sexta-feira, 2 de junho de 2017

Os dias da esquerda festiva eram assim, segundo Elizabeth Lebarbenchon, protagonista de uma matéria da Fatos & Fotos em 1968...



Recentemente, Roberto Muggiati, ex-diretor da Manchete e da Fatos & Fotos, publicou no Panis, um texto sobre a fotógrafa Zulema Riba e uma matéria de comportamento feita nos anos 60 em torno da "esquerda festiva".

Ipanema, Cine Paissandu, Castelinho, Oklahoma, Jangadeiro, Lamas, Zeppelin e outros points dos jovens estudantes e intelectuais da época eram locações obrigatórias. O blog também está publicando a série "Fotografia- Manchete 65 anos - A Exposição Impossível", com reproduções de imagens do acervo desaparecido da extinta Bloch.

Essas duas matérias despertaram lembranças da leitora e designer Elizabeth Lebarbenchon. Ela enviou ao Panis o comentário que se segue:

"Quando fui passar minhas férias com a família em Copacabana, estávamos no Castelinho,eu Elizabeth , meu primo Renato Polli , minha irmã Heloisa e suas amigas Eliane e Regina, quando fomos abordadas pela fotógrafa da Fatos e Fotos Zulema Rida, e texto de Antonio Texeira Junior, para uma reportagem. Fomos inúmeras vezes clicadas, eu estava tomando um suco de laranja e fui então fotografada e minha foto ocupou a metade da página 46, com o tema "Esquerda Festiva se diverte", a foto ficou linda, guardo até hoje a revista "Fotos e Fotos" com a Leila Diniz na capa. 
Na época tinha acabado de completar 18 anos e também descontentes com a política que atravessava o Brasil, conversávamos distraídas, alegres sobre os acontecimentos, meu pai, tinha loja de armas em Florianópolis, nossa família não poderia ser da esquerda de jeito nenhum, causou saia justa, meu pai foi chamado para dar esclarecimentos ao exército. Tenho a Revista inteira e a reportagem vou comentar no meu blog com a foto. hoje vou postar a foto e falar da reportagem, meu endereço: http//betinhathomaselli.com.br

A data da reportagem 15 de fevereiro de 1968 . Fatos e Fotos . Tema : O que há de novo na Esquerda Festiva." 


Como prometeu, Elizabeth postou no seu blog (http://betinhathomaselli.com.br/nossos-dias-eram-assim/ ) uma reprodução da matéria que tinha o título "Close-up da Esquerda Festiva" e assim descrevia seus adeptos:

Em geral, ela usa mini saia e eles tem barbas, só usam calça Lee e camisa de marinheiro, embora detestem militares e os americanos (“esses imperialistas”). São insatisfeitos, rebeldes, do contra, auto suficientes e autores de frases que, não raro, pertencem a Sartre ou  a Jean-Luc, Godard. Assim é o jovem da esquerda festiva ou Geração Paissandu", 

As fotos de Zulema falam por si e mostram o típico jovem idealista da época nos modos e figurinos. Já o  repórter, Antonio Teixeira Júnior, descreve o "universo carioca" mas deu ao texto um certo tom irônico e generalizou estereótipos do tipo "decoram livros para show de erudição", "consideram os pais burgueses decadentes, mas toleram a mesada" e por aí foi. Enfim, eram preconceitos comuns à "maioria silenciosa" da época.

No mais, a Fatos & Fotos mostrou em tempo real cenas que remetem à atual série da Globo  "Os dias eram assim".

Veja, abaixo, nas reproduções feitas por Elizabeth, então com 18 anos e protagonista da reportagem.










5 comentários:

Chris disse...

Cinemateca do MAM, Parque da Cidade, Cine Veneza, Pier, ESDI, Teatro da Praia eram também refúgios contra o clima pesado do Brasil. Hoje de novo pesado por outros motivos.

J.A.Barros disse...

Mas essa não foi a esquerda que pegou em armas contra o regime militar implantado no Brasil em 1964.

J.A.Barros disse...

Essa esquerda festiva tinha dinheiro para gastar em bares alguns nos shopes e muitos no "milk shake". Gostaria de saber o que pensam hoje esses "esquerdistas" de festivais e de bares de Ipanema.

Maria Lúcia disse...

Nelson Rodrigues criou o termo Esquerda Festiva. Nada contra ser festiva. E muitos desses jovens produziram cultura naqueles anos. Sob o rótulo, entre um chope e outro, formaram-se grandes nomes do cinema, literatura, teatro, música, jornalismo etc. Parte dessa geração foi para o exílio, outros presos, outros para a luta armada, outros silenciaram nas drogas, outros fizeram a oposição possível no Brasil da ditadura. Assim é a vida, cheia de rumos.

Maura disse...

Os nossos anos rebeldes, sou dessa geração. Tem boas saudades mas vida que segue.O que me deixa triste é ver muitos jovens ainda lutando por ideais não alcançados. Paramos no tempo em direitos, liberdade, harmonia, solidariedade?