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terça-feira, 4 de abril de 2023

Um encontro entre Kafka, Proust e Joyce, mestres do mesmo tempo

Recuperando-se de uma fratura no fêmur, Roberto Muggiati - a quem Alberto, na Manchete, apelidava de Muggi das Crises -  volta ao blog através de uma matéria publicada no Estadão no dia 18 de março de 2023. 

A mobilidade ainda comprometida não o impediu de levar a flanar em Paris Marcel Proust, James Joyce e Franz Kafka. "Gosto de elaborar encontros hipotéticos entre os três", diz Muggiati. Leia a seguir. 



Na ocasião dos centenários de suas vidas e obras, uma 
discussão sobre a relação entre grandes autores do século 20


por Roberto Muggiati (para o jornal Estado de São Paulo)


O francês Marcel Proust (1871-1922), o irlandês James

Joyce (1882-1941) e o checo Franz Kafka (1883-1924) foram

indiscutivelmente os maiores romancistas do século 20.

Morreram jovens, respectivamente aos 51, 58 e 40 anos.

Proust - filho de um médico francês, cuja mãe, Jeanne Weill,

tinha origem judaica - notabilizou-se com a saga Em Busca do

Tempo Perdido, uma das mais brilhantes investigações sobre

os mecanismos da memória afetiva. Joyce evoluiu das

primeiras obras em estilo realista para dois impressionantes

monumentos da técnica narrativa: Ulysses, com seu complexo

arcabouço estrutural, e Finnegans Wake, magistral

desconstrução da linguagem ficcional. E Kafka, judeu-checo

que escrevia em alemão (era súdito do Império Austro-

Húngaro), com suas fábulas e parábolas sombrias, cortou

fundo a fachada social para expor o absurdo do mundo.

Gosto de elaborar encontros hipotéticos entre os três.

Tecnicamente - pelo menos dois a dois -, Proust, Joyce e Kafka

poderiam ter cruzado caminhos. As hipóteses viajam da Trieste

austro-húngara de 1908 à Paris da belle époque em 1910 e à

Paris dos années folles de 1922. Em outubro de 1910, 

aos 27 anos, Kafka passou poucos dias em Paris, com os irmãos Max

e Otto Brod. Fez o que todo visitante faz: caminhou pela

cidade. Mas suas flâneries foram bruscamente interrompidas

por uma violenta crise de furunculose. Além do mais, Proust

preferia se deslocar de coche, sem se acotovelar com a

patuleia. Kafka, funcionário burocrata do ramo de seguros,

ainda não se revelara escritor, enquanto Proust juntava

dinheiro para publicar, do próprio bolso, o primeiro volume de À

la Recherche du Temps Perdu, em 1913.

Entre novembro de 1907 e julho de 1908, Kafka foi empregado

da companhia de seguros Assicurazione Generali, de Trieste.

Teria visitado pelo menos uma vez a cidade, onde James

Joyce morou de 1905 até o começo da Primeira Guerra, em

1914. Mas um encontro entre Kafka e Joyce ali não passaria de

uma fortuita proximidade anônima na rua ou num café -

existem menções de que Kafka adorava o Caffé degli Specchi -

o Café dos Espelhos, frequentado por Joyce. Depois de morar

em Zurique durante a Primeira Guerra, Joyce mudou-se com a

família para Paris, a partir de julho de 1920. Não só um

encontro com Proust era tecnicamente viável, como ocorreu e

fez história. Proust e Joyce no Hotel Majestic: um encontro

desastroso. Apoiei-me em informações selecionadas dos

livros Uma Noite no Majestic e Um por Um - 101 Encontros

Extraordinários, respectivamente dos ingleses Richard

Davenport-Hines e Craig Brown, lançados no Brasil em 2006 e

2014.

Anotou o poeta americano William Carlos Williams, que

também era médico: 

- "Joyce: 'Tive dor de cabeça o dia inteiro. Meus olhos estão terríveis';

- "Proust: 'Ai, como dói meu estômago. Está me matando. Preciso partir imediatamente'; 

- "Joyce: 'Estou na mesma situação. Alguém pode me dar o

braço?'".

A partir de então, durante horas, os dois discutem suas

várias doenças. A noite termina com Proust convidando os

Schiff para o seu apartamento e Joyce se esgueirando no táxi

também. O irlandês começa a fumar e abre a janela, causando

um chilique em Proust, um asmático que detesta o ar fresco.

Na breve corrida, Proust fala sem parar, mas não se dirige a

Joyce. Quando os quatro descem a Rua Hamelin, Joyce tenta

juntar-se ao grupo, mas Proust faz de tudo para se livrar dele:

- Deixe meu táxi levá-lo para casa!", insiste, e desaparece com

Violet Schiff, delegando a Sydney a missão de enfiar Joyce no

táxi. Finalmente livres da companhia de Joyce, Proust e os

Schiff bebem champanhe e conversam alegremente até o dia

raiar"

Estas e outras especulações sobre a vida pessoal dos três

escritores vêm rolando por algum tempo, do centenário do

lançamento de Ulysses (fevereiro de 2022), ao centenário da

morte de Proust (novembro do ano passado), passando pelos

140 anos de nascimento de Kafka em julho de 2023, e pelo

centenário da sua morte em 2024; pelos 110 anos de Em

Busca do Tempo Perdido, e ainda - haja comemoração! - pelos

120 anos do Bloomsday, em 16 de junho de 2024.

terça-feira, 20 de junho de 2017

Turista acidental: Temer reinventa a máquina do tempo e vai visitar a "República Socialista Soviética da Rússia" e é recebido por Leonid Brezhnev




Temer desembarca na "República Socialista Federativa Soviética da Rússia". Foto Agência Brasil.
Leonid Brezhnev, estadista soviético, acena para Temer
e comitiva ao receber os brasileiros no aeroporto, em Moscou.


por O.V.Pochê 

Temer e outros citados em delações como envolvidos em corrupção estão na Rússia. Representando o Brasil. Só isso aí já é um absurdo. Alguns dos viajantes já deviam ter os passaportes entregues à PF.

Mas a "presidência da república", assim mesmo, em minúsculas e entre aspas, resolveu dar mais uma contribuição ao surrealismo nacional e informou ao mundo, oficialmente, ontem, que Temer estava de partida para a "República Socialista Federativa Soviética da Rússia". A informação foi publicada no site oficial, mas à maneira de Stálin, que mandava retocar fotos para corrigir o passado, o post foi devidamente apagado. Sorte que muitos internautas reproduziram e compartilharam a дерьмо (*) monumental.

O ilegítimo lançou há tempos um pretensioso programa a que deu o nome de "Ponte para o Futuro". A julgar pelo nível geopolítico do seu staff vai lançar agora o "Ponte para a Escola".

Sem saber nem o nome do país para onde seguiu, a comitiva assim desinformada estaria tentando marcar reuniões bilaterais com os líderes soviéticos Nikita Khrushchev, Leonid Brezhnev e Kostantin Chernenko.

Dizem que os representantes do Brasil estavam ansiosos para encontrar fora da agenda Mikahail Gorbachev, um comunista a quem admiram e com quem gostariam de fazer uma selfie.

Segundo um fonte ligada a um assessor de um megaempresário do setor de proteínas, Temer iria tentar parcerias comerciais. Ele estaria muito interessado em importar carros Lada e Niva. Já o ministro das "relações exteriores", Aloysio Nunes, tinha preocupações mais ligadas à Guerra Fria e se comprometeu com a embaixada americana a repreender a República Socialista Federativa Soviética da Rússia por instalar bases de mísseis em Cuba.

Outras reivindicações do ministro recomendada por seus tutores são insistir junto a Moscou para que liberte o piloto Francis Gary Power, que caiu de paraquedas em território soviético quando seu avião-espião U2 foi abatido e pedir "energicamente" que Moscou ponha abaixo o Muro de Berlim.

A comitiva também pretendia visitar a sede KGB, que considera deter know how que interessa à Abin, como, por exemplo, tecnologia para evitar gravações de reuniões no Jaburu. Assessores militares da comitiva queriam saber mais detalhes do Pacto de Varsóvia e demonstraram interesse em ter algo semelhante na América do Sul.

Em um item mais ameno da viagem e em tempo de Copa das Confederações, Temer gostaria de visitar o famoso goleiro Lev Yashin, que jogou contra o Brasil em 1958, e o cosmonauta Yuri Gagarin, o primeiro homem a viajar pelo espaço.

Segundo os correspondentes que acompanham a cúpula da República Friboi itinerante a viagem será muito produtiva. E os soviéticos estão receptivos e amáveis.

O clima está tão bom que um pequeno incidente foi perfeitamente contornado. Foi quando um diplomata soviético querendo agradar a comitiva perguntou como estão e porque não faziam parte da comitiva os tovarichs  Loures, Joesley, coronel João Batista Lima e Geddel, do politburo do Planalto.

(*) Merda, em russo