sexta-feira, 11 de maio de 2018

Documento da CIA revela mecanismo de assassinatos montado por Médici, Geisel e Figueiredo

O Globo foi o único grande jornal que estampou a denúncia com destaque na primeira página.

A Folha foi discreta. E coerente: o jornal defende que a ditadura foi "ditabranda". E preferiu usar
"avalizar" em vez de "autorizar"


Estadão também minimizou a notícia e sublinha o "aval' de Geisel. Só na pequena chamada usou o verbo "autorizar"

O Zero Hora deu minúscula chamada e preferiu dizer que Geisel "tinha controle".
por José Esmeraldo Gonçalves 

O passado ressurge, hoje, nas primeiras páginas dos jornais brasileiros. Matias Spektor, da Fundação Getúlio Vargas, revela o dramático conteúdo de um memorando da CIA, parte de um acervo que perdeu desde 2015, nos Estados Unidos, a classificação de "reservado".

No memorando de 11 de abril de 1974 o ex-diretor da CIA William Colby comunica ao Secretário de Estado Henry Kissinger que Ernesto Geisel - que tomou posse em março do mesmo ano -  foi informado da execução de 104 opositores do regime militar como ação rotineira do governo de Garrastazu Médici e autorizou a continuação do mecanismo oficial de extermínio de "subversivos".

Da reunião que validou o Estado como assassino participaram, além do próprio Geisel, João Figueiredo, que assumia a chefia do SNI, e os generais Milton Tavares de Souza e Confúcio Dantas de Paula Avelino. Figueredo, como se sabe, sucedeu Geisel e sob o seu governo aconteceu o atentado a bomba no Riocentro. Mas essa é outra história que algum memorando a ser retirado, no futuro próximo, de uma gaveta qualquer da CIA ou do Departamento de Estado americano revelará.

Aqui, como o Exército informa, hoje, documentos desse tipo foram destruídos.

Pesquisador há vinte anos, Spektor declara que o memorando do agente Colby é "perturbador". De fato, é uma folha de papel que tem o poder de demolir o castelo de cartas que alguns escritores, parte da mídia, muitos cientistas políticos, apoiadores da ditadura, filhotes e descendentes dos seus beneficiários ajudaram a construir. Um grande jornal foi até mais direto na elaboração do mito. A Folha de São Paulo - que muito além do apoio ao regime foi participante, contribuindo até com viaturas cedidas para a repressão - instituiu o conceito de "Ditabranda" para classificar o suave espectro cor-de-rosa que seus editores desenharam sobre uma das mais trágicas eras da história política do Brasil. Seria a tese de que nada existiu: a tortura era cordial, a censura foi amiga, o exílio era turístico e os assassinatos cenográficos.

O documento da CIA cita Geisel e os três generais fardados. Mas caberia muito mais gente nas salas do Planalto quando o assassinato político foi admitido como estratégia de governo. Gente civil, de paletó e gravata. Desde a década anterior os governos militares vinham erguendo conjunto de leis, como o Ato Institucional n° 5 e a própria instituição da pena de morte para crimes políticos (esta nunca aplicada oficialmente, mas, vê-se agora, imposta em segredo), como respaldo ao endurecimento do regime. O método que a CIA descreve tem muitos coadjuvantes. Basta ler a lista de ministros, governadores nomeados, altos funcionários, embaixadores, juízes, chefes de agências de segurança, comandantes, executivos de corporações que colaboraram com a repressão etc.

Muitos, desgraçadamente, permaneceram influentes na vida política do Brasil.

Não há inocentes no organograma de um regime capaz de fazer um macabro workshop para decidir mortes em massa. Seus sobrenomes estão aí em nomes de cidades, de ruas, de viadutos... E seus legados sobrevivem em artigos de jornais, nas redes sociais e até no programa de governo de certos candidatos a presidente neste sombrio 2018.

EM 1985, MATÉRIA DA REVISTA FATOS RELATAVA MÉTODOS 
DE EXTERMÍNIO DA DITADURA

Reprodução Fatos, 1985. 
É surpreendente que documentos como esse sejam revelados em toda sua extensão apenas 44 anos depois. Ao longo desse tempo, muitos jornalistas, escritores e pesquisadores enfrentaram barreiras para expor o passado. Mesmo assim, dezenas de reportagens aqui e ali montaram parte do mapa da violência política. O jornalismo investigativo se esforçou - e conseguiu - localizar centros de tortura e testemunhas dos efeitos da "política de governo" que o memorando da CIA oficializa. Se mais não conseguiu foi pela quase impossibilidade de encontrar documentos. A maioria das reportagens se baseava em depoimentos de ex-participantes dos órgãos de segurança e de sobreviventes. Os documentos, como a Fatos afirmou em 1985 e o Exército repete agora, foram destruídos. É preciso constatar também que a Anistia, assim como perdoou crimes como esse que a CIA conta, instaurou em muitos setores uma espécie de pauta do esquecimento. Mesmo assim, repito, embora pontas tenham ficado soltas, o método que o memorando revela foi exposto por vários repórteres em vários veículos em um jornalismo de resistência que levou à instauração da Comissão da Verdade.

 O Brasil é que, aparentemente, não quis puxar esse fio desencapado.

PARA SABER MAIS SOBRE A MATÉRIA DA FATOS, CLIQUE AQUI

8 comentários:

Ebert disse...

O tal do memorando confirma o que todos sabiam. O que ninguém sabe é quantos foram assassinados, 104 só em um ano. E os que morreram em acidentes simulados como a Zuzu Angel ou jogados no mar. Tem os que foram fuzilados na fronteira ao voltar do Chile. Tem muita gente que participou da ditadura e aí ainda, Sarney, Moreira, Delfim, Maluf

Leda disse...

A história foi sonegada, a imprensa sob censura não contou a verdade.

J.A.Barros disse...

Nunca existiu no mundo regime de exceção ou regime ditatorial, sem prisões, sem torturas, sem assassinatos porque esses regimes para se manter precisam ter as suas prisões cheias de insurgentes e revoltosos contra esses regimes e ao mesmo tempo mante-los de boca calada e para mante-los de boca fechada só a aniquilação deles os calaria para sempre. Nunca existiu governo militar bonzinho. Não vamos nos iludir que um governo foi mais bonzinho do que o outro. Todos, todos foram cruéis e assassinos porque para manter esse poder o assassinato é a solução. Por enquanto – até surgir um regime político melhor – a democracia ainda é a solução.

Wilson disse...

Alguém por acaso ainda duvidava de que esse alemão era um ditador matador?

Prof. Honor disse...

Infelizmente, livros de Said Faraht, Elio Gaspari, Carlos Chagas e outros lustraram a imagem dos ditadores. O período da ditadura como mostram os memorando da CIA, e devem haver muito mais, ainda precisa ser pesquisado e revelado com seriedade,

Rick disse...

Bando de homicidas

Gontijo disse...

Geisel e os generais estavam certos. Tinha mais era que matar aquela corja comunista. Deviam era voltar para atar mais. São um bando de ateus, não temem o senhor Jesus, é pra queimar na fogueira santa de Israel.

Wilson disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.