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sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

PSG e Istambul Basaksehir fazem história ao parar o jogo em protesto contra o racismo. Desde 2014, furar a bola diante de ofensas raciais já deveria ser uma forma de luta

 

O post acima foi publicado aqui há mais de seis anos, após um caso de racismo no futebol brasileiro. 

Ao parar o jogo e deixar o campo -  depois do quarto árbitro, o romeno Sebastian Coltescu, proferir ofensa racial a Pierre Webo, ex-jogador e assistente técnico do time turco - PSG e  Istanbul Basaksehir fizeram história. 

A efetiva reação dos jogadores ao racismo no futebol pode alertar dirigentes,. Que caiam na real e finalmente aprendam que apenas "campanhas educativas" não são suficientes para reprimir um crime. 

A frase de Coltescu  - "aquele negro ali" - ecoou no estádio vazio em função das restrições impostas pela pandemia. Liderados inicialmente por Demba Ba, ao qual se juntaram Neymar e Mbappé, os jogadores abandonaram o gramado. O jogo só foi concluído no dia seguinte, com a substituição do quarto árbitro. 

Em 2014, Aranha foi alvo de racismo em jogo na Arena do Grêmio. O goleiro fechava o gol na vitória do Santos por 2x0 sobre o gaúchos, quando uma torcedora gremista o chamou de 'macaco". Ele tentou parar o jogo, o árbitro não o ouviu, os demais jogadores apenas mostraram solidariedade. E bola que segue. Leia, abaixo, no destaque, o nosso post publicado na época.

Já há alguns anos, este blog se manifesta favorável a uma campanha para sensibilizar os jogadores de futebol a interromper a partida sempre que vierem das arquibancadas ofensas racistas. Sentam na bola e esperam a polícia e os cartolas agirem, identificarem os racistas, botarem os canalhas pra fora e prendê-los devidamente.
Obviamente, esse tipo de campanha não vai partir de jornais, TVs e emissoras de rádio que têm interesses no futebol. O goleiro Aranha bem que tentou parar o jogo mas o juiz fingiu que não ouviu. Os colegas demonstraram solidariedade mas seguiram tocando a bola.
Um jogador sob bombardeio de ofensas e até de objetos lançados por racistas perde as condições psicológicas para continuar jogando, pode até perder a cabeça, partir para as arquibancadas e tentar resolver a questão no braço. E, se o fizer, não poderá ser criticado por isso. Retirá-lo de campo é premiar o racismo. Então, só resta uma atitude decente e segura: interromper o jogo.
A sociedade tem que se mexer. O Bom Senso Futebol Clube também. Chega de campanhas, faixas, apelos. Já se viu que nada disso tem funcionado. Ou a lei é imposta ou o Brasil, a CBF, a Fifa e as Federações estaduais, além dos dirigentes do clubes, Ministério dos Esportes, ministério da justiça, Ministério Público, seremos todos cumplicies de racismo.

Mas será longo o caminho, apesar da atitude dos jogadores do PSG e do Istanbul Basaksehir. Na última terça-feira, 8, no jogo do Palmeiras contra o Libertad, o atacante Rony se ajoelhou no gramado em apoio a Webo e à luta antirracista. A Conmebol ameaça multar o Palmeiras. Alega que o gesto de Rony fere o regulamento da Libertadores, que condena manifestações políticas, comerciais, pessoais, religiosas... Essa última categoria, contudo, não é objeto de ameaças de multa. Jogadores religiosos praticam o exibicionismo da fé, rotineiramente, em campo, sem contestação da cartolagem.  

Parar o jogo até que os racistas sejam identificados e presos é uma arma poderosa. Que essa tenha sido apenas a primeira vez e que os jogadores, a partir de agora, "furem a bola" a cada ofensa racista. 

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Fifa avança no combate ao racismo no futebol. A partir de 15 de julho, o árbitro poderá encerrar a partida em caso de ofensas...

A Fifa anunciou ontem mudanças no código que disciplina o futebol profissional em todo o mundo. A novidade que era mais esperada é um artigo que inova no combate ao racismo. A partir deste  15 de julho, o árbitro poderá encerrar uma partida e punir com derrota o time responsável por incidentes racistas.

Antes da medida extrema, haverá um anúncio no estádio solicitando que os torcedores parem com ofensas racistas. Se persistirem, a partida será suspensa temporariamente. Caso continuem, vem o encerramento e a perda de pontos para o clube cuja torcida profere os xingamentos. Serão punidas discriminação por motivo de raça, cor da pele, origem étnica, nacional ou social, gênero, deficiência, orientação sexual, religião, opinião política ou qualquer outra condição e razão". O novo Código Disciplinar da Fifa entrará em vigor a partir do dia 15 de julho deste ano.

É um passo, mas falta muito ainda. Por exemplo, exigir que o clube responsável por atos de racismo implante meios (câmeras de vigilância e seguranças) para identificar os agressores no estádio e chame a polícia. Outra questão em pauta é o fim da impunidade. Raramente torcedores racistas são presos em flagrante ou processados pelos seus atos. É preciso que esses casos sejam levados às delegacias de polícia e se transformem realmente em processos judiciais com as penas previstas em lei e principalmente que os agressores sejam penalizados também com indenização ao jogador vítima das ofensas..

segunda-feira, 21 de março de 2016

Impunidade favorece racismo no futebol

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Racismo em jogo no Uruguai. Torcedor do Nacional, de Montevidéu (de camisa vermelha) imita um macaco diante do jogador do jovem jogador do Palmeiras. Gabriel Jesus.  Reprodução
por Flávio Sépia
O Palmeiras foi jogar no Uruguai e um dos seus jogadores, Gabriel Jesus, foi vítima de manifestação claramente racista. Fotos e vídeos mostram um torcedor do Nacional imitando um macaco na frente do atacante brasileiro. O Palmeiras denunciou a agressão.

O presidente do Tribunal de Disciplina da Conmenbol é o brasileiro Caio Cesar Vieira, que também é presidente do Superior tribunal de Justiça Desportiva. Mesmo sem ver as imagens, ele declarou à imprensa que o clube uruguaio não perderá os pontos. Segundo ele, a punição deverá sr uma multa ou um jogo de portões fechados para a torcida uruguaia.

Previsível. Nem a Conmenbol nem a CBF dão muita bola para as agressões racistas em estádios de futebol. No Brasil, o Grêmio chegou a ser afastado de uma Copa do Brasil, mas recorreu e a punição virou um simples multa.

A Confederação Sul-Americana de Futebol tem um histórico ainda mais tolerante e jamais puniu um clube cujo torcedor tem praticado ofensas racistas.

O Palmeiras divulgou uma nota:  “A Sociedade Esportiva Palmeiras vem a público para repudiar os atos racistas cometidos contra o atleta Gabriel Jesus na noite da última quinta, em Montevidéu. O clube reitera que condena quaisquer práticas que discriminem seres humanos por sua raça, cor, etnia, religião, gênero ou procedência nacional. Informamos que, por meio do delegado da partida, encaminhamos as imagens para a Confederação Sul-Americana de Futebol a fim de que se tome as providências cabíveis''. 

Caio Cesar informou aos jornalistas que por ser brasileiro e o caso envolver um conterrâneo, ele não participará do caso, assim como o vice-presidente do tribunal, um uruguaio. Se virar um processo a questão será julgada por um boliviano, um chileno e um colombiano.

Contra o racismo, a CBF, a Fifa, a Conmebol, a Uefa (entidades envolvidas em graves denúncias de corrupção e propinas) e demais confederações se limitam a fazer campanhas que já demonstraram ineficácia. Os casos de racismo em estádios são crescentes.

Enquanto não houver uma legislação que permita a punição imediada (como obrigação de câmeras de vigilância em todos os estádios que obriguem o delegado da partida e o juiz a paralisar o jogo até que o (s) racista(s) sejam retirados e que seja entregue às autoridades sem prejuízo de punições esportivas aos clubes que fazem vista grossa a tais elementos, nada vai mudar nessa vergonhosa mancha no futebol.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Racismo no futebol: Alô, jogadores, hora de sentar na bola e parar o jogo...

por BQVManchete
Já há alguns anos, este blog se manifesta favorável a uma campanha para sensibilizar os jogadores de futebol a interromper a partida sempre que vierem das arquibancadas ofensas racistas. Sentam na bola e esperam a polícia e os cartolas agirem, identificarem os racistas, botarem os canalhas pra fora e prendê-los devidamente.
Obviamente, esse tipo de campanha não vai partir de jornais, TVs e emissoras de rádio que têm interesses no futebol. O goleiro Aranha bem que tentou parar o jogo mas o juiz fingiu que não ouviu. Os colegas demonstraram solidariedade mas seguiram tocando a bola.
Um jogador sob bombardeio de ofensas e até de objetos lançados por racistas perde as condições psicológicas para continuar jogando, pode até perder a cabeça, partir para as arquibancadas e tentar resolver a questão no braço. E, se o fizer, não poderá ser criticado por isso. Retirá-lo de campo é premiar o racismo. Então, só resta uma atitude decente e segura: interromper o jogo.
A sociedade tem que se mexer. O Bom Senso Futebol Clube também. Chega de campanhas, faixas, apelos. Já se viu que nada disso tem funcionado. Ou a lei é imposta ou o Brasil, a CBF, a Fifa e as Federações estaduais, além dos dirigentes do clubes, Ministério dos Esportes, ministério da justiça, Ministério Público, seremos todos cumplicies de racismo.
O site Viomundo publica um texto bem fundamentado sobre o assunto. Leia.

RACISMO, FUTEBOL E O LIVRE MERCADO DO ÓDIO
por Silvio Luiz de Almeida*
Os gritos de “macaco” e “preto fedido” dirigidos ao goleiro Aranha, do Santos – um dos poucos goleiros negros nos times de ponta do futebol mundial – colocaram, mais uma vez, o racismo no esporte no centro do debate público.

Vítima de ofensas racistas por parte da reincidente torcida do Grêmio, Aranha contou em entrevista concedida após o fim da partida que tentou alertar o árbitro, mas foi ignorado. Na súmula do jogo não foi feita menção ao episódio e o assistente, por sua vez, relatou que “nada houve de anormal”.

Assim que o caso ganhou repercussão nacional, as reações do público, da imprensa e das entidades esportivas seguiram o scriptusual: declarações de dirigentes, treinadores e jogadores condenando a atitude racista da torcida do time gaúcho; o árbitro emendando posteriormente a súmula para incluir o ato racista, com o intuito de se precaver de críticas e de eventual responsabilização jurídica; o linchamento moral de uma torcedora em particular que, para seu azar, foi flagrada pelas câmaras de TV enquanto gritava na direção do goleiro santista.

A isso se seguiram reportagens mostrando o quanto a atitude da jovem torcedora gremista surpreendeu seus “amigos negros” (nestes casos, quase sempre aparecem amigos negros para relativizar o racismo), além, é claro, de especulações sobre como a justiça desportiva trataria “esse” caso, como se casos de racismo fossem ocorrências inusitadas.
Para se entender a dinâmica macabra com que estes eventos vêm se repetindo, é necessário entender que o racismo é um processo e não um ato ou conjunto de atos isolados.

Assim, os atos racistas são apenas o modo como o racismo, enquanto processo que reafirma a inferioridade de negros e negras, manifesta-se na vida social. Por isso, é possível identificar determinados atos de violência, ainda que isolados, como manifestações de um tipo específico de relação de dominação a que chamamos de racismo.
Mesmo ocorrendo cotidianamente, é curioso que atos de racismo sejam tratados como atos isolados. É com freqüência que a imprensa nacional e internacional noticia casos de jogadores de futebol negros que são agredidos por torcedores.

E apesar do relato de diversos atletas de que nas partidas ofensas raciais são corriqueiras, as entidades organizadoras, as autoridades governamentais, a imprensa e até os próprios jogadores tratam os sucessivos episódios como “casos isolados”, que jamais “refletem a postura dos clubes e da maioria da torcida”.

Todavia, a ideia de excepcionalidade das agressões racistas não resiste a uma simples olhadela no noticiário: o caso do goleiro santista é mais um dos inúmeros “atos isolados” de agressão racial no futebol ocorrido somente este ano.

Tratar atos racistas como isolados revela-nos um dos efeitos mais nefastos do racismo: a ocultação e a negação de seu caráter processual e sistêmico. Com isso, o racismo aparece enganadoramente como tendo origem no sujeito que pratica o ato racista e não como um elemento estruturante das relações sociais.

Surge então a tendência a fulanizar o racismo, a atribuir culpa individual, a julgar o problema como inerente à natureza humana ou creditá-lo a um desequilíbrio momentâneo do sujeito racista, sem que se cuide da forma como as relações sociais são permeáveis ao racismo.

Esse tipo de abordagem do racismo equivale a tratar apenas o sintoma sem pensar na doença. E o sujeito racista é um sintoma do racismo. Portanto, não é simplesmente o racista que dá origem ao racismo, mas é o racismo que cria o racista.

Com isso quero dizer que o racismo se reproduz porque encontra condições favoráveis para isso. Não é só a violência de quem chama negros e negras de macacos que configura a processualidade do racismo, mas, igualmente, a omissão de quem nada faz para interromper o andamento desse processo.

O racismo está principalmente nos silêncios, nas ausências e nos “não-ditos”. Diante da ofensa racista, o rosto que se vira covardemente para o lado contrário, a cabeça que se abaixa na vergonha conveniente e o sorriso de cumplicidade formam o “vazio” por onde escorre o sangue da vítima que nutre o monstro do racismo. É a hesitação diante do pedido de socorro e é o calar-se diante da ofensa que permite ao racismo se enraizar nas relações, normalizando a destruição do corpo e o tormento da alma.

Nesse sentido, pode-se dizer que o futebol profissional se alimenta do racismo e da violência. O estímulo à competitividade sem limites e a busca de lucros extraordinários são parte da realidade do esporte contemporâneo, romantizada pela falácia do “amor à camisa”, do fair play e pelas pífias declarações de “diga não ao racismo”, como se racismo fosse uma questão moral e não uma questão de poder.

As inúmeras denúncias de corrupção nas principais entidades organizadoras, assim como a persistência do racismo, demonstram que se está diante de um problema que deita suas raízes mais profundas nas grandes disputas políticas e econômicas do nosso tempo.
Nas análises da relação entre o racismo e as práticas esportivas tem-se freqüentemente desconsiderado as relações com a ordem econômica.
Há que se observar que a mercantilização do futebol empurrou a disputa esportiva para além dos campos. O torcedor-consumidor é mobilizado pelo clima de disputa e não pela beleza do futebol. A rivalidade entre torcidas que, em última instância, é a extensão da concorrência mercantil entre clubes e empresas patrocinadoras, faz com que acima da vitória de seu time, o torcedor busque seu maior regozijo na derrota e no lamento adversário, transformado em inimigo por narrativas que, repetidas à exaustão, criam rivalidades aparentemente irracionais e insuperáveis: corintianos x palmeirenses, brasileiros x argentinos, flamenguistas x vascaínos, atleticanos x cruzeirenses, colorados x gremistas etc.
Muitas destas rivalidades, tão úteis para aumentar a audiência de jogos e “mesas redondas”, além, é claro, dos lucros, são ideologicamente sustentadas por antagonismos de classe, de raça e de origem social, surgidos fora dos campos de futebol.

É desse modo que nacionalismos, regionalismos e racismos ajudam a demarcar a diferença entre torcidas, cujos integrantes pagarão ingressos caríssimos para adentrar as “arenas” cada vez mais exclusivas e elitizadas, com suas camisetas e acessórios e com seus hinos e cânticos, para eventualmente fazer de modo livre o que não seria visto com bons olhos na vida cotidiana, como, por exemplo, chamar de “macaco” um desconhecido que nunca lhe fez mal e que, provavelmente, nunca mais encontrará na vida.

Também é interessante notar que nos países do capitalismo central, sofisticados aparatos de vigilância e repressão conseguem limitar a externalização de impulsos mais extremos por parte da torcida; mas ao mesmo tempo em que parte da violência física entre torcidas está contida, o racismo se torna um problema cada dia mais presente.

O futebol deu ao racismo um tom “recreativo”, na feliz expressão do professor Adilson Moreira, ao se referir a um tipo de violência racial vista como natural e aceitável em momentos de descontração. Assim, o xingamento da torcida passa a fazer parte do jogo.

O futebol cria, assim, um espaço próprio, uma espécie de livre mercado do ódio em que a ofensa racial se torna a expressão do torcedor apaixonado, que pagou o ingresso justamente para ter o “direito” de extravasar seus piores sentimentos.

o jogador negro que se cale, pois está sendo pago para jogar (bem) e para suportar os insultos de ambas as torcidas (o que entender quando o árbitro ignorou a reclamação do goleiro Aranha?). E a fim de evitar que esse processo de catarse seja interrompido por quem desconhece a lógica desse consenso às avessas que impera no futebol, até o julgamento dos conflitos é tratado de modo distinto: cabe aos tribunais desportivos resolver conflitos conforme as regras do mundo encantado e “livre” do futebol.

Por esse motivo é muito raro que atos de racismo ocorridos no campo, salvo os de enorme repercussão, sejam tratados pelas leis penais. E mesmo quando alcançados pelas leis penais, restringem-se ao tipo da injúria racial, que faz parecer que o racismo, mais uma vez, é tão somente uma questão moral. Tratar os casos de racismo no âmbito desportivo é uma forma sutil de dizer que no futebol o racismo é permitido, mas desde que com certos limites.

Porém, muitos daqueles que agora demonstram indignação com as atitudes de parte dos gremistas, em particular da infeliz torcedora enxovalhada até com ofensas machistas, estão com ela e com os demais torcedores racistas acumpliciados. São igualmente racistas porque sustentam-se, servem-se e garantem seu modo de vida com o sofrimento de negros e negras, dentro e fora dos gramados, seja por ação, seja por omissão.

São cúmplices e, portanto, racistas, a FIFA, as federações de futebol, os clubes, as comissões de arbitragem e as comissões técnicas que com sua leniência, incentivam a violência racista nos estádios e fora deles. Não custa lembrar que os dirigentes destas entidades são na sua maioria homens brancos, o que ajuda a explicar em parte a total insensibilidade para com o racismo no futebol.

São cúmplices do racismo, dentro e fora dos campos,  as autoridades do Estado, com destaque especial para membros do Judiciário e do Ministério Público, que quando não são omissos, mostram-se, muitas vezes, condescendentes com atos racistas, ajudando a legitimar, legalizar e a propagar a violência racial travestida de “liberdade de expressão”.
São cúmplices do racismo as redes de comunicação, bem como seus jornalistas, cronistas esportivos e apresentadores que ajudam a reforçar a visão individualista e idealista do racismo como “ação isolada” e problema moral, fabricando falsas rivalidades geradoras de violência e concorrendo para a interdição do debate político tanto em relação à importância social do esporte, quanto em relação ao racismo.

São cúmplices do racismo os treinadores – quase todos brancos, o que reforça a imagem do negro como comandado e subalterno –, além dos jogadores de futebol, em especial, os grandes astros, negros e brancos, que poderiam e deveriam interromper as partidas e até mesmo abandonar o campo diante de casos de racismo.

Isso teria um forte impacto, muito mais do que comer bananas lançadas no campo por torcedores racistas, ato que só reafirmou o caráter recreativo do racismo no futebol e propicia algum lucro e momentos de fama nas redes sociais aos mesmos racistas e oportunistas de plantão.

Mas que jogadores terão a coragem necessária de dar esse passo e entrar para história depois de enfrentar os clubes, as entidades, parte da imprensa e, principalmente, os interesses políticos e econômicos que se formam em torno do racismo?

Nesse momento, seria interessante saber dos líderes dos movimentos Bom Senso Futebol Clube e Atletas pelo Brasil se há propostas para coibir o racismo. Persistindo o silêncio, já se poderá concluir que a lógica racista do futebol profissional interdita qualquer espécie de bom senso.
* Presidente do Instituto Luiz Gama. Doutor em Direito pela USP. Professor de Filosofia e Teoria Geral do Direito e de Ciência Política das Faculdades de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Universidade São Judas Tadeu.

Conheça o site Viomundo, clique AQUI

   

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Racismo no futebol: só cadeia e punições pesadas vão coibir as agressões. Campanhas só não bastam. Se um jogador é vítima de racismo no estádio, seu time deveria parar o jogo


(da Redação)
A Espanha é, no momento, o foco de episódios racistas em jogos de futebol. A vítima mais recente foi Daniel Alves, do Barcelona, ontem. Ao se posicionar para cobrar um escanteio, ele foi alvo de uma banana atirada por um torcedor do Villa Real. Com digna ironia, Daniel comeu a banana e cobrou o escanteio. Cobraria outro, em seguida, que resultou no gol da virada do Messi. Valeu como resposta. As agressões se repetem e não se tem notícia de qualquer repressão aos intolerantes por parte das autoridades esportivas ou civis do país. Se, no Brasil, em casos semelhantes, as punições são brandas - embora racismo seja crime previsto no nosso Código Penal - a Espanha deixa corre livre o preconceito. Há um pouco de História por trás desse comportamento - a Espanha foi aliada de Hitler e viveu muitos ano sob a ditadura fascista de Franco, que ainda tem muitas "viúvas" no país e até deixou como "herança" uma família real nomeada pelo ditador e atualmente envolvida em casos de corrupção. A Fifa limita-se a campanhas que já se revelaram inócuas. Os racistas lá fora e aqui no Brasil não se deixam levar por faixas, cartazes e anúncios bem-intencionados. Está na hora de rever o regulamento. O juiz deve obrigatoriamente paralisar a partida diante de manifestações racistas. Se os dirigentes não identificarem para a polícia através de vigilantes ou de câmeras internas o torcedor ou torcedores racistas o clube deve perder os pontos do jogo, sem prejuízo de outras punições. A atitude de Daniel Alves foi significativa mas não basta. Se a Fifa não cria punições imediatas para esses casos, caberia aos jogadores sentar em campo e se recusar a dar continuidade ao jogo enquanto o torcedor ou torcedores racistas não saírem da arquibancada direto para a cadeia.
ATUALIZAÇÃO - Em gesto inédito na Espanha, o Villa Real tomou a iniciativa de banir do seu estádio o torcedor responsável pela agressão a Daniel Alves. É importante a atitude do clube, assim como as manifestações de apoio ao jogador nas redes sociais, mas é pouco. O caso é de polícia e de retaliação que doa no bolso dos responsáveis. Um bom exemplo deram os patrocinadores do Los Angeles Clippers que suspenderam os contratos de publicidade após manifestação racista do dono do clube de basquete, o empresário Donald Sterling. É bom que grandes marcas sejam cobradas nas redes sociais por apoiar clubes ou entidades como a Fifa, a CBF e outras que não tomam providências pesadas em casos de intolerância racial. Nesses casos, não vale brincar. Nem mesmo como fez recentemente o presidente do São Paulo ao declarar em entrevista à rádio Bandeirantes que o meia Kaká, do Milan, poderia ser contratado nesta temporada. O sujeito, Carlos Miguel Aidar, respondeu literalmente: "Gostaria muito de ter Kaká de volta. Tem a cara do São Paulo, alfabetizado, tem todos os dentes na boca, fala bem, joga bem, faz gols, mas não tem como competir com os árabes e os chineses. Se der para trazer, esse é um jogador que cai feito uma luva no São Paulo". Sem comentários. .


sábado, 15 de março de 2014

Racistas riem à toa

Foto: Reprodução O Globo
(da redação da JJcomunic)
Não deu outra. Autoridades esportivas fizeram cena e puniram de brincadeirinha o clube responsável pelas ofensas racistas ao árbitro Márcio Chagas da Silva. O Esportivo, de Bento Gonçalvres (RS),  recebeu um multa irrisória (30 mil reais) e perda de mando de campo por três jogos. Não se sabe se, na esfera policial, os racistas foram identificados ou se há investigação em andamento. As campanhas contra o racismo já mostraram que, apesar de bem intencionadas, não funcionam. Os racistas devem achar que são piadas ou coisa de quem quer parecer que está combatendo o preconceito. A falta de ação das autoridades esportivas e civis está na raiz do aumento dos casos de racismo dentro e fora dos estádios. Já nas delegacias, na hora do B.O, a polícia tenta desqualificar o crime, raramente registra como racismo mas sim como uma leve "ofensa moral". As agressões nos estádios jamais resultam em cadeia para os racistas ou em suspensão e até eliminação dos clubes. Tudo acaba em tapinhas, promessa de que não acontecerá mais ou em campanhas cenográficas. A impunidade está fazendo o racismo crescer no Brasil. A impunidade e uma resistência elitista de parte de mídia que condena editoriais programas de cotas e iniciativas semelhantes e criou até um rótulo - o "racialismo" - para atribuir aos movimentos que combatem o preconceito racial um "tentativa de implantar" o racismo no Brasil. Uma cínica inversão de papeis.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Racismo no futebol: ou a Fifa, a CBF e demais entidades eliminam clubes cujos torcedores praticam atos de intolerância racial ou serão coniventes com as agressões. E o Bom Senso FC deveria recomendar aos jogadores que interrompam o jogo assim que ouvirem as ofensas racistas. E a bola só volta a rolar quando a polícia localizar e prender os criminosos nas arquibancadas

(da JJcomunic)
A vítima mais recente, e não será a última, foi o volante Arouca, do Santos. Durante jogo contra o Mogi-Mirim, ontem, pelo Campeonato Paulista, o jogador foi vítima de ofensas racistas. Arouca (que, aliás, fez um golaço no jogo) reagiu com uma dignidade que parece ausente nas entidades que dirigem o futebol. Leia a nota que ele mandou para a imprensa (no destaque) e uma análise do revoltante episódio: 

"Na saída do jogo desta quinta-feira, contra o Mogi Mirim, fui alvo de insultos racistas de um torcedor do time adversário. É lamentável e inaceitável que ainda haja espaço para esse tipo de coisa hoje em dia. Isso só mostra que o ser humano ainda tem muito a evoluir e a crescer, que não estamos nem perto de um mundo que viva a harmonia entre as pessoas e todas as suas diferenças. 
Tenho muito orgulho das minhas origens africanas, que foi o que o sujeito tentou usar para me ofender, dizendo que eu deveria procurar alguma seleção de lá para jogar. Dando a entender que um negro igual a mim não serve para defender a seleção brasileira. Como se algumas das páginas mais bonitas da história da nossa seleção não tivessem sido escritas por jogadores como Leônidas, Romário e pelo Rei Pelé, também negros. Não ouvi os gritos de 'macaco' que alguns repórteres disseram ouvir, mas, caso tenha realmente acontecido, é ainda mais triste." (Arouca)

O fato merece um comentário. Já está mais do que claro que não basta a Fifa levar para os estádio faixas contra o racismo, não basta a CBF dar declarações superficiais sobre episódios que se repetem no futebol brasileiro. As federações não se manifestam. Quanto aos dirigentes sul-americanos, são ainda mais omissos como ficou claro no episódio que envolveu o jogador Tinga, do Cruzeiro, no jogo contra o Real Garcilaso, que já devia ter sido eliminado da Libertadores. Na semana passada, o juiz Márcio Chagas, do jogo Esportivo e Veranópolis, pelo Campeonato Gaúcho, em Bento Gonçalves, foi ofendido e teve seu automóvel amassado no estacionamento do estádio. Eram cerca de 20 torcedores perfeitamente identificáveis, agredindo o árbitro.
Enquanto não houver punição rigorosa, as ofensas continuarão. No caso do Arouca, o juiz nem colocou o fato na súmula. Os clubes devem ser punidos, a maioria passa a mão na cabeça desses torcedores. Se o clube sofrer ameaça de punição, perda de pontos, suspensão ou até eliminação do torneio, se sentirá responsabilizado e, além disso, os demais torcedores, aqueles que vão ao estádio ver o jogo, sem preconceito, se encarregarão de defender seu time e apontar os idiotas autores das ofensas. O juiz deve interromper a partida no exato momento em que as manifestações racistas começaram nas arquibancadas. Uma sugestão ao Bom Senso FC, movimento que cobra melhores condições de trabalho no futebol brasileiro: os jogadores, se o juiz não interromper o jogo, devem isolar a bola e parar de jogar no momento em que ouvirem as ofensas racistas. Há câmeras em alguns estádios que mostram as cenas de racismo com possibilidade de identificação dos racistas. Há leis que obrigam restaurantes e boates a instalar câmeras de vigilância. Estádios de futebol precisam desses dispositivos. A polícia precisa agir e flagrar os racistas nos estádios. Eles cometem um crime, porque então não se tem notícia de torcedor racista preso no ato?   Não só no futebol, parece haver uma espécie de convivência com crimes de racismo. É comum, em delegacias, casos de racismo ganharem registro mais ameno de apenas "ofensa moral". Com isso, o racista sai pela porta da delegacia já "ofendendo moralmente" o primeiro negro que encontra. Recentemente, foi noticiado o caso de uma australiana que ofendeu funcionários de um salão de beleza em Brasília. É uma criminosa assumida. Foi presa mas a caneta rápida da justiça logo a liberou. Você ouviu falar se essa "elementa" foi punida?   
VEJA O VÍDEO, CLIQUE 


Atualização: A FPF (Federação Paulista de Futebol) divulgou uma nota com a fragilidade de sempre em que afirma que o caso será analisado pelo Tribunal de Justiça Desportiva do estado e o estádio de Mogi Mirim será interditado para os próximos jogos. Segundo a nota, o regulamento prevê multa e até perda do mando de campo pra o clube. 
É pouco, isso aí é quase impunidade. 
O presidente do Mogi Mirim é o ex-jogador Rivaldo, que estava preocupado com uma possível punição ao clube, e declarou que não concorda com a responsabilização do clube. "Não podemos controlar a boca dos torcedores", disse. Errado. Pela lei, o clube mandante é responsável por brigas e invasão de campo. Racismo é crime, o que faz parte da mesma carga de responsabilidade. Para não serem coniventes, o que os clubes devem fazer nessas situações é acionar a segurança interna para identificar os criminosos e chamar imediatamente a polícia. Mas a arma mais eficiente está nos pés dos próprios jogadores. À primeira ofensa racista, devem parar a bola e esperar providências. Enquanto os criminosos não forem presos, não tem jogo. É até simples. 
Alô, Ministério Público, está na hora de fazer com que os clubes assumam suas responsabilidades nesses casos e tomem providências na hora em que o crime de racismo ocorre nos estádios. No caso de Mogi Mirim, embora os torcedores racistas estivessem visíveis, a omissão foi tamanha que ninguém sequer chamou a polícia.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Racismo...

O jogador Daniel Alves, um dos craques do Barcelona, conta à Folha que até hoje, embora consagrado no futebol espanhol, é chamado de "macaco". Quando a Fifa vai deixar de fazer discurso e começar a interditar estádios onde ocorrem manifestações racistas? O lateral direito Daniel Alves é titular da equipe de Mano Menezes no jogo de manhã contra a França. Conquistou sua independência financeira e ganha mais do que a soma de salários de muitos torcedores espanhois - ainda mais com a grave crise e o desemprego que assola o país - que o xingam. Deve ser por isso.