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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Caso Anderson Silva: vai pra Olimpíada ou não vai? É um direito do atleta ou um "neryo tchagui" (*) na ética?

por Omelete
A possível participação do lutador Anderson Silva, do UFC, no time olímpico de taekwondo continua gerando reações. Os jornais destacaram ontem a posição da Wada, a agência mundial antidoping, de que não proibirá a participação do atleta, que foi flagrado duas vezes nos exames antidoping por uso de substância anabolizantes. Anderson será julgado em maio e pode pegar até dois anos de suspensão. A mídia interpretou como uma aprovação, o que não é. A Wada simplesmente afirmou que não tem relações com o o UFC nem com  a Comissão de Nevada, que flagrou as substâncias ilegais ao examinar o brasileiro e não tem nada a dizer sobre procedimentos que não são realizados sob seus códigos. Ou seja: não tem jurisdição sobre o assunto. Seria a mesma coisa se dissesse que não proibiria o Papa Francisco de ser eleito. O Vaticano não é sua área, UFC também não. Por interesses de marketing já confessados, a Federação Brasileira de Taekwondo gostou da adesão de Anderson Silva, admite que isso pode atrair patrocínio (embora essa expectativa possa não se realizar caso as marcas não queriam se associar a uma polêmica, como normalmente não querem) e vai permitir que ele participe das seletivas e pode até inscrevê-lo como "atleta convidado", coisa que o regulamento permite. Os demais atletas, que treinam há anos e não foram flagrados bombados, não devem estar felizes. Já a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), órgão nacional no combate a substâncias proibidas, criticou a possibilidade de uma atleta pego no doping representar o Brasil. Marco Aurelio Klein, secretário nacional da agência, vê falta de ética. "Um atleta que está suspenso em seu esporte por ter feito uso por duas vezes de esteroides tem uma vantagem clara em relação aos outros", disse. Como a Wada, a ABCD acrescenta que não proibirá a participação de Anderson pois o atleta vem de uma organização que não segue regras mundiais no caso. A polêmica vai prosseguir até depois do julgamento de Anderson, já que as seletivas começarão em janeiro de 2016. Há agora uma acusação de uma suposta alteração no estatuto da  Confederação Brasileira de Taekwondo para tornar possível a participação de Anderson Silva, segundo divulgou a ESPN. E não será impossível uma intervenção, aí sim, na reta final, por parte do Comitê Olímpico Internacional em nome da credibilidade dos Jogos. Ocorre que já houve casos de doping na Olimpíada, atletas que tiveram medalhas cassadas após a constatação de que usaram substâncias químicas, mas seria inédita a participação de um atleta que já entra na quadra com a marca de dopado, caso seja definitivamente condenado em maio. A questão é essencialmente ética. Do ponto de vista do torcedor, terá pouco impacto se ele vai participar ou não. Claro que Anderson atrairá atenção por ser midiático, mas o público do Anderson, do UFC e MMA em geral, gosta de ver o octógono banhado em sangue e costuma ficar em um estado de alta alteração. Em competições sobre regras olímpicas que impedem a devastação e, para muitos, até a humilhação de um atleta, o clima não é de gladiadores no Coliseu romano. Para os admiradores dele pode até nem ter tanto: vão achar monótono. Mas caso se confirme a inscrição do atleta da UFC, só saberemos se o público aprova ou não quando a delegação brasileira entrar no Maracanã para a festa de abertura com Anderson na pista.
* Em tempo: "neryo tchagui" do título é o nome tradicional que se dá a um famoso e muito usado golpe da modalidade: o chute de baixo para cima.