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segunda-feira, 4 de abril de 2022

"O Marajá": novela proibida reaparece misteriosamente no You Tube.

 

Na Folha de São Paulo, o místério da minissérie O Marajá.

por José Esmeraldo Gonçalves

A edição de ontem da Folha de São Paulo revela mais um mistério em torno da extinta Rede Manchete. Em 1993 a emissora gravou a minissérie O Marajá, com estreia prevista para 26 de julho daquele ano. A trama recriava os anos tumultuados do governo Collor de Mello. E, claro, o personagem principal, chamado "Elle", caricaturava o próprio político, que hoje é um apêndice do bolsonarismo. 

Escrita por José Louzeiro, Regina Braga, Eloy Santos e Alexandre Lidya, O Marajá foi censurado. O ex-presidente, cujo impeachment havia sido aprovado em setembro de 1992, entrou com uma ação na justiça impedindo a transmissão da minissérie. 

A partir daí, entra em cena o mistério da vida real. Adolpho Bloch acatou a decisão e pessoalmente mandou trancar todas as fitas em um cofre. Enquanto Collor permaneceu livre e solto, "Elle" passou anos aprisionado no tal cofre instalado em algum lugar do Edifício Manchete, na Rua do Russell. Em novembro de 1995, Adolpho Bloch faleceu. Cessava sua responsabilidade pessoal sobre o cofre blindado. A Rede Manchete, por sua vez, começava agonizar envolvida em dívidas e em operações sucessivas e mal sucedidas de tentativas de venda da rede. Ora era adquirida por empresários e até um  "bispo" evangélico, ora retornava aos Bloch por calote dos compradores. A crise desgastava a empresa, mas O Marajá, pelo que se sabia, repousava no escurinho do cofre, já quase esquecido, praticamente. Mas não por todo mundo. Alguém lembrou de  resgatar "Elle", que sumiu sem deixar pistas até reparecer agora no You Tube,  

A venda da Rede Manchete, afinal concretizada em 1999 e, no ano seguinte, a falência da Bloch Editores, colocaram um ponto final no que foi um importante conglomerado de comunicação.

Anos depois, algumas novelas da Rede Manchete reapareceram no SBT. Surgiram notícias de que parte do acervo estava com a TV Cultura, em São Paulo e haveria a intenção de levar ao ar alguns programas. Aparentemente, o temor de questões jurídicas ligadas a direitos autorais provocou o cancelamento do projeto.

 Recentemente, em leilão realizado pela Massa Falida de TV Manchete, sediada em São Paulo, um comprador não identificado, que teria sido representado por um procurador, adquiriu milhares de gravações de telejornais, programas especiais de jornalismo, shows, documentários, novelas, entrevistas, grandes eventos etc que pertenceram à Rede Manchete. Não se conhece o estado de conservação desse material. É certo, apenas, que é de grande valor para a memória da TV brasileira. 

Aliás, a Bloch não deu sorte com o seu legado jornalístico. Também mistério, como se sabe, é o destino do arquivo fotográfico que reunia décadas de produção fotográfica das revistas Manchete - que no dia 26 de abril comemoraria 70 anos, se viva fosse -, Fatos & Fotos, Fatos, Amiga, Desfile, Domingo Ilustrado, Mulher de Hoje, Ele Ela, Sétimo Céu, Joia, além de publicações dirigidas de economia, agricultura, medicina, informática e edições especiais sob os mais variados temas. O acervo foi leiloado, adquirido por um advogado, e sumiu como O Marajá. 

A minissérie, pelo menos, reaparece agora. O acervo das TV materializou-se no leilão em São Paulo. Já o arquivo fotográfico, com milhões de cromos, negativos e cópias, continua desaparecido. 

O que não desapareceu totalmente ainda foi a dívida da Massa Falida da Bloch Editores com seus ex-funcionários. A maioria recebeu os valores principais das indenizaçoes, mas não vê a cor da correção monetária devida (foram pagas apenas três parcelas). Há cinco anos esses pagamentos também viraram mistério. Além disso, há funcionários habilitados que ainda não receberam nem mesmo os tais valores prncipais das indenizações. 

Os ex-funcionários da TV Manchete - que não faliu, foi vendida - enfrentam uma luta também difícil. A venda da Rede Manchete foi uma operação que os lançou em um jogo de empura que se revelou uma armadilha. A TV Ômega, que adquiriu as concessões, conseguiu na justiça escapar da responsabilidade sobre as indenizações trabalhistas (chegou a pagar alguns processos de ex-funcionários da Bloch, mas foi ressarcida pela Massa Falida da Bloch Editores); uma segunda empresa envolvida na compra, denominada TV Manchete Ltda, foi adquirida por outro empresário que tomou um sumiço equivalente ao Marajá. A muito custo, ex-funcionários obtiveram a formação da Massa Falida de TV Manchete, essa que realizou o citado leilão de fitas de gravação e de um terreno com edificação em Campinas (SP), cujos resultados financeiros, não tão expressivos, seriam destinados a pagamentos aos credores trabalhistas.

O que preocupa os ex- funcionários da Bloch Editores é que massas falidas em geral costumam praticar autofagia aguda: quanto mais demoram mais consomem os bens garantidores das indenizações. Despesas judiciais, custos de administradores, advogados, seguros, manutenção, derrotas em processos etc pulverizam o patrimônio. Imagine isso ao longo do tempo: a Massa Falida da Bloch Editores apagará velinhas de 22 anos em agosto próximo.

Como se vê, não é apenas o mistério de O Marajá que assombra o desfecho da Bloch Editores e da Rede Manchete. 


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Acervo da TV Manchete: uma luz no fim do vídeo

Reprodução de O Globo
A matéria da repórter Cristina Tardáguila, no Globo, sobre a localização de vídeos históricos da extinta TV Manchete, fez as autoridades se mexerem. Isso é positivo. O Segundo Caderno, hoje, noticia que o Ministério da Cultura convocou uma reunião para ajudar a TV Cultura a superar entraves burocráticos e indefinições de direitos autorais e tornar possível que o material seja levado ao publico. A matéria informa que o canal "não sabe a quem deve pagar" pelos direitos autorais. Este blog, que acompanha a luta dos ex-funcionários da Rede Manchete pelo seus direitos, opina: os direitos patrimoniais (a propriedade do acervo) deveriam ser dos ex-funcionários que ate hoje não receberam da RedeTV, ou de uma denominada TV Ômega, os seus direitos trabalhistas; já os direitos conexos, como a lei prevê, pertencem aos autores e participantes das obras e normalmente devem ser pagos quando forem comercializados ou exibidos. É o que fazem as TVs quando reexibem obras dos seus acervos. Mas, por uma questão de justiça, esse acervo deve pertencer a quem o construiu: os trabalhadores..

domingo, 20 de janeiro de 2013

Memória da Rede Manchete: o acervo que desaconteceu...



por JJcomunic
O Globo de hoje publica excelente matéria sobre a localização e o imbróglio que envolve o  vasto acervo de de vídeos que pertenceu à Rede Manchete de Televisão. A notícia boa é que gravações de programas, fatos jornalísticos, musicais, grandes eventos esportivos e obras de ficção estão guardados na TV Cultura, em São Paulo. Noventa por cento do material pode ser recuperado e digitalizado. São quase 6 mil fitas. O imbróglio a que a reportagem do Segundo Caderno do Globo se refere diz respeito a direitos autorais, propriedade etc. São obstáculos a serem vencidos até que o público e pesquisadores possam ter acesso a um acervo produzido de junho de 1983 até maio de 1999, quando a Rede Manchete foi vendida.
A matéria, que tem o mérito de levantar a questão, incorre, contudo, em um erro. Confunde a Bloch Editores, que foi à falência em 2000 e tem Massa Falida constituída, com a Rede Manchete, que nunca faliu: foi vendida em um ano antes. A confusão é compreensível já que ambas as empresas faziam parte do mesmo grupo de comunicação. Mas Bloch Editores e Gráficos Bloch, que produziam a revista Manchete e mais de 20 outros títulos, e a Rede Manchete, tiverem desfechos e destinos bem diferentes. Apesar da lentidão do processo, os ex-empregados das revistas pelo menos conseguiram receber parte dos seus direitos e continuam lutando junto à Massa Falida da Bloch Editores para ter quitada a correção monetária (da qual também já receberam uma parte, segundo matéria publicada no site do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro) dos valores que lhes eram devidos. Já os ex-empregados da Rede Manchete vivem situação dramática. Não existe Massa Falida da Rede Manchete. A empresa não faliu. Foi vendida com acompanhamento do Ministério das Comunicações do governo tucano sob complicada "engenharia" contratual, pela qual a TV Ômega (Rede TV) ficou com as concessões; a empresa TV Manchete Ltda que detinha parte do acervo agora encontrado e os equipamentos foi vendida na mesma operação para um terceiro empresário. Essa mesma empresa teria ficado responsável pelas dívidas trabalhistas, segundo o contrato. A tal "engenharia" era, na época, uma "inovação" que o governo tinha tornado moda. Na maioria das  privatizações, as empresas estatais eram divididas em duas: a boa e a "podre". A TV Manchete Ltda, no caso, era a "podre". A artimanha ou o "laranja" prejudicaram os ex-empregados da Rede Manchete que estão até hoje sem receber seus direitos. Há uma disputa na Justiça, que chegou a reconhecer a TV Ômega/Rede TV como sucessora de fato da Rede Manchete e, assim, responsável pelo cumprimento do contrato que obrigava o pagamento das indenizações, FGTS, etc, dos ex-empregados da TV. Os jornais publicaram há cerca de um ano que em recurso impetrado pela TV Ômega, a Justiça reconheceu que a Rede TV não seria responsável pelas indenizações. A luta continua nos tribunais mas nessa "bola dividida" sofrem os ex=funcionários da Rede Manchete que não recebem o que a lei lhes garante.
A reportagem do Globo levanta ainda a questão dos direitos autorais do acervo, que teria sido supostamente arrematado por alguém que "não tinha interesse nos vídeos", mas apenas nas prateleiras de madeira de lei onde eles estavam armazenados. Pelo contrato, grande parte do acervo pertencia à TV Manchete Ltda vendida pelos Bloch.  Parte do que foi produzido pela Rede Manchete - não há informações sobre exatamente quais programas ou novelas - era de um empresa chamada Bloch, Som e Imagem, que não faliu nem foi vendida. Provavelmente algumas novelas da Rede Manchete que foram reexibidas recentemente em outros canais pertenceriam a essa empresa.  E, em outubro do ano passado, a Café Lumiére, produtora de audiovisual, anunciou em seu site a aquisição de videos que pertenceram à Rede Manchete. Mais um dado do imbróglio. De um jeito ou de outro, parece difícil o acesso ao acervo. Mas pelo menos, as imagens da TV foram localizadas. Outro legado da Manchete, este das revistas, o valioso arquivo fotográfico, foi leiloado e permanece em local incerto e não sabido, assim como são desconhecidas as condições de armazenamento de milhões de fotos produzidas durante 48 anos.


Leia a matéria completa no site do Globo. Clique AQUI



Leia notícia sobre aquisição do acervo da Rede Manchete, em outubro do ano passado, pela produtora Café Lumière
Leia a nota. Clique AQUI




Atualização na terça-feira, 22/1
Em respeito à jornalista autora da reportagem de O Globo, objeto de considerações no texto acima, este blog informa que recebeu uma informação de que a TV Manchete Ltda teria pedido falência supostamente anos depois da venda das concessões da extinta Rede Manchete. Não foi possível até agora confirmar a veracidade da informação. Levamos ao leitor do blog algumas informações extraídas de registros oficiais. Em volumoso documento, de 1999, a TV Manchete Ltda foi vendida para a TV Ômega e para um grupo chamado Hesed Participações, além do empresário Fabio Saboya. No mesmo volume, consta o pedido da TV Manchete Ltda à Presidência da República para transferência da concessão dos seus canais de televisão para a Ômega (RedeTV). O contrato previa que Õmega pagasse as dívidas trabalhistas, entre outras. Como a empresa não o fez, os trabalhadores entraram com processo. A partir daí, a empresa "compradora" TV Manchete Ltda some do mapa aparentemente. Não há, em mais de mil páginas, referências à sua suposta falência. Os documentos oficiais conhecidos do Ministério Público visam apenas a TV Ômega/Rede TV, consideradas sucessoras das obrigações previstas no contrato de venda. No contrato de venda também não há referência ao acervo audiovisual da extinta TV Manchete. Mas o acordo transfere à Õmega as concessões e à TV Manchete Ltda, a que evaporou-se após a negociação, os bens móveis (equipamentos obsoletos, parte do acervo, etc), além das dívidas. Em 2004, cinco anos após a transação, a empresa TV Manchete Ltda volta a ser citada em denúncia encaminhada à Justiça por sindicatos paulistanos e a CUT (Central Única dos Trabalhadores) por ter a Õmega até então desrespeitado os direitos dos ex-funcionários da extinta Rede Manchete. Além disso, a improvável falência da TV Manchete Ltda, mesmo que tenha acontecido recentemente, teria zero de efeito prático já que o seu bem mais valioso, as concessões, foram para a TV Ômega. Teriam restado no seu patrimônio carcaças de velhos equipamentos e parte do acervo de fitas, provavelmente estas que a TV Cultura diz que "foram deixadas" no seu prédio. O blog não é especialistas em juridiquês, mas defende que essas fitas pertencem aos trabalhadores da extinta Rede Manchete, que, quase 14 anos depois, estão no prejuízo. 
Em 1999, o Presidente da República transfere as concessões da TV Manchete Ltda para a Tv Õmega. 
Em documento de 2004, sindicatos paulistanos  acionam a Rede Tv em busca dos direitos dos ex-funcionários da Rede Manchete. A empresa TV Manchete Ltda, naquela ocasião, cinco anos depois de vendida pelo Grupo Bloch,, permanecia sumida. 


Esta folha de documento do Ministério Público (infelizmente a cópia recebida pelo blog não está muito legível) mostra que a compradora TV Ômega era responsável  pelo pagamento das indenizações. A empresa (RedeTV) recorreu à Justiça e até hoje, em sucessivos recursos, isenta-se de cumprir o contrato de 1999. 

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Ex-funcionários da TV Manchete mandam carta para Dilma e pedem justiça e reconhecimento aos seus direitos trabalhistas

Neste sábado, 20, ex-funcionários da Rede Manchete promoverão uma feijoada com samba que promete atrair mais de 500 participantes ao Scala, no Centro do Rio de Janeiro. A ocasião será festiva, de reecontros e de celebração da amizade. Mas não apenas isso. A turma que ajudou a construir uma emissora que fez história também divulga uma carta aberta em que apela à Presidente Dilma Rousseff para que o Governo Federal cumpra os compromissos firmados com a TV Ômega (nome de fantasia da Rede TV), quando esta comprou as concessões que pertenciam à antiga Rede Manchete. Até hoje, apesar do acordo, os ex-funcionários não receberam seus direitos trabalhistas. 
Leia a Carta Aberta a Dilma Rousseff:
"Exma. Sra. Presidenta Dilma Rousseff
Nós, ex-funcionários da extinta Rede Manchete de Televisão, vimos pedir vossa ajuda na luta pelos direitos de nossos companheiros, que há mais de dez anos tentam na Justiça receber o que lhes é devido pela TV Ômega, sucessora da TV Manchete.
Esclarecemos que, em maio de 1999, quando as concessões públicas da extinta TV Manchete foram transferidas, ou melhor - vendidas, para a TV Ômega, foi firmado um compromisso perante o Ministério das Comunicações e o Congresso Nacional, determinando que a TV Ômega assumia a obrigação de pagar todos os direitos dos funcionários da extinta TV Manchete. Essa cláusula do contrato não foi cumprida pela TV Ômega. Muitos dos antigos funcionários não receberam até hoje direitos básicos como salários atrasados, aviso prévio, férias, horas extras, 13º salário e FGTS.
Para não pagar o que deve, a TV Ômega usa de artifícios jurídicos, ou recorrendo sempre a instâncias superiores ou questionando a validade do que foi acordado quando comprou as concessões. Isso deixou os funcionários em péssimas condições, sem dinheiro e sem trabalho. Alguns deles, sra. Presidenta, morreram sem receber o que lhes era devido, mesmo tendo os seus direitos reconhecidos pela Justiça do Trabalho. Outros foram obrigados a mudar de profissão, já que a RedeTV!, nome de fantasia da TV Ômega, também não aproveitou todos os funcionários. Os que haviam entrado na Justiça foram impedidos de trabalhar na nova empresa.
Demonstrando total desprezo pela lei, a TV Ômega transferiu a “cabeça de rede” para São Paulo e vende horários da programação para igrejas, reduzindo o mercado de trabalho dos profissionais de televisão. A RedeTV!, sra. Presidenta, vende 46 horas por semana, o que equivale a 27% de sua programação total.
Como se não bastasse, agora surge uma nova ameaça: circulam nas redações do Rio de Janeiro insistentes rumores sobre uma possível venda da RedeTV!.
Conhecendo, como conhecemos, o desprezo dos donos da TV Ômega pela lei, não vemos outra saída a não ser apelar à senhora.
Lembramos, Presidenta, que a outorga da RedeTV! vai vencer exatamente no dia 20 de agosto! E que, além das dívidas trabalhistas, a TV Ômega também tem dívidas milionárias com a União!
Sendo as televisões uma concessão do Governo Federal, acreditamos que apenas a senhora, Presidenta Dilma, pode fazer alguma coisa em nosso favor. E confiamos que a senhora não faltará com seu apoio ao cumprimento da lei.
Atenciosamente (...)"

Fonte: Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro