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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Um pirulito para disfarçar

por Eli Halfoun
Sabe quando você não dá ou faz tudo o que o seu filho precisa e depois para compensar a própria culpa passa a mão na cabeça dele e oferece um pirulito como se isso fosse o máximo. É mais ou menos assim que o governo age em relação aos negros toda vez que se criam cotas ou planos especiais na tentativa de compensar as oportunidades sociais que sempre lhe foram de uma forma ou de outra negadas. Primeiro foram as cotas nas Universidades. Agora o governo anuncia, através do Ministério do Trabalho, a implantação a partir da próxima semana do Plano de Qualificação Profissional com recorte social e racial.
A promessa (promessas, sempre elas) é a de capacitar 25 mil negros que estão desempregados nos 26 estados e no Distrito Federal. Minas Gerais, Rio de Janeiro e Matogrosso oferecerão 6.945, 3.860 e 2.940 vagas, respectivamente, o que é uma pequena esmola em ralação ao número de desempregados (negros e brancos) que o país acumula como se fosse um troféu. O Planseq oferecerá, entre outros, cursos de carpinteiro, mecânico de motos, borracheiro, eletricista, operador de telemarketing, recepcionista, gerente de supermercado e cuidador de pessoas com doença falcifone – a doença mais comum da população brasileira, que diminui a circulação provocando dor e destruição dos glóbulos vermelhos. A doença acomete principalmente a população negra.
Deixa ver se entendi: quer dizer que só terá chance nos cursos oferecidos pelo Planseg o negro que teve a sorte de estudar, na infância, pelo menos um pouquinho, o que sabemos não acontece. Os que não tiveram a sorte de ir ao colégio nem para comer merenda continuarão convivendo com o terrível fantasma do desemprego e da falta de capacitação profissional que, aliás, não precisaria de cotas e muito menos de plano especiais (geralmente demagógicos) se desde a infância lhes dessem o direito de ser, como se diz popularmente, alguém na vida. Não é um favor. É obrigação do governo. Qualquer governo.
Deixa ver outra vez se entendi: doenças genéticas não costumam ter cura, mas é claro que podem ser retardadas e tratadas desde o início. Então, não é hora de mobilizar também o Ministério da Saúde: não adianta muito criar capacitação para a conquista de empregos (não esqueçam, por favor, de criar também os empregos) se o cidadão negro estiver doente e, portanto, não puder trabalhar.
Nada contra a criação de planos para, enfim, olhar para os negros com mais atenção, mas não será dando um “pirulito” e criando cotas que os problemas serão resolvidos agora e no futuro. Daqui a pouco vão querer criar cotas para os negros até nas escolas de samba.