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sábado, 5 de março de 2016

Na luta pela sobrevivência, tem jornal impresso virando casa de apostas e agência de turismo


por Ed Sá
Para assegurar "um futuro sustentável a longo prazo", o inglês The Sun vai passar a funcionar como empresa de apostas e operador de agências de viagens, além de produzir notícias. Isso mesmo que você leu e é o que diz o jornal português Diário de Notícias.
Não se trata apenas de uma metamorfose restrita ao tradicional jornal inglês. Em todo o mundo, a mídia impressa busca alternativas. Haja criatividade. A mídia brasileira tem optado por soluções mais convencionais. Brindes, produção de conteúdo patrocinado e eventos. No momento, a estratégia mais comum nos grandes jornais brasileiros é a produção de eventos e seminários sobre os mais variados temas. Em um momento de crise, com o governo federal cortando verbas, os jornais do eixo Rio-SP têm se beneficiado do Sistema S, o patrocinador mais visível dessa proliferação de seminários e debates.  O outro eixo são os publieditoriais encomendados. Os principais veículos brasileiros criaram estúdios especializados em criar matérias com aparência jornalística para promover produtos do cliente. Nesse fim de semana mesmo, algumas revistas e jornais foram engajados em uma grande ação da Netflix de promoção ao lançamento do seriado House of Cards. Francis J. Underwood, interpretado por Kevin Spacey, está bombando na web em páginas e capas simuladas

Mas o caminho escolhido pelo The Sun é inovador. Em um país com grande tradição de apostas - cerca de 15 milhões de pessoas apostam regularmente -, o jornal certamente escolheu uma estratégia que direta ao seu público. Trata-se de uma parceria com o futebol inglês e a casa de apostas australiana Tabcorp para lançar Sun Bets, as apostas do Sun. Leia o jornal mas faça o jogo, é o mapa do caminho do Sun para sair do buraco.

O jornal também se tornará operador de turismo, aproveitando a divulgação dos seus cadernos de viagens. Em vez de publicar elogios sobre determinados destinos para onde vai "a convite", apenas em troca de passagens e hospedagens, deixando que agências de viagens faturem com a grana do seus leitores viajantes, o jornal montou sua própria estrutura de vendas de passagens e hospedagens.

Faremos qualquer negócio, parece sinalizar o editor. Não há dúvida de que os jornais vão continuar vendendo informação mas vão ser amparados, a cada dia mais, por novas plataformas de negócios. Especula-se que, no momento, as grandes corporações da mídia brasileira, com os juros nas alturas, como defende em editorias, está faturando mais no mercado financeiro do que nas suas atividades-fins. Mas essa é outra história. Falamos aqui, nessa análise, apenas do que diz respeito aos leitores.

Na verdade, imagine, apenas para ilustrar a nova era, que a velha mídia nada mais fará do que imitar simbolicamente o jornaleiro da esquina. O "italiano" que vendia basicamente jornais e revistas foi obrigado a transformar seu quiosque em ponto de venda dos mais diversos produtos: de refrigerante a recarga de celular, de brinquedos a doces e balas, de máscara de Cerveró a remédio pra queda de cabelo. É isso: não tá fácil pra ninguém.

CAMPANHA DA NETFLIX (HOUSE OS CARDS) EM REVISTAS E JORNAIS BRASILEIROS