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quinta-feira, 26 de junho de 2014

A camisa de Luis Suárez vai ficar no armário

Foto Getty Images-Fifa - Divulgação
por José Esmeraldo Gonçalves
A mordida em Chielini, no jogo contra a Itália, custou a Luis Suárez o afastamento da Copa. A Fifa impôs ao jogador uma suspensão de nove jogos pela seleção do Uruguai. A Copa perde um craque mas seria muito alto o preço de mantê-lo em campo. Ao morder um adversário pela terceira vez na sua carreira - sem contar as cabeçadas, outra arma que o jogador costuma usar - Suárez, na prática, pediu pra sair. No últimos dias, uma perplexa imprensa mundial o chamou até de "canibal". Além dos nove jogos pela sua seleção, o uruguaio foi banido do futebol por quatro meses. A Fifa parece deixar claro, agora, que outra mordida em campo poderá encerrar definitivamente a carreira de Suárez. O jogador poderá recorrer, se quiser, após pagar uma multa de 250 mil reais. A punição já valerá para o jogo Uruguai X Colômbia, no próximo sábado, no Maracanã. Embora a atitude de Suárez tenha sido tão flagrante e até figuras isentas como o ex-jogador Ghiggia tenham condenado a espantosa mordida, haverá especulações. Caso Brasil passe pelo Chile e o Uruguai avance, as duas seleções se enfrentarão nas quartas-de-final. O Uruguai certamente vai chiar e dirá que "forças ocultas" abriram o maxilar de Suárez e o fizeram abocanhar Chielini. Faz parte da choradeira. 
Mas a dramaticidade da cena da mordida renderia uma boa crônica ao escritor e jornalista Nelson Rodrigues. Duvida? Pois Nelson, que sempre apontava nas suas crônicas um personagem da semana, uma vez elegeu não o Dida, do Flamengo, mas uma atitude do atacante em campo. O cronista saiu do estádio impressionado com uma cena inusitada. O Flamengo jogava contra o Canto do Rio. Ganhava por 2 x 1. O jogo era tenso, dois jogadores já haviam sido expulsos, quando o árbitro Gama Malcher marca pênalti contra o Flamengo. Quase fim do jogo, era a chance do empate. Osmar, do Canto do Rio, ajeita a bola e se prepara para chutar. Conta Nelson: "Estava a bola na marca fatídica. Dida aproxima-se, ajoelha-se, baixa o rosto e vai fazer o que nem todos, na afobação, percebem. Para muitos, ele estaria rezando o couro. Mas eis, na verdade, o que acontecia: Dida estava cuspindo na bola. Apenas isso e nada mais. Objetará alguém que este é um detalhe anti-higiênico, antiestético, que não deveria ser inserido numa crônica. Mas eu vos direi que, antes de Canto do Rio x Flamengo, já dizia aquele personagem shakespeariano que há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia. Quem sabe se a cusparada não decidiu tudo? Só sei que lá ficou a saliva pousada na bola. O que aconteceu depois todos sabem: Osmar bate a penalidade de uma maneira que envergonharia uma cambaxirra. Atirava o Canto do Rio pela janela, a última e desesperada chance de um empate glorioso. E ninguém desconfiou que o fator decisivo do triunfo fora, talvez, a cusparada metafísica de Dida, que ungiu a bola e a desviou, na hora H". 
O trecho destacado acima é da crônica "A Cusparada" que Nelson Rodrigues publicou na Manchete Esportiva com data de capa do dia 9 de novembro de 1957. 
A cusparada épica virou, claro, a Personagem da Semana de Nelson Rodrigues. 
Imagine o que ele não faria com a mordida inglória de Luis Suárez.