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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Lado a lado com um setentão

por Nelio Barbosa 



Século 21, ano 2012. Quanta diferença! Qualquer pessoa com mais de 60 anos vai se lembrar, com saudade (?), dos detalhes e das diferenças (que diferenças!) entre os costumes e o modo de viver do jovem do século 20 e dos jovens dos dias de hoje. Estou falando da classe média, gente como a gente, que trabalha, lê, estuda, se aposenta, vive com dificuldade, enfrenta problemas de todos os modos e sentidos. A começar pelos shoppings. Antigamente não existiam e os lanches que, hoje, ficam na sua maioria restritos às pizzas, hamburguers e batatas-fritas com refrigerantes, naquela época se resumiam a café-com-leite e torrada de pão Petrópolis, mate gelado, refresco de abacate etc. Na Lapa existia um botequim onde, quando eu chegava com meu pai, o garçom, que já nos conhecia, ia pondo na mesinha as duas “médias” tradicionais, queijo branco com goiabada e dois copos d’água. Em tempos difíceis, era uma extravagância... Havia a Cavê e a Colombo, mas eram muito caras para nossos padrões. Um casal de idosos que se aventure a ir a um shopping, hoje, tem que se conformar em comer as iguarias que existem, enfrentar filas, empurrões, e uma luta desigual com os garotos e garotas, todos querendo ser os primeiros no atendimento.
E nos cinemas? Na bilheteria, a jovem atendente olha para nossas identidades e parece pensar: esses velhos não têm mais nada para fazer do que ocuparem o espaço das pessoas “normais”? Velhos são minoria nas filas dos cinemas. E os filmes? No nosso tempo, assistíamos, “O Homem que Sabia Demais” (com a canção Que será, será”, entoada por Doris Day, lembram?) , “E o Vento Levou”, “A dor de uma saudade”, “Dançando na chuva”... Hoje, muita violência, muitos efeitos especiais, muito computador, e olhe lá. Não tem escolha! O som é ensurdecedor. Mas tem o pacotão de pipocas...
Não se pode negar que as facilidades aumentaram: a escada rolante, lojas bonitas, limpas, com um visual belíssimo, um pouco mais de segurança, porém um convite aos gastos necessários e desnecessários. Haja dinheiro... O que assusta são as placas de aviso de piso molhado, às vezes vistas depois do tombo, sem tempo para pensar...

Eu sou do “tempo do onça”, dos bondes abertos. No Carnaval era a batalha de “lança-perfume” e confete, tempo do Hi-Life, na Glória, verdadeiro escândalo na época, da zona do Mangue. O vai-e-vem na Av. Rio Branco, que continua até hoje, porém com muito mais gente. O primeiro jogo de futebol a que assisti foi América 6 x 0 Bonsucesso, na Av. Teixeira de Castro. Fui de trem, com meu pai. Ele era América e tentava fazer com que eu também torcesse pelo América, e quase conseguiu, até o dia que assistindo um treino do América Jr. levei uma bolada no nariz e desmaiei; nunca mais fui ao Andaraí, campo do América que tinha na sua equipe: Vicente, Domício e Grita, Oscar, Dino e Amaro, China, Maneco, Cesar, Lima e Jorginho. Sou do tempo em que o goleiro do Flamengo era o Luiz Borracha, Newton e Norival, Biguá, Bria e Jaime, Adilson, Zizinho, Pirilo, Perácio e Vevé.
Havia o Trampolim do Diabo, descida da Barra, ponto de encontro das antigas corridas de “baratinhas” onde o“cara” era o Chico Landi. Na música: Orlando Silva, Sílvio Caldas e Dalva de Oliveira e Emilinha Borba. Hoje tem o Michell Teló... Na política: Getúlio Vargas. Sou do tempo da PRK-30, dos impagáveis Lauro Borges e Castro Barbosa, das novelas da Rádio Nacional, do “Direito de Nascer”, do “Suplício de uma Saudade”, da Ísis de Oliveira, da Ismênia dos Santos, do Roberto Faissal, do Paulo Gracindo...do Repórter Esso, da Rádio Sequência G3, dos Espetáculos Tonelux! 
Sou do tempo da Brilhantina, da Glostora e do Gumex. Sou do tempo em que só mulher usava brinco. Tempo em que Coca era só um refrigerante e picada era injeção na bunda. Bicha era feminino de bicho. A grande verdade é que todos serão velhos um dia, Como dizia meu pai, "a velhice é inevitável".  Quando somos jovens, a preocupação não é muito grande, afinal somos jovens, fortes, temos disposição para tudo, às vezes nem damos conta que o tempo passa rápido e que o presente, amanhã já é passado e com o passar dos anos os problemas de saúde e físicos que só aconteciam com os mais velhos, passam a acontecer conosco.
Lembro dos colegas das redações como eram e vejo como estão agora. Todos velhos, carecas ou de cabelos brancos, as meninas um pouco mais em forma. Todos acham que ganharam em “experiência”. Começo a me perguntar: “Que sacanagem fizeram conosco! ”. Em tão pouco tempo... Comigo começaram a aparecer os cabelos brancos, as primeiras rugas, a cabeleira começou a rarear, principalmente ali, na "grande área". O que fazer? Começamos a ter lapsos de memória, sinal de que o Alzheimer está a caminho. Problemas com a próstata, a ereção, e tudo ao mesmo tempo...” E os carros? Cada vez mais velozes. Lembro do Citröen do Ezio, que adorava um “empurrãozinho” e do meu Apolo, que não pode passar por uma oficina, se estiver com a porta aberta, ele entra... Na rua, as pessoas olham para o meu carro com uma pontinha de curiosidade... A expectativa de vida do brasileiro é de 72 anos. Estou com 74, logo já estou devendo. A saúde começa a dar sinais de contagem regressiva e temos que ser rápidos, a fila está andando. Enfim, “C’est la vie”. Chega de saudosismos! O mundo é dos jovens, com suas formas de viver, suas preferências, seus ídolos, suas roupas, suas “pizzas” , a tecnologia fantástica de hoje, seus filmes e manias. Do nosso tempo, ficam a saudade e a lembrança das coisas boas de uma longa vida, que se esvai, enfrentando os novos tempos com disposição e coragem. No Natal não esqueça de dar para a sua esposa, que continua “um broto, há muito tempo”, um vidro de Alfazema, (dos grandes) ela vai adorar... (Nelio Barbosa Horta, de Saquarema)