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domingo, 11 de setembro de 2011

Pela remissão dos (novos) pecados

por Lenira Alcure
Família católica, custei muito a me libertar da culpa pelos chamados pecados mortais, acrescidos ou misturados aos 7 capitais, enfim todos aqueles que (dizem) levam ao inferno. Hoje, peno por causa de outras faltas condenáveis, das quais nem os padres conseguem me absolver. São os pecados ‘politicamente incorretos’. Abro o jornal e fico sabendo que ‘em julho, o gasto de turistas brasileiros no exterior superou o recorde dos últimos 42 anos!’ Eu que andei viajando três semanas fora do País, me senti culpada por esse rombo de 2 bilhões de reais, da riqueza nacional. Não viajei às custas da Viúva, mas tenho esses problemas de consciência! Outro drama freqüente em minha vida: as malditas sacolinhas plásticas que, segundo os cientistas, levam 500 anos para se degradar, condenando todas as espécies a uma morte anunciada! Por conta disso, muitas vezes digo ‘não, obrigada’ e vou juntando remédio, frutas, o queijo que acabei de comprar, a roupa que veio do conserto numa bolsa mafuá, onde tudo pode acontecer. Mesmo sem filhos, estou sinceramente preocupada com as próximas quinze gerações entupidas de plásticos e outras inconvenientes conveniências da vida moderna.
Cocô de cachorro in natura na rua? Nem pensar. Abolida a fase do saco plástico, passei ao jornal. Onde jogar? Nas lixeiras e contaminar
tudo, inclusive o lixeiro de luva rasgada ou o catador de lata em busca de 10 centavos? Para escapar ao fogo interno, optei por uma sacola pequena de papelão (dessas que as lojas chiques nos obsequiam) onde levo um rolo de papel higiênico. Tiro um pedaço, sob olhar espantado de quem passa, recolho os dejetos num embrulhinho para despejar em casa, no mesmo local aonde vão todos os cocôs familiares. Só então, a consciência apaziguada, posso dormir tranqüila. Nem tanto, se pensar nas palavras que devo evitar, em Monteiro Lobato cujos livros agora exigem uma leitura contextual para as crianças, nas marchinhas de carnaval que não posso mais cantar, no xenofobismo, no homofobismo, no racismo, no liberalismo, enfim tudo que me ensinam agora a odiar, com a mesma intolerância que no passado condenavam os seus contrários. Agora, chega! Nada como os antigos pecados de volta! Uma confissãozinha, duas ave-marias, um padre- nosso e a consciência limpa, pronta a pecar de novo, que afinal é o nosso humano destino.