sábado, 12 de agosto de 2017

Censo religioso ou interrogatório?

Aparelhamento religioso? Internautas ironizaram o estranho questionário interno da Guarda Municipal
do Rio de Janeiro. Reprodução Twitter


O censo religioso realizado pela Guarda Municipal do "bispo" Crivella motivou memes nas redes sociais. Um papelucho oficial que foi distribuído entre os guardas mais parecia formulário dedo-duro do Dops da ditadura. Pedia nome, matrícula, religião, se o sujeito praticava a religião e, segundo um guarda, perguntavam até a "denominação", nome que se dá às várias vertentes pentecostais.

A estranha enquete recebeu críticas e a Justiça quer saber qual o objetivo do papelucho. A Guarda diz que quer construir uma capelania.

Apesar de ser dispositivo constitucional ultimamente desmoralizado, o Estado é laico e não deve investir tempo e dinheiro privilegiando religiões. Nem as Força Armadas deveriam ter capelães. Religião é uma prática privada, deve ser realizada em casa, nas igrejas, nos centros, nos terreiros.

Seria o caso de perguntar: nessa capelania praticantes de religiões afro poderiam fazer seus rituais? Iemanjá pode entrar? Duvido. As religiões afro são perseguidas e sofrem até atentados terroristas por parte de fanáticos, vejam o caso da Casa do Mago, tradicional centro espiritual no Humaitá, Zona Sul do Rio de Janeiro. A casa foi atacada por duas vezes com bombas incendiárias. Se isso não é o terrorismo religioso desembarcando no Brasil...

Sem falar que a Guarda Municipal tem muito trabalho a fazer. As ruas estão dominadas por camelôs e, no meio do vendedores honestos, estão aqueles que comercializam produtos originários de roubos de cargas. Apesar disso, Crivella anuncia que vai abrir quase cinco mil vagas para novos camelôs.

Ditaduras fundamentalistas têm suas guardas religiosas, que cuidam da "moral" e da fé. Na Arábia Saudita e no Irã, por exemplo, o pau come em quem desafia os opressores.

A Guarda Municipal do Rio de Janeiro quer ser isso quando crescer?

Segundo o jornal Metro, há denúncias de que chefes estão exigindo que os guardas respondam ao questionário. "Muitos, sentiram-se coagidos pelo fato de o prefeito Marcelo Crivella (PRB) ser bispo licenciado da Igreja Universal, estão se  declarando evangélicos, mesmo sendo de outras religiões, com medo de represálias", diz o Metro.

Vai que o guarda marca o X na religião errada?

Atualização em 14/8/2017- É bom a Guarda Municipal do Rio de Janeiro saber que a reforma trabalhista imposta pelo governo Temer restringe horas extras. Por exemplo, o tempo que um guarda passar na "capelania" é atividade privada, não pode ser computada como hora extra e deve ser descontado das horas trabalhadas. É algo para o Tribunal de Contas do Município examinar quando a "capelania" for instalada. Apenas um detalhe a mais sobre a trapalhada do "censo religioso".

2 comentários:

Corrêa disse...

Tenho medo dessa onda que nem chama de moralista tem aí muitos político religiosos envolvidos até a tampa na corrupçãoa da Lava Jato, Mensalão e muitos outros golpes. Não confio nessa gente.

J.A.Barros disse...

Esse é o perigo de se ter um governante Pastor, Católico extremado: misturar o poder temporal com o poder espiritual