativo, sobrou o vício do jornalismo declaratório, aquele que se contenta com documentos e aspas oficiais ou oficiosas e simplesmente os passa adiante.

Ainda há tempo de corrigir a mancada. Há muito a apurar. Mas há que tirar os repórteres, os bons repórteres, do ar condicionado.

Resta observar que nunca tantas e tão convictas autoridades apontaram o dedo-duro tão rapidamente para um porteiro. E o funcionário do Vivendas da Barra jamais imaginou que sua guarita seria atingida por um poderoso míssil político.