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quinta-feira, 24 de maio de 2018

Rio, 1968: de volta ao cenário dos "indecisos cordões'...

A Fatos & Fotos cobriu com numerosa equipe as passeatas de 1968, que renderam até edições especiais. (*)


Um dos focos dos protestos no fim de junho de 1968 visou a Embaixada americana. Nesse local, duas estudantes foram baleadas. Os fotógrafos que tentaram registrar a cena foram ameaçados por agentes de arma na mão A esquerda, de camisa branca, o fotógrafo Pedro Moraes.  Reprodução Fatos & Fotos n° 387

O mesmo ponto, o mesmo ângulo, em 2018. Foto J.E.Gonçalves

Em 4 de abril foi celebrada na Candelária missa em homenagem ao estudante Edson Luís, assassinado
pela polícia seis dias antes. A cavalaria da PM cercou e atacou a multidão que deixava a igreja.
Reprodução Fatos & Fotos n°376

A Candelária em 2018: apenas abrigo para uma tarde calorenta. Foto de J.E.Gonçalves

Antes do cortejo que levou o corpo de Edson Luis ao cemitério São João Batista, o povo cantou o
Hino Nacional na escadaria da atual Câmara dos Vereadores, então Assembléia. Legislativa do Estado
da Guanabara. Reprodução Fatos & Fotos n° 375

O mesmo local em um dia comum. Foto de J.E.Gonçalves

O campus da UFRJ na Avenida Pasteur era um constante alvo da repressão.O confronto acima começou após um assembleia na Faculdade de Economia. Centenas de estudantes foram detidos ao tentar furar o bloqueio da PM. Reprodução Fatos & Fotos n° 387.

O velho portão como testemunha. Foto J. E.Gonçalves

Restos da batalha na Rio Branco. Reprodução Fatos & Fotos n° 387

O mesmo front hoje irreconhecível. Foto J.E.Gonçalves

por José Esmeraldo Gonçalves

Não é preciso embarcar na máquina do tempo de H.G.Wells. Basta entrar no VLT e pedir para saltar em 1968.

Naquele ano, o Rio de Janeiro, especialmente o Centro da cidade e a Avenida Pasteur, local de várias unidades da UFRJ, eram palco da revolta dos estudantes e de violentos confrontos com tropas do Exército e da Polícia Militar do então Estado da Guanabara.

Entre março e junho, a Fatos & Fotos dedicou sucessivas edições às passeatas, com centenas de fotos. Os estudantes adotavam táticas inspiradas na guerrilha e surpreendiam a repressão ao alternar focos de protesto nas ruas México, Uruguaiana, Presidente Vargas, São José, Largo de São Francisco, Cinelândia e e Rio Branco. A estratégia permitia que líderes universitários e secundaristas fizessem rápidos comícios antes da chegada do batalhão de Choque.

O antigo front carioca não foi exatamente preservado como os santuários da Primeira Guerra, na Europa, nem é citado em guias de turismo. Não há placas de bronze ou chamas eternas, mas várias dessas esquinas registraram seus feridos e mortos.

Em uma tarde de uma segunda-feira deste maio de 2018, o campo de batalha visto em celular parecia calmo se confrontado com as imagens dramáticas da Fatos & Fotos.

Nem sinal dos "indecisos cordões" citados na canção de Geraldo Vandré.

(*) A Fatos & Fotos não deu crédito individual aos repórteres e fotógrafos que cobriram as manifestações para as três edições focalizadas acima.  Eram relacionados com "equipe". Registro aqui os nomes dos profissionais escalados para a árdua missão nas ruas e esquinas do Rio em 1968. 
Repórteres: Helena Beltrão, Carlos Castilho e Edson Cabral, 
Fotógrafos:  Juvenil de Souza, Nicolau Drei, José Martins, Jorge Aguiar, Armando Rosário, Milton Carvalho, Antonio Trindade, Gervásio Baptista, Nelson Santos, Vieira de Queirós, Moacir Gomes,  AJB e Correio da Manhã. 

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Libération: jornal que Sartre fundou estuda encerrar edição impressa...


Sartre dirigiu o jornal durante pouco mais de um ano.
Quatro meses depois de lançado o Libération enfrentou a primeira crise. A estratégia do diretor
foi botar o pé na estrada e despachar uma caravana para percorrer a França e conquistar assinantes.
Reprodução Arquivo Pessoal

por José Esmeraldo Gonçalves 

Declarações de Alain Weill, diretor da SFR Media, que controla o Libération, demonstram que o jornal francês pode abandonar a edição impressa. A notícia foi publicada no site Jornalistas na Web.
Weill constata que "não há um jornal em papel que conheça o crescimento, 60% dos jornais em papel não se vendem. Este modelo está condenado”.

O Libération foi lançado por Jean-Paul Sartre em fevereiro de 1973 como uma tribuna para discutir questões levantadas a partir dos protestos de Maio de 1968. Não era ligado a partidos, mas tinha orientação de esquerda (maoísta), não aceitava publicidade paga, todos os funcionários recebiam salários iguais, e pretendia sobreviver de vendas em bancas e de assinaturas. Era um forma de manter a independência. O nome de Sartre como diretor, abaixo do logotipo vermelho, como se vê na reprodução, não durou muito. Pouco mais de um ano após a estreia, o escritor pediu as contas.

Sua tarefa não era fácil. Um livro - "Libé - A obra impossível de Sarte" - de Bernard Lallement, mostra a dificuldade do criador do jornal para exercer funções administrativa e financeira em interface obrigatório com o capitalismo do mercado em um diário maoísta. Complicado.

O Libération foi fonte de inspiração para uma geração de jornalistas que começava a trabalhar nos difíceis anos 70, no Brasil, e um espelho para imprensa alternativa que tentava romper o cerco à liberdade de expressão promovido pela ditadura militar.

O jornal manteve-se íntegro à proposta original durante poucos anos até rolar para a social-democracia e centro-esquerda. Mas os seus ideais originais se desfizeram no ar muito antes de, em 2005, ser vendido ao milionário Edouard de Rothschild, o que diz tudo. Sartre deve ter provocado um pequeno sismo de indignação no Cemitério de Montparnasse, onde repousa desde 1980.

Simone de Beauvoir e Sarte na redação do
Libération, em 1973. Sobre a mesa,
o número 1 do jornal.
Com apenas três meses de existência, o Libération, que chegou a ser influente, enfrentou a primeira crise financeira, ainda sob o comando de Sartre. A fórmula para superar problema de caixa ou "tédio" financeiro foi, digamos, algo existencialista com um improvável aditivo romântico. O número 40, de junho de 1973 (guardo um exemplar histórico, com apenas oito páginas), avisava aos leitores que a circulação seria suspensa por dois meses e que, nesse período, equipes do jornal percorreriam, ao estilo da prova ciclística Tour de France, que mobilizava milhares de fãs, um circuito de cidades ao longo de 4 mil quilômetros para divulgar o Libé. como era carinhosamente chamado. A ideia era atrair novos leitores, debater rumos, etc. O roteiro incluía, além do Tour, vistar praias em pleno verão europeu para tentar angariar assinaturas. Um pequeno editorial - "La Lutte Continue!" - informava que o tabloide ficaria fora das bancas em julho e agosto.

Sob o título "Autópsia de uma Sociedade", o número 40, o último antes da pausa forçada, trazia uma entrevista com Daniel Cohn-Bendit marcada por alguma desesperança e muita nostalgia para celebrar os "5 ans après Mai 68".

Que, aliás, ano que vem, comemorará 50 anos e vai merecer muitas outras "autópsias" na midia mundial.