domingo, 31 de dezembro de 2017

Mr. Trumpinóquio...

De Carl Bernstein, repórter que ao lado de Bob Woodward apurou o Caso Watergate e implodiu Nixon, à CNN:

- "Não há motivo para acreditar em quase tudo o que Donald Trump diz, porque o que sabemos é que o presidente dos Estados Unidos e sua Presidência se caracterizam acima de tudo pela mentira". 

Agora vai! Segundo a Piauí, a Nasa vai levantar a imagem do picolé de chuchu


por Ed Sá 

Brizola faz falta. O gaúcho era bom em cravar apelidos nos políticos. E apelidos que levavam uma mensagem.

Entre outros, Gato Angorá (Moreira Franco), Sapo Barbudo (Lula), Rui Barbosa em Compotas (Paulo Brossard). Picolé de Chuchu para Alkmin, mas acho que é obra de José Simão. Marco Maciel ganhou de João Saldanha a alcunha de Mapa do Chile.  Golbery do Couto e Silva, com conhecimento de causa dos serviços de informação da ditadura, apelidou ACM de Toninho Malvadeza.

Geralmente, esses apelidos "pegavam".

A Lava Jato revelou muitas alcunhas em listas de empreiteiras, mas ficaram registradas nas fichas policiais e não caíram na boca do povo. Apareceram nas delações Anão (ACM Neto), Amigo (Lula), Fodão (Eliseu Padilha), Boca Mole (Heráclito Fortes), Bolinha ou Pescador (Anthony Garotinho), Kibe (Gilberto Kassab) etc.

Faltou Brizola em 2017: Luciano Huck, Gilmar Mendes, Bolsonaro, Carmen Lúcia, Henrique Meireles, Moro, Bretas, João Doria, Dodge, Barbosa, Geddel, Cunha e Aécio, para citar alguns,  estão à espera de apelidos "super bonder", aquele que cola na currículo das figuras e até na urna de votação.

Na última edição do ano, La Nacion revela que Argentina copia o "Modo Temer" de comprar votos


As últimas primeiras páginas de 2017...


BRASIL 





PORTUGAL


 ITÁLIA


ESPANHA


ESTADOS UNIDOS 





FRANÇA


VENEZUELA


Austrália abre as comemorações de 2018 e Donald Trump quer saber porque não "America First"


Donald Trump não entende de clima, não acredita em aquecimento global e decreta que o inverno rigoroso e nevascas provam que o planeta não está esquentando e ambientalistas mentem. O empresário-presidente confessou aos seus assessores que sempre achou que o Ano Novo começava na Times Square, em Nova York, e não entendia porque os australianos "se antecipam".
VEJA SYDNEY, AUSTRÁLIA, "ANTECIPANDO" A CHEGADA DE 2018, CLIQUE AQUI

sábado, 30 de dezembro de 2017

José Louzeiro, o jornalista e escritor que investigava crimes e descobria a vida que as tragédias escondiam

por José Esmeraldo Gonçalves

A Globo News noticia que José Louzeiro morreu dormindo, aos 85 anos. Um fim típico do maranhense generoso e sereno e com jeitão de poeta da sua terra.

Como jornalista, o material de trabalho do Louzeiro foi o drama humano, através de incontáveis reportagens policiais. Eu o conheci em 1976, na Fatos & Fotos. Louzeiro estava lançando o livro "Lúcio Flávio, o passageiro da agonia". No ano anterior, fiz para a F&F a cobertura do assassinato do então mais famoso bandido do Brasil, morto na prisão, e, logo depois, uma matéria exclusiva com a sua família, que me mostrou quadros que ele pintou na cela durante os últimos meses de vida.

Lúcio Flávio foi o assunto da nossa primeira conversa. Voltei a encontrar Louzeiro em outras redações, na Manchete, na Fatos e em vários veículos pelos quais passei em mais de 45 anos de carreira.

Louzeiro costumava dizer que o livro sobre Lúcio Flávio era um romance, embora tudo o que o leitor encontrasse na suas páginas fosse absolutamente autêntico.

Era sua marca contar o crime com estilo e extrair a vida que a repercussão e o sensacionalismo escondiam em casos como o da menina Aracelli, estuprada e morta por grã-finos de Vitória (ES), a tragédia de Claudia Lessin Rodrigues e o drama do menino Pixote e tantos outros.


A Fatos & Fotos publicava em 1976 o encarte semanal "um best seller em meia hora de leitura". Era um resumo dos últimos lançamentos. Louzeiro pensou mais como jornalista do que como escritor e autorizou sem problemas a condensação do seu próprio e recém-lançado romance, isso por achar que alcançaria ainda mais leitores, aqueles que não tinham tempo para ler o livro inteiro.

Por ser um repórter investigativo, quando o rótulo não era exceção e estava naturalmente implícito ao bom jornalismo, foi vítima da censura ao longo da ditadura. O livro "Aracelli, meu amor" sofreu com a tesoura do regime a pedido dos advogados das famílias influentes dos acusados. O crime - a menina foi drogada, estuprada e carbonizada - está impune até hoje. Os réus foram condenados em primeira instância, posteriormente a sentença foi anulada e, por fim, foram absolvidos. O desfecho surpreendente deve ter sido uma frustração para o jornalista e escritor que transmitiu em suas reportagens e em  livro toda a sua indignação sobre o bárbaro crime.

Na abertura da censurada  "O Marajá", da Rede Manchete, o...

...crédito dos autores e a referência aos caras-pintadas. As fitas da novela jamais exibida sumiram. A abertura
e algumas cenas podem ser vistas no You Tube. 

José Louzeiro talvez não imaginasse que a censura ainda o perseguiria mesmo após o fim da ditadura. Depois de escrever para a Rede Manchete, as novelas "Corpo Santo" e "Guerra sem Fim", ele criou com Eloy Santos "O Marajá" baseado no folhetim burlesco que foram os acontecimentos que levaram ao afastamento de Collor de Mello e seus saltimbancos. A minissérie iria ao ar em 1993 e já estava divulgando chamadas quando foi vetada pela Justiça a pedido do ex-presidente. Em um primeiro momento, as fitas gravadas teriam sido guardadas no cofre do próprio Adolpho Bloch. Após a morte do dono da Rede Manchete, em 1995, "O Marajá" foi dado como desaparecido.

Se existe vida após a morte, é capaz de o amigo Louzeiro investigar esse mistério lá de cima, agora sob o ângulo de quem tudo vê e ao lado de fontes que tudo sabem.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

ÁLBUM DA MANCHETE • Dez anos separam as duas Santas Ceias


Por Roberto Muggiati



• 1977 – Da esquerda: Alberto de Carvalho, Ivan Alves (o Pato Rouco), Wilson Cunha, Flávio de Aquino, Sammy Davis Jr (papagaio-de-pirata, ao fundo), Roberto Muggiati (a caráter), Heloneida Studart, R. Magalhães Jr., Wilson Passos, Argemiro Ferreira, Pedro Guimarães, Ney Bianchi de Almeida, Carlos Heitor Cony, Irineu Guimarães.


• 1987 – Da esquerda: Lorem Falcão, Murilo Melo Filho, Nelson Gonçalves, Raul Giudicelli, George Gurjan, Eduardo Francisco Alves, Roberto Muggiati, José Egberto, Alberto de Carvalho, João Américo Barros, Wilson Passos, Sérgio Gonçalves. Na extrema esquerda, ao fundo, David Klajmic e Ney Bianchi em altos conchavos. Atrás do Wilson Passos, na divisória de vidro da redação, dá para ver o nome da Manchete em letras de ouro a que me referi em matéria recente, 1968-2000 – A Manchete no Russell.


Algumas analogias e contrastes. A primeira foto foi feita no 804, a segunda no prédio novo, o 766. Da primeira, restam quatro sobreviventes: Wilson Cunha, eu, Argemiro e Cony; o Sammy, talvez. Da segunda sobraram o Murilo, eu, o Egberto, o Barros e o Serginho.

Na primeira foto, eram treze à frente da mesa, mas não havia nenhum Judas. Já na segunda havia um Judas, vocês sabem a quem me refiro, e o seu assecla, acumpliciados talvez pelo fato de não terem coragem de sair do armário. Ambos já pegaram a barca do Estige e foram direto para o canto mais aquecido do Hades.

Em 1997, quando editei o número comemorativo dos 45 anos da Manchete, não houve foto da Santa Ceia, provavelmente porque não existia mais uma figura central na direção da revista. O que havia era uma troika paulista, que não deixou saudades. 

E, àquela altura, a Bloch já havia iniciado sua descida sem retorno, que culminaria no pedido de falência em 1º de agosto de 2000.


Bye, bye 2017...

Do site da Federação Nacional dos  Jornalistas

Deu no New York Times: Temer queria abrir as portas da cadeia, Dodge tomou a chave.




Memórias da redação: Aventura de Natal na Fatos & Fotos Gente

por José Esmeraldo Gonçalves

Em 1975, a Fatos & Fotos fez uma parceria com a People americana e se transformou em Fatos & Fotos Gente. 

A revista publicava matérias com celebridades americanas e, aqui, replicava o mesmo estilo de perfis e de fotos com as figuras equivalentes brasileiras. Mas não apenas celebridades entravam na pauta. Tal qual a People, a FF/Gente também se interessava por pessoas "normais" que, por algum motivo, desfrutavam dos seus quinze minutos de fama.

Na noite de Natal daquele ano, o adolescente paulista Pedro Antonio, de 16 anos, que vivia nas ruas do Rio e se virava trabalhando em obras ou ajudando ambulantes na Central do Brasil, pulou o muro do pátio de manobras do antigo aeroporto do Galeão, escondeu-se sob uma lona, aguardou os passageiros e, na primeira chance, subiu a escada e embarcou como clandestino em um DC-10 da Varig. Escondeu-se no banheiro e ocupou uma poltrona logo depois da decolagem. Só descobriu o seu destino quando o piloto anunciou o tempo previsto para a chegada em Madri. No aeroporto de Barajas, na manhã do dia 25 de dezembro, foi abordado por um funcionário, mas escapou quando era levado para averiguação.

A aventura de Natal do menino brasileiro, que perambulou pela cidade até ser localizado, repercutiu nos jornais. Era um personagem perfeito para a Fatos & Fotos Gente naquela semana. Pedro Antonio comoveu até as autoridades espanholas, ganhou roupas, foi logo liberado e embarcado de volta para o Rio, onde ficou sob a guarda do Juizado de Menores. Levei um bom tempo para convencer o juiz Antonio Campos Neto a permitir a entrevista. Ele entendeu que nossa matéria não mostraria o menino como um "delinquente" ou "infrator", o foco seria a aventura de Natal, e deu OK. Conversei com o viajante, que se mostrou inteligente e articulado e contou sua jornada com alguma dose de imaginação. Após ouvir os argumentos do fotógrafo Hugo de Góes - que precisava fazer algumas fotos no aeroporto - o juiz autorizou o menino a voltar ao velho Galeão.

As primeira fotos, como pode ser visto na reprodução da matéria (abaixo), foram feitas no interior da Rural Willys da reportagem. Mostrá-lo ao lado de um jato era a foto obrigatória de abertura, mas a segurança do Galeão não permitiu. A outra opção, banal, era fotografá-lo com a fachada do aeroporto ao fundo ou ao lado do muro da Estrada do Galeão, de onde era possível ver alguns aviões no pátio. Ao chegar perto do muro, tomamos a decisão temerária de pulá-lo, como o menino o fizera. Havia uma guarita bem distante, talvez não fôssemos vistos. Naquela hora nem pensamos nas possíveis consequências. Escalamos a parede, o menino posou e Hugo de Góes fez a foto que queria. Pareceu moleza. O "clandestino" tinha razão. "Foi fácil chegar à Espanha. Difícil foi uma viagem que fiz de Brasília para o Rio. O motorista me descobriu escondido no ônibus e queria me dar um pau. No avião, o pessoal é educado", concluiu o aventureiro do Natal.

A matéria foi publicada na primeira edição de 1976 há quase  - e inacreditáveis - 42 anos.



Fatos & Fotos Gente, janeiro,1976. Reproduções. Clique nas imagens para ampliar.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Viu isso, Romário? Um boleiro na Presidência: ex-craque George Weah ganha eleição na Libéria

Reprodução The Gãuardian
por Niko Bolontrin
Ex-jogador do PSG, do Milan, do Manchester City e do Chelsea, George Weah foi eleito presidente da Libéria com 61,5% dos votos.

Ele foi o único africano a ganhar, até hoje, a Bola de Ouro da Fifa.

O problema é Romário, Edmundo, Sheik, Renato Gaúcho, Felipe Melo, Adriano, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Muralha se empolgarem em repetir a dose por aqui em 2018.

Já viu? Em anúncio da revista Condé Nast Traveller 70 pessoas de 70 países imitam gestos e falas dos americanos...



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Revistas fazem campanha para valorizar o jornaleiro

Editoras de revistas (Abril, Alto Astral, Caras, DJ, EdiCase, Ediouro, Escala, Europa, Globo, Pais & Filhos, Três e Radh) participam de uma promoção de verão "Juntou, Trocou" da Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER), em parceria com a distribuidora Total Publicações. 

A campanha começa em janeiro. As revistas que se reúnem nessa ação de marketing terão nas capas o logo da promoção e um selo no código de barras. O leitor deverá juntar três selos de cores diferentes e colar na cartela que vem dentro dos exemplares.

Com isso, terá direito a uma nova revista. A promoção vai até março de 2018. A intenção é estimular o leitor a voltar às bancas de jornais de todo país.
MAIS DETALHES NO SITE DA TOTAL PUBLICAÇÕES, CLIQUE AQUI

No lugar certo, na hora exata. Foto dos casais reais garante o Natal de mãe solteira britânica...


por Jean-Paul Lagarride
A britânica Karen Anvil foi à missa de Natal na Igreja de Santa Maria Madalena, em Sandringham, e saiu com uma das fotos mais visualizadas no mundo neste fim de ano. Ela fez o que as agências de fotografia estavam à caça: uma imagem casual de William, Kate Middleton e o novo casal Meghan Markle e Harry. Karen explicou que se surpreendeu ao ver o grupo caminhando em sua direção, apontou o celular e gritou "Feliz Natal!" O quarteto, que já ganhou o apelido de "fab four", não teve como não olhar e sorrir. Ao publicar a foto no twitter, ela recebeu elogios e o conselho dos próprios fotógrafos da família real: registrar logo os direitos da foto. De fato, choveram propostas em seguida. Uma agência adquiriu e vários jornais, como The Independent, abaixo, publicaram a imagem. Karen, que é mãe solteira, afirmou que o dinheiro será útil para pagar a faculdade da filha..





Leitor paga multa porque falou que jornal estava "uma merda"

por O.V.Pochê

Se por acaso você estiver lendo um jornal qualquer e achar que o dito está muito ruim, não fale isso em voz alta. Jamais diga ou escreva em rede social "esse jornal hoje tá uma merda". Um advogado lia a Gazeta, de São Bento do Sul, quando se indignou com uma matéria que transcrevia a opinião do escritor Umberto Eco de que "as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis" e foi desabafar no Facebook. O leitor escreveu que o jornal era útil para seus cachorros nele depositarem fezes e xixi e, quando isso acontecia, havia "uma simbologia" em ver "merda misturada com merda". Um juiz condenou o advogado a indenizar o jornal em 10 mil reais. A informação está no DCM.

Com o Brexit, Grã-Bretanha apaga a União Europeia dos passaportes. E o documento brasileiro continua incluindo a caricatura de "comunidade" Mercosul na capa. É mico!


por Jean-Paul Lagarride

A Grã-Bretanha se prepara para mudar o passaporte. Como uma das numerosas mudanças provocadas pelo Brexit, o documento de capa vermelha com a referência à União Europeia será aposentado e voltará o antigo, em azul.

No passaporte brasileiro, Mercosul é tosca caricatura da União Europeia. 
O Brasil deveria se inspirar no exemplo e eliminar a referência ao fracassado Mercosul nos passaportes nacionais. É um mico internacional. Primeiro, o Mercosul é um tratado comercial e não uma comunidade de nações. E nem como união aduaneira funciona plenamente. Além de incluir o nome da falsa "comunidade", o Brasil eliminou o brasão da República e botou na capa do passaporte as cinco estrelas que simbolizam os países da união aduaneira Mercosul. Algum burocrata viajou com dinheiro público à Europa e se encantou com a ideia de imitar o documento europeu, provavelmente ignorando que quando era apenas um tratado econômico a União Europeia não alterou a designação de origem nas capas dos passaportes.
O passaporte dos "hermanos" também
paga o mico do Mercosul

O Mercosul foi gestado durante o desastrado governo de José Sarney e oficializado no igualmente esculhambado governo Collor. O que explica o monstrengo. Nunca decolou de fato, serve para governantes posarem para fotos de "estadistas" quando se reúnem ao som de La Cucaracha. Ou pra igualar seus portadores como potenciais usuários da revista íntima em aeroportos.

Praticamente nada aconteceu nas trocas comerciais entre o Brasil e alguns países da América do Sul que não tivesse acontecido se o Mercosul não existisse. E ainda criaram o Parlatino (cujo nome incorpora ingenuamente a expressão racista aplicada aos sul-americanos), que não funciona e é apenas uma caricatura do Parlamento Europeu.

Hoje, o Mercosul é uma pesada âncora que impede o Brasil de assinar acordos comerciais bilaterais com a União Europeia. Pelo tratado, ou todos assinam ou ninguém. Ou seja, é o abraço dos afogados ou dos borrachos. 

O nome Mercosul deveria constar apenas dos passaportes do políticos e autoridades. Estes sim indicados para a fila do scanner que flagra dólares escondidos nas cuecas públicas.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

A síndrome das retrospectivas

por José Esmeraldo Gonçalves

Já participei de muitas, mas não havia nada mais entediante do que as edições retrospectivas de fim de ano. Eram revistas especiais talvez menos úteis aos leitores do que às redações.

Em função do número frio - as notícias eram descongeladas no freezer - eram ótimas, na verdade, para antecipar fechamentos e facilitar o revezamento das equipes nas folgas de fim de ano.

As pautas eram quase robóticas, iam se montando sem muito esforço. Os fatos políticos, as tragédias, as vitórias esportivas, os melhores livros, as músicas do ano, as peças, os filmes, as personalidades, as conquistas da ciência e um quesito inevitável: os mortos vips do ano. Trabalhei em várias revistas e todas se rendiam aos "especiais" da virada. Geralmente, não vendiam bem. Chegavam às bancas entre Natal e Ano Novo, um período em que os leitores andavam meio desligados ou ligados em outras e prazerosas perspectivas.

Várias publicações ainda investem em retrospectivas, mas esses "especiais" estão sumindo aos poucos. Até as revistas impressas, aliás, estão rareando. A tradição de rever o que passou fica por conta, principalmente, dos veículos digitais e da TV.

Em 2018 - e não apenas no começo, mas ao longo do ano -, o jornalismo não vai escapar de megas e sucessivos retrospectos: 1968 completará 50 anos. Sei lá porque, números redondos inspiram pautas desde que os tipos móveis de Gutenberg estimularam a criação de panfletos em Estrasburgo, Antuérpia e outras cidades da Europa a partir de 1605.

E 1968 pede pra ser retrofitado, é uma marca. As barricadas da contestação, as mortes de Robert Kennedy e Martin Luther King, o assassinato do estudante Edson Luis pela ditadura, a Primavera de Praga, a Ofensiva do Tet na Guerra do Vietnã, a assinatura da Lei dos Direitos Civis, nos Estados Unidos, e o AI-5 fechando aquele ano por aqui, só para citar alguns fatos, vão ganhar espaço na mídia.

Embora tenha sido um ano agitado, 1968 começou meio devagar, como o carioca Correio da Manhã noticiava nos primeiros dias de janeiro.

Nos recortes das edições iniciais, abaixo, há até um certo jeitão de 2018. O tempo não passou ou o Brasil parou?

Essa é a contribuição do blog: a retrospectiva que retroage.

Assim como Temer aguarda passar o carnaval para botar 
uma meia-sola na sua equipe e profetiza um quadro econômico de dias felizes, 
Costa e Silva anunciava novo ministério e fim do arrocho.

Não havia Lava Jato mas a busca por dólares expatriados era notícia. 



O governo admitia o óbvio



Racismo no boteco.
A palavra feminicídio não era usual, mas
a violência machista sim.  E permanece rotineira.


Ontem como hoje, a histeria moralista


Universidades na penúria e a pesquisa como vítima.
Partido criado pela ditadura para fazer figuração de oposição amiga, o MDB virou PMDB
e hoje, 50 anos depois, volta ser MDB. 


Pagamento atrasado  no Rio ... mas só por um dia


Delatores ainda não premiados



O Rei da Vela chegava ao Rio. Atualmente está em cartaz em São Paulo, 50 anos depois da estréia.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Roberto Muggiati: Natal na Bloch

Por Roberto Muggiati

Já instalado na espaçosa sede do Russell, com o apoio gastronômico do chef Severino Ananias Dias, Adolpho iniciou lá pelos anos setenta um ritual natalino. Costumava enviar aos funcionários mais graduados um opulento – e suculento – peru de Natal. Por “mais graduados” entenda-se um grupo heterogêneo que incluía as pessoas profissionalmente mais importantes, aquelas que o ajudavam a ganhar dinheiro; e figuras avulsas que ocupavam um lugar no seu coração: por exemplo, o Marechal, o chefe dos contínuos, que certa vez figurou nas lista dos Dez Mais Elegantes do Ibrahim por seus ternos de linho branco; o Layrton, seu secretário e factótum: para cobrir a Copa do Mundo e as Olimpíadas, a Abril criou uma agência de viagens, já o Layrton embarcava sozinho as equipes das revistas e de TV da Bloch; ou o ator Grande Othelo, que nem funcionário era, mas havia feito um papel excepcional em O Homem de La Mancha, o musical que inaugurou o Teatro Adolpho Bloch. Adolpho se gabava da sua cozinha e inventou um bordão: “Nós somos um grande restaurante que, por acaso, também imprime revistas...”

A boa culinária e a vista cartão postal da baía de Guanabara transformaram a sede do Russell também num importante ponto de visitas ilustres. Muitas vezes ajudei Adolpho a receber celebridades como a irmã do Xá do Irã, a Princesa Alexandra de Kent, Liza Minnelli, Roman Polanski, o tenor Placido Domingo (que fez um dueto na sacada com Mário Henrique Simonsen), a proprietária do Washington Post, Katherine Graham (pouco depois que seu jornal derrubou Richard Nixon), o ator do filme Amadeus, Tom Hulce e incontáveis outros. Alfredo Machado, editor da Record e amigo de Adolpho, levou lá escritores famosos como o best seller Sidney Sheldon e Doris Lessing, depois Prêmio Nobel.

Voltando ao peru: no dia 24 de dezembro você ficava em casa, por volta de meio-dia, esperando a chegada do carro da Bloch com a sua ave. Se por algum motivo você estivesse em baixa na ocasião, o peru não vinha. Se a sua cotação estava em alta, o peru não só vinha, mas acompanhado de um tender ou até mesmo de um caprichado pernil. A dádiva natalina do Adolpho era uma maneira de você aferir a quantas andava o seu prestígio com o Titio, como era chamado pelos comandados mais próximos, como o Arnaldo, o Zevi e o Murilo.

O departamento chamado de Expedição era uma coisa muito confusa e estas deliveries da Bloch às vezes criavam encrencas terríveis. Certa ocasião, num fim de semana, o Cony recebeu no seu apartamento da Lagoa, uma caixa de madeira nobre com uma dúzia de garrafas de um vinho francês de casta raríssima. Presente do Oscar Bloch Sigelmann. Não entendeu nada – principalmente porque o Oscar o hostilizava – mas incorporou a preciosidade à sua adega. Dias depois, o Oscar aprontou um barraco monumental na Expedição, demitindo uma dezena de funcionários. O mimo se destinava ao Colin, presidente do Banco do Brasil, mas como a ordem do Oscar fora verbal, a Expedição tomou Colin por Cony, que era mais conhecido e o queridinho do Adolpho. Oscar implorou ao Cony que estornasse a caixa de vinhos, mas àquela altura o Cony já tinha entornado todas.

Adolpho Bloch tem duas biografias curiosamente relacionadas aos seus dois casamentos.
O primeiro O pilão, de 1978, foi supervisionado por Luci Bloch. 

Dez anos depois, Anna Bentes, sua segunda mulher, coordenou
a edição de O pilão, segundo volume.

Outra delivery desastrada ocorreu quando Adolpho estava para completar o que chamava seus “quatre- vingts” – os oitenta anos – Anna Bentes organizou de surpresa a edição do segundo volume de O pilão. O primeiro Pilão fora lançado em 1978, na Era Lucy. O pilão de Anna Bentes, em edição esmeradíssima, com capa dura, seria distribuído durante a festa de aniversário, à noite +a beira da piscina. Inadvertidamente, porém – talvez para agradar o patrão, um funcionário da gráfica em Parada de Lucas telefona de manhã cedo para o aniversariante: “Seu Adolpho, o caminhão com os livros vai sair agora. É para entregar no Russell, mesmo?” Estragada a surpresa, Anna Bentes ficou passadíssima.

O peru de Natal vinha
sempre acompanhado
de um cartão semelhante ao
da reprodução, que
agradecia comparecimento
a aniversário de
Adolpho.

Sendo goy, eu não entendia muito as festividades judaicas, mas aos poucos fui me embrenhando no assunto. Havia uma lenda de que Adolpho, irreverente quando mais jovem, costumava provocar os rabinos nos dias de jejum botando uma carrocinha de cachorro quente na frente da sinagoga da Rua Tenente Possolo, a mais tradicional, perto Praça da Cruz Vermelha. No Dia do Perdão, o Yom Kippur, a troika – Adolpho assim chamava o trio Adolpho/Jaquito/Oscar – comparecia ao trabalho de terno escuro e gravata por uma ou duas horas, com um ar compenetrado. Num destes Kippurs resolvi dar uma de Adolpho pra cima do próprio. Era manhã cedo, estava sozinho na sua sala, cheguei a ele e perguntei: “Adolpho, nunca entendi direito essa coisa do Dia do Perdão. Quem é que tem de perdoar: eu a você, ou você a mim? Falar nisso, Adolpho, estou fudido, meu salário não está dando mais para viver...” Atordoado pela ousadia, com um olhar de criança inocente, ele me perguntou: “Quanto é que você está precisando?” Eu chutei uma quantia alta, sabendo que ele iria regatear. Foi assim que comecei a ter meu aumento salarial anual a cada Yom Kippur. Política salarial na Bloch nunca existiu. Cada um tinha de garantir o seu num corpo-a-corpo com o chefão. A grande maioria não tinha sequer acesso ao Adolpho e assim ficava a ver navios anos sem fim. A Bloch – apesar do talento incrível que por lá passou, do jornalismo e da literatura brasileiros – era uma tremenda mixórdia, que deu no que deu. Mas foi divertida, enquanto durou.