Mostrando postagens com marcador racismo no jornalismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador racismo no jornalismo. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 15 de março de 2018

Revista National Geographic pede desculpas por racismo histórico. Jornalismo brasileiro também deve retratação


por José Esmeraldo Gonçalves 

"Durante décadas, nossa cobertura era racista". Na mais recente edição da National Geographic, a matéria de capa é um pedido de desculpas. A revista reconhece que o jornalismo que praticou durante décadas foi racista e, até a década de 1970 (a NG foi criada em 1888) praticamente ignorou "pessoas de cor". Quando apareciam em matérias realizadas no continente africano, eram classificadas como "exóticas". O mesmo rótulo era, a propósito, aplicado aos índios brasileiros.

Para edição em que faz a retratação histórica, a National Geographic contratou um estudioso da Fotografia, John Edwin Mason, professor da Universidade da Virgínia, que mergulhou na coleção da revista para identificar manifestações racistas explícitas e ilustradas. Não raro, populações "exóticas", como os aborígenes australianos, eram citados em reportagens como de "menor grau de inteligência".

A capa da National Geographic retrata o pedido de desculpas tardio mas importante. As duas meninas são gêmeas birraciais. A chamada de capa - Black and White, com as palavras trocado de lugar - é igualmente simbólica.

As coleções de jornais e revistas brasileiros também guardam manifestações racistas, étnicas ou sociais. Não há registro de um levantamento minucioso do jornalismo do passado. E, muito menos, a expectativa de que algum veículo replique aqui, hoje, o gesto da  National Geographic. Durante décadas, os negros brasileiros frequentavam apenas as páginas policiais. Índios vendiam revistas, muitas vezes, pelo enfoque "exótico". As revistas de moda ignoravam modelos negras. Para a publicidade, o Brasil era um país caucasiano.
Uma das raras capas com uma negra: Ruth de Souza na Manchete em 1953,... 

...mas a mesma Manchete foi capaz de publicar o título racista acima.

A Manchete, embora tenha sido, provavelmente, a primeira grande revista a publicar uma capa com uma negra - a atriz Ruth de Souza, em 1953 -, também foi capaz de produzir uma matéria sobre um casamento interracial - o noivo era o jogador Escurinho, do Fluminense - e destacar um título que é um exemplo de racismo: "Quem ama o preto bonito lhe parece".

O Cruzeiro: a criminalização das religiões de origem afro. 

O Cruzeiro, em outro exemplo, focalizava manifestações religiosas de origem afro como rituais criminosos.

Em tempos mais recentes ainda era comum em algumas redações, ao se discutir eventual capa com personagem negro em evidência, alguém lançar a dúvida às vezes seguida de gesto (o dedo indicador tocando o pulso) que questionava a pele. Sem falar no bordão inspirado na publicidade e que estigmatizava metade da população brasileira: "Negro não vende".

O jornalismo ainda deve muita retratação.

Para ver a matéria da National Geographic, clique AQUI